Capítulo 14

- Izan ainda não voltou a falar com você? - Susan pergunta.

- Não. - Lhe respondo.

- Não se preocupe. - Ela pega minha mão e aperta de leve. - Tenho certeza que não vai demorar muito para ele voltar a gritar com todos nós.

- Espero que isso não aconteça. 

Izan está uma semana sem falar comigo, e nem ao menos olhou no meu rosto.

Na verdade a paz está reinando na casa, e apesar de achar isso bom, também é estranho. Óbvio que eu quero que ele diga alguma coisa, mas se for voltar a gritar com todos é melhor permanecer com a boca fechada.

Mas tenho que assumir que não consegui me acostumar com o fato dele permanecer em silêncio, e não estar gritando com todos. Estou acostumada com o Izan barulhento e mal educado, e não o Izan que não abre a boca para falar nada.

Todos os dias lhe dou seus remédios, limpo seu corpo e faço seus curativos, e ele continua quieto.

Por incrível que pareça sua feição não demonstra irritação, e sim tristeza. A cada dia que passa me sinto ainda mais culpada por ter mencionado o nome da Jenie em nossa discussão, mas infelizmente não posso voltar no tempo e desfazer minha cagada.

Sinto um aperto no peito quando o vejo tão quieto e solitário, mas por mais que eu tente puxar assunto com ele, Izan permanece em silêncio e me ignora por completo.

Apesar de não demonstrar no momento, ele deve me odiar ainda mais por ter a boca grande. Talvez ele realmente esteja triste, ou talvez ele esteja apenas planejando seu próximo passo, e eu esteja sentindo pena atoa.

Vindo de Izan posso esperar qualquer coisa, então é melhor manter meus olhos bem abertos, e ficar o mais alerta possível.

- Ele voltou a conversar com você e o Alvin? - Pergunto.

- Não. - Ela nega com a cabeça. - Izan está fazendo jejum de silêncio com todos nós.

- O que ele está planejando agindo dessa forma?

- Eu também gostaria de saber. - Susan sorri fraco.

- Ele ficou tão magoado que não quer falar com ninguém?

- Izan ficaria mais irado do que irritado com a menção do nome da Jenie. - Susan fala.

- Mas você deve ter percebido que ele está com um olhar triste. - Bebo um pouco do meu café.

- Enquanto ele não esquecer o que aconteceu e seguir sua vida, vai continuar triste.

O motivo de Izan ter negado o tratamento com tanta convicção será por causa dessa mulher? Ela fez algo tão cruel que ele acabou desejando a morte?

Se ele a odeia tanto assim, Jenie deve ter o machucado demais, e eu acabei estragando tudo ao mencionar seu nome.

Acho bem improvável, mas se tivesse uma pequena chance do Izan começar agir diferente comigo, ou até mesmo nos tornarmos amigos, tenho certeza que essa chance acabou quando abri minha boca.

Ele até pode estar me ignorando e continuando em silêncio dia após dia, mas isso não quer dizer que ele vá me perdoar pelo que fiz.

Eu sei que não deveria me importar com o que ele pensa depois de tanto ser humilhada por ele, mas por alguma razão eu não quero que ele me odeie.

Na verdade quero que Izan seja meu amigo e comece a confiar em mim ao ponto de me contar seus segredos. Não desejo isso apenas porque quero saber sobre a Jenie, mas porque não quero que ele se afunde ainda mais em seu mundo de dor e solidão.

Susan e Alvin tem esperança de que ele mude algum dia, e para falar a verdade eu gostaria de conhecer o Izan de antes. Quero ter a chance de descobrir o quão gentil ele era no passado, e torço para que de alguma forma eu possa fazê-lo enxergar que sua vida não acabou apenas porque terá cicatrizes em seu corpo.

Se Izan começar a aceitar o fato de que é um privilegiado por estar vivo, talvez ele comece a repensar suas atitudes ruins até agora, e possa ser novamente o Izan que não tive a chance de conhecer.

Desde o início eu desconfiei quando ele não queria aceitar o tratamento, e quando Susan me contou a causa do seu acidente, ainda tive algumas suspeitas. Com toda certeza foi algo horrível o que aconteceu, mas eu sempre achei que tinha algo mais, e que ele não havia mudado somente porque não conseguiu salvar a mulher do incêndio.

Ele deve se sentir culpado, e talvez em parte isso também tenha interferido na sua mudança, mas agora tenho certeza que Jenie deve ser a pessoa que mais o afetou.

Enquanto eu não descubro o que aconteceu só posso deduzir, mas acho bem improvável que eu esteja errada dessa vez.

Como Susan falou anteriormente, se Izan não deixar o passado de lado, vai continuar sofrendo, e quanto mais tempo passar, mais fundo ele estará mergulhando em um mar de dor e solidão.

Não posso comparar o que aconteceu comigo e com ele, porque tenho certeza que ele sofreu bem mais do que eu, mas quando eu descobri que o homem que eu amava e pensei passar o resto da minha vida estava me traindo, meu mundo desabou, mas eu decidi seguir em frente, decidi não sofrer por alguém que não valia uma lágrima sequer.

Eu poderia ter me tornado uma pessoa amarga, mas do que adiantaria? Faria eu me sentir melhor de alguma forma? Tenho certeza que só me faria sofrer ainda mais, por isso decidi que o melhor era ignorar um homem repugnante.

Na verdade acho que Julius me fez um grande favor, caso contrário meu casamento teria sido um fracasso. Ainda bem que descobri antes que fosse tarde demais, ou minha vida teria sido muito complicada.

Acho que o mesmo serve para Izan. Quando ele decidir deixar o passado no passado e seguir em frente, tenho certeza que sua vida vai melhorar e muito.

- Está na hora do medicamento do Izan. - Empurro a cadeira e me levanto.

- Talvez ele abre a boca hoje para dizer algo. - Susan também se levanta.

- Vamos torcer por isso. - Sorrio abertamente.

Depois de sair da cozinha, começo a caminhar em direção as escadarias, e quando olho para cima vejo Alvin correndo.

- O que aconteceu Alvin? - Pergunto preocupada.

- Acho... acho que Izan trancou a... a porta. - Ele diz ofegante.

- O quê? - Arregalo os olhos.

Subo as escadarias correndo, e assim que paro em frente à porta do quarto do Izan levo minha mão a maçaneta e a giro.

- Abra a porta Izan! - Grito quando vejo que realmente está trancada.

Encosto na porta para ver se escuto algum movimento dentro do quarto, mas está tudo extremamente silencioso.

- Abra a porta Izan! - Alvin também pede.

- Tem uma chave reserva? - Pergunto.

- Sim, mas eu acho que ele a pegou de mim enquanto eu estava despercebido.

Alvin está com um maço de chaves nas mãos, e as olham por diversas vezez.

- Não está aqui. - Ele fala depois de um tempo.

Começo a andar de um lado para o outro, mas de repente me vem uma ideia na mente.

- Tem alguma escada? - Pergunto.

- Sim. - Alvin fala. - O que pretende fazer?

- É alta o suficiente para alcançar a janela do quarto?

- Sim.

- Então a pegue por favor. - Peço.

Alvin começa a caminhar e eu o sigo de perto, e quando estamos descendo as escadarias Susan pergunta:

- O que aconteceu?

- Izan se trancou no quarto. - Alvin fala.

- Tenta convencê-lo a abrir a porta Susan. - Peço.

- Ok.

Susan começa a subir as escadarias correndo, enquanto eu e Alvin caminhamos para fora da casa.

Depois de algum tempo estou em frente a janela do quarto de Izan, enquanto Alvin coloca a escada.

- Deixe que eu vou. - Digo quando ele começa a subir.

- É muito perigoso Becca. - Ele fala.

- Eu sei, mas deixe isso comigo. - Forço um sorriso.

Alvin não é nenhum adolescente, então tenho certeza que será mais perigoso para ele do que para mim.

- Me deseje sorte.

- Boa sorte querida. - Ela fala.

Começo a subir a escada lentamente enquanto Alvin a segura abaixo de mim. Apesar de me sentir um pouco trêmula continuo subindo sem olhar para o chão.

Não sou uma pessoa que tem medo de muitas coisas, mas altura é o que me deixa apavorada.

- Coragem Becca. - Digo a mim mesma. - Você consegue.

Paro por um tempo, fecho meus olhos e suspiro alto na tentativa de me acalmar, mas é em vão.

- Você está bem Becca? - Alvin pergunta.

- Si... sim. - Lhe respondo.

Abro os olhos lentamente e olho para cima, e parece que estou tão distante do meu destino final, mas continuo subindo tranquilamente.

Quando estou quase na sacada do quarto de Izan, o vejo olhando para o horizonte.

- Izan! - O chamo.

Ele olha em volta quando escuta minha voz, e quando me vê ele pergunta:

- O que está fazendo Becca? Está louca?!

- A culpa é sua. - Digo nervosa.

- Desça logo, é muito perigoso.

Se eu apenas levantar minha perna e soltar minha mão da escada consigo subir na sacada, mas estou com tanto medo que não consigo me mover.

- Eu... Eu... eu acho que não consigo me mover. - Fecho meus olhos.

- Tem medo de altura?

- Si... sim. - Assumo.

- E foi louca o suficiente para subir...

- Se você não tivesse trancado a porta eu não teria feito isso! - Grito.

Abro os olhos lentamente quando sinto a mão do Izan sobre a minha. Ele me olha por alguns segundos e fala:

- Segure na minha mão.

- Eu... eu não...

- Apenas confie em mim. - Ele me corta.

- Você me odeia, é capaz de me empurrar daqui de cima.

Ele me ignora, se aproxima ainda mais de mim e fala:

- Não precisa se preocupar, eu não vou te jogar daqui de cima.

- Tem certeza? - Pergunto.

- Tenho sim. - Ele sorri.

Izan acabou de sorrir? Ou estou com tanto medo de cair que estou vendo coisas?

- Você... você sorriu?

- Quer falar sobre isso agora? - Ele revira os olhos.

- Você sorriu para mim.

Por um momento esqueço que estou em uma escada e solto minhas mãos para bater palmas.

Para minha infelicidade começo a me desequilibrar, mas antes que eu caia Izan pega minha mão e me segura com firmeza.

- Você está bem? - Ele pergunta preocupado.

- Acho... acho que vou desmaiar.

Meu coração está acelerado, e se antes meu corpo estava trêmulo, agora parece que sinto minha carne saltando no corpo.

- Não diga isso nem de brincadeira. - Ele fala. - Suba logo antes que acabe se machucando.

Izan não solta minha mão em momento algum, então de alguma forma isso me dá um pouco de confiança.

Assim que consigo subir na sacada, sou surpreendida quando Izan me abraça e beija o topo da minha cabeça.

- Por favor, nunca mais me assuste dessa forma, não quero ver outra pessoa morrendo por minha causa.

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