Os dias na Academia estavam sendo mais tranquilos do que eu imaginava. De vez em quando Tenten procurava alguma garota para atormentar. Eu tentava aos poucos impedir tais atitudes, mas ela não gostava nada disso. Algumas vezes eu acabei tratando mal algumas garotas só para manter as aparências ao lado de Tenten e o grupo. Mas isso não era algo que me trazia divertimento como antigamente. Eu não via mais sentido naquilo e não queria mais ser odiada por todos e nem continuar com essas atitudes absurdas. Eu aprendi da pior forma aonde o ódio poderia me levar e não estou nem um pouco com vontade de voltar ao túmulo novamente. Confesso que apesar de já estar ficando farta de agir assim, no fundo eu tenho medo do que aconteceria se elas ficassem contra mim. Eu seria apenas uma contra um grupo de pessoas.

– Você não acha que a Sakura está estranha ultimamente? – Ouço Tenten falar, eu estava a um passo de entrar na sala em que ela estava, mas paro na porta imediatamente.

– Sim, também estou achando. – A outra garota responde.

– Não sei, é como se ela fosse outra pessoa. Ela não é metade do que era antes e eu não entendo. Isso me irrita. – Tenten disse.

Um breve silêncio se instaurou.

– Tive uma ideia. – Disse Tenten novamente.

Ouvi o barulho dos seus passos apressados, ela estava saindo da sala. Rapidamente corri e me escondi na sala ao lado. Fiquei esperando até o momento em que seus passos sumissem pelo corredor. O que será que ela está tramando? Eu estava ligeiramente preocupada.

Mais tarde nesse dia, eu estava no salão tomando uma xícara de chá para praticar minhas aulas de etiqueta, quando de repente uma garota vem me chamar.

– Sakura, Tenten está te chamando. Ela está nos fundos do jardim.

Eu me levantei e fui em direção ao local. Mas o que diabos ela está fazendo lá? Nos fundos do jardim não tem nada além de muito mato e algumas árvores. Mas assim que eu cheguei mais perto, pude ouvir a voz de Tenten e a risada de algumas meninas. Elas estavam olhando para alguma coisa que estava no chão. E assim que eu tive uma clara visão do que estava acontecendo, meu corpo gelou.

Hinata Hyuuga, a filha do conde Hyuuga estava caída no chão. Sua roupa estava suja e seus olhos marejados, ela estava se segurando para não chorar. Tenten estava com uma tesoura nas mãos, e eu logo deduzi o motivo dela ter me chamado ali.

– Sakura! Finalmente você chegou, está perdendo toda a diversão. – Ela disse quando me viu se aproximar.

– O que está acontecendo? – Eu perguntei, confusa.

– Ora é simples, está vendo essa tesoura aqui? – Ela ergueu a tesoura em suas mãos em minha direção. – Você vai cortar o cabelo dessa garota aí.

E então o que eu estava imaginando realmente aconteceu. Tenten estava querendo me testar.

– Mas por que eu deveria fazer isso? Por que a Hinata? – Eu questionei.

– É claro que é por diversão né, Sakura? – Ela riu. – E olha pra essa garota, ela não reage, não faz nada. É patética.

– Tenten, ela é filha do conde Hyuuga. Eles são próximos da família real. Isso não é uma boa ideia. – Eu a adverti, queria tentar convencê-la a parar de qualquer forma.

– E daí? Duvido que ela vá correndo contar para o papai. E essa garota é tão inútil que ela nem sequer consegue arranjar um noivo a altura do status da família dela. Aposto que o conde não ligaria se déssemos a ela um corte de cabelo novo, quem sabe assim ela arruma um marido? – Tenten cai na gargalhada e as outras garotas começam a rir junto. Eu olho rapidamente para Hinata e ela está chorando.

Aquilo já estava chegando a um nível ridículo.

– Não! Não vou fazer isso. Aliás, não vou fazer mais nada desse tipo. Eu cansei, ouviu Tenten? Cansei. Você está certa, eu mudei, as pessoas mudam. E quer saber? Eu estou muito melhor agora. Não preciso de você e nem da sua toxicidade perto de mim. – Passo por Tenten sem olhá-la e fui em direção à Hinata, me abaixando para falar com ela.

– Você está bem? – Eu pergunto, que me responde que sim com a cabeça.

– Eu não acredito nisso! – Tenten morde os lábios em um gesto de raiva. – Sakura, você me decepcionou. – Ela balançou a cabeça em reprovação. – Agora você começou a simpatizar com essas pessoas inferiores? Ah como isso me irrita!

– Tenten, pare com isso. Essas pessoas são gente como nós! – Eu implorei.

– Não, eu não sou como elas! Muito menos como alguém tão imprestável quanto ela! – Ela segura firme a tesoura e vem em nossa direção.

– Você não vai tocar nela, ela não tem nada a ver com isso. – Minha voz era firme. Fiquei em pé de frente para ela, a encarando nos olhos.

– E quem disse que eu vou tocar nela?

E em uma fração de segundos ela agarra o meu cabelo e corta uma mecha.

– O que você fez? – Eu gritei com ela, enquanto tocava desesperadamente no meu cabelo para saber o quanto foi cortado.

– Uma recordação, Sakura. Para você não me desafiar novamente. – Ela balançou a pequena mecha nas mãos. Pelo menos não parecia que muito cabelo havia sido cortado.

Eu queria muito bater na cara dela, mas eu estava em desvantagem numérica. Na pior das hipóteses, eu e Hinata acabaríamos apanhando juntas. A única coisa que consegui fazer foi encarar em silêncio, enquanto observava Tenten e suas novas lacaias rindo enquanto voltavam para o a Academia. Eu me virei novamente para Hinata e a ajudei a ficar de pé.

– Eu... Eu sinto muito, Lady Haruno. Por minha culpa você... – Ela não conseguiu terminar a frase, seu rosto ainda estava vermelho de chorar.

– Tudo bem, Hinata. Não foi culpa sua... E cabelo cresce. – Eu disse enquanto a ajudava a limpar suas roupas sujas de terra e folhas secas. Estava tentando parecer calma, mas por dentro eu estava com muita raiva. – E pode me chamar de Sakura. – Eu tentei sorrir o máximo possível.

– O... Obrigada, Sakura. – Ela disse com a voz tímida.

E naquele momento, meu coração ficou um pouco mais quente e a raiva foi diminuindo.

– Não tem que agradecer, eu só fiz o que achei que seria certo. – Eu disse. E pela primeira vez vi o rosto de Hinata se erguer e olhar para mim. Seus olhos perolados eram exóticos, mas bonitos. Seus cabelos longos e escuros pareciam refletir a luz de tão sedosos e brilhantes que eram, sua pele era tão branca quanto à luz da lua. Ela era uma garota linda.

– Eu... Eu prometo que vou lhe retribuir! – Ela se curvou na minha frente. Parecia que Hinata ainda tinha certo receio de estar na minha presença. Eu cruzei os braços e comecei a pensar.

– Bom... Se você quer me retribuir, tem uma coisa que eu gostaria de te pedir. – Eu disse.

– ... O que? – Sua voz parecia trêmula.

– A partir de agora, quero que você seja minha amiga. – Eu respondi com um olhar sério. E na mesma hora eu me toquei de que fiz uma péssima escolha de palavras e minha expressão mudou completamente. – Q-Quer dizer... Se você quiser também, claro... Eu não quero que você pense que eu estou te obrigando a nada, Hinata!

Droga, ela vai achar que eu estou mandando ela ser minha amiga à força!

Eu fiquei sem jeito. Nunca na minha vida havia pedido alguém para ser meu amigo antes. Será que eu estou me precipitando demais? Entrelacei os dedos como forma de nervosismo e desviei os olhos de Hinata. Minhas bochechas pareciam mais quentes que o normal. E então percebi que eu estava com vergonha de ter feito tal pedido.

Hinata colocou uma mão em frente a seus lábios e soltou uma risada tímida. Fiquei surpresa quando a vi sorrindo.

– Tudo bem, Sakura. Eu aceito... Na verdade sempre achei que você fosse uma pessoa ruim. Mas hoje eu vi o seu lado bom, você me ajudou e eu sou grata por isso. – Ela me respondeu. Seus olhos agora não demonstravam mais medo ou receio. Eu fiquei surpresa com a sua resposta.

– Verdade?? Obrigada Hinata! – Eu fiquei feliz, era a primeira amiga que eu tinha feito fora de casa. Eu a abracei sem pensar. – E a partir de agora ninguém mais vai se meter com você. Eu não vou deixar!

Ela riu do meu jeito espontâneo.

– Sinto muito pelo seu cabelo Sakura... – Ela me disse.

– Tudo bem, ela não cortou muito. – Mostrei a ela o local onde Tenten cortou uma pequena mecha. – E foi bem por dentro do cabelo, não dá pra perceber.

E por um momento me ocorreu um pensamento de que Tenten poderia não querer ter feito aquilo de verdade. Ela teve a chance de fazer um estrago enorme, mas não o fez. Ainda bem, pois assim não preciso cortar o cabelo para arrumar o estrago. Meu objetivo é conquistar o meu cabelo longo de volta.

– Então vamos voltar? – Eu sugeri.

Ela concordou. Passamos o resto do dia juntas conversando e ajudando uma à outra nas tarefas mais complicadas. Hinata era uma pessoa doce e acanhada, mas eu estava adorando passar meu tempo com ela. Falamos sobre nossas famílias, onde morávamos, nossos gostos pessoais e o que fazíamos nas horas vagas. Eu estava tão feliz de ter uma amiga de verdade que não parava de tagarelar por nem um minuto.

Tenten e seu grupinho por outro lado, sempre que podia nos lançava um olhar atravessado por onde quer que a gente fosse. Tenho que ficar esperta. Tenten não é do tipo que esquece facilmente. Minha vida na Academia não vai ser tão fácil quanto era antes.