Izan

- Eu posso comer sozinho Becca. - Sorrio abertamente.

- Você pode até estar melhor, mas isso não quer dizer que pode fazer esforço. - Ela me responde franzindo a testa.

- Que esforço estaria fazendo? Levando a colher até a boca?

- Não seja teimoso Izan. - Ela bufa alto. - Estou aqui para cuidar de você, e é isso que farei, então abra a boca.

- Você é bem mais teimosa que eu. - Murmuro entredentes.

- O que você disse? - Becca pergunta.

- Nada.

- Então abre a boca izan.

Faço o que ela pede, então ela começa levar a colher em minha direção, mas antes de colocar o alimento na minha boca ela me engana e coloca na sua.

- Que delícia. - Ela geme baixinho. - Susan arrasou como sempre.

- Se está tão bom então me dá um pouco. - Peço com a boca salivando.

Ela faz sinal para eu abrir a boca, mas novamente me engana, o que começa me deixar irritado.

- Quer saber? Perdi o apetite! - Digo irritado um pouco mais alto que o necessário. - Brincadeira mais sem graça!

- Sério? - Ela me encara com seus grandes olhos, e parece decepcionada comigo nesse momento.

- Me desculpe. - Peço. - Fui rude sem perceber.

- Não precisa se desculpar, a culpa foi minha por provocá-lo.

Percebo que ela força um sorriso, enquanto seus olhos se enchem de lágrimas.

- Você vai chorar? - Pergunto preocupado.

- Não. - Ela coloca a tigela sobre o criado mudo.

- Então olhe para mim. - Peço.

Becca continua com o rosto virado para o outro lado, então levo minha mão ao seu queixo e viro seu rosto para o meu lado novamente, e no mesmo instante meu coração se aperta ao ver as lágrimas banhando seu rosto.

- Por favor pare de chorar! - Peço sem graça.

- Não... estou... chorando... - Ela diz entre soluços.

- Me perdoe. - Passo minha mão por seu rosto.

Eu não deveria ter praticamente gritado, mas em pouco tempo acabou se tornando um hábito horrível, e quando eu percebi o que havia feito era tarde demais.

Becca nunca demonstrou fraqueza na minha frente, mesmo que eu tenha dito coisas horríveis para ela, mas por quê de repente começou chorar por algo considerado simples perto do que ela sofreu em minhas mãos?

- Eu prefiro ver você gritando comigo, do que chorando. - Digo sincero.

- Já disse que não estou chorando. - Ela limpa o rosto com brusquidão.

- Está bem. - Sorrio abertamente.

A puxo para mais perto de mim, então Becca coloca a cabeça no meu peito enquanto passo a mão por seus cabelos.

- Está melhor? - Pergunto.

- Você está cheiroso.

- Isso é porque minha enfermeira me deu banho hoje. - Sorrio.

- Sua enfermeira parece ser uma mulher incrível. - Ela se levanta e me olha nos olhos.

- Ela é sim, uma pena que não percebi no começo. - Suspiro levemente.

Seu rosto está rosado, e percebo que é a primeira vez que acho uma mulher bonita depois de ter acabado de chorar.

Becca parece meiga e inocente nesse momento, mas eu sei que ela não é nem um pouco meiga.

- Por que está me encarando? - Ela pergunta desconfiada.

- Você fica horrível quando chora. - Minto.

- Quem fica bonito quando chora? - Ela retruca.

Becca encosta na cama, passa a mão pelo rosto e em seguida arruma os cabelos em um coque. Provavelmente estou ficando louco, porque comecei a olhar para ela e observar os mínimos detalhes, e a cada dia que se passa ela parece ainda mais incrível.

Fui tão idiota com Becca, que me pergunto como ela ainda está ao meu lado e foi capaz de me perdoar. Alvin e Susan também tiveram que suportar muita coisa, mas Becca foi a que mais sofreu com minhas grosserias.

Estava ficando tão cego pela culpa é pela raiva que sinto de Jenie, que comecei maltratar todos a minha volta, e a duvidar do caráter de qualquer um.

Alvin e Susan jamais teriam coragem de me jogar na cara o quanto eu estava errado, mas Becca foi corajosa o suficiente para me enfrentar sem medo algum.

Através dela me dei conta do homem cruel que estava me tornando, e quando eu percebi, não gostei nem um pouco do que eu vi em mim mesmo.

Becca foi capaz de me trazer de volta antes que fosse tarde demais, e por isso serei eternamente grato.

- Por que começou a chorar de repente? - Pergunto.

- Estou de T.P.M. - Ela diz. - Agora estou extremamente sensível, então acabarei chorando por qualquer coisa, mas provavelmente daqui a pouco estarei querendo sua cabeça em uma bandeija.

- O quê? - Levo a mão ao pescoço.

- Você não pode entender o que se passa na mente de uma mulher no dias do seu ciclo menstrual, então sugiro que me trate muito bem.

- Está me deixando com medo. - Assumo.

- Não precisa ter medo, e sim cuidado. - Ela sorri de uma forma estranha.

- Tomarei o dobro de cuidado ao abrir minha boca.

- Sabia decisão meu caro. - Becca passa a mão por seus cabelos.

Realmente nunca entendi uma mulher na T.P.M., e para dizer a verdade desisti de entender, porque é algo incompreensível para todos os homens.

- Mais uma vez me desculpe Becca. - Peço. - Provavelmente ainda serei grosso em alguns momentos, mas estou esforçando para mudar completamente.

- Está me pedindo perdão por medo? - Ela sorri sombriamente. - Está com medo que eu apareça no meio da noite com uma machado e faça picadinho do seu corpo?

- Pare com isso, está me deixando com medo desse seu olhar do mau.

Becca se aproxima de mim lentamente e cochicha no meu ouvido:

- Talvez eu seja má.

Em seguida ela dá uma risada estranha, que faz todo meu corpo se arrepiar.

- Becca...

- Estou brincando com você Izan. - Dessa vez ela começa a gargalhar da minha cara de idiota.

- Você me assustou. - Levo a mão ao peito.

- Estou vendo, parece que está prestes a sair correndo sem olhar para trás. - Ela diz ainda rindo.

- Não tem graça. - Digo emburrado.

- Se pudesse ver sua cara com toda certeza acharia graça. - Ela aponta o dedo para mim.

Ela se levanta da cama, pega a tigela e coloca sobre a bandeija.

- O que está fazendo? - Pergunto.

- Seu almoço está frio, vou ir esquentar.

- Não precisa. - Nego com a cabeça.

- Tem certeza? - Ela pergunta.

- Sim, não me importo em comer comida fria.

Becca coloca a bandeija sobre o criado mudo novamente, pega a tigela e se senta na beirada da cama, e começa a me alimentar, mas dessa vez sem brincadeiras.

Não sei porque ela insiste em fazer isso, posso usar minha mão esquerda, mas Becca é tão teimosa, que não me deixa fazer quase nada sozinho.

Eu sei que é seu trabalho cuidar de mim, mas às vezes é um pouco exagerado, mas tenho que assumir que uma parte de mim gosta da sensação de ser cuidado por alguém.

Becca é realmente uma enfermeira incrível, e agora posso ver como meu pai tinha razão quando falava sobre ela.

Antes de Becca vir para a ilha nunca tinha a visto pessoalmente, apenas ouvia meu pai falar sobre ela.

Ele a elogiava tanto, que comecei a desconfiar que os dois tinham um caso, também achei que Becca havia chegado tão longe no hospital por estar seduzindo um senhor. Quando soube que ela seria minha enfermeira fiquei com muita raiva, e comecei a descontar nela minhas frustrações.

Fui tão idiota, que acabei a acusando de muitas coisas, mas agora percebo o quanto eu estava errado ao pensar algo tão baixo a seu respeito.

Óbvio que nunca falei sobre minhas suspeitas com ela, apenas a insultava de todas as formas possíveis para tentar acabar com a minha raiva.

Não demorou muito para eu perceber que estava errado a seu respeito, e que na verdade Becca realmente é uma excelente profissional, e agora posso entender meu pai.

No lugar dela não sei se me suportaria por tanto tempo, ou perdoaria meus insultos, mas isso só serve para eu ver o quanto eu estava errado ao pensar o pior sobre ela. Becca tem um coração muito bom, caso contrário ela jamais olharia no meu rosto depois de tudo o que fiz.

- No que está pensando? - Ela pergunta.

- No quanto tenho sorte por ter você ao meu lado.

- Você realmente é um homem de sorte. - Becca bagunça meus cabelos.

Meu coração se acelera quando percebo que acabei falando demais, mas logo me acalmo quando ela sorri lindamente.

Por que de repente me sinto feliz quando Becca sorri para mim? Ou fico triste quando ela está triste? Estaria me apaixonado por ela depois de prometer a mim mesmo jamais amar novamente? Ou estou apenas me sentindo grato por ter seus cuidados e sua atenção?