Capítulo 21
A lua iluminou toda a noite que veio fria. Max decidiu alarmar a todos os seus companheiros e finalmente explicar seu plano. Estavam deitados perto uns dos outros na estreita cabine compartilhada, prontos para dormir.
— Fale logo, quero dormir. — Anastácia bufou coçando os olhos cor de mel, quase fechados. Olivia estada deitada de costas para Max, e não pareceu se mexer para ouvir.
— O que é? fuga? — Dante perguntou com a voz titubeante, entediada.
— Melhor! — Clark exclamou mostrando um sorriso perverso.
— Vamos tomar o reino. — Max sussurrou se inclinando, garantindo que ninguém pudesse escutar uma palavra sequer.
— Como é que é? — Olivia quase gritou quando se libertou dos panos que a cobria, e se virou para...mim.
Tapei a boca dela rapidamente e ela ergueu as sobrancelhas parecendo ter entendido o perigo daquilo.
— Sozinhos? — Ela perguntou tirando a minha mão de sua boca agressivamente. Confirmei com a cabeça, e de relance vi Dante ainda boquiaberto.
— Com quem mais seria? Eles querem tudo só para eles, e nós vamos pegar tudo só para a gente. — Eu sussurrei o mais baixo que pude.
— Pretende lutar contra eles quando? Agora? Ficou louco? Eles matam friamente, não são o tipo de pessoa que podemos brincar. — Olivia rebateu.
— Nós também não somos. Estratégia ganha força! — Pisquei um olho.
*
— Finalmente chegamos! — Abri meus olhos quando ouvi essa frase, talvez o nervosismo nem tenha me deixado dormir. Coloquei a cabeça pela janelinha e pude ver uma cidade de longe, flutuante e totalmente prateada. Era algo destrutivo só de ser visto, toda pontiaguda, linda, exótica, fatal. Balancei a saia do vestido para tirar a poeira do quarto.
— Vamos! Levantem! Vamos subir aquela cidade e buscar nosso medalhão, nem que tenha que ser a força. — Merlin, um pirata que conheci, gritou colocando os pés pesados em nosso cômodo pequeno. Ele parecia ser diferente, não aparentava ter gosto em estar ali, talvez tivesse um motivo, afinal de contas, eu também estou aqui agora e não é por isso que me considero um pedaço de bosta, não por isso...
Descemos do navio em um cais e levantamos o campo de visão para essa cidade que parecia surreal de ser vista, havia neblina em quase tudo e não tinha nenhum caminho possível para chegarmos até lá.
— Como vão subir? — Anastacia perguntou com os braços cruzados.
— Pelo que dizem, a cidade escolhe quem sobe, já houve muita morte por tentativas diferentes de subir ali. — Merlin nos disse.
— O que querem lá? — Questinei com um tom de voz nada amigável.
— Um colar.
– Não seria qualquer colar, certo? — Ele me fitou por uns estranhos segundos.
— Precisamos do poder da transferência, que só é acessível com esse medalhão.
— O que é esse poder? — Max diz o que eu ia dizer e Merlin engole em seco.
— Nos leva para outro lugar, mas não fisicamente. É muito útil em uma guerra. — Houve um minuto suspeito de silêncio, que eu me preocupava se ele já estava sabendo do nosso plano contra eles e nos matariam aqui mesmo lançando nossos corpos no mar.
— Olivia! — Max me gritou e eu arregalei os olhos quando levei minha mão até a faca. Na verdade, ele só estava mostrando a escada transparente que se formou diante de nós dois, e um chamado interior me atingiu. Olhei para ele e ele para mim, desviei o olhar e coloquei um pé. Era uma forma física meio estranha. Comecei a subir cada degrau com medo de cair no mar, pois já estava bem alto em cima de algo que nem conseguia ver.
Tentaram subir pelos novos degraus, mas eles se desfaziam, e nenhum poder podia ser usado para construir caminhos até aquela cidade. Subimos por no máximo 2 minutos e pude ver a cidade inteira diante de mim. Construções absurdamente loucas, pontiagudas, enormes, novas e diferentes. Muitas pessoas circulavam por ali e tudo era prata.
— Vamos. — Max me chamou com um gesto de mão. Eu pus meu pé direito naquele liso chão e vi tudo em meu corpo se tornar prateado, lentamente. Levei minhas mãos aonde pudesse vê-las e estavam completamente pratas.
— Não é que eu fiquei bonito prata também? Quem diria, né? — Max se aproximou de mim rindo.
— Estou começando a achar que você não tem senso de perigo! — Falei entredentes ressaltando as veias do pescoço.
— E você de humor! — Ele me respondeu entredentes também, sorrindo logo depois.
— Aproximem-se! — Uma voz se fez forte no centro daquele lugar, e o caminho se acendeu para podermos seguir.
— Vá primeiro! — Max me disse.
— Eu já ia primeiro, não precisa me falar!
Tinha um homem e uma mulher com roupas bem peludas cobrindo totalmente seus corpos finos e
elegantes. Havia um ar de superioridade que me dava a certeza de que mandavam ali. Uma pantera saiu por detrás de suas cadeiras e se posicionou entre eles. Eu arregalei meus olhos apertando meus dedos suados.
— O que querem? — A voz da mulher ecoou firmemente pelo meu corpo trêmulo. Como
odeio me sentir incapaz. Viro a cabeça para a direita e me deparo com o corpo super relaxado de Max.
— O colar. — Ele respondeu facilmente. Eu quase gritei partindo pra cima dele. Como pode entregar nosso plano assim? Fechei meus olhos em aflição, com minhas mãos na testa. A mulher soltou uma risada inocente e eu senti uma mão fria me levantar pelo pescoço e vi outra levantar o Max.
— Quem são vocês? — As duas figuras, agora nos enforcando com uma força desumana, perguntam juntas.
— Sou... Oli- Olivia Hart.
— Max, príncipe de Orkida — Eles pareciam anular nossos sifões encantados, estávamos sem ar e sem
força, até que nos soltaram e caímos no chão.
— Temos um festival um tanto quanto inspirador essa semana, fiquem e ganhem o medalhão. — O homem falou voltando a se sentar ao lado da pantera, o único corpo que mantinha sua cor de origem.
— O que precisamos fazer? — Enguli em seco esbaforida.
— Sobreviver. — A moça exclamou me encarando com aqueles olhos brancos.
— Por que nos escolheu? — Ouvi sons de tambor vindos de longe, me assustavam à medida que iam aumentando o volume.
— Vocês parecem divertidos.
— Vai por mim, ela não é. — Max falou, e eu revirei os olhos.
Vieram cinco pessoas do nosso lado e nos guiaram até uma floresta fechada que parecia ser
própria para esse tipo de atividade, a única coisa que sei desse festival é que devo sobreviver, mas por que um festival? Por que eles entregariam esse medalhão assim? Será que ninguém conseguiu sair desse campo, por isso continuam com esse jogo?
— Vocês escolhem quando começam. — A mulher se posicionou atrás da gente e parecia sentir nosso cheiro. Ela passou a mão pelo ombro de Max sorrindo.
— Príncipe, é? — Abriu mais seu sorriso e eu não sabia se ficava mais nervosa com essa situação ou mais tranquila por não estarmos mortos até agora . Max deve estar acostumado com moças dando em cima dele, não irei intervir.
— Ela...? — A figura prateada aponta para mim. — Você...?
— Ah, não, não, não, jamais. — Eu respondi fazendo muitos gestos, estou parecendo uma boba por estar sem graça.
— Eu tenho bom gosto. — Max falou com aquele riso sínico, me fazendo querer soca-lo. Ela o beijou em
seu pescoço e cochichou algo em seu ouvido, logo saindo.
— Isso lá são horas? — Minha voz era estridente e meu punho estava fechado. Só consegui me lembrar de quando estávamos subindo e 3 piratas encostaram suas lâminas em nossas cinturas de forma inusitada, dizendo " Não tentem dar de espertos conosco", parece que Max está bem livrinho aqui.
— Faz sua parte que eu faço a minha. — Ele andou na minha frente adentrando a floresta, deixando uma Olivia frustrada para trás. Fechei meus olhos e mentalizei minha aldeia, era nossa próxima parada de navio, a última coisa que devo ver é minha mãe, não um nobre idiota. Se concentra, vai ficar tudo bem, eu sou forte, eu sou forte, eu sou forte!
Não nos passaram nada do que devia ocorrer ali dentro, apenas colocaram barreiras invisíveis para nao fugirmos. Max andou tanto a minha frente que nos separamos, isso de longe não é a melhor opção, mas não consigo propor uma parceira, mesmo se estivesse o vendo por perto. Analisei a terra e vi pegadas, nada humano por aqui, só esqueleto esquecidos. Eu só conseguia ouvir minha respiração e meus passos furando as folhas secas no chão.
Notei um som diferente depois de andar por aproximadamente 2 horas, olhei em volta e não vi nada, parecia outra respiração. Eu estava querendo subir em uma árvore, mas não tive tempo nem de perceber que havia uma criatura correndo em minha direção. Um golpe em meu rosto foi o bastante para me fazer rodar e cair no chão, com um impacto absurdo.
— Ahhr! — Eu gritei levando aos mãos ao rosto, pelo menos não eram garras. Puxei minha espada da roupa e retirei minha capa, deixando-a no chão. Fui em direção àquilo e quase paralisei ao olhar. Devia ter uns 3 metros, nunca vi algo parecido, andava como um humano e era coberto por pelos prateados. Corri e derrapei meus joelhos dobrados na lama, passando a espada em sua perna, o fazendo tropeçar. Me afastei rapidamente e apoiei em uma árvore para saltar e alcançar o topo de sua cabeça, cortando-a.
Guardei minha lâmina e estalei a coluna para os dois lado, que dor! Prendi meu cabelo em um
coque com meu próprio cabelo, peguei minha capa do chão e saí dali me questionando o que era aquilo. Em uma parte do caminho, que eu nem sabia qual era, eu não aguentava mais andar, então deitei em uma pedra gigante na beira de uma pequena cachoeira, acabei pegando no sono, mesmo dizendo para mim mesmo, por 5 minutos, que devia manter meus olhos atentos.
Acordei com um barulho estranho de grunhidos altíssimos por perto, logo depois ouvi passos velozes.
— Saia daí, Olivia! — Max gritou para mim, apontando para trás de mim, o lago da cachoeira. Mas não fui tão rápida, acabei com um furo em
meu braço por uma das garras dessa criatura. Gritei de dor e corri, me libertando daquela forma pontiaguda em meu braço. Max correu e lançou duas lâminas no pescoço da critura, dessa vez ela era pequena. Apertei meus olhos para suportar aquela dor. Senti algo puxar meu braço e leveu um susto tao grande que puxei minha faca.
— Calma! Sou eu. — Max me falou com o rosto um pouco sujo de sangue. Ele rasgou um pedaço da manga branca dele e amarrou fortemente em meu braço direito.
— Quantos já matou? — Ele me perguntou ofegante. E eu não quis repsonder, apenas saí de perto dele e andei mais.
— Já está escuro, melhor não andar para onde não conhece.
— Não éramos parceiros antes, então não seremos agora. — Eu disse ainda andando.
— Esqueci como é difícil trabalhar com você. — Eu parei de andar.
— Claro, o problema sempre sou eu. — Disse isso virando para ele.
— Sim, na verdade, é sim. Você é inacessível demais.— Ele exclamou sem me olhar.
— E o quê exatamente você quer acessar
em mim? — Cruzei meus braços me aproximando. Ele bufou e deitou na pedra onde antes eu havia deitado. Fiquei andando em círculos por um longo tempo para depois deitar sobre a terra, com o maior cuidado com meu braço. Apoiei a cabeça sobre o braço bom e olhei as estrelas.
— Tem espaço aqui, aí ta sujo. — Ouvi a voz de
Max dizer. Lubrifiquei meus labios e me preparei para negar, mas levantei meu tronco e fui até ele com o braço ensanguentado. Não consegui olhar diretamente para ele, mas agredeci entredentes. Ele não falou nada, apenas chegou para o lado o máximo que conseguiu e virou o rosto para o outro lado. Eu sentei na pedra, esquentada, e logo me deitei, com
o braço direito em cima da minha barriga.
— De nada. — Ele falou.
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