Capítulo 20
Izan
- Izan? - Escuto alguém chamar por mim.
- Hum.
- Acorde.
Abro os olhos lentamente, olho para o lado e vejo que Becca me encara preocupada. Meu coração está acelerado e sinto todo meu corpo trêmulo, mas sinto que começo me acalmar quando vejo o rosto da Becca.
- Você está bem? - Ela pergunta. - Teve outro pesadelo?
- Sim.
Becca enxuga o suor da minha testa com a mão, em seguida se deita ao meu lado novamente.
- Quer falar sobre o sonho? - Ela pergunta.
- Não está cansada? Tem certeza que quer falar sobre isso?
- Já dormi o suficiente. - Ela sorri de canto.
Pego a mão de Becca, seguro contra meu peito enquanto ela se aproxima ainda mais de mim.
- Sonhei com o dia do acidente. - Assumo.
- Deve ter sido muito doloroso para você. - Ela me olha triste. - Por isso que eu te falei para ir em um psicólogo. Você passou por um trauma muito grande, então seria bom se buscasse ajuda de um profissional.
- Eu tenho você, e para mim já é o suficiente.
- Não seja teimoso Izan. - Ela suspira alto.
- Quando acordei e te vi do meu lado, não fiquei assustado.
- Não coloque toda sua confiança em mim, eu sou apenas uma enfermeira.
- Não estou falando sobre sua profissão, mas sobre ter você ao meu lado sendo minha namorada.
Eu sei que Becca está preocupada, mas eu realmente me sinto bem quando ela está ao meu lado e toda preocupação desaparece.
- Eu tenho medo...
- Você foi e continuará sendo a pessoa que vai me curar por completo. - A corto. - Entendo que esteja com medo, mas enquanto você estiver ao meu lado, não terá motivo para se amedrontar.
- Mas...
- Eu já te prometi que se ficar muito difícil eu vou procurar um profissional. - A corto novamente.
Eu estava me tornando um homem neurótico depois do acidente. Todas as noites eu sonhava com o que aconteceu e me culpava por não ter sido capaz de salvar a vítima, mas a Becca me monstrou que eu não era culpado.
Eu realmente fiz tudo o que pude, até mesmo me sacrifiquei, mas infelizmente não tive a sorte de salvá-la.
A última coisa que me lembro daquele dia antes de desmaiar, foi um sorriso de agradecimento por ter salvo sua filha, e quando acordei já estava no hospital.
Aquele sorriso me fez me sentir ainda mais culpado, e ainda faz meu coração doer todas às vezes que me lembro da sua feição naquele momento.
Ninguém poderá apagar da minha memória o que aconteceu, e mesmo que seja dolorido lembrar, tenho certeza que com Becca ao meu lado, se tornará mais fácil de superar a cada dia que se passar.
Talvez futuramente se torne apenas uma memória triste do passado, e então aquele sorriso deixe de me assombrar.
- Posso perguntar algo?
- Sim. - Digo apenas.
- O que aconteceu com a garotinha?
- Ela foi levada para um orfanato, pois a única família que tinha era sua mãe. - Digo. - Mas pedi ajuda para alguns amigos tentar adotá-la em meu nome enquanto eu me recupero.
- Sério? - Becca arregala os olhos.
- Não gosta dessa ideia? - Pergunto.
- Claro que gosto. - Ela sorri abertamente. - Isso só me monstra que você tem um coração bondoso.
Ainda é tudo muito recente entre eu e a Becca, mas já estava tentando achar uma forma de dizer a ela que pretendo adotar Laila.
Sempre soube que Becca tem um coração de ouro, mas fiquei com receio de ela não gostar muito da ideia de viver ao meu lado com uma criança que não seja nossa filha de sangue.
Comecei esse relacionamento com a intenção de ficar para sempre ao seu lado, então é bom saber que a adoção da Laila não será um empecilho entre nós dois.
- Fiquei com medo de que não gostasse da minha ideia.
- Que bobeira é essa Izan? - Ela pergunta. - Na verdade estou orgulhosa de você.
- Sério?
- Pode ter certeza que sim. - Ela fala. - Você não tinha a obrigação de adotar a criança, mas mesmo assim está tentando fazer isso.
No começo eu apenas queria tentar compensá-la por não ter salvo sua mãe, mas conforme o tempo foi passando comecei a gostar da ideia de ser pai.
Ainda não é nada certo, e talvez não me deixem adotá-la, mas eu realmente espero que consiga.
Quero dar um futuro para a pequena Laila, quero que ela seja feliz mesmo sendo difícil por não ter a mãe do lado, mas se depender de mim irei cuidar e amá-la como se fosse minha filha.
Jenie e eu planejávamos ter filhos após nos casarmos, mas depois que sofri o acidente, percebi que tudo o que vivemos juntos não passava de mentiras.
- Por que parece irritado de repente? - Becca pergunta.
- Acabei me lembrando de uma pessoa desagradável.
- Essa pessoa seria a Jenie?
Olho para Becca por algum tempo, enquanto começo a pensar se devo ou não contar para ela o que me aconteceu no passado.
- Não precisa me falar. - Ela sorri fraco. - Eu não deve...
- Jenie era minha noiva. - A corto.
Sei que Becca sempre teve curiosidade para saber sobre ela, então é melhor dizer logo antes que possamos ter algum mal entendido.
- Estávamos planejando nos casar uma semana depois que aconteceu o acidente, mas tudo teve que ser adiado por causa do meu estado. Quando eu estava internado ela achou que eu estava em coma, então atendeu a ligação do seu amante enquanto eu estava com os olhos fechados.
- Não precisa me contar Izan. - Becca diz. - Não quero que lembre de coisas ruins.
- Jenie dizia ao seu amante que não teria coragem de se envolver com um homem deformado como eu, que nem mesmo todo meu dinheiro valia a pena o sacrifício que ela teria que fazer. - Continuo a falar. - A mulher que eu confiava e amava não passava de uma interesseira, e eu só fui descobrir isso depois do acidente. Quando Jenie me viu de olhos abertos ela nem mesmo tentou dizer que havia um mal entendido, a forma que ela me olhava já demonstrava o nojo que sentia por mim naquele momento, e quando ela enfim abriu a boca tudo o que saiu foi veneno.
- Desgraçada. - Becca murmura entre dentes.
Ela se levanta e se senta na cama, e parece pronta para matar alguém a qualquer momento.
- Eu deveria dar uma boa surra nessa megera.
- Na verdade algo bom aconteceu por causa do meu acidente. Me livrei de me casar com um mulher mesquinha que não me amava, e sim o meu dinheiro.
- Você ainda sente algo por ela Izan? - Becca pergunta. - Não se passou muito tempo...
- A única coisa que sinto por ela é repulsa. - A corto.
- Tem certeza?
- Tenho certeza absoluta! - Digo com convicção. - Eu amei Jenie mais do que a mim mesmo, mas não restou nenhum resquício desse amor.
Becca parece não acreditar em mim, então a puxo para o meu lado e aproximo meu rosto do seu.
- Eu disse a mim mesmo que jamais me envolveria com outra mulher porque havia perdido a confiança, mas quando eu percebi como você é incrível, decidi tentar novamente. - Passo a mão por seu rosto. - Tenho certeza que te amarei com o tempo, então por favor Becca, se não tem intenção de me amar também é melhor me dizer logo.
- Não posso te dizer que tenho certeza sobre te amar futuramente, mas nesse momento pode ter certeza que tudo o que mais quero é estar ao seu lado. - Ela sorri lindamente. - Vou cuidar de você, vou te mostrar que a sua vida não acabou por causa das marcas em seu corpo. Vou fazer você se amar do jeito que é, e me esforçarei ao máximo para fazer você sorrir todos os dias.
- Não tem medo que vá se arrepender futuramente? - Pergunto. - Você já deve saber que não vai ser nada fácil...
- Eu sei que não vai ser fácil para nenhum de nós, mas se depender de mim você será muito feliz Izan. - Ela me corta.
Depois de Jenie jogar na minha cara que tinha nojo de mim, acabei achando que era alguém repugnante, então tenho medo que Becca vá se arrepender.
Eu sei que ela não é nem um pouco parecida com minha ex-noiva, mas passar a sua vida toda sendo acusada de estar ao lado de um homem como eu por dinheiro, talvez seja difícil de suportar.
- Pare de pensar demais. - Ela passa o dedo polegar por minha testa. - Quando eu decido fazer algo eu vou até o fim, e com esse relacionamento não será diferente Izan. Seja nos bons ou nos maus momentos, eu sempre estarei ao seu lado segurando sua mão.
- O que eu fiz para merecer uma mulher incrível como você? - Sorrio abertamente.
- Dê muito valor, porque realmente sou uma mulher incrível. - Becca beija minha testa.
Ela beija minha bochecha, e minha testa novamente, a ponta do meu nariz, em seguida beija meus lábios demoradamente.
- Agora tente dormir mais um pouco. - Becca fala.
Ela se levanta e senta na beirada da cama, então pergunto:
- Onde você vai?
- Vou pegar algum remédio no meu quarto.
- Está sentindo dor?
- Um pouco de cólica. - Ela aperta a barriga.
Becca se volta para mim e arruma o lençol sobre meu corpo, em seguida caminha em direção a porta do quarto.
- Eu já volto. - Ela sorri e fecha a porta.
Algum tempo depois continuo olhando para a porta, mas nada da Becca voltar para o quarto, então tiro o lençol de cima de mim e me levanto lentamente.
Minhas costas doem por estar me esforçando, mas me levanto mesmo assim e começo a caminhar em direção a porta do quarto e a abro.
Olho no corredor e não a encontro, então dou alguns passos em direção a porta do seu quarto, levo a mão a maçaneta para abri-la, mas paro de repente quando escuto um barulho.
- Becca? - Chamo por ela.
Ela não dá nenhum sinal de vida, então abro a porta e me deparo com ela caída no chão, enquanto sua testa sangra.
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