A Carona


            No dia seguinte, tive que contar detalhadamente tudo o que aconteceu na noite anterior para Tenten e Hinata. Já que elas não iriam me deixar em paz até que eu explicasse como a capa do príncipe herdeiro com o símbolo da família Uchiha foi parar naquele quarto. Tenten já havia imaginado mil coisas, desde as mais simples até as mais pervertidas, me fazendo ficar totalmente sem graça com a situação. Hinata já era mais sensata, apenas me perguntou se eu estava bem com o que aconteceu. E eu estava, claro. Afinal Sasuke não fez nada de errado comigo, pelo contrário. Ele foi gentil em me cobrir e me trazer de volta. Mas eu tive que explicar diversas vezes que foi apenas isso e nada demais. Sasuke foi embora logo em seguida depois de me dar um gelo maior que um iceberg. Certo, talvez eu não estivesse totalmente bem com isso.

E agora eu tinha que devolver essa capa idiota pra ele. Não sei por que ainda estou me sentindo irritada. Sasuke sempre me tratou desse jeito ou até pior mesmo antes da minha morte e eu nunca liguei dele me tratar assim. Mas alguma coisa agora mudou e eu não estou muito disposta a ser tratada com desprezo para o resto da minha vida. Só preciso ter cuidado para não o enfurecer. Ainda não posso descartá-lo do topo da minha lista de suspeitos. Imagino então que, infelizmente, vou precisar aturar esse tipo de coisa, pelo menos por enquanto.

Tomamos café da manhã logo após termos vestido nossas mesmas roupas do dia anterior. Eu e Tenten agradecemos a Hinata pelo convite para dormir em sua casa e ela se mostrou muito feliz. Hinata nos acompanhou até o portão da mansão, onde a carruagem de Tenten a aguardava, mas a minha ainda não estava lá.

– Estou indo, meninas. Vejo vocês na Academia! – Tenten acenou da sua carruagem e logo já estava distante de nós.

– Estranho, já era pra ele estar aqui. – Eu disse, um pouco impaciente. Estava segurando o manto de Sasuke dobrado em meus braços.

– Posso pedir para o meu cocheiro te levar, Sakura. – Hinata ofereceu. O jeito que ela falava era um doce!

Eu estava prestes a aceitar quando ouvi alguém falando.

– Eu a levo.

Quando olho para trás, vejo Sasuke vindo em nossa direção. Tomei um pequeno susto, já que não imaginava que ele ainda estivesse aqui. Lembrei-me da noite anterior e não pude evitar de sentir que minhas bochechas ficaram quentes. Desviei meus olhos da sua silhueta.

– Não sabia que estava aqui. – Eu disse.

– Não estava, cheguei agora há pouco.

– Ah, então não se preocupe comigo. Pode ficar, eu vou com o cocheiro da Hinata. – Dei um leve sorriso, tentando parecer o mais simpática possível. Decidi recusar a oferta para ele não pensar que estou querendo tomar seu tempo.

– Já terminei por aqui, eu te levo. – Ele respondeu.

– Não precisa.

– Anda logo, Sakura.

– Porque faz tanta questão de me levar? – Eu olhei novamente para ele.

– Sou seu noivo, esqueceu? É o meu dever garantir sua segurança. Estará segura comigo por perto.

Meu coração falha uma batida. Por um segundo, as borboletas no meu estômago surgem novamente. Será que ele realmente se importa comigo?

– Mas não se engane. – Ele continuou. – Só estou fazendo isso para que não espalhem por aí que eu não sou um bom cavalheiro com a minha própria noiva.

Claro. Ele só está fazendo isso por status. Para manter as aparências. Sou uma idiota mesmo por achar que de uma hora para outra ele se importaria comigo.

Não consegui evitar bufar e revirar os olhos. Ele foi em direção até a sua carruagem enquanto eu me despedia de Hinata.

– Você vem logo ou eu vou ter que te carregar novamente? Não tenho o dia todo, Sakura.

A minha vontade era de falar para que ele me carregasse então. Mas preferi não arriscar. Não sei do que Sasuke seria capaz de fazer se eu o importunasse. Dei um rápido abraço em Hinata e fui em direção à carruagem dos Uchiha. Ele estava sentado no banco de frente para mim. E logo após eu me acomodar já estávamos a caminho da estrada.

– Toma, isso é seu. – Entreguei a ele o manto da noite anterior, que ainda estava comigo. Pelo menos pude devolver rapidamente.

Ele pegou o manto de minhas mãos e o depositou ao seu lado. Sem dizer uma palavra. Logo em seguida, ele estava olhando novamente para a paisagem que surgia na janela. Seguimos metade da viagem em silêncio. E era justamente por isso que algumas garotas o chamavam de príncipe de gelo. Ele quase não esboçava uma reação. Ele sempre evitava multidões, não gostava muito de conversar ou de se entrosar com as pessoas. Era raro ver Sasuke sorrindo ou se divertindo. A única vez que eu vi Sasuke rindo de verdade foi... Com a Ino. Ele nunca deu bola para nenhuma garota, mas isso mudou quando a Ino chegou. E pensar nisso deixou meu peito apertado. Não pude evitar de me sentir triste com a possibilidade que talvez ele nunca se apaixone por mim. Ou de que ele sempre vai preferir ela em vez de mim. Bom, se isso acontecer, só preciso enterrar fundo meus sentimentos e me certificar de não atrapalhar o romance dos dois. Se Sasuke tiver alguma coisa a ver com a minha morte, quem sabe assim eu consiga escapar dela.

Foi então que algo veio em minha mente e decidi quebrar o gelo.

– Sasuke... – Ele olhou para mim. – Você conhece um tal de Satoru? Que anda com parte do rosto e os cabelos cobertos?

Ele cobriu a boca com uma mão e pigarreou.

– Porque quer saber? – Ele perguntou.

– Bom, ele me ajudou com um problema que eu tive na cidade e eu vi que ele faz parte da Guarda Real. – Eu fiz uma pequena pausa enquanto olhava em seu rosto. – Inclusive, ele tem uma cicatriz bem parecida com a sua. – Apontei para a sobrancelha.

– Eu cai do cavalo, só isso. – Ele se abanou com a gola da camisa.

– Então... Você sabe quem ele é?

– Não! Não sei, não. – Ele disse quase que imediatamente. Sasuke parecia um pouco desconfortável com o assunto. Ele desviou o olhar para a paisagem novamente.

– Ah, imaginei que você não soubesse. – Suspirei. – E um tal de Naruto? Um loiro de olhos azuis?

– Naruto? Está interessada nele também? – Sua expressão agora ficou um pouco mais séria.

– C-Claro que não! Foi Hinata que me pediu para te perguntar! Ela está interessada nele.

– Ah é? – Ele parecia curioso. – Pode deixar que vou dar o recado.

– Então você o conhece?

– Sim.

Que ótimo! Vou poder dar boas notícias para Hinata quando encontrá-la novamente.

– Então pelo tal de Satoru você está interessada? – Ele pergunta, subitamente. E isso me pegou de surpresa. Seus olhos estavam fixos em mim.

– N-Não! De onde tirou isso??

– Não vejo outro motivo para você procurar por ele. – Ele franziu o rosto.

– Eu só queria agradecê-lo de alguma forma pela ajuda que ele me deu! Nada mais!

Afinal a única pessoa que me interessa é você. Queria ter dito essa última frase, mas não tive coragem.

– Hm. – Foi tudo o que ele disse.

E o silêncio voltou a reinar na cabine. Fiquei brincando com uma mecha do meu cabelo enquanto admirava a paisagem da estrada. Era realmente bonito. O sol podia ser visto no horizonte, onde iluminava o céu e as plantações de um laranja carmesim. Estava anoitecendo. Encostei a cabeça na janela e não sei em que momento aconteceu, mas acabei adormecendo ali.

Durante meu breve sono, tive a impressão de que senti as mãos de alguém no meu rosto. Acordei assustada com a repentina parada da carruagem. Quando me dei conta, Sasuke estava lendo um jornal na minha frente e logo em seguida o cocheiro avisou que havíamos chegado na propriedade dos Haruno. Ele deixou o jornal de lado e olhou para mim.

– Chegamos. – A porta foi aberta e ele desceu. Eu fui logo em seguida.

– Você não precisa entrar. – Eu disse. – Pode voltar, já estou em casa.

– Vou cumprimentar seus pais primeiro.

Entramos em casa. Shizune foi logo nos receber. Pude ver nos olhos dela o quanto ela estava maravilhada com a beleza do príncipe. Não pude deixar de conter uma risadinha, tenho certeza de que ela vai falar sobre isso comigo depois. Ela nos conduziu até o salão de jantar, onde meus pais estavam jantando.

– Oh, Sasuke! Que visita inesperada! – Os dois levantaram-se da cadeira para cumprimentar o príncipe herdeiro.

– Vim apenas trazer sua filha em segurança. – Sasuke respondeu, com um pequeno e breve sorriso.

– Por favor, jante conosco. Vai ser bom conversarmos um pouco. – Meu pai fez com que Sasuke se sentasse em uma cadeira próxima a sua, e eu me senti ao lado dele.

O clima era bom. Meu pai adorava conversar, ele era muito extrovertido. E, por incrível que pareça, Sasuke estava fingindo muito bem que também era um ser humano super sociável. O assunto da conversa mudava diversas vezes, mas o assunto principal era eu. Uma hora meu pai dizia o quanto eu era mimada e não sabia fazer nada direito, outra hora ele me rasgava elogios dizendo que eu era uma menina boa e esforçada. Não sei quantas vezes tive que chamar a atenção do meu pai. Do jeito que estava indo, era capaz de Sasuke querer desistir do noivado ali mesmo.

– Aliás, essa sobremesa está realmente boa. Quem a preparou? – Sasuke perguntou.

– Fui eu, Alteza! – Shizune que até então estava encostada no canto do salão, se manifestou.

– Shizune é a nossa especialista em doces. – Eu disse sorrindo, fazendo um sinal de positivo para ela. Shizune ficou sem graça.

– Bem melhor do que os cozinheiros do castelo. Está de parabéns.

– Obrigada, Alteza! – Ela sorriu, animada. Aposto que vai dormir feliz hoje por ter sido elogiada pelo príncipe.

Espera aí, até mesmo Shizune ganhou um elogio do príncipe e eu não!

Foi então que me lembrei de uma coisa. A bendita ideia de Tenten de conquistar Sasuke pela barriga. Talvez isso realmente dê certo. Se for pra conquistá-lo, que seja pelo o meu próprio mérito.

Depois do jantar e de muita conversa, Sasuke decidiu ir embora antes que ficasse muito tarde. Meus pais e eu o acompanhamos até o portão de entrada da mansão, onde sua carruagem estava o aguardando.

– Obrigado pela visita, Sasuke. E por trazer minha filha em segurança. – Meu pai disse.

– Não precisa agradecer, lorde Haruno. Foi um prazer. – Sasuke respondeu, todo simpático.

– Já que estamos só nós aqui, por que não dá um beijo de despedida no seu noivo, filha? – Minha mãe se pronunciou.

– Mãe! – Eu a repreendi. – C-Como assim?

– Ora, vocês estão noivos mesmo! E estamos sozinhos aqui, ninguém vai olhar. Qual o problema?

– E se olharem? Sabe que não podemos! – Eu tentei novamente tirar aquela ideia da cabeça dela.

– Sakura tem razão, lady Haruno. Melhor evitar possíveis boatos pela cidade. – Sasuke disse educadamente. E eu consegui respirar aliviada. – Mas eu ainda posso fazer isso.

Subitamente, Sasuke me puxou pela cintura colando meu corpo no seu. E então, ele encostou seus lábios na minha testa, num beijo macio e delicado. Eu fiquei surpresa com a sua ação. Meus olhos arregalaram e meu coração começou a bater freneticamente. Era impossível não corar quando você tem Sasuke Uchiha há poucos centímetros de distância do seu rosto. Ele não se prolongou muito, então logo ele afastou seus lábios e rapidamente nossos olhos se encontraram. Nenhum de nós disse nada, apenas parecíamos estar aproveitando aqueles breves segundos antes de nos separarmos. Bom, pelo menos eu estava aproveitando. Sasuke me soltou.

– Boa noite Sakura, lorde e lady Haruno. – Ele se despediu novamente fazendo uma breve reverência. – Obrigado pela maravilhosa recepção.

Ele se dirigiu até a carruagem, entrando nela. Fiquei no portão olhando-a desaparecer de vista pela estrada. Toquei levemente a minha testa com o dedo indicador, no mesmo local onde ele havia beijado. Eu ainda estava assimilando aquele breve acontecimento. Qual seria o motivo de Sasuke ter feito isso? Será que ele apenas queria agradar meus pais? Talvez ele queria passar a imagem de um noivo carinhoso? Ou então... Talvez ele realmente goste de mim? Soltei uma risada com essa última opção. Acho que realmente seria mais fácil ele estar me usando para manter uma imagem de um cavalheiro romântico.

Foi então que no meio dos meus devaneios minha mãe me chama, me fazendo voltar para a vida real. Voltei correndo para dentro e fui atrás de Shizune. Tendo finalmente a encontrado lavando alguns pratos na cozinha. Eu a puxei pelo braço até um canto longe das outras criadas.

– Shizune! Você precisa me ensinar a cozinhar uma torta de maçã! – Eu disse, de um jeito que parecia que minha vida dependesse dessa torta de maçã. Ela arregalou os olhos em surpresa.

– Mas porque isso Sakura? Deixa que eu mesma faço.

– Não! – Eu estava um pouco agitada. – Eu mesma quero fazer.

– Tem algum motivo especial para isso? – Perguntou curiosa.

– Sim. Eu quero fazer uma sobremesa para o Sasuke!

– Ah Sakura, assim você vai roubar o meu posto de melhor confeiteira. – Ela deu uma risada.

– Por favorzinho. – Juntei minhas mãos e fiz um beicinho. – Eu não vou roubar seu posto, sei que não vou me comparar a você na cozinha. Eu só queria que Sasuke gostasse de algo que eu tenha feito com as minhas próprias mãos. E a sua torta é maravilhosa, se eu aprender a fazer direitinho tenho certeza de que ele vai gostar!

Ela sorriu novamente, acho que consegui convencê-la.

– Tá bom, já entendi. Eu vou te ensinar. – Dei vários pulinhos de alegria. – Agora está na hora da senhorita ir deitar. Vamos cozinhar outro dia.

– Amanhã! – Eu disse, e sai correndo em direção ao meu quarto.

Tomei um banho e vesti minhas roupas de dormir. Logo em seguida já estava jogava na cama. Mal conseguia conter minha animação.

Eu vou cozinhar para ele e vou fazer a melhor torta de maçã que ele já comeu, ele vai ver só. Vai ficar tão perfeita que ele não vai conseguir por nenhum defeito!

Fiquei igual uma besta imaginando a reação de Sasuke junto com quais elogios ele daria para mim e a minha torta. Nossos breves momentos juntos também repassavam em minha mente. Sei que não eram momentos exatamente românticos, mas mesmo assim, só de estar com ele mexia com meu coração. Encostei os dedos na parte do meu rosto onde eu senti que fora acariciada enquanto eu dormia na carruagem. Será que Sasuke realmente me tocou? Ou será que tudo não passou de um delírio da minha cabeça? Acho que eu nunca vou saber.

E depois de tanto imaginar, minha mente finalmente se apagou. 

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