@AllanaAraujo - Acabou a Luz

Um, dois...

Ouço os sons característicos de uma rua movimentada que penetram o meu quarto sem nem mesmo pedir licença. Encaro a janela de vidro, fechada propositalmente para abafar o barulho infernal.

Três...

Aumento o volume da música que está tocando em uma estação de rádio qualquer. Sinto um zumbido em meus ouvidos, mas continuo girando o botão de "aumentar volume" até alcançar a potência máxima do aparelho.

Quatro, cinco...

Ouço gritos e fortes pancadas lá fora, mas estou ocupada demais dançando com ela para sequer compreender o que é dito. O mesmo sorriso, os mesmos olhos, o mesmo corpo, mas ela parece mais feliz do que eu jamais poderia ser.

Seis...

Já são 21:00 h e estou tendo uma crise de risos. Meu pé está cortado e em meu tapete há sangue, porém, ela está aqui me fazendo rir da minha desgraça.

Sete, oito...

As vozes lá fora se calaram e agora só há um rock pesado tocando. Ela também se foi, me deixando apenas com o baile de sombras que há no teto do meu quarto e um enorme vazio na alma. Abri a janela a tempo de ver um gato correndo atrás de um vira-lata. Bebi mais um gole e sorri.

Nove...

Depois de colocar para fora tudo o que ingeri, olho para o espelho e não reconheço o rosto borrado refletido nele. Lanço um sorriso e um beijo para mim mesma e sou retribuída com o dedo do meio. Quebrei o espelho.

Dez, onze...

Estou dançando novamente, desta vez sozinha. Ao perceber isso, começo a chorar. Não quero estar sozinha. Ficar sozinha é triste, é deprimente... Mas o que diabos estou pensando? Eu não estou sozinha! Tenho a minha garrafa! Ela é a minha companheira! Abraço-a e bebo mais um gole.

Doze...

Sinto o meu corpo pesado e, por isso, deito no chão. Já são 3 da manhã e as sombras dançantes surgem novamente no teto do quarto. As vozes lá fora voltaram, mas só consigo me importar com o fato de minha respiração estar pesada. Fecho os olhos devagar para aliviar a sensação ruim, mas de nada adianta.

Um, dois...

Acabou a luz.




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