01 - Más notícias

O castelo de Parga era enorme. Repleto de entradas e saídas secretas; com paredes eram feitas de tijolos, mas ao longe, eles pareciam apenas minúsculas pedras uma sobre a outra. As várias torres arredondas agigantavam-se rumo ao céu de outono e davam vista para boa parte do território. Construído sobre uma extensa planície rochosa, a frente e nos lados, era cercado por finitas árvores com folhas em tom alaranjado pela estação do outono. Mas atrás ficava toda a riqueza do reino, a água potável; banhados pelo rio Silver que circundava a floresta densa.

Dentro do castelo, Mackenzie descia as escadas. A princesa parou por um instante, vasculhando ao redor e levando despretensiosamente a mão sobre o corrimão de ouro, tão deslumbrante em seu vestido verde imperial confeccionado em linho. A gola era alta e ajustava-se ao redor do pescoço. Ele tinha sido feito sob medida como todas as roupas em seu guarda-roupas, com a parte superior se ajustando perfeitamente ao corpo e se alargava na cintura delgada para abrir em grandes dobras que lhe cobria os pés, fazendo com que a barra farfalhasse pelo chão de ardósia ao rumar em direção ao corredor principal, onde tinha certeza que encontraria o que estava procurando. Nestor.

Foi nessa pressa que ela o encontrou. O mensageiro do castelo. Seu amigo de infância, com o elmo embaixo do braço, apoiado entre as costelas. Ele, tão estimado em seu grande casaco de pele comprido e escuro. O sorriso no rosto da Princesa se iluminou antes dela puxar e suspender a barra do vestido a fim de correr em direção ao rapaz.

Na adolescência, Nestor era um pouco estranho e não atraia a atenção de muitas pessoas por sua beleza. Um menino magricela, com cabelos vermelhos cor de cobre tão acentuados e volumosos, olhos com de âmbar e o rosto tomado por sardas que pareciam mais com a ferrugem. Só que Nestor era filho do general do exército de Parga e não crescera para ser um homem fraco. Seu pai não permitiria que isso acontecesse, e não bastou alguns anos para se tornar o homem que estava de frente para Mackenzie. Belas costas largas, braços fortes o bastante para ajustarem-se as mangas de seu casaco.

— Como foi em Bargan? — Ela perguntou, ansiando em saber tudo o que Nestor tinha visto enquanto viajava.

Durante todos os seus dezessete anos, Mackenzie nunca tinha saído do castelo. Não que ela pudesse dizer que levava uma vida de aprisionamento, mas o Rei insistia que através das muralhas não era seguro. Então, todas as suas experiencias além da corte tinham acontecido aos olhos de outras pessoas; principalmente aos de Nestor. Mas ela sabia, apenas pela postura mais rija de seu amigo e pelo sonho desta madrugada — talvez um pesadelo. Ela não sabia dizer, porque não era capaz de se lembrar — que as notícias não eram boas.

O sorriso de Nestor se desmanchou como um pequeno amontoado de areia no vendaval e tudo ficou tão claro quanto o dia: sua sensação estava certa.

— O problema não está em Bargan, Princesa — Nestor soltou a informou com a voz tensa. — Ele está aqui.

Mackenzie concordou como se os dois confidenciassem um segredo, e então, seguiram em direção ao jardim para que pudessem conversar mais reservadamente.

Para chegar ao jardim de inverno, eles precisavam subir alguns degraus de pedra e atravessar o portal arredondado coberto de heras da entrada. A fonte de pedra, cuja estátua da Santa Brigith, de braços abertos, emanava água pela palma das mãos.

A Santa era enorme, maior que Mackenzie ou Nestor, e tinha sido um presente dos deuses a muito tempo concedido, porque eles eram abençoados pela água que banhava as costas do Castelo.

— Diga-me, Nestor, o que está acontecendo. Qual é o problema? — Mackenzie perguntou e não fez questão nenhuma de esconder a apreensão.

— O príncipe Dorian de Mikvar está na corte, ele está falando com seu pai neste exato momento. — Nestor disse, fazendo com que o sangue no rosto de Mackenzie esfriasse.

Mikvar. O Reino mais perigoso da redondeza. Perguntar o que o Príncipe de Mikvar estava fazendo no Castelo seria perda de tempo, porque todos sabiam o que ele estava fazendo ali.

Ele queria se casar. Expandir seu poder e território à custa de Mackenzie. Ficar nervosa não resolveria, mas ela não pode evitar o subir e descer de garganta enquanto encarava Nestor como se pudesse encontrar no rosto do rapaz a resposta para isso. Mas não seria nele que ela a encontraria.

Se voltarmos alguns anos no tempo, poderemos compreender porque eles estavam tão apreensivos com essa notícia e no que ela poderia lhes custar.

Desde o nascimento de Mackenzie, o Rei de Mikvar almeja unir os dois Reinos, mas isso não queria dizer que era um ato de amor, tampouco para favorecer Parga. Mikvar era uma terra de homens vis e violentos, conhecidos por destroçar seus inimigos com tamanha violência. O casamento seria uma estratégia de sugar toda a água da terra de Parga, expandir seu poderio e aumentar o seu exército destruidor. No entanto, o Rei não aceitou a proposta.

Ainda muito pequena, mas não tão pequena ao ponto de esquecer, os soldados do exército de Mikvar invadiram as terras de Parga e avançaram pelas redomas do Castelo em busca da princesa.

Eles a teriam levado se não fosse pela babá que quase sacrificou a própria vida pra mantê-la segura.

Sequestrar a Princesa para forçá-la a se casar com um príncipe tão odioso quanto aquele enquanto ainda eram apenas duas crianças. Eles estavam nitidamente desesperados. A pergunta era: por quê?

— Mas eu não vou permitir que ele leve você... — Nestor afirmou com uma convicção que Mackenzie quase se deu ao luxo de acreditar, mas Nestor não podia decidir isso.

— Meu pai também não permitirá... — Mackenzie declarou. Ela acreditava nisso, mas mesmo assim, um arrepio gélido percorreu as costas da garota de cima para baixo e se alojou em seu estômago. Dorian estava aqui para tentar outra vez, e talvez estivessem armando algum plano tão baixo quanto o de anos atrás.

— Mas e se ele mudar de ideia? — Nestor ousou — E se seu pai permitir...

Não era essa a questão. Ele não permitiria que o casamento acontecesse, mas ela temia que o Príncipe tentasse contra a vida de seu pai.

— Nestor. Eu preciso ir. — Ela disse, com a voz precipitada, virando-se para seguir o caminho de volta até a sala do Rei.

Ela só queria ver o pai e ter certeza de que tudo ficaria bem.

Nestor não havia entendido que o pai dela poderia estar correndo riscos, e como um garoto tolo, no ápice de seu desespero, segurou Mackenzie pelo braço. Com o solavanco, a garota girou nos calcanhares e bateu peito a peito com ele.

Tão perto que Mackezie pode sentir a respiração quente em seu pescoço.

Estava aí uma coisa que ele sentia que deveria fazer a muito tempo, mas nunca tinha tido coragem, porque eles foram criados como amigos, praticamente irmãos. Não era errado olhar para a princesa e sentir aquele formigamento que subia pelas pernas dele e tomava conta do estômago, mas porque ele sentia que era?

Será porque ele era um simples mensageiro, alguém com quem uma princesa nunca poderia se relacionar, não amorosamente. Mas de qualquer forma, não era uma coisa da qual ele pudesse controlar, pois ela era a garota mais incrível que ele já havia conhecido e olhar para ela, era como estar olhando para o céu num dia explendorosamente ensolarado com aqueles grandes e belos olhos azuis celestes; os cabelos dourados reluzentes lhe causavam uma necessidade de tocá-la que costumava ser incontrolável. Ele só não fazia a menor ideia do que estava fazendo agora. Porém, imaginemos que a simples ideia de ver seu grande amor se casar com outro seja capaz de abrir um rombo no peito, e era exatamente essa dor que Nestor desejou sufocar quando tomou a decisão de puxá-la para ele.

Mackenzie nunca tinha visto Nestor como nada além de seu melhor amigo, e quando o rosto dela se ergueu, uma sutil brisa puxou as mechas soltas de seus cabelos dourados para a frente, e isso foi o bastante para Nestor perder o fôlego.

Tão linda...

Com a pele alva e as bochechas coradas, ele a admirava com os lábios rosados de pura saúde entreabertos o bastante para darem a sensação que gostariam de serem beijados, e ele se sentiu convidado, pois seu rosto se aproximou do dela e quando menos se deram conta, uma boca estava na outra e o beijo foi inevitável. As mãos de Nestor pairavam sobre o laço do espartilho verde de Mackenzie e ele a puxou mais para ele. Seus lábios úmidos deslizando sobre os dela como se sua vida dependesse daquilo. E por um momento ela esqueceu que deveria ir atrás de seu pai.

Mackenzie levou algum tempo para compreender, ou ela estava simplesmente aproveitando a explosão de sensações de seu primeiro beijo, mas momentos depois, ela ergueu os braços e sutilmente se afastou com o corpo para trás.

Seu rosto esboçava um misto de surpresa e confusão. Entre suas sobrancelhas, um suave vinco se formava enquanto fitava Nestor.

Ela foi capaz de acreditar que ele tinha acabado de lhe beijar.

— O que você... — Ela balbuciou desnorteada, abaixando o olhar para depois fita-lo novamente.

— Eu... Eu... — Nestor tentou se explicar, mas começou a gaguejar como sempre fazia quando estava prestes a ser punido por fazer besteira. — Eu sinto muito, Mackenzie. Mas eu amo você, e eu não consigo suportar a ideia de que esse Príncipe amaldiçoado esteja aqui para tirá-la de mim.

— Você o que? — Ela indagou. Mackenzie tinha entendido que ele acabara de dizer que a amava, mas... como assim? Isso não podia ser verdade.

— Eu te amo... — Nestor declarou com mais afinco.

Mackenzie balançou a cabeça em uma recusa. Ele era seu melhor amigo e estava querendo mudar o papel que desempenhava na vida da jovem. Nestor era bom, digno e muito bonito, ela fitou seu rosto coberto por sardas, mas isso não era sobre beleza. Ela nunca o tinha olhado dessa forma; como um homem olha para uma mulher, mas pela primeira vez em sua vida ela o fez e se surpreendeu, só que precisaria de tempo para deglutir tanta coisa.

— Eu não sei... — Ela sussurrou em resposta. Mackenzie se sentiu perdida. Como se uma informação tivesse sido jogada sobre seu colo e ela tivesse que fazer alguma coisa de imediato. Nestor pegou a mão da jovem e apreciou a sensação da pele macia em seus dedos. — Eu preciso pensar. — Foi o que ela disse antes de se afastar.

Mesmo contra a vontade de Nestor, o toque foi se desfazendo à medida que ela seguia na direção oposta a ele. E a levar em consideração a forma como ela lidou com a situação, ela não o amava, ela nunca pensara em beijá-lo. Nunca o tinha visto como mais que um amigo e isso foi como um chute em seu estômago.


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