Capítulo 4
- Como foi de viagem Becca? - Susan pergunta.
- Tudo ótimo. - Falo.
- Não tem medo de avião não é? - Ela sorri. - É uma longa viagem.
- Tenho um pouco. - Assumo.
Não fiz muitas viagens na minha vida, então não estou acostumada, por isso acho que é normal ter medo.
- Termine seu almoço e vá descansar. - Susan fala. - Deve estar cansada.
- Vou te ajudar com a louça.
- Não precisa. - Ela nega com a cabeça.
- É claro que precisa. - Retruco.
Realmente estou muito cansada, mas o mínimo que posso fazer é lavar a louça para Susan, depois que ela preparou praticamente um banquete para mim.
- Já que você insiste. - Ela levanta as mãos em sinal de rendição.
Me levanto após terminar minha refeição, e coloco o meu prato sobre a pia.
- Junte tudo que precisa ser lavado e coloque na pia para mim. - Peço.
- Ok. - Ela diz apenas.
Como já tem algumas vasilhas e panelas sujas, começo lavando elas enquanto Susan começa a juntar outras.
- Não era necessário você fazer isso.
- Pelo jeito é tão teimosa quanto eu. - Sorrio abertamente.
- Na verdade não. - Ela nega com a cabeça. - Não estou acostumada com pessoas se preocupando em fazer meu trabalho.
- Acha ruim que eu...
- Não. - Ela me corta. - Fiquei um pouco emocionada com sua ajuda.
- Por quê? - Pergunto.
- Porque estou acostumada a servir, e não ser servida. - Ela sorri fraco.
- Enquanto eu estiver aqui pode ter certeza que irei lhe ajudar.
- Não falei isso para...
- Eu sei que não. - A corto. - Então não precisa se explicar.
Está certo que Susan é paga para isso, mas não custa nada lhe dar uma ajuda.
- Você estará cansada por ter que cuidar do Izan. - Ela diz. - Então não pense em me ajudar.
- Fazer alguns curativos, e dar remédio no horário certo não vai me cansar nem um pouco. - Falo. - Estou acostumada a cuidar de muitos pacientes em um dia, então não precisa se preocupar.
Terei que ajudar o senhor Izan com outras coisas, mas não acho que nenhuma delas serão cansativas.
Sou sua empregada como Susan e Alvin também são, mas enquanto eu estiver na ilha farei o possível para ajudar todos.
- Talvez não fique cansada fisicamente, mas com toda certeza mentalmente sim. - Ela suspira alto.
- Por que diz isso? - Pergunto.
- Izan fará o possível para complicar sua vida, então mesmo que o trabalho não seja tão cansativo, no final do dia desejará ir embora.
- Sou boa em lidar com esse tipo de pessoa. - Forço um sorriso.
- Espero que seja mesmo, caso contrário não irá durar muito tempo.
Eu já estou nervosa, e Susan falar dessa forma não ajuda em nada, mas eu já vim para à ilha sabendo que não seria um trabalho nada fácil, então ainda estou me preparando psicologicamente para enfrentar meu paciente.
- O senhor Izan deveria ter ficado em Nova York. - Digo. - Foi muita loucura permitir que ele fizesse uma longa viagem.
- Seu pai tentou convencê-lo de todas as formas, mas ele não deu ouvidos. - Susan diz triste.
- É óbvio que não era o certo, mas deveriam ter o obrigado.
- Izan ameaçou fugir, então seu pai ficou com medo de que ele cumprisse a ameaça. Entre trazer o filho para uma ilha enquanto ele recebe cuidados, ou ele fugir e acabar morrendo, ele escolheu arriscar sua vida da mesma forma o trazendo para cá.
- Se ele não receber os cuidados certos, não terá adiantado de nada sua escolha. - Passo as mãos pelo rosto.
Fico me perguntando o que se passa na mente de uma pessoa, que o faz rejeitar vários enfermeiros enquanto necessita de um ao seu lado o tempo todo.
O senhor Izan só pode estar querendo morrer, porque não tem outra explicação para sua atitude infantil.
- O que aconteceu com ele Susan? - Pergunto. - Como aconteceu o acidente?
- Já deve saber que ele era bombeiro, então em uma ocorrência ele desobedeceu a ordem do seu capitão e entrou em uma casa em chamas. - Susan puxa uma cadeira e se senta. - Na casa estava uma criança e sua mãe, mas ele teve que fazer a escolha de salvar uma das duas, e acabou escolhendo a garotinha. Ele conseguiu levá-la para fora da casa, mas retornou para tentar salvar a mulher, mas não teve tanta sorte como da primeira vez. Izan acabou ferido e a mãe da criança não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo.
- Ele se culpa por não ter conseguido salvá-la? - Pergunto com a voz baixa.
- Ele nunca disse nada, mas eu acho que sim. - Susan diz. - Izan já travalhava há muitos anos, mas essa mulher foi a primeira pessoa que ele não conseguiu ajudar. Ele não deve suportar a ideia de não ter sido capaz de salvá-la, então está se culpando.
Vejo pessoas morrendo ao meu lado todos os dias, então posso entender um pouco como ele se sente, mas tenho certeza que ele fez o melhor que pode para salvá-la.
Com toda certeza é algo muito triste, mas acho que ele não deveria se culpar pela vítima fatal depois de ter dado o seu melhor e quase morrido enquanto tentava ajudá-la. O senhor Izan deveria se orgulhar porque foi capaz de salvar a criança, tenho certeza que se estivesse viva, a mãe da garotinha iria lhe agradecer por ter escolhido a filha para salvar primeiro.
Ele não foi negligente com seu trabalho em nenhum momento, e acabou desobedecendo a ordem do seu capitão e arriscou sua vida para salvá-las, então não deveria se culpar, e sim se orgulhar por ter dado a chance para a garota crescer e viver bem.
- Alvin me falou que pediu para você ter paciência com Izan. - Susan sorri fraco. - Eu também quero lhe pedir isso.
- Farei o que tiver ao meu alcance para ajudá-lo.
- Espero que consiga trazer o antigo Izan de volta no processo, porque nesse momento não consigo o reconhecer mais.
- Teve outro motivo para ele mudar tanto? - Pergunto.
- Sim. - Ela confirma com a cabeça. - Mas não acho que eu tenha o direito de te contar.
Eu estava certa quando suspeitei que havia outro motivo para sua mudança, só me resta conseguir sua confiança para que eu possa ajudar de alguma forma.
Não sou psicológica, mas sou uma boa ouvinte e conselheira. Algumas pessoas só não tem a chance de contar o que se passa em sua mente, mas espero que o senhor Izan possa se abrir comigo de alguma forma.
- Depois me mostre onde está seus medicamentos e os horários que está lhe dando seus remédios. - Digo a Susan.
Ela se levanta da cadeira, caminha até o armário e abre uma gaveta. Susan pega uma papel, em seguida se volta para mim e o entrega.
- Tudo o que precisar estará no quarto do Izan. - Ela diz. - Essa é a papel com os horários dos seus medicamentos.
- Já está na hora de fazer seu curativo, e lhe dar o medicamento. - Digo olhando para a papel.
Susan pega uma tigela tapada com um guardanapo e coloca sobre uma bandeja, e começa a caminhar para fora da cozinha.
- Me siga. - Ela fala.
- Sim senhora. - Corro em sua direção.
Depois de alguns segundos Susan começa a subir as escadas, e percebo que suas mãos começam a ficar trêmulas.
- Quer que eu leve para você? - Pergunto.
- Não. - Ela nega com a cabeça.
- Tem certeza?
- Tenho sim. - Ela sorri fraco.
Começamos a caminhar lado a lado pelo longo corredor, e parece que quanto mais ela anda, mais ela fica nervosa.
Também estou nervosa, mas tento não demonstrar para ela como estou me sentindo. Se Izan está tratando mal quem esteve ao seu lado a vida toda, imagina uma desconhecida como eu.
- Poderia me fazer um favor. - Ela pede.
- Claro. - Digo.
- Abra a porta.
Faço o que Susan pede, e fico a observando de longe enquanto ela entra no quarto escuro.
- Está dormindo Izan? - Ela pergunta.
- Sim. - Ouço sua voz grave pela primeira vez.
- Está na hora da sua refeição.
- Não estou com fome. - Ele parece irritado. - Então pode deixar e sair.
- Posso acender as luzes? - Ela pergunta para ele. - Ou abrir as janelas?
- Eu mandei sair! - Sua voz se altera um pouco.
A única luz no quarto é de um abajur ao lado da cama, e está tão fraca que quase nem da para enxergar direito.
Entro no quarto tranquilamente, olho em volta e vejo grandes cortinas, então caminho até elas e as abro.
- Mas que... - Ele se cala por alguns segundos quando me vê. - Quem é você?
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