O Encontro
Aqui estou eu, sentada na carruagem da nossa família junto com meus pais. O caminho até a capital não era tão longo, mas assim que nos sentamos minha mãe já começou a me dizer coisas como "Se comporte" ou "É melhor ficar de bico fechado e apenas deixar seu pai falar". Eu não quis responder as suas falas, apenas concordei com a cabeça enquanto olhava a paisagem pela pequena janela, perdida nos meus próprios pensamentos. Apertei um pouco o tecido do meu vestido como um ato de nervosismo. Vestido esse, aliás, que eu fiz questão de escolher, pois me recordo claramente da minha vida anterior, quando minha mãe havia escolhido um vestido estupidamente chamativo e cheio de babados e laços. E eu concordei sem questionar em usar aquele vestido horroroso. Dessa vez, eu recusei a oferta de minha mãe que, de novo, apareceu com o mesmo vestido. Escolhi um mais simples, de tom verde esmeralda que combinava com meus olhos, com alguns detalhes em dourado no busto que fazia com que ele não fosse considerado simples demais, mas o suficiente. A capa presa em meus ombros do mesmo tom era apenas um detalhe, mas servia também para proteger do frio leve da noite.
Eu estava ansiosa, não como da primeira vez em que eu não sabia quem seria ou como era meu noivo, mas sim porque nesse momento eu sei justamente quem é o meu noivo. E saber disso faz o meu coração acelerar involuntariamente quando penso nele. Fechei os olhos e respirei profundamente. Não posso deixar meus sentimentos saírem do controle.
Muito menos nesse momento, onde ele é o número um na minha lista mental de suspeitos. Suspiro. Eu só tenho uma missão nesse momento: não irritar Sasuke Uchiha. Diferente da minha vida anterior onde eu era uma maníaca obcecada, nessa eu tenho que ser o mais neutra possível. Se eu não despertar a raiva dele desde cedo, talvez seja mais fácil ele ter algum tipo de empatia por mim no futuro. E, meu Deus, como eu era ridícula. Se eu soubesse que passei tanta vergonha assim na minha vida anterior, não teria feito metade das coisas que eu fiz. Não me admira eu não ter tido nenhum tipo de amizade com ninguém. Todos que se relacionavam comigo, eram puramente por interesse.
O tempo passou mais rápido do que eu esperava, logo já estávamos passando pelos enormes portões de entrada do castelo e atravessando o imenso jardim até a porta de entrada principal. Todo o local estava iluminado com lamparinas, o que dava um certo ar romântico à noite.
– Chegamos. – Disse meu pai, já descendo da carruagem. Minha mãe desceu em seguida.
Eu desci, e fiquei encarando aquela entrada que eu já conhecia muito bem. Apesar de Sasuke nunca ter me convidado para morar na Corte, eu sempre passava meu tempo livre aqui, correndo atrás dele feito uma idiota. Acho que por eu não ter esboçado nenhum tipo de reação quando olhei para a entrada, minha mãe disse:
– Não é lindo, filha? Aqui vai ser sua casa em breve. – Ela estava particularmente mais animada do que eu.
– Sim. É realmente lindo. – Foi tudo o que eu consegui dizer naquele momento. Eu sabia que seria impossível esse lugar se tornar minha casa.
– Lorde Haruno, Lady Haruno. – O homem fez uma pequena reverência. – Por favor, sigam-me, a família real está a sua espera.
Seguimos o caminho pelo o qual eu já sabia que seria o salão de jantar, um lugar chique decorado com ouro no teto, pinturas na parede e lustres gigantescos que ilumina todo o local. Assim que entramos, todos os membros da família Uchiha estavam em pé para nos receber. E lá estava ele, o garoto mais lindo que eu já vi em toda minha vida. Ele olha para mim de relance e por um segundo, meu coração falha uma batida e meu rosto começa a esquentar.
– Oh, vocês chegaram finalmente! – Mikoto, a mãe de Sasuke, veio correndo nos cumprimentar. – Eu estava tão ansiosa por esse dia! Você é linda! – Ela segura minhas mãos e começa a me apertar.
Eu agradeci o elogio com um sorriso tímido. Mikoto sempre foi uma mulher intensa, mas também generosa e bondosa. Seu marido e rei, Fugaku Uchiha, por outro lado era o tipo de pessoa que era mais racional e tinha cara de durão, apesar de ele também ter um bom coração por dentro. Um completava o outro, era o tipo de casal perfeito. Apesar de Mikoto ter adorado me conhecer pela primeira vez, não posso dizer que sua simpatia por mim durou muito tempo na minha outra vida. Dessa vez, também vou fazer de tudo para não a contrariar, não é bom ser mal vista pela família real.
Assim que todas as formalidades foram feitas, já estávamos sentados desfrutando do jantar na mesa enorme do salão. Fugaku estava sentado na ponta, Mikoto estava ao seu lado direito e os dois filhos, Sasuke e Itachi, estavam sentados na minha frente. Meus pais estavam do meu lado e o resto dos assentos foram ocupados pelos conselheiros do rei e seu irmão, Uchiha Madara. Eu evitei de fazer muito contato visual com Sasuke, pois fiquei com medo de acabar hipnotizada por ele sem perceber. Ele por outro lado não soltou muitas palavras durante o jantar, ao contrário de Itachi, que tagarelava sem parar junto com Mikoto. Meu pai era o que estava sentado mais próximo do rei, isso fazia com que eles conversassem em um tom mais baixo sem que as outras pessoas ouvissem. Foi então que uma voz mais alta soou no ambiente:
– Irmão, permita-me fazer um questionamento. – Madara chamou a atenção não só do rei, mas de todos na mesa.
– Prossiga.
– Por qual motivo em especial você escolheu essa moça? Digo, Sasuke poderia se casar com várias outras princesas de outros reinos. – Ele questionou, e lembro-me exatamente que ele fez a mesma pergunta anteriormente.
– Bom... Kizashi é um velho amigo meu e um duque de confiança. – Ele respondeu, olhando rapidamente para o meu pai. – Eu queria que Sasuke se casasse com alguém do nosso reino e com uma moça que eu já tenho familiaridade. Assim tanto eu quanto Mikoto ficamos mais tranquilos.
Mikoto concordou com a cabeça. Madara deu um leve sorriso e olhou para mim.
– Se é assim, então já posso te considerar uma princesa! – Ele riu e levantou sua taça – Prazer em conhecê-la, jovem dama.
– O prazer é meu, Lorde Madara. – Eu respondi com um sorriso.
– Sakura, se você quiser ainda dá tempo de trocar de irmão, o que acha? – Itachi me perguntou se inclinando até mim sobre a mesa. Sua voz era quase um sussurro.
Eu dei uma risada tímida, mas não consegui responder. No mesmo instante, Sasuke puxou o irmão de volta para o lugar. Itachi olhou para ele com uma expressão emburrada. Ele era um sujeito engraçado que gostava de tirar Sasuke do sério. Provavelmente eu teria noivado com ele se ele fosse o príncipe herdeiro. Apesar de ser o irmão mais velho, Itachi abdicou do trono para focar no comando no exército, ele não levava jeito para lidar com as questões burocráticas do reino, passando o cargo de futuro rei para seu irmão mais novo.
– Itachi! Não atormente sua cunhada. – Mikoto o alertou. Em seguida seu foco estava em mim. – Mas devo confessar, você é muito melhor do que eu ouvi dizer, Sakura!
– Como assim? – Eu perguntei, curiosa. Está aí uma coisa que é novidade para mim. Ela não havia feito esse comentário da primeira vez.
– Bem, sabe, as fofocas sobre você não eram das melhores. Me disseram que você era uma garota rebelde, egoísta e arrogante.
Olha só, do jeitinho que eu era antigamente. Pensei comigo mesma.
– Mas olha só pra você! Bem educada, elegante e uma graça! Estou muito satisfeita.
– Ah, minha filha costumava a ser assim como os boatos, Mikoto. Mas graças aos céus ela amadureceu e agora é uma garota esplêndida! – Minha mãe entrou na conversa.
– Mãe! – Dei uma cutucada no braço dela. Eu realmente não esperava que ela fosse me dedurar assim. Mikoto soltou uma risada.
– Está tudo bem, Mebuki! Eu sei muito bem como é essa fase rebelde, ainda bem que eles criam juízo rápido. – As duas riram juntas, pareciam que estavam se dando bem.
–Sakura. – Uma voz pouco ouvida na mesa me chamou, e meus olhos se fixaram rapidamente em Sasuke Uchiha. – Gostaria de conhecer o jardim?
– Eu adoraria. – Respondi, com a voz mais calma que eu consegui, sem tentar parecer eufórica demais.
E assim, nos levantamos da mesa. Após uma breve reverência antes de sair, seguimos caminho pelos corredores até a entrada principal. O caminho todo foi feito em silêncio e sem nenhum tipo de contato visual. Eu entrelacei minhas mãos em frente ao meu corpo para evitar que meu nervosismo ficasse visível aos olhos dele. Apesar de eu estar me sentindo ansiosa, eu tinha algo a dizer para ele. E espero que esse algo seja o suficiente para ele não me ver como uma ameaça se ele acabar se apaixonando por Ino novamente. Eu amo o Sasuke, não só pela beleza, mas também pela sua dedicação com o reino e sua determinação. Mas amo mais ainda a minha própria vida.
Não me dei conta de quando chegamos no jardim. O som da água circulando pelo chafariz era o único perceptível no local. Andamos mais um pouco, as flores e árvores no jardim eram estrategicamente colocadas de forma que nada parecesse ali por acaso. Era tudo muito lindo.
– Sakura, quero que saiba de uma coisa. – Ele disse.
Eu tinha uma vaga ideia do que ele iria dizer naquele momento.
– Antes, eu gostaria de dizer algo. – Eu o interrompi, parando na frente dele.
– Então diga logo.
– Eu sei que essa coisa toda de noivado é a última coisa que você queria nesse momento. – Eu disse, enquanto ele me olhava esperando que eu continuasse. – Então se algum dia você quiser cancelar esse casamento, saiba que eu não vou te impedir.
Sasuke me olhava um tanto quanto surpreso. Acho que ele não esperava ouvir isso de uma garota, pelo fato de que todas as mulheres morreriam literalmente só para ter a chance de se casar com o príncipe herdeiro.
Ele deu um sorriso de canto. Sua expressão era de divertimento.
– Tudo bem então, Sakura. Mas saiba que eu não tenho a menor intenção de me apaixonar por você. – Ele me olha de cima a baixo. – E muito menos de te tocar. Tenho coisas mais importantes para fazer. – E então ele deu meia-volta e me deixou sem reação.
O que foi isso? Ele não me acha nada atraente? Eu não tenho a mínima chance de conquistá-lo? Eu não valho nem um pouco da atenção dele? Por um segundo, ideia de ter Sasuke tocando meu corpo me veio de relance em minha mente. Não pude evitar que minhas bochechas ficassem vermelhas, ainda que eu não saiba se era de vergonha ou de raiva.
Ora, seu maldito!! Não vou deixá-lo tirar onda com a minha cara e sair assim.
– Como é que é?? – Eu gritei enquanto corria atrás dele.
Não sei exatamente onde, mas no meio da minha corrida, pisei em uma pedra. Meu salto quebrou e meu pé acabou virando, me derrubando no chão.
– Droga, isso tinha que acontecer? – Murmurei baixinho, enquanto olhava para o estrago feito. Rapidamente, Sasuke estava em pé na minha frente.
– Ótimo, além de tudo ainda é desastrada. – Ele disse. – Consegue andar?
Eu o fuzilei com os olhos, mas não estava mais afim de puxar uma briga. Ou melhor, eu nem deveria discutir com ele. Tentei me levantar, mas acabei caindo novamente. A dor era imensa, eu não iria conseguir sair dali sozinha.
– Não. – Respondi. – Estou sentindo muita dor, acho que torci o tornozelo.
Ele bufou, parecendo impaciente. Mas no mesmo instante, ele colocou um braço em minhas costas e o outro por baixo das minhas pernas, e eu automaticamente segurei em seu pescoço. Ele estava me carregando em seus braços, algo que sempre imaginei em meus sonhos. Seu perfume inebriante me deixava extasiada. Foi impossível não corar.
– Segure firme. – Ele me diz enquanto voltávamos para o castelo.
– Parece que infelizmente você acabou de me tocar, que pena pra você.
Ele não me respondeu, apenas deu um leve sorriso.
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