@steampunkedworld - Querida mãe

Eu me perdi. Lembro-me de quando era apenas um garotinho e você me dizia que eu seria um grande empresário, um médico ou um advogado, mas não segui seus planos.
Aos quinze anos usei sua maquiagem; passei um batom vermelho sangue e fiquei me admirando no espelho. Ah, como a senhora ficou furiosa! Isso não era normal para um menino.

Comecei a usar escondido, suas sombras, delineadores e lápis de olho. Descobri a diferença de qualidade, textura, e a tonalidade certa para o meu rosto. Aos dezessete, parei de me importar com o que dizia e comprei minha própria maquiagem. Fiquei feliz por ter entendido meu jeito de ser, mesmo após tantas discussões.

Me interessei por moda, estilo e música. Foi quando, em um desfile, me apaixonei pela primeira vez; como dizem genericamente, senti as famosas borboletas abaixo do estômago.

— Leonel, por que se apaixonou por um garoto? Tem tantas meninas lindas por aí. — A senhora me dizia, com um leve olhar decepcionado. Meu pai preferia nem entrar na conversa. Lembra? Se dizia imparcial. Não entendia, era o que eu sentia. Essa pergunta me irritava. Amor é amor! Demorou pata que entendessem, mas a senhora me compreendeu depois de uns meses.

Eu e Matias começamos um namoro sério, tinha dezoito anos nessa época. Foram os tempos mais felizes da minha vida! E então, veio o dia 18 de fevereiro de 1980:

Estávamos em uma caminhada pelo porto observando o mar, a lua... E Matias foi tirado de mim. Teve a vida ceifada por um desconhecido de capuz. Seria a morte personificada? Meu mundo desabou naquelas gotas de lagrimas, sujas de delineador borrado.

Os dias seguintes eu a ignorei, estava tão preso em mim, mãe. Me sentindo vazio, triste e com raiva daquele assassino que depois de muitas investigações só ganhou trinta anos de prisão. Os desfiles deram lugar a becos onde me refugiava em cocaína e heroína.

Queria esquecer, tampar o buraco em meu peito! Mas não conseguia, só me afundava mais.

Eu me perdi, perdi meu foco, perdi minha essência. Não era mais o simpático, sorridente e doce filho que costumava ver.

Hoje, o dia que lhe escrevo esta carta, dia 18 de fevereiro de 1982 estou recuperado. Moro em Claridade, uma bela cidade, e tenho uma pequena loja de cosméticos e roupas. Me recuperei das drogas, após conhecer uma jovem adorável que virou minha melhor amiga e cliente; creio que já ouviu falar da Clary (Tássio, mas ela odeia o nome verdadeiro) em outras cartas que enviei, ela me ajudou a me distanciar desse mundo.

Quero que saiba, que não voltarei para a capital. Não para morar, construir algo depois de tudo que passei, mas uma visita não está fora de questão.

Não esqueça de mim, ainda verá meus modelos de roupas estampados nas vitrines. Te amo!

Seu filho amado, Leonel.



Conheça mais da Autora Larissa Gomes em sua Obra Clary Pompkins.


  Link do Livro:https://www.wattpad.com/story/113586725?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top

Tags: