@leticiacampos985 Mergulho Em Águas Sombrias
Mergulhando Em Águas Sombrias
— Valendo!
Assim que ouvi o apito meu coração bateu forte, estava tremendo, nervosa, e muito ansiosa! A plateia, ao meu redor me olhava com expectativa e atenção. Já tinha passado por quase todas as etapas. Essa era a penúltima e iriam decidir quem iria para final, então meu salto teria que ser perfeito!
Aquele frio na barriga e o medo de errar não era nada, perto dos olhares dos técnicos lá em baixo. Mesmo assim, respirei fundo e andei até o final do trampolim. Contei mentalmente até três, pulando à medida que contava. No último, saltei para frente, dando vários giros no ar, depois flexionei meus braços e pernas me preparando, para mergulhar na água.
Assobios e aplausos preencheram o ambiente, me deixando feliz e emocionada. Já em pé, ergui as mãos molhadas para cima, sorrindo, surpresa comigo mesma.
— Monique! Você arrasou! — Escuto uma de minhas amigas, gritando bem alto.
Sai da piscina morrendo de frio e ela veio correndo ao meu encontro, jogando a toalha em meus ombros.
— Foi perfeito cara! Se você não ganhar a competição, eu realmente não sei quem vai!
— Talvez, ela? — Disse olhando a garota que já estava pulando no trampolim
— A Amanda? Tá, que ela é boa e tudo o mais, talvez esteja na final contigo... mas você precisa de mais confiança em si mesma! — Ela colocou a mão na minha cintura, observando o salto perfeito da garota — Uau! Isso foi... uau!
— Viu? Não disse? Olha, não sei se sou tão boa assim, Jennifer. Mas eu preciso ganhar. Você sabe o porque e o quanto isto é importante para mim.
— É claro, eu sei! Você passou em tudo, em primeiro lugar! E.… agora está na final!! Olha lá! Aí meu Deus!
— O que? — disse sorrindo sem acreditar
Olhei para o telão imenso e realmente meu nome estava entre as classificadas para a final. Ou melhor eu era a primeira na classificação.
— Ai meu Deus! Ai meu Deus! — Coloquei a mão no rosto, emocionada.
Comecei a gritar e a pular, junto com Jennifer que fez a mesma coisa. Minhas outras amigas, assim que viram meu nome, vieram correndo me abraçar e a me dar os parabéns, eu me senti muito feliz e grata.
Será que finalmente, meu sonho iria se realizar?
Algumas horas depois...
— Mãe!? Mãe!? — Gritei eufórica, subindo as escadas do prédio que já caia aos pedaços.
Empurrei a porta de madeira velha.
— Que foi garota? — Disse minha mãe, deitada no sofá, assistindo novela e comendo salgadinhos.
— Mãe eu passei! Eu estou na final! Eu pa...
Antes que eu completasse, ela me interrompeu.
— Passou na escola é?
— Ah, não! De novo com isso? — Virei o rosto inconformada — Pensei que contando minha quase vitória, você ficaria...
— Monique, eu só quero que você estude e que depois vá arrumar um trabalho! Eu preciso de dinheiro. D-i-n-h-e-i-r-o — ela soletrou — Isso aí é bobagem. É tudo bobagem. — Abri a boca tentando contra argumentar, mas ela não parava de falar. — Querida, já disse, sonhos não se realizam, é por isso que se chamam sonhos! — Revirou os olhos e continuou comendo seus salgadinhos.
— Mas eu preciso dessa bolsa mãe, para continuar estudando...
— Faculdade!? — Deu risada — Pode ir esquecendo... é melhor trabalhar! Depois você pensa em faculdade. Bom, contratam pessoas só com o ensino médio completo, não é?
— Sim, mas... — estão oferecendo uma bolsa de estudos e dinheiro.
Eu iria dizer, mas ela me interrompeu novamente.
— Então pronto! Vá arrumar um emprego, quero ver dinheiro! E cala a boca! Deixa eu assistir minha novela sossegada.
— Se meu pai estivesse aqui, ele me apoiaria...
— Não me lembre daquele traste! Ele podia ter te levado junto. Pelo menos, você não estaria aqui me incomodando!
Bufei de raiva e sai daquele fedorento e minúsculo cubículo, que alguns chamavam de apartamento.
Desci as escadas, com lágrimas nos olhos, por que minha mãe tinha que ser assim? Por que não era igual as mães das minhas amigas, que as apoiavam em tudo e as incentivavam sempre? Aposto que se arranjasse um emprego, ela iria querer todo meu dinheiro! Aproveitadora safada!
Sentei do lado de fora e comecei a chorar, sem parar. Meus soluços eram fortes, e chamaram atenção das pessoas, me curvei abaixando a cabeça. Só queria ter uma mãe mais presente, que se preocupava comigo, que sentisse orgulho de mim.
— Olá. Você está bem? Precisa de ajuda? — Escutei uma voz masculina em meus ouvidos.
— Sim é.… eu... — respirei fundo enxugando as lágrimas.
— Não chore, você é tão linda! Não pode ficar chorando. Isso deveria ser proibido por lei, sabia?
Dei uma risadinha e olhei para pra ele. O garoto usava preto dos pés à cabeça, tinha porte magro, seus olhos verdes não me eram estranhos, tinha piercing no nariz e lábios carnudos que no momento estava esboçando um belo sorriso.
— Seu nome é Monique, não é? É claro! — Ele estalou os dedos — Eu já te vi na escola, era o psicopata que ficava te observando, se lembra?
— Não me lembro muito bem..., mas você não me é estranho. — Disse pensativa, ainda chorosa. — Qual é o seu nome?
— Me chamo Lucas. Prazer! — Ele sorriu apertando minha mão.
Notando que eu ainda estava abalada, ele continuou:
— Mas então... no que eu posso te ajudar?
Sem pensar duas vezes respondi:
— Preciso de um lugar para ficar.
*
— Olha, não é nenhum hotel cinco estrelas... mas dá pro gasto, pelo menos por uns dias.
—Está brincando? É perfeito! — Disse admirada olhando o apartamento luxuoso
— É isso que mulheres como você, merecem! Vem, senta. — Deu duas batidas no sofá balançando a cabeça de forma afirmativa.
— Manter um apartamento assim custa caro, não sei se vou conseguir pagar. Eu não trabalho ainda...
— Não precisa linda. Sempre paguei e vou continuar pagando.
— Nossa, no que você trabalha? Por acaso é um líder de alguma gangue? — Dei risada esperando que ele risse também — Por que sinceramente, não parece que você é um médico ou outra coisa importante... — Tentei consertar, ficando completamente sem graça.
— Bom... Não posso falar sobre o que exatamente eu faço.
— Desculpa, não quero me meter na sua vida. Acho que eu vou embora. Obrigada por querer me ajudar.
— Que isso. Fica, sério. Não vai ser nenhum incomodo.
Eu tentei. Juro que tentei responder que iria voltar para casa assim mesmo, mas não aguentava mais minha mãe falando na minha cabeça o que eu deveria fazer. Então só fiz que sim com a cabeça.
— Então, conte-me. Por que a ruiva linda e gost... — ele riu, analisando meu corpo, depois balançou a cabeça negativamente e continuou — Estava chorando àquela hora? Desabafa comigo, quem sabe melhora?
Olhei de lado para ele pensando em não me abrir, mas estava sobrecarregada de mais e ele tinha razão, quem sabe se desabafasse com alguém eu me sentiria melhor?
— Bom, estou participando do concurso de saltos ornamentais sabe? Aquele que quem ganhar vai ter uma bolsa de estudos para entrar na faculdade de educação física e este, é meio que, meu sonho. Hoje eu cheguei feliz para contar para minha mãe que sou uma das finalistas e ela fez como se isso fosse não valesse nada! — As lágrimas começaram a cair inevitavelmente — Só queria que ela desse mais um pouco de atenção para mim. Que ela se importasse mais comigo.
— Você ainda está magoada? Não fica assim não. Eu posso te oferecer uma coisa que pode mudar tudo. Vai te fazer ficar melhor, pelo menos funciona comigo. — Lucas deu de ombros e pegou uma caixinha preta debaixo do sofá — Olha — ele a destampou e ali haviam duas sacolinhas pequenas, com alguma coisa verde dentro.
— Maconha? Sério!?
— Cara, é melhor que remédio! Só uma, vai aceitar?
— Não! Tá louco? — Levantei as sobrancelhas assustada — Pensei que você fosse melhor que isso!
— Sei que está chateada e tudo, mas.... Eu insisto você vai ficar melhor. Depois você para, uma tragada não vai te viciar. Depois pode me agradecer!
— Tem certeza disso?
— É claro que eu tenho. — Ele sorriu confiante.
Peguei a sacolinha que protegia dois baseados e após ele ascender um deles, levei a altura da boca, dei uma tragada profunda. Aquilo me envolveu de uma forma viciante, olhei para Lucas e dei um meio sorriso. Já me sentia bem melhor.
— O que você fez comigo cara? Tá tudo lento.
— É assim que você se sente, quer mais uma... já sei! Quer um pouco de cerveja?
Uma Semana Depois...
Senti meu celular vibrar em meu bolso, quanto tempo não via aquele número? Juro que tentei pensar, mas não me lembrava, não sabia quanto tempo estava ali drogada e chapada.
— Alô?
— Cara, eu e as meninas estamos preocupadas. Você está bem? O que aconteceu? Onde você está?
— Não sei. Onde tô? Não sei. Quero minha mãe! Chama ela para mim? Por favor!
— Monique, você está chapa...? Ah não! Você está usando drogas. Onde você está? Vou ai te pegar!
— Acertou! Não. Quase. — dei risada — Você é muito inteligente! Parabéns! Agora deixa eu ficar quieta, eu quero ficar quietinha!
— Monique! Tem alguém aí com você? Você tá na rua?
— Num lugar bem bonito...
— Hãã... Tá. Faz o seguinte: vai no banheiro e toma um banho, daqui a pouquinho te ligo de novo. Cara, daqui a pouco é o seu treino, você vai se apresentar hoje noite. Você tá muito ferrada. Vai lá no banheiro e toma um banho, tá? Promete que vai fazer isso. Promete!
— Tá bom, mãe. Já tô indo! — Revirei os olhos e desliguei
Levantei do sofá tentando calçar meu chinelo.
Eu não conseguia acertar meu dedo!
Larguei aquilo para lá e voltei a deitar e a ficar quietinha, minha mente se esvaziou e eu vaguei pela intensa escuridão.
Duas semanas depois...
A música alta ecoava no ambiente fechado, luzes coloridas piscavam, me deixando mais elétrica do que nunca. Agora, em vez de maconha, estava usando cocaína, essa era a droga das festas, pois provocava tamanha agitação em meu corpo. Eu só queria dançar e curtir. Nada melhor do que uma balada para aproveitar a vida.
— E aí gata!?
Um homem alto, loiro e bem afeiçoado disse chegando perto dos meus ouvidos.
— É aí? Tá afim de ficar comigo é? — Perguntei com a voz estridente, gritando, já sacando a intenção do rapaz.
Ele riu e respondeu:
— Eu não. Mas meus amigos estão!
Apontou para os amigos que estavam no canto cochichando e rindo.
— Mas... os três?
— Tem algum problema com isso? — Ele levantou as sobrancelhas.
Dei um meio sorriso.
— Não... vou lá aprontar! — Pisquei para o homem meio cambaleando, meio rebolando.
Quando cheguei bem perto deles, percebi o quanto estava bêbada. Fiquei muito tonta e senti minhas pernas ficarem totalmente bambas.
Eu desmoronei completamente no chão.
Três semanas depois...
Vomitava desesperadamente na pia do banheiro, depois de uma festa bem agitada. Estava começando a me cansar daquela vida adoidada, cheia de sexo, drogas e bebidas alcoólicas! Não. Eu queria parar! Mas já não conseguia. Sim, eu era fraca, por isso não tinha forças para sair. Havia virado uma viciada em drogas. Todos os meus sonhos se foram. Agora só as drogas me satisfaziam.
Me olhei no espelho e me deparei com alguém que com certeza não era eu. Alguém magra demais com olhos profundos e vermelhos, meus cabelos que eram ruivos, estavam pretos — numa loucura de mudar o visual, os pintei. — E sujos.
Quanto tempo não os lavava? Aliás, quanto tempo não tomava banho? Uma semana? Duas?
Não importava.
Tirei minha roupa e entrei no chuveiro, deixando que a água caísse sobre mim, tirando toda aquela impregnação do meu corpo.
Ao sair aliviada, escutei vozes e me contive atrás da porta.
— Sua filha de uma puta! Cadê meu dinheiro? — Era a voz de Lucas que pelo tom, parecia muito irritado.
— Ela não está aqui, não é?
Não conhecia a outra voz feminina.
Seria eu a garota que ela estava falando?
— Tu estás vendo ela aqui por a acaso? — Lucas disse furioso — Cadê minha grana, Amanda? Até agora não recebi nada do serviço que eu fiz...
— Calma. Tá aqui moço!
Escutei o barulho do dinheiro sendo contado
— Espera, que merda é essa? Você me fez chegar na garota! Me fez convencê-la a entrar nessa porcaria de mundo das drogas, só pra você ganhar a sua bolsa de estudos e o prêmio em dinheiro. Onde tá o dinheiro todo caralho!? Cadê o resto da minha parte? O que você fez com ele?
— Não falei nada disso não, cara! Está confundindo tudo!
— Tu tá me tirando vadia invejosa!?
Ouvi um baque de algo batendo contra a parede e vidros se quebrando, e depois... só a respiração rápida da outra pessoa, logo depois, passos ligeiros.
Respirei fundo e abri a porta. Do beco, já dava ver as pernas finas da garota e sentir o cheiro de sangue.
A cena horrível que veio depois de alguns segundos, me deixou zonza, querendo vomitar mais. A cabeça dela estava completamente ensanguentada, parecia ter sido jogada em cima da mesa de vidro e isto fez um corte na sua cabeça que sangrava sem parar.
Não gostei de saber que foi ela a culpada de minha desgraça, naquele momento só sentia raiva, muita raiva da garota, mas... não sou um monstro e não queria que ela morresse de forma tão cruel.
Não sabia o que fazer, se ligava para polícia ou se fugia. Se ligasse, podiam descobrir as drogas que estavam escondidas na casa e eu iria acabar sendo presa. Então, como todo drogado medroso, escolhi a segunda opção. Eu fugi.
Um ano depois...
Olhei para trás, tremendo e com muito medo.
Será que tinha alguém me perseguindo?
Andei rápido e depois corri. As sombras não me deixavam enxergar, estava muito escuro! Aqueles postes não iluminavam porra nenhuma!
— Merda de postes! — Xinguei baixinho, escutando passos vindo atrás de mim.
Olhei para trás mais uma vez e mais uma vez, não havia ninguém. Dei uma parada colocando a mão na cabeça.
— Por que eu? Por que eu? O que eu fiz de errado? — Comecei a gritar em plenos pulmões me exaltando.
Queria que todos vissem e sentissem a mesma agonia, a minha agonia! Chutei o portão verde que estava bem a minha frente com muita raiva e percebi que conhecia bem aquela cor.
— Ah, é claro. A grande bosta do Ginásio!
Escutei mais passos enquanto exclamava. Vi uma sombra negra no chão, chegando perto de mim.
Eu só podia estar alucinando!
Apavorada e com medo de ser realidade, subi nas grades do portão e pulei para o lado de dentro. Respirei fundo, ofegante, com a mão no joelho quando vi que estava tudo bem.
— Olha só... nada mudou.
As arquibancadas continuavam azuis, junto com as grades que continuavam brancas, o trampolim continuava no mesmo lugar. Pelo visto apenas eu havia mudado.
Passei as mãos nas grades, percorrendo o local, onde a piscina ainda estava com a água quase transbordando.
Senti uma enorme vontade de relembrar os velhos tempos, onde pelo menos eu poderia ter sido alguém. Me dei conta da burrada que eu tinha feito aceitando a droga de Lucas. Poderia ter sido diferente.
As drogas dão um alívio tremendo, mas não é o suficiente. Nunca é suficiente. Porque sempre que você ficar magoada ou com raiva ou qualquer outra coisa, você irá querer sempre mais e mais.
Se minha mãe fosse diferente comigo, mais amorosa... talvez eu não estaria nesta situação
Neguei com a cabeça e observei o trampolim, indo em direção dele.
Será que ainda tinha jeito para mim?
Subi as escadas, e ainda sentia o calor das pessoas nas arquibancadas ao meu redor, olhando para mim com expectativa, meu coração deu um salto batendo forte, como sempre. Caminhei devagar, até chegar ao final do trampolim, sorri para a plateia e acenei, mandando beijos a todos.
Inclinei meu corpo para a frente, fechando os olhos lentamente, impulsionei meu corpo para a frente, me elevando no ar. Ventos sopram meu corpo magro.
Segunda impulsão: Dessa vez é mais forte e intenso. Senti com precisão o frio na barriga, o medo e insegurança de dar algo errado.
Terceira impulsão: Dou um impulso mais lento para a frente, me jogando e me rendendo a emoção de estar ali novamente, depois de tantos anos. Encolhi meu corpo dando um giro. Girei, girei e girei... tudo aconteceu de forma lenta e marcante. Eu estiquei meus braços devagar, preparando-me para sentir a água em minha pele. Mas... não foi o que aconteceu.
Pisquei várias vezes, tentando acreditar.
As drogas me enganaram!
Sabia que ali seria meu fim.
Com um estrondo, senti minha cabeça se rachar ao meio, me livrando assim para sempre, do meu tormento de viver.
Sim, era isso mesmo. A piscina estava vazia.
Fiquei feliz, pois não há melhor forma de morrer, se não, praticando a única coisa que você mais amou na vida.
Fim.
×
NOTA: Sei que falei obrigada ao @Jonas Zair Wattpad Br Zair um zilhão de vezes, mas agora é a oficial! Hahaha
Agradeço muito, muito mesmo a ele por me ajudar e apoiar bastante o conto! E fico muito contente em ver agora, o resultado de tanta dedicação.
Gente, eu realmente não sei o que faria sem a ajuda do Jonas.
— MUITO OBRIGADA!!!
*******************************
Conheça mais obras da autora Letícia Campos leticiacampos985
http://my.w.tt/UiNb/ZnTatrHjTE
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top