06 - A emboscada
Mackenzie estava extremamente confusa enquanto corria para tomar a máxima distância das obscenidades de seu pai e Esmae. Ela ainda não conseguia acreditar que seu pai, um Rei, se permitisse envolver nesse tipo de relação. Sua dama... Mucama de seu pai.
Um pouco desorientada, ela percebeu que inconscientemente, seu corpo se dirigia para o jardim, mas alguma coisa, algo além da traição de seu pai a incomodava: uma sensação no pé da nuca a fazia pensar que estava sendo observada, mas quando olhou para trás, não havia ninguém. Então ela voltou a descer a escadaria que a levaria para fora do Castelo.
Mackenzie costumava ser uma garota esperta. Sua intuição era gritante; uma coisa impressionante, mas ela não ouviu as botas do homem que descia a escada pouco depois dela. Ele estava atentou e esperava a melhor chance de se aproximar da Princesa.
Ele estava vestido como um dos soldados da corte, as mesmas botas, calças e o quimono vermelho, mas o brasão da corte, uma flor de três pétalas entalhadas, estava de cabeça para baixo em seu uniforme e, apesar de ninguém notar, somente um intruso seria capaz de uma coisa dessas.
— Vossa Alteza! — O homem a chamou, fazendo com que a princesa parasse novamente na escada; sua mão desnuda segurava no corrimão da escadaria. De costas, a Princesa não passava de uma garota miúda e frágil. Ela olhou por cima do ombro para depois se virar. Então, aquela foi a oportunidade que homem estava esperado.
Ele se aproximou da Princesa, e a mão coberta por luvas de couro estavam suadas por dentro quando uma delas pairou sobre a boca dela e abafou o grito que ela disparou no momento seguinte à abordagem.
O homem tinha ordens claras: tirar a Princesa do Castelo; e seria isso o que ele faria.
Mackenzie estremeceu quando sentiu o corpo do soldado pressionar o dela e a mão abafando sua boca a fazia entrar em pânico.
"O que ele estava fazendo?" Ela se perguntava desesperadamente.
Ele sacou uma faca afiada de suas vestimentas e a empunhou.
— Não se atreva a berrar novamente, Princesa. — O homem disse de forma ameaçadora, aproximando a faca da barriga dela, apertando-a um pouco para ser persuasivo.
Mackenzie assentiu, embora estivesse em pânico. Não havia o que fazer. O palácio estava escuro. Seus guardas tinham ficado para trás e não havia ninguém que pudesse ajuda-la e se não obedecesse, Deus sabe o que mais aquele homem poderia lhe fazer.
Mas Mackenzie não quis pensar para não se apavorar ainda mais.
— Muito bom... — Ele disse num sussurro, agradecendo aos céus por ela não oferecer resistência.
Ele andou para a frente e Mackenzie acompanhou-o, descendo os degraus, rezando em silêncio para que tudo aquilo terminasse bem.
Caminhar pelo palácio nunca tinha sido algo tão assustador quanto estava sendo agora para Mackenzie. O homem a conduzia por trás, com a faca sobre a barriga dela. Eles chegaram ao primeiro andar, mas tirar a Princesa do Castelo pela porta principal seria ousado demais e Mackenzie esperava o momento em que seu sequestrador finalmente fosse emboscado. Só que para o desespero da Princesa, ele não se voltou para a entrada do Castelo e sim para uma parede que ficava em baixo da escada. O homem pressionou um tijolo que ela não conseguiu observar com exatidão qual era, e isso foi o bastante para fazer com que a parede se movesse, abrindo um portal para algum lugar que ela desconhecia.
O homem movimentou o braço para que Mackenzie desse o primeiro passo para dentro do cômodo escuro, mas ela se recusou.
— Vamos — ele resmungou.
Uma pequena luz começou a brilhar dentro do corredor escuro, fazendo com que o medo apenas aumentasse dentro de Mackenzie. Ela não fazia a menor ideia do que era aquilo tudo, mas sabia que se ultrapassasse aquela porta tudo seria diferente.
A Princesa ousou olhar para trás e fitou a parede do Castelo, sentido o desespero escalar por suas entranhas. A chama lá dentro estava mais próxima desta vez, e a julgar pela velocidade com que ela se movia, quem a segurava estava correndo.
— De pressa... — A faca cutucou-a mais fundo sobre a pele e ela estremeceu como se fosse um cavalo esporado.
A ponta da lâmina a furou na barriga, e ela foi estimulada a seguir para o lugar escuro a sua frente depois de engolir um gemido em seco.
Ela andava aflita pela escuridão enquanto observava a tocha se aproximar. Outro homem com os mesmos uniformes de sua guarda parou diante dela, segurando a tocha. Ele a encarou com estranheza.
— Por Deus! — Ele exclamou — ela é só uma criança.
— Uma criança. — Mackenzie bufou com a petulância.
— Tudo certo, Hugo? — Indagou o homem que estava atrás de Mackenzie, ignorando o comportamento atrevido dela.
O outro assentiu, entregando um amontoado de tecido para o homem que levava a tocha consigo.
— Cubra-se com isto, Princesa. — Ele entregou a trouxa parda para Mackenzie, libertando-a do aperto. Ela relutou, fitando-o por um breve momento, mas ela abriu o pano no ar, revelando uma capa comprida que logo estaria sobre seus ombros.
— Use o capuz. — Hugo, o comparsa, ordenou antes de continuarem a seguir pela passagem secreta.
Hugo, que levava a tocha, foi na frente, iluminando o caminho empeirado e abandonado do castelo. O raptor enviesou a sobrancelha e apontou com o queixo para que ela continuasse.
— O que vocês pretendem fazer comigo? — Mackenzie indagou com a voz amedrontada e por mais que tivesse perguntado, ela temia pela resposta.
Ele não respondeu. Eles só tinham que tirá-la do Castelo com alguma vantagem.
Hugo, que já estava a uma distância considerável deles, começou a voltar; a luz tornando-se mais intensa à medida que ele se aproximava novamente.
— Millo, se não quisermos ser pegos, nós precisamos partir. Agora! — Ele informou com os olhos refletindo a chama vermelha da tocha.
Partir. A simples menção da palavra fez uma corrente de pânico paralisá-la, mas eles não se importaram. Agarraram o braço da Princesa e praticamente a levaram arrastada dali. Mackenzie só conseguia pensar que estaria perdida fora dos domínios de seu pai.
A passagem secreta era extensa. Ela cortava caminho pela lateral do Castelo e os livraria de ter que lidar com a muralha; foi pensada justamente para isso: para salvar a família real de investidas como esta, no entanto, não era para ser de amplo conhecimento e este tinha sido o infortúnio de Mackenzie. Um recurso de seu próprio castelo usado contra si mesma.
— A carruagem está logo na saída. — Millo informou conforme se aproximavam da saída.
— Por que vocês estão fazendo isso... — Mackenzie choramingou, tentando reverter aquela situação. — Vocês não podem me tirar do Castelo... Eu... Eu... — Ela começou a choramingar, o medo fazendo sua garganta se fechar.
— Sinto muito, mas não há nada que possamos fazer, Princesa. — Millo disse.
— Apenas se comporte e tudo ficará bem... — Millo assumiu uma voz menos ameaçadora, mas não reconfortante aos ouvidos de Mackenzie.
Millo segurou Mackenzie pelo braço e com a outra mão, voltou a aportar a faca para a garota. Ela não podia fugir e acuá-la era a melhor forma de não permitir que isso acontecesse.
Hugo saiu do caminho para que Millo e Mackenzie avançasse pela porta que dava para fora do Castelo. O barulho da rocha se arrastando, a fim de selar a passagem secreta fez Millo olhar para trás por cima do ombro e perguntar:
— Você não vem conosco?
Hugo negou com a cabeça.
— Eu não posso sair do Castelo. — Explicou por alto. — Precisamos dar cobertura ao Príncipe.
Como já havia sido dito: Mackenzie não era burra, e ouvir a simples menção do Príncipe a fez começar a ligar os pontos. Qualquer um teria feito essa conexão, na verdade. Eles tinham tentado antes e nada os impediria de o fazer novamente. "Eu estava certa, de fato." Mackenzie concluiu assustada com a falta de escrúpulos do Príncipe de Mikvar. "Eles tentariam algo, mas não contra o meu pai." E ela se sentiu uma tola por facilitar as coisas.
— Se o Rei desconfiar... — Millo tentou dissuadir Hugo, mas isso não aconteceria — você vai morrer.
Millo negou novamente, confiante de que o plano era perfeito e realmente era, não havia provas. O Príncipe estava dormindo, e ele voltaria ao seu posto no quarto de Mackenzie para de manhã declarar que a Princesa não permitido que ele a acompanhasse.
Hugo trancou a passagem, empurrando a porta que se misturaria à parede e se camuflaria para os que não conheciam os segredos do Castelo e então, Millo e Mackenzie vagaram à céu aberto em direção a carruagem parada logo a frente.
O cavalo relinchou, sacodindo a cabeça, e Mackenzie deu um pulo. Millo se afastou para abrir a porta para que a Princesa entrasse, no momento em que uma luz se acendeu lá dentro do Castelo.
Isso foi o bastante para que Millo sobressaltasse e se apressasse, empurrando a garota miúda de qualquer jeito para dentro da carruagem.
— Vá, vá, vá... — Millo ordenou para o boleeiro assim que se pôs para dentro da cabine estreita.
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