Júlia

- Acho que vou deixá-los conversar a sós. - Becca fala.

- Não me deixe aqui sozinha. - Seguro seu braço e peço baixinho.

- Izan está me chamando Jhony? - Ela finge.

- Bem...

- Já vou então, antes que ele venha atrás de mim. - Ela o corta antes dele dar sua resposta.

Becca tira minha mão do seu braço e sai da cozinha antes que eu a impeça novamente.

Jhony e eu ficamos nos encarando por algum tempo sem dizer nada, então ele começa a caminhar em minha direção, e se antes eu estava nervosa, agora parece que meu coração vai saltar do peito.

- Quer uma maçã? - Me viro de costas para ele rapidamente.

- Não, mas quero mais um pouco do chá.

Coloco a faca sobre a pia, em seguida caminho até ele e pego sua xícara com as mãos trêmulas e lhe sirvo mais um pouco do chá.

- Obrigado. - Ele agradece quando lhe entrego a xícara.

- Por nada.

Jhony leva a xícara a boca, e eu fico o observando atentamente, mas quando ele percebe que estou encarando fujo mais uma vez.

Volto para a pia novamente, e começo a cortar a maçã mesmo com as mãos trêmulas.

- Ai. - Faço uma careta quando corto meu dedo.

- O que aconteceu? - Jhony pega minha mão.

- Foi só um pequeno corte.

- Quer que eu faça um curativo? - Ele pergunta ainda segurando minha mão.

- Não será necessário, não foi nada.

Jhony pega um lenço no bolso da calça, e aperta sobre o corte no meu dedo para limpar o sangue.

Meus olhos se enchem de lágrimas quando me lembro do passado, então puxo minha mão rapidamente e me viro de costas para ele.

- O que você tem Júlia?

- Nada. - Minto.

- Você não sabe mentir. - Jhony me vira para ficar frente a frente com ele.

Abaixo a cabeça rapidamente e enxugo meu rosto para ela não ver as lágrimas.

- Por que está chorando?

- Eu não estou.

Jhony coloca a mão no meu queixo e levanta minha cabeça, em seguida limpa minhas lágrimas e pergunta:

- Por que está chorando Júlia?

- Já disse que não estou. Apenas entrou um cisco nos meus olhos.

- Por que está agindo dessa forma?

- Que forma? - Retruco.

- Não se faça de boba. - Ele revira os olhos.

Dou um passo para o lado, puxo uma cadeira e me sento.

- Você ouviu o que eu disse não ouviu? - Pergunto.

- Sim. - Ele assume.

- Merda. - Praguejo baixinho.

Jhony pega uma das cadeiras e se senta de frente para mim, o que me faz me sentir ainda mais idiota por não ter controlado minha língua.

- Eu sei que é estranho nos encontrar depois de tanto tempo, mas nossos amigos vão se casar. De agora em diante nos veremos com frequência, então seria bom começarmos a ser amigos.

- Amigos. - Repito a palavra.

- Você não quer ser minha amiga Júlia? - Ele pergunta.

- Como eu poderia? - Murmuro comigo mesmo.

- O que falou? Não entendi.

- Não foi nada. - Forço um sorriso.

Depois de tanto tempo dizendo a mim mesma que esqueci Jhony completamente, do nada ele reaparece na minha frente, e esfrega na minha cara como menti para mim mesmo por tanto tempo.

Nunca achei que o veria novamente, mas aqui está ele, sentado na minha frente querendo ser meu amigo, mas não tenho certeza se quero isso para minha vida.

Eu ainda amo Jhony, e vê-lo com frequência não vai me ajudar em nada esquecê-lo, então como poderia sermos amigos?

A culpa dele ter terminado comigo foi minha. Depois de um tempo eu percebi isso, e também percebi que perdi o único homem que amei em toda minha vida.

Naquela época eu era mimada e arrogante, não percebia o quanto eu o fazia sofrer com minha falta de confiança, e ciúmes. Jhony sempre foi um namorado prestativo, ficava ao meu lado mesmo eu sendo uma garota fútil, mas um dia ele se cansou e foi embora.

Eu sabia que ele me amava, e por isso me suportou por tanto tempo. Tenho certeza que ele esperava que em algum momento eu iria amadurecer, mas quando percebeu que talvez isso jamais acontecesse ele me largou.

Quando enfim abri meus olhos para o mundo real era tarde demais. Jhony já havia ido embora, e nem ao menos se despediu de mim.

No começo eu cupava-o, mas quando eu assumi que a culpa era minha, parei de culpá-lo por ter me deixado no dia que pensei que seria pedida em noivado.

Jhony me suportou por tanto tempo que até eu fico surpresa. Eu sei que outro homem no seu lugar teria desistido de mim o mais depressa possível.

Foi um pouco menos dolorido porque tinha Angel e Becca ao meu lado, então elas me deram forças e me fizeram desejar ser uma pessoa melhor.

Minhas amigas sempre me aconselhavam e diziam que eu iria perder Jhony se não mudasse minhas atitudes, mas era idiota demais para enxergar que ele estava se cansando de mim mesmo me amando.

Agora eu sou uma pessoa totalmente diferente do que era no passado, e mesmo que tenha se passado algum tempo continuo o amando, mas acho que Jhony já me esqueceu, ou não teria sugerido ser meu amigo.

É completamente compreensível não querer a mulher que lhe fez sofrer por tanto tempo, mas só de pensar na possibilidade de que ele me esqueceu meu coração dói.

Jhony deve ter seguido sua vida, e eu não tenho nenhum direito de falar nada, mas se nesse exato momento ele me dissesse que me queria de volta, aceitaria no mesmo instante.

Mas como ele poderia? Depois de ter um relacionamento fracassado comigo, tenho certeza que ele não tem confiança em mim, e não vai me querer jamais.

Tudo o que posso fazer de agora em diante é seguir com minha vida, tentar esquecê-lo completamente. Talvez eu passe toda minha vida o amando, ou talvez eu consiga esquecer Jhony com o tempo.

- Amigos Júlia? - Ele me estende a mão.

Não falo nada e fico olhando para sua mão estendida por um tempo em silêncio.

- Júlia?

- Me desculpe Jhony, mas eu não posso ser sua amiga.

- Por quê? - Ele pergunta confuso.

- Você me ouviu dizer que ainda te amo, então...

- Isso é passado Júlia, devemos seguir em frente. - Ele me corta.

- Talvez você consiga seguir em frente, e também ser amiga da sua ex-namorada, mas para você é fácil já que não tem nenhum sentimento por mim. - Falo triste. - Eu ainda te amo, então seria muito difícil para mim ser sua amiga nesse momento.

Me levanto e me viro de costas para ele novamente, e tapo meu rosto com as mãos para tentar me acalmar.

Eu não seria capaz de ser sua amiga, não seria capaz de lhe dar conselhos sobre outra mulher, e ainda fingir não se importar. Talvez Jhony esteja solteiro, mas em algum momento ele terá um relacionamento, e vai me apresentar a pessoa que escolheu por sermos amigos, mas eu sei que não seria capaz de suportar isso.

Eu não sou tão fria ao ponto de fingir que não me importo, então será melhor mantermos distância mesmo que nossos amigos vão se casar.

- Me perdoe por não dizer o que você deseja ouvir.

- Não me peça perdão Jhony. - Suspiro alto. - Eu que te devo pedir perdão por tudo o que fiz você passar no passado. Nunca tive a chance de me desculpar, então me perdoe por favor, você não tem culpa de nada.

- Júlia...

- Estou cansada, então vou para meu quarto. - O corto.

Começo a caminhar para fora da cozinha, mas eu paro por alguns segundos, me volto para Jhony e lhe dou um rápido abraço, e um beijo na bochecha logo em seguida.

- Espero que encontre uma boa mulher que lhe mereça e que te faça muito feliz como eu não fui capaz de fazer. - Sorrio fraco. - Eu realmente espero que seja feliz Jhony.

Ele abre a boca para dizer algo, mas em seguida a fecha de novo e se mantém em silêncio.

- Adeus Jhony.

Meu coração se parte mais uma vez quando olho para o rosto do homem que amo, então antes que eu faça uma loucura saio da cozinha em passos largos deixando o amor da minha vida para trás.

🌻

- Pare de chorar Júlia. - Becca me consola.

- Não estou chorando porque quero. - Digo em soluços.

- Eu achei que acabariam voltando. - Angel fala.

- Eu também. - Becca suspira alto.

- Como ele poderia querer algo comigo depois de tudo o que eu fiz?

- As pessoas são capazes de mudar Júlia. - Becca enxuga minhas lágrimas. - A prova disso é você.

Não posso ficar com o homem que amo, mas pelos menos me tornei um ser humano melhor, então deveria ficar animada por isso.

- Izan me humilhou muitas vezes, e agora estou noiva dele. - Becca fala. - Ele foi capaz de assumir seus erros da mesma forma que você, então deveria se sentir feliz por ter tido a chance de ser uma boa pessoa.

- Eu me sinto orgulhosa de mim mesma, mas parece que falta um pedaço do meu coração.

- É porque falta minha amiga. - Angel da um tapinha no meu braço. - Mas você é uma mulher forte, vai superar isso com o tempo.

- É o... - Antes que eu termine de dizer algo a campainha toca.

- Quem será a essa hora? - Becca olha para o relógio sobre o pulso.

Ela se levanta, caminha em direção a porta do quarto e a abre.

- Deveria terminar com meu namorado para sermos duas amigas solteironas? - Angel se deita ao meu lado.

- Não seja idiota. - Começo a rir.

- Estou falando sério.

- Eu ainda quero ter a chance de segurar seus filhos nos meus braços, então nem pense em estragar tudo. - Aponto o dedo para ela.

- Eu não vou. - Angel sorri. - Nunca achei que seria capaz de gostar de alguém, e agora que descobri esse sentimento estou me sentindo incrível.

- O amor faz isso com as pessoas.

Olho para o lado quando a porta do quarto é aberta novamente, então Becca fala:

- Angel venha até aqui.

- Por quê? Quem tocou a campainha?

- Foi engano. - Becca fala. - Agora se levanta e venha me ajudar.

- Sim senhora. - Angel revira os olhos.

- Depois de terminarem voltem para o quarto, não quero ficar sozinha! - Grito.

Becca fecha a porta assim que Angel sai do quarto, então dou um tapa no meu rosto quando sinto vontade de chorar novamente, então pego o cobertor e puxo sobre minha cabeça como se eu fosse capaz de me esconder de algo.

- Que merda Júlia, se controle.

Sinto que alguém senta na beirada da cama, então tiro o cobertor de sobre minha cabeça.

- Já volto... - Me calo quando percebo que não é nenhuma das garotas.

- Você fica linda até mesmo quando está chorando.

- O que está fazendo aqui Jhony? - Pergunto confusa.

Me assusto quando ele se deita ao meu lado, e quando vou me levantar ele me segura.

- O que está fazendo?

Jhony passa a mão por minhas bochechas, em seguida começa se aproximar lentamente até seus lábios se chocarem com os meus em um rápido beijo.

- Estou aqui para dizer que eu também te amo.

- O quê?! - Grito.

- Nunca fui capaz de te esquecer mesmo me esforçando para que isso acontecesse. - Ele sorri lindamente. - Fiquei com medo dos meus sentimentos então eu me mantive calado, mas depois de pensar por um tempo, enfim percebi que minha vida é tão sem graça sem você do meu lado.

- Está falando sério Jhony? - Pergunto chorando.

- Sim, eu estou falando sério então pare de chorar. - Ele limpa minhas lágrimas.

- Mas agora é de alegria.

Envolvo meus braços em volta do seu pescoço e o puxo para mais perto de mim e o abraço com força.

- Eu senti tanto a sua falta. - Ele assume.

- Eu também senti a sua.

Nos distanciamos, então Jhony me beija novamente. Um beijo cheio de saudades, mas repleto de amor e promessas.

- Quer namorar comigo Júlia? - Ele pergunta quando enfim paramos de nos beijar.

Pego a mão do Jhony e a beijo, em seguida me aproximo dele lentamente com um sorriso feliz nos lábios e cochicho no seu ouvido:

- Com toda certeza eu quero namorar com você.