09 - Besta assassina

— Preciso voltar para Parga. — Mackenzie disse, olhando para o dossel fechado sobre sua cabeça. — Sabe por qual direção devo seguir?

O druida a fitou com cuidado para depois apontar a nordeste de onde estavam.

— Obrigada. — Mackenzie disse antes de começar a andar na direção em que ele apontara.

Ele pensou em lhe fazer algumas ressalvas, tais como: não andar à noite, o que incluía agora, nem caminhar sobre trilhas de folhas secas para não chamar atenção de criatura com ouvidos apurados, ter cuidado com o que usaria como alimento, e não pensar em entrar em lugares fechados. Ele sabia que o caminho era longo, porque ele havia carregado a garota ainda mais para dentro da mata e se sentiu culpado por isso, mas agora era tarde, e ele não tinha nada a ver com isso, deveria apenas agradece-lo e seguir seu próprio caminho, porque se os outros a encontrassem, eles com certeza a matariam apenas para se vingarem de tudo o que já passaram por causa deles, humanos.

Os humanos eram cruéis, mas essa garota, ela era diferente do que o povo do druida havia lhe falado.

Mackenzie sumiu por entre as árvores e o druida permaneceu no mesmo lugar por algum tempo, o punhal na mão enquanto se lembrava do fio de cabelo brilhante que havia se partido e caíra no chão logo depois.

"Uma humana..." Ele assimilou, balançando a cabeça de um lado para o outro.

Seu cavalo, que estava pastando a uma distância segura de onde estava, relinchou, e ele guardou o punhal no colete para caminhar até o animal.

O druida se aproximou do cavalo, e por conta de sua audição apurada, conseguiu ouvir alguma coisa muito grande se aproximar surpreendentemente rápido. O Urso de Alabendra irrompeu gigantesco por entre as grandes árvores e se aproximava com tamanha velocidade na direção do protetor da floresta. Era um animal feroz e magnífico e estava caçando. Os olhos do urso eram vermelhos como dois rubis brilhantes incrustrados. O peito da criatura era revestido por uma couraça de casca de árvore repleta de musgo devido à umidade e se mesclava ao pelo grosso, marrom das costas largas. Ele focinhava as folhas caídas no chão com urgência, o barulho da sua respiração agitada e rápida podia ser ouvida de longe, enquanto farejava a trilha apontada pelo druida à humana.

Ele estava caçando a garota.

O druida tentou não sentir a obrigação de protegê-la, mas foi impossível evitar senti-la quando a criatura irrompeu enorme e raivosa por ele, estremecendo o chão e derrapando no solo úmido em uma corrida desenfreada. Foi então que se deu conta das atrocidades que o urso faria a ela. Então, por instinto, ele montou em seu cavalo de pressa e começou a galopar o mais rápido que pode por entre as árvores e plantas para tentar alcança-la antes do urso.

"Ela terá que ser mais grata, depois disso!" O druida resmungou, ainda sem acreditar que tentaria salvar alguém de um Urso de Alabendra, galopando no puro-sangue enquanto tentava ultrapassar o urso numa corrida selvagem.

Não demorou muito para que a capa amarronzada da garota fosse vista seguindo pelo caminho que a levaria de volta para a Estrada Secundária depois de uma longa jornada.

O urso aumentou o ritmo da corrida quando o cheiro da garota se tornou mais intenso, e o druida bateu a rédea para que o cavalo fosse mais rápido também. Mackenzie ouviu o barulho surgindo e se aproximando cada vez mais alto e rápido de si, quando se virou para trás e viu a cena, um urso sinistro com couraça de madeira e olhos vermelhos, e o druida montado em um cavo negro, cortando a mata numa velocidade assustadora. Ela não sabia o que fazer, o urso era assombrosamente enorme. Não havia um lugar seguro, porque apesar das árvores, a floresta era aberta.

O urso a viu ali, parada, como uma miniatura frente a existência dele, olhando diretamente para os seus olhos de rubi e ele abriu uma boca enorme, soltando um rugido gutural, fazendo com que, o chão sob os pés de Mackenzie estremecem, ou talvez fosse o medo fazendo-a paralisar.

— Corre! — O druida gritou, e ela obedeceu ao olhar de um lado para o outro e começar a correr.

Mackenzie começou a desviar do caminho, correndo para o lado com uma pequena vantagem da besta selvagem. O cavalo galopou mais rápido e quando o druida a alcançou, erguendo o braço para pegar a garota que corria sem mais saber para onde, o urso gritou em forma de rugido:

— Ela é minha, druida!

Os olhos de Mackenzie quase saíram das órbitas:

"Uma besta" ela pensou com assombro "que fala!"

Mackenzie correu ao lado do cavalo e do druida, até que ele gritou:

— Você precisa pegar a minha mão!

Quando ela ergueu o braço para pegar a mão dele, o urso derrapou com as patas, deixando um caminho de arraste para trás, colidindo e derrubando uma árvore que caiu na frente deles.

O druida pegou a mão da garota e guinou o corpo da menina de um jeito que ela caísse montada atrás dele, no cavalo, só que agora, o tronco da árvore havia cortado e fechado o caminho a frente. Por sua vez, o Urso de Alabendra acabara de se recompor, sacodindo o pelo para se desfazer das folhas que se amontoaram nele, começando a andar em semicírculo ao redor de suas duas presas. O druida sacou um arco e uma flecha da aljava em suas costas e mesmo que soubesse que não adiantaria de muita coisa, arriscou, mirando no urso e soltando-a da corta. A flecha penetrou os pelos e o couro grosso da criatura, mas para seu alvo, a pequena flecha não passava de um espinho irritante e uma tremenda afronta. Agora tinha se tornado pessoal. O druida tinha entrado em seu caminho e o urso o faria pagar pela flechada.

Os Ursos de Albendra são criaturas temidas por serem uma das maiores da floreta, mais fortes e ágeis. Era difícil ter alguma vantagem com uma criatura tão perigosa e dominantes, e apesar de não serem vistas com muita frequência e existirem muitos naquela região, agora o druida tinha acabado de capturar a atenção de um deles.

Enraivecido, o urso ficou em duas e bateu os braços e quebrou o que havia no caminho antes de começar a caçar, o cavalo relinchou ao se assustar e o druida bateu as rédeas, dando meia volta para começar a cavalgar, agora com a desvantagem de carregar mais peso sobre o cavalo. O urso correu, logo atrás, agora perseguindo dois.

O urso investiu uma abocanhada muito próxima a cabeça de Mackenzie que se encolheu, apertando-se mais contra as costas do druida, que acabara de guiar o cavalo para um caminho estreito de árvores e plantas.

O druida olhou para trás a fim de analisar a distância que tomara do urso e quando começou a gargalhar com a vantagem inusitada, um galho baixo bateu no peito dele os empurrou para trás, derrubando-os de súbito do cavalo.

Mackenzie e ele caíram perto um do outro, o cavalo relinchou de pé, sacodindo a cabeça e trotando, à frente; o druida gesticulou com a cabeça e o cavalo correu pela mata, deixando-os para trás.

— Nós precisamos ir. — Ele anunciou para Mackenzie que já estava de pé e pronta para acompanhá-lo.

Os dois voltaram a correr e o urso já podia ser ouvindo rugindo ferozmente, enquanto rompia a distância que existia entre eles.

O chão começou a se tornar clivoso em uma descida perigosa e na corrida desenfreada, o pé de Mackenzie afundou em um buraco imprevisível e coberto pelas folhas das árvores que forravam o chão. Ela caiu e começou a rolar sem conseguir parar, tomando cada vez mais velocidade à medida que descia; seu corpo batendo dolorosamente contra o chão à medida que o solo se transformava de grama fofa para rocha, até que as árvores foram deixadas para trás, e a escuridão da mata cedeu lugar a um céu que começava a alvorecer.

Sem se dar conta do que estava acontecendo, Mackenzie acabara de cair do Precipício de Erwin, e mesmo que a Princesa tivesse pavor de altura, ela não teve escolha, porque rolou do solo íngreme e passou direto pelo penhasco e isso, com certeza tinha sido a sua salvação do urso.

A queda era alta, mas não era fatal. Mackenzie ficaria mais segura dentro da água do que fora dela. Foi quando o vento chicoteou forte e atiçou os cabelos desgrenhados, a capa presa ao pescoço e os farrapos de sua camisola encardida antes de penetrar a água à toda velocidade.

Seus pés tocaram o fundo do rio depois da pancada na água fria demais, e ela abriu os olhos; o silêncio tranquilizador que estar submersa a fez entender tudo o que tinha acontecido, e quando ela bateu as pernas para nadar até a superfície, a água foi irrompida numa explosão novamente e o druida afundou na água, indo até o fundo devido à queda, vasculhando ao redor para procurar a humana.

Eles nadaram até a superfície e Mackenzie resfolegou quando a cabeça irrompeu da água e o barulho da correnteza era a única coisa que poderia ser ouvida. O rugido do urso os fez olhar para cima e fita-lo do alto do penhasco, revolto por ter fracassado na caçada e uma pedra se soltou do desfiladeiro, caindo e afundando próximo aos dois que estavam dentro da água.

Mackenzie olhou para o druida com apreensão, receando que o urso pulasse, assim como eles, mas quando ergueu a cabeça novamente para fitar o urso, ele já não estava mais lá.

— Albendras não gostam de altura.

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