Eu me perdi. Me perdi de mim, me perdi de você. Achei que a vida era apenas isso, e isso me consumiu.
Eu era feliz, feliz em meus vinte anos. Eu possuía amigos, família, um bom emprego, um caminho limpo e sem obstáculos para minha carreira. Eu era dona de minha própria vida.
E então fui apresentada a você. No início era tão bom, você me tirava do chão, me fazia rir, me fazia gritar, me fazia viver, ah como era bom viver tendo você em meu bolso. Mas no fim das contas, quem me tinha no bolso era você.
Meus amigos me alertaram quando souberam, me perguntaram o que eu estava fazendo da minha vida, e o que eu respondi? Eu respondi que eu estava vivendo. Aos poucos, eles pararam de se importar comigo, desistiram de mim. Amigos, família, emprego, vi todos escorrendo por meus dedos, e não tentei agarrá-los.
E sabe por quê?
Porque em minha outra mão eu tinha você. Eu possuía você ou você me possuía, isso já não importa mais... importa?
Você me levava para o céu, me mostrava as estrelas, e por um tempo pensei que eu não precisava de ninguém para ser feliz. Seria eu, você, e o universo todo a nosso favor.
Até que tudo mudou.
Você se lembra como começou o fim? Como aquilo me fez mal, eu me olhava no espelho então me reconhecia mais, fiquei fraca, magra, apática. Quem eu me tornara?
Eu buscava consolo em você, sempre você, nunca percebendo que esse era meu erro. Estúpida, estúpida, eu me deixava cair em suas mãos uma e outra vez, e o mesmo ciclo novamente.
Eu já não possuía você. Só não sabia que eu nunca possuí realmente.
Agora eu sei, agora eu sei porque me disseram. Levaram anos para me convencer de que você foi o problema de tudo, de que você foi minha luz e minha derrota.
Eu tinha tudo, e você tirou de mim, maldito vício, maldito seja você.
Hoje em dia é tudo tão igual e tudo tão diferente. Maldito maldito maldito seja você.
- Senhora Moura?
Olho para o homem de terno que me encara.
- Podemos continuar? Do começo?
Assinto languidamente, sofrendo por dentro.
- Meu nome é Fernanda Moura. Tenho 29 anos. Sou vendedora de uma loja de roupas de grife.
- E porque está aqui nesse momento?
- Fui encontrada ao lado do corpo de meu marido.
- O que fez com seu marido, Senhora Moura, minutos antes de sua morte?
As lágrimas corriam por meu rosto.
- Ele era o amor da minha vida...
- Responda à pergunta, senhora. - O juiz ao meu lado ordenou.
Ricardo foi meu tudo. Eu achava que o tinha em minhas mãos. Mas depois de anos de sofrimento, sendo agredida verbal e fisicamente, descobri que eu não o possuía.
Eu nunca o tive em minhas mãos, mas sempre estive nas suas.
- Ele era meu vício. Eu nunca poderia me libertar de outra forma.
- O que fez para se libertar?
Respiro fundo mas não consigo segurar o grito que sai de meus pulmões.
- Eu o matei. Matei matei matei meu vício!

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Esse bônus é também um agradecimento à Gaby, que ajudou muito no processo e infelizmente não pode participar do desafio, mas mesmo assim escreveu esse conto maravilhoso. Obrigada Gaby.

Esperamos que tenham gostado. ❤

E confiram o livro dela ;)