🔥VI: CAOS - Sereia púrpura🔥
Talvez esse seja um castigo justo para aqueles que não possuem coração: só perceber isso quando não pode mais voltar atrás.
A menina que roubava livros – Markus Zusak
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Nota incial;
Boa leitura... ♡
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CAOS SENTIA A CABEÇA pesada e dolorida quando acordou, suavemente, e pensou que talvez fosse por causa do sangue que perdera. O rei piscou um pouco, lenta e fortemente, enquanto tentava recolocar suas ideias no lugar, e agradeceu internamente por estar de noite pois qualquer luz ofuscante o faria gemer. O rei mexeu-se e travou, piscou com mais intensidade até que toda sua visão normalizasse e percebesse que estava novamente acorrentado e amordaçado, e gritou, mas tudo que saiu de seus lábios foram os guinchos mais irregulares e ridículos que um Rei poderia expelir. Sua cabeça girou novamente, e bufou, balançando as mãos, tentando forçar o ferro e o aço dos grilhões a se romperem, se os elos se soltassem...
Ele suspirou, abaixando as mãos, e olhou em volta. A floresta se erguia majestosa e silenciosamente a sua frente, a luz da lua parecia que transpassava seu corpo, e então, notou que estava sentado entre as frondosas raizes de um imenso salgueiro, onde foi preso cuidadosamente. Caos se pôs de joelhos e balançou as correntes, fazendo o som ecoar como trovões pela floresta inteira. Ele se encolheu, percebendo o que tinha acabado de fazer, e franziu. Onde estava a comandante? Ela o havia deixado? Simplesmente? Não! Uma mulher daquelas não deixa nada para trás. Então onde estava ela? Caos sentia sua coxa boa, firme e rígida, e tateou até desfazer o laço que ela usou para estancar o sangramento, e notou que o ferimento havia desaparecido. Nem mesmo uma cicatriz se formou no lugar, e aquilo o arrepiou. Nem os unguentos e ervas dos elfos de Valfenda eram tão eficazes. Não em tão pouco tempo....
Seu pensamento desvaneceu. A quanto tempo ele estaria ali? Não parecia que a lua estava menos brilhante, mesmo assim...
Caos se pôs de joelhos novamente e olhou o salgueiro, notando que o lago estava brilhando em sua frente. O rei olhou a lua e as estrelas, silmarils eternas de Varda, pequenos diamantes brancos e vermelhos cintilando nos céus daquele reino estranho, selvagem e..... surpreendente...
Sob a luz prateada do luar, o lago cintilava com seus raios refletidos nele, e muito ao longe uma cadeia de montanhas parecia usar seus picos nevados e afiados para cravar o céu à terra. Marolas suaves quebravam na areia às margens do lago, e Caos vislumbrou uma sereia nas águas. Ele se manteve quieto, silencioso como uma sombra, escondido entre a árvore as raízes, enquanto que seus olhos bebiam daquela beleza púrpura. As águas refrescantes do lago banhavam as panturrilhas torneadas da mulher de costas para ele. Seus olhos subiam, lentamente, enquanto encaravam a pele, finalmente, exposta dela. As panturilhas deram lugar a um par de coxas grossas por onde gotas cintilantes deslizavam, novamente em direção ao lago. Seu olhar subiu mais e, no íntimo, algo gritou para que ele não parasse. Continue olhando, pensava, mas ao mesmo tempo tentava lutar; Pare! Não a olhe!
No entanto, ele continuou olhando, e a fina e suave penugem dourada que cobria suas coxas, mas quase não se era notável, parecia cintilar na luz da lua. Seus olhos subiram mais e ele vislumbrou a curva acentuada que seu corpo tomou ao vislumbrar um par de glúteos duros e macios, redondos; pareciam tão perfeitos para ele. Sentiu como se sua mão tocasse e os cobrisse por inteiro, parecia que suas mãos foram feitas para tocar e acariciar aquela região. A boca dele secou intensamente quando seus olhos subiram mais, e vislumbraram a cintura estreita da sereia púrpura, as costas suaves e macias, e os braços longos, as mãos de dedos longos e delgados que massageavam a nuca e soltavam a massa de cabelos negros em seguida. Os cachos deslizaram até esconder toda a extensão de suas costas, parando e forçando Caos a olhar novamente para seu bumbum duro e tão... perfeito. Seu corpo bebia da luz da lua e brilhava como uma loba branca em meio a escuridão.
O rei engoliu em seco quando a sereia avançou em direção a água gelada, de meia madrugada. Seus passos pareciam fazê-la flutuar sobre as águas, mas lentamente, a sereia desapareceu sob as águas escuras do lago. Ele sentiu, subitamente, seu peito tomado por uma tristeza imensa e avassaladora. A sereia mergulhou nas águas geladas, mas logo voltou a superfície, passando as mãos pelos cabelos molhados; e novamente seu coração se alegrou.
Caos franziu, notando o que aquilo significava. Seu coração batia violentamente contra seu peito, de um jeito tão insano que remetia ao seu primeiro amor – sua Emewën. Uma humana que foi escravizada por longos anos até que ela o conheceu. Ela era tão boa, tão jovem, tão doce e suave, que preencheu por completo seu coração e seus pensamentos. Ele se apaixonou por ela, casou-se e teve um filho com ela, e viveu uma vida mágica durante seus breves anos humanos. Então, ela se foi, para juntos dos braços de Eru, e seu jovem filho morreu em uma batalha na Terra-média. Caos amou sua primeira rainha com todas as forças, e até que se casou novamente, com Sigrid, com quem teve Nëssa e Bard, ele viveu sozinho nas Montanhas Azuis, em seu reino renomeado, carinhosamente, pelo seu povo como Nova Gondolin.
Sigrid, por outro lado, foi uma paixão novamente suave, doce e singela, e apesar de ser uma mulher forte, Sigrid também guardava doçura em seu coração. Ele amou o máximo que conseguiu aquela mulher, e a tratou como uma deusa, mas ela também partiu de sua vida humana brevemente. Não conheceu os filhos... Bard que era tão mais parecido com ela que a bela Nëssa que roubara toda beleza da mãe para si.
Porém, ali, acorrentado e amordaçado, Caos via em sua frente não uma escrava e nem uma capitã da guarda, e sim, uma comandante suprema de um exército. Uma mulher que se despiu em meio a escuridão mesmo sabendo que ele estava ali. Em cada parte de seu corpo, Caos conseguia vislumbrar o quanto era uma mulher decidida, independente, voraz, sagaz, o quanto era misteriosa, ao mesmo tempo aberta, suave e rígida, bela e feroz, silenciosa e estrondosa, tempestuosa e linear. Seus olhos violetas eram apenas o retrato do que ela guardava dentro de si, e Caos sentia sede de descobrir e provar cada gota de seu mistério, sentia o corpo formigando ao olhá-la, o peito quase se ferindo com a violência das batidas de seu coração, os lábios rachando, as mãos tremendo, um suor gélido escorrendo pelas costas...
Seria possível ele se apaixonar novamente? Não! Elfos só se apaixonam uma vez... não é? Aqueles sintomas eram pertencentes a um único diagnóstico – Amor! Mas como ele poderia estar apaixonado por ela? Ele já havia entregado seu coração a Emewën. Isso seria trair a memória dela, seria trair todo seu povo... seria... mas seria mesmo trair seu próprio corpo? Sua alma parecia querer sair de seu corpo todas as vezes que a olhava, querendo desesperadamente se fundir a ela...
Caos balançou a cabeça e se deitou contra o salgueiro, tirando os olhos do lago, os olhos dela, e tentando esquecer a possibilidade de estar apaixonado por ela. Ele não a conhecia, como poderia amar o desconhecido? O mistério? Mesmo vendo o quão profunda ela poderia ser, ele sentia que ela não era de toda brava. O cuidado com o que fez o curativo e lhe deu o elixir... Deixa de bobagens! Ela só quer ter certeza de que você chegue inteiro no reino dela. – pensou ele, enquanto passava as mãos acorrentadas no rosto. A mordaça era um pedaço de corrente preso com tanta força atrás de sua cabeça, um pano passava por ela e ele quase o engolia. Tentou arrancá-la, mas não conseguiu... impotente, lutou contra a vontade incessante de voltar a olhar o lago, mas não queria trair a memória de Emewën e Sigrid. E nem mesmo a de seus filhos, tampouco.
Todavia, seu corpo formigava e sua alma parecia queimar sua pele. Ele desejava vê-la. Era inconsciente a vontade, era como um instinto a muito esquecido, inativo, que estava aflorando, entrando em erupção e o enlouquecendo a cada minuto que passava sem a ver. Sua mente perdeu a luta contra o lado em que ele se agarrava e, lentamente, virou-se em direção ao lago. A água ondeava suavemente perto da margem e a sereia ainda nadava. Ele a ficou observando, olhando enquanto a lua prateada no céu lançava raios em sua direção e fazia uma coleção de estrelas molhadas escorrer pelos braços e ombros dela, brilhando. Os cabelos molhados grudavam no rosto e no pescoço, e no colo, onde ele pôde ter uma breve sombra da curva dos seios que logo foi coberto pela água escura.
Ali, banhando-se, aquela mulher parecia tão suave, tão singela, como uma boneca, uma delicada boneca de porcelana cuidadosamente moldada e pintada que poderia quebrar a qualquer momento se machucasse, se fosse bruto demais. Por um momento ele parou para analisar seu nome; Alyna se significava Sombra Antiga, e parou para pensar se aquilo poderia ser um sinal, ou se os pais de Alyna só eram tão antigos quanto o lago de onde todos os Primogênitos vieram – Cuiviénen, seu local de nascimento.
Enquanto sua mente vagava longe, parecendo navegar pelas curvas ocultas do corpo da comandante, e seus olhos tragavam cada pedacinho dela para dentro da memória dele; a sereia vasculhou a floresta com os olhos. Caos se esgueirou, escondendo-se nas sombras, mas ainda a olhando pelas folhas. Por um momento, achou que Alyna o tinha visto, mas se viu, não se importou. Ela voltou a nadar. E Caos continuou a olhá-la enquanto que seus membros deslizavam pelas águas em mergulhos, braçadas e enquanto ela boiava.
O rei observou a sereia púrpura por todo o tempo, então, como que num sonho, uma voz suave começou a cantar. Ele olhou em volta, procurando encontrar a origem da melodia, mas era tão suave e lenta que se assemelhava ao som do vento. Encantadoramente sedutora e suave, a voz ecoou por seus ouvidos e acalmou a violência com que seu coração batia, e seu corpo lentamente amoleceu sob o som agradável da melodia. Caos sentiu o corpo pesado mais uma vez, e enquanto seus olhos observavam a sereia púrpura flutuando sobre as águas, vendo suas curvas brilharem na luz da lua; o olhar dele pesou. Bocejou e suas pálpebras ficaram cada vez mais pesadas.
A melodia foi ficando mais suave a cada momento, e foi observando a comandante nas águas que ele adormeceu.... sem sentir...
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Caos acordou com a luz do sol batendo em seu rosto, mas ainda estava frio, e o cheiro do orvalho penetrava em seu olfato. Ele piscou, mas fora a luz nos olhos, sua cabeça estava leve, o corpo completamente revigorado e forte, e sua boca estava livre da mordaça, apesar das mãos e dos pés ainda estarem acorrentados.
O rei olhou em volta e percebeu o quão bela era a floresta a luz do dia, e agradeceu por ter amanhecido. Que noite longa!
— Bom dia, majestade — ouviu uma voz feminina e agradável a sua direita, e olhou naquela direção.
A comandante Alyna estava ali, sentada em uma das imensas raízes de uma faia, e passava uma pedra de afiar em sua longa espada escura. Ela não usava o elmo, mas seu belo corpo foi novamente oculto abaixo da armadura. Os cabelos pretos caíam em ondas brilhantes pelos ombros, e Caos engoliu em seco a ver os olhos violetas dela mais uma vez. Franziu, ao ouvir o “majestade”, e se sentiu ainda mais confuso ao ver em seu semblante uma expressão mais suave e distinta. Alyna inclinou a cabeça novamente e franziu o nariz, fazendo aquela careta engraçada e sexy que ele parecia gostar mais a cada momento.
Lembrou-se da noite passada. Uma comandante que mais parecia uma sereia nadando nua no lago, à luz das estrelas e da lua – apenas. Tendo os céus e ele de testemunha. Alyna parecia tão perfeita por fora, quanto era brava por dentro.
A comandante parou de afiar a espada, embainhou-a novamente, levantou-se e caminhou até ele. Tirou o odre do cinto, acocorou-se perto dele, e lhe estendeu o cantil para que ele bebesse. No entanto, Caos desviou o rosto.
Ela bufou. — Só mais um pouco, para garantir que está curado do ferimento. — insistiu, pacientemente.
O rei exitou um pouco antes de aceitar o elixir. Novamente, o líquido desceu queimando, mas foi o toque dos dedos de Alyna em seu rosto que o fizeram estremecer. Seu coração deu um salto contra o peito com o simples e rápido contato. A boca dele secou no mesmo instante.
Engoliu o líquido espesso e molhou os lábios, suspirando. Alyna guardou o odre e se levantou, afastando-se um pouco dele. Caos viu restos de uma fogueira, mas nada de qualquer alimento caçado. Ele ouviu o relichar de um cavalo e olhou para as árvores, encontrando o corsel vermelho da comandante. Ela caminhou até o animal, remexeu na bolsa e trouxe consigo um pequeno embrulho.
— Coma isso — disse, entregando-lhe —, vai precisar repor as energias para podermos voltar a andar.
Alyna trocou um olhar com ele e Caos notou que ela fugiu de seu olhar. Ela se afastou, voltando a se sentar em meio as raízes. O que mudou? – questionou-se ele.
Caos olhou o pequeno embrulho e desfez o laço de barbante. Dentro havia um pequeno sanduiche de pão, queijo e grossas fatias de bacon. Frio, mas estava saboroso quando mordeu o primeiro pedaço.
— Não vai comer? — ele ousou perguntar-lhe.
Alyna ergueu os olhos da grama e negou. — Não preciso.
Caos mordeu outro pedaço generoso do sanduíche, franzindo.
— Todos nós precisamos.
Ela olhou para o lago e respondeu vagamente;
— Eu não.
Ele franziu e olhou do sanduíche para a comandante.
— O que mudou? — perguntou e Alyna deslizou o olhar do lago para a ele — Você me chamou de “majestade”. — foi incisivo.
Alyna soltou uma respiração pesada, olhou para seu cavalo vermelho e se pôs de pé.
— Nada mudou, ainda é um forasteiro, mas já que insiste tanto em ser tratado como um rei, não vejo outra escolha a não ser acatar... — ela andou na direção dele, silenciosa como uma sombra. Sombra Antiga, o nome dela parecia tão perfeito agora. Os olhos violetas da comandante o encaravam, seus lábios grossos e vermelhos denunciavam um cântico quase suave e mítico, quase sereístico. Alyna se inclinou na direção dele e Caos foi brutalmente afetado por seu perfume feminino e quente; ela tinha um cheiro suave de sândalo e rosas silvestres. Os cabelos escuros emolduravam o belo e frio rosto. —, mas tenho uma notícia para você, majestade... — Caos sentiu o hálito quente que saia de sua boca; hortelã. —, Rei, ladrão, selvagem, cafetão, comerciante ou soldado, eu não ligo! Não será tratado diferente pela posição que ocupa, não por mim, se é da realeza ou se veio do buraco mais profundo e sujo do mundo, eu não me importo, se eu precisar mandar você ir para onde Morgoth te carregue, mandarei! Para mim, suas ações é o que importa! E por enquanto, a única coisa que você fez foi invadir meu país, e fugir de mim! Então, forasteiro real, não espere um tratamento diferente ou mais tranquilo só porque eu lhe chamei de “majestade”. Não era isso que queria?
Caos engoliu em seco. Já havia conhecido muitas mulheres na vida, algumas muito bravas, aquela mulher em sua frente, aquela Alyna de Marae, parecia mesmo uma loba, parecia volátil, uma chama brilhava em seus olhos – ela era intensa, complexa, incrível...
Ele puxou a voz que havia se escondido no fundo da garganta e molhou os lábios.
— Também não quero que me trate diferente, pois faço o mesmo com forasteiros em minhas terras. — ponderou ele, olhando-a fixamente.
Alyna deu um sorriso frio.
— Então, estamos quites.
Ela se ergueu e se virou para pegar a pedra de amolar. Caos olhou a curva de seu corpo, mesmo oculto novamente pela armadura, era como se a visse coberta apenas por um fino de tecido de seda. O que seus olhos contemplaram noite passada foram a forma mais divinamente bela que ele poderia querer tocar. Caos percebeu naquele momento que, estando apaixonado ou não, ele gostava de olhar cada parte de seu corpo.
— Sabe, loba, tenho a leve impressão de que nos daremos muito bem — ele provocou enquanto olhava para seus cachos rubros.
Alyna o olhou por sobre os ombros.
— Eu não sou sua loba. — cortou ela, friamente.
Então, Caos deu aquele sorriso ordinário e sarcástico, e soltou;
— Ainda!
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Nota final; Hahahah Caos mandou a real. 😘😍😅😅😵Quero só ver isso kkkk
Votem e comentem... 😍😝
Tenn'enomentielva....
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