CAP. 14 - Destino cruel


Já é a sexta vez que esse filho da puta liga pra ela. Ainda bem que ela está no banheiro e não ouviu o celular. Vou desligar essa porra logo, antes que ele ligue novamente. Puta que pariu! Agora vai ficar correndo atrás dela. Merda.

- Meu celular tocou?

- Não, era o meu. Hummmm, você fica super gostosa com essa roupa, mas eu prefiro você sem nada...

- Nem vem... Acho que trepamos o suficiente pra duas semanas!

- Comigo não, meu bem. Aqui é sexo quatro vezes por dia. Vai encarar?

- Então você já atingiu sua cota....

- Mas no final de semana é sexo dobrado! _(risadas) Vou até ela e a seguro pela cintura.

- Já que você não quer viajar comigo, podíamos assistir a um filme aqui mesmo.

- Pode ser. Qual o seu drama favorito? E o vento levou ou A lista de Schindler? _ (risadas)

- É mesmo delícia? Vem aqui pra você ver o tamanho do meu drama. _ Eu a pego no colo e levo pra minha cama.

- Não Nando, por favor, me deixa descansar um pouco.... Ok, eu assisto velozes e furiosos 11 se você quiser!

- Nem tem o 11 engraçadinha.... Agora vem, você escolhe o filme, eu deixo.


—-*—-


Júlia


Que ideia ridícula de assistir filme. É claro que isso não daria certo. Nós dois juntos, abraçadinhos no sofá, só podia dar numa coisa; sexo. Mas foi uma delícia transar com o Nando assistindo Jogos Vorazes... A sala de TV é enorme, dá duas da minha. E a TV então! Meu Deus! Pra quê cinema?


Eu já estava esquecendo o motivo que me fez ir até o apartamento do Nando. Estava tão bom ficar com ele, sua companhia, nossa conversa, que eu acabei resolvendo passar aquela noite com ele. Estava com medo de voltar, essa era a verdade. Sempre fui de enfrentar as coisas e resolver tudo de primeira, mas me sentia fraca nessa situação, porque no fundo, reconhecia minha culpada por estar vivendo um romance sem ter me divorciado.


Fui pegar meu celular para ligar para a Cris, e ele estava desligado. Quando o liguei, tinha quinze chamadas não atendidas do Rafa! Misericórdia! O mundo está acabando, só pode! Fico naquela de retornar ou não, e acabo não ligando de volta; mas fico intrigada com a quantidade de ligações. Nem comentei com o Nando para não criar caso.


Como imaginei, também tinha algumas ligações da Cris e várias mensagens. Liguei para ela e contei o que estava acontecendo. Ela ficaria preocupada se eu não retornasse. Pensei em ligar para minha mãe, mas fiquei com preguiça das broncas dela quando soubesse o que estava acontecendo, pois ela parecia mais minha sogra que minha mãe.

- Acho melhor pedir uma pizza, o que você acha?

- Eu não to com fome.

- Também, comeu quase um pote de sorvete! _(risadas)

- Nossa que exagero... Comi uns três potinhos. Pequenos. (mais risadas)

- Você é uma formiguinha... Adora um doce né? Mas se quiser mais sorvete, vai ter que comer pelo menos um pedaço de pizza.

- Ok, pode pedir. Pede uma coca também.

- Eu ia de vinho.

- A não... pizza combina com coca-cola. Depois a gente toma vinho.

- Sim senhora! _ Ele me agarra e me da um beijo bem sensual... fico super excitada... ele tem um poder sobre o meu corpo que chega a ser sobrenatural.

- Enquanto esperamos a pizza, toca um pouquinho de violão pra mim?


.....


Estávamos conversando na mesa e terminando de comer a pizza. Quando meu telefone toca, sinto uma energia horrível. Assim que vejo o nome da Lídia meu coração quase sai do peito e um pavor toma conta de mim.

- Alo? Lídia?

- Oi querida. Você precisa vir o mais rápido possível! O Rafa sofreu um acidente e está aqui na Santa Casa. _ Minha sogra fala soluçando de dor.

- Ai meu Deus! Estou indo agora. Quando chegar você me conta o que houve.

Estou tremendo e sinto que vou desfalecer.

- Que foi Julia? Você está pálida.

- O Rafa sofreu um acidente e está na Santa Casa. Falei com a mãe dele que está desesperada.  Eu preciso ir até lá agora.

- Tudo bem, eu vou com você.

- Claro que não Nando! O que eu vou falar pra ela, que você é meu amigo gay?

- Pode ser, mas você não vai dirigindo nesse estado. Eu dirijo seu carro.


—-*—-


- Ô minha querida! O que será do nosso Rafa? Eu não posso pensar no pior, dói muito pensar nisso. _ Ela chora mais ainda quando me vê e me abraça forte.

- Lidia não será nada sério, não vamos pensar no pior, ta? Mas o que houve?

- Oi Julia... Que bom que você veio rápido, minha mãe estava desesperada para vê-la. _ Minha cunhada, Mariana, me da uma abraço. Renato, meu sogro, vem logo atrás e também nos abraçamos.

- Ele estava de moto Julia! Ele nunca mais andou nisso! Ele sabe que não gostamos que saia de moto por essa cidade maluca! O que ele tinha na cabeça? Você não viu quando ele pegou a moto? _ Lidia me pergunta completamente transtornada.

- Não, eu não estava em casa.

Nesse momento o Nando chega. Ele foi estacionar o carro e eu tinha subido sozinha.

- Boa Noite a todos.

- Nando?

- Mari! Quanto tempo!

Eu fico olhando sem entender nada. A Mari dando um abraço entusiasmado demais no meu boy magia.

- Vocês se conhecem?

- Estudamos juntos dois anos quando eu fiz direito. _ Nando me responde.

- Até você abandonar o curso, ne?

- Pois é... mas você é parente do Rafael?

- Sou irmã.

- Nossa, quanta coincidência. _eu falo baixo, meio que desembuchando. Continuo:

- O Fernando é um amigo nosso. Quando você me ligou eu fiquei muito nervosa pra dirigir e liguei para que ele me trouxesse aqui. _ Explico para minha sogra, percebendo imediatamente que a história do amigo gay não colaria.

- Olá Fernando. Você é amigo do Rafael, então. Que bom saber que ele tem um amigo nesse momento difícil.

Eu engulo seco e fico sem fala. 

- Claro Dona Lidia. Estou aqui para o que todos vocês precisarem. Afinal, é para isso que servem os amigos.

Grandessíssimo cara de  pau.


A Mari está dando sorrisos demais para ele e isso me deixa muuuuito puta. Até mesmo porque ela é um mulherão. Como é advogada, está sempre produzida. Cabelo loiro ondulado, olhos verdes bem claros, mais alta que eu, 26 anos, corpo malhado e uma bunda linda! Que raiva dessa bunda! Ai Jezuis! Será que eles já transaram? Que cara é essa que ela está fazendo pra ele? Eu sempre me dei muito bem com ela mas to com muita vontade de voar no seu pescoço.

- Lidia você quer que eu pegue um café pra você, ou um chá?

- Não minha querida, não se incomode... O Renato pega.

- Não Renato, fica aqui com ela que eu pego rapidinho ta? Um café?

- Sim Julia, obrigado. Vem cá Lidia, senta aqui um pouco. _ Meu sogro demonstra muito carinho com sua esposa.

Eu saio em busca de um café e deixo o Nando cheio de conversinha com minha cunhada. Essa é boa... Fizeram dois anos de direito juntos. Imagina se tivessem estudado os cinco anos! Ela já estaria sentando no colo dele!

E o Rafa, que me ligou tantas vezes e eu não atendi. A culpa é minha! Se eu tivesse retornado suas ligações ele não teria pegado a merda da moto. Não acredito que isso está acontecendo.

....


- Nossa Ju, jamais imaginaria que vocês eram amigos do Nando! _ Mari me afasta um pouco dos outros que estão conversando.

- Pois é... vocês estudaram na mesma sala?

- Eu fiz umas matérias com ele, mas nós ficávamos muito juntos porque eu namorava o Felipe, um amigo dele, então sempre saíamos.

- Ah ta... E você não namora mais o Felipe?

- Não né Julia! Eu não estava namorando o Carlos?

- Estava? O que aconteceu com o Carlos? Vocês eram tão lindos juntos... achei até que iam se casar.

- Ju, esse acidente mexeu com sua memória. Você esqueceu que o cachorro do Carlos meteu uma galhada em mim? Você me consolou e tudo...

- É mesmo... Mas você não está namorando ninguém no momento? Nem uma paquerinha fixa, sei lá? Alguém que você deva fidelidade...

- Não!!! Graças a Deus! Nem acredito que reencontrei o Nando! Ó, confessando só pra você, porque é minha cunhadinha linda que eu e meu irmão amamos muito. Eu sempre quis ficar com o ele. O Felipe era muito meloso, grudento, mas o Nando era homem com H maiúsculo! Tem pegada, sabe. _ Eu que o diga... E odeio imaginá-lo pegando outras. - Você precisava ver como ele é quando fica com uma garota! Nossa, só de lembrar começo a suar. Eu ficava louca de vontade de ... _ ela me olha arregalando os olhos verdes com dificuldade de continuar a palavra.

- Trepar com ele.

- Ai Ju, que palavra vulgar.

- Mas era isso mesmo. Você queria _ela me corta.

- Transar com ele. Assim é melhor.

- Hum... _ Explodindo em cinco, quatro, três,...

- Então, eu sempre quis ficar com ele, mas mesmo quando eu terminei com o Felipe, ele nunca ficaria comigo. É tipo um código de ética entre amigos. Mas agora que nos reencontramos e isso faz um tempão, é diferente. Vou pegar o telefone dele pra gente sair! Ai Ju, você sabe se ele tem namorada?

- Parece que tem. Não converso sobre essas coisas com ele mas o Rafa me disse que ele está muito apaixonado por uma garota ai. É melhor você pular fora Mari.

- Ah ta que ele está namorando... O Nando não se prende a ninguém. Deve ser alguma distração e logo ele enjoa.  Ai Deus! To tão animada!!!

- Calma Mariana, não esquece que seu irmão está todo fodido aqui no hospital. Não pega bem você ficar atiçada assim.

- Ai credo! É mesmo.

O que eu pude fazer para jogar água fria na periquita assanhada da minha cunhada eu fiz, mas o Nando é um filha da puta de um gostoso e causa isso em qualquer mulher mesmo. Aaaargh!! Que ódio!


Nesse momento o médico chega dando notícias otimistas sobre o Rafa. Ele sofreu uma pequena lesão na medula, ficará na UTI por dois dias apenas para observação, e depois irá para o quarto no qual ficará somente para uma rápida recuperação. Seus movimentos das pernas estarão brevemente comprometidos, mas é devido a brutalidade do acidente. Com a fisioterapia, ele tem noventa e nove por cento de chance de se recuperar e voltar a vida normal.


Enquanto a Mariana me desabafava todo o seu tesão enrustido pelo Nando, ele conversava com meus sogros super educado e fofinho, fazendo seu brilhante papel de amigo do seu filho.

- Minha querida, é melhor você ir para casa. O médico disse que não podemos vê-lo hoje. Amanhã bem cedo eu volto, então eu ligo pra você.

- Eu venho amanhã cedo também Lidia.

- Tudo bem. Olha, _ Ela coloca uma mão com muito carinho no meu rosto, _ vai dar tudo certo, ele vai sair daqui bem e vocês vão continuar felizes como são, está bem? Não se preocupe que o nosso Rafa estará conosco o mais breve possível, rindo, fazendo piada como sempre, e vocês ainda me darão netinhos lindos, viu?

Sem palavras...olho para todos depois dessas palavras:  Mari, sorrindo feito boba (agora to cruel com ela mesmo), Renato emocionado e Nando, distribuindo ódio pelos olhos.

 .....


- Assim que as coisas acalmarem por aqui eu te ligo pra gente marcar alguma coisa. _ Mari fala com voz de "quero te dar".

- Liga sim! Foi um prazer revê-la. Uma boa noite à todos.

Liga sim??? Um prazer revê-la??? Ta querendo morrer, é Fernando?


—-*—-


- Para uma sogra e nora, vocês se dão muito bem.

- Ela é como uma mãe para mim. Me dou muito melhor com ela do que com a minha. O único problema é que ela não sabe dos problemas sexuais que eu e seu filho passamos.

- Passaram você quer dizer.

Olho pra ele impaciente. Agora não é hora disso!

- Sim. Mas fora esse problema, nós realmente não tínhamos nada de errado. Sempre nos demos bem e as pessoas tinham essa impressão; que éramos o casal perfeito.

- Mas falta de foda é um problema grave porra!

- É, mas ninguém sabe quem está com falta de foda. Eu não saía por ai falando: "Olha, eu não sou tão feliz assim, estou sem trepar faz vinte dias".

- Cacete! Vinte dias. Inacreditável que alguém consiga ficar perto de você e não te comer.

- E essa palhaçada de você com a Mari?

- Que palhaçada? _ Ele me olha surpreso com a pergunta.

- Nando, eu sou uma mulher super centrada, nunca fui ciumenta, controlo perfeitamente meu temperamento explosivo, mas que porra era aquela de sorrisinho de vocês? E ainda dizer para ela te ligar??? Ta de brincadeira comigo?

- O que você queria que eu dissesse?

Eu sabia que não fazia sentido cobrar isso dele, já que eu estava com a família do meu marido! A Mari tinha todo o direito de ficar interessada nele e o Nando, realmente, não tinha o que fazer.

- Ela vai te ligar. E vai querer te dar.

Ele ri alto. Massageei seu ego né?

- Ju, eu não vou sair com ela. Você realmente tem dúvidas disso?

Chegamos em frete ao seu prédio.

- Você tem certeza que não quer ficar aqui comigo? Ou eu vou pra sua casa...

- Não. É melhor eu ficar sozinha. Não acho correto o Rafa naquele hospital e a gente passando a noite juntos transando.

- Mas a gente não precisa transar. Não tem sentido você sozinha lá e eu aqui.

- E você acha que nós vamos dormir de conchinha profundamente? Não Nando, amanhã a gente se vê, ta?

- Vem cá então, me da um beijo de boa noite.


—-*—-


Minha vida deu uma virada de cento e oitenta graus de duas semanas pra cá. Eu estou com muito medo do desenrolar desse acidente do Rafa. Como poderei continuar com minha decisão do divórcio? Quem vai cuidar dele? Vai parecer que depois que se machucou eu o abandonei sem dó nem piedade. Mas não posso e não quero deixar o Nando! Ele me faz tão bem! 


Coloco uma camiseta velha, deito sozinha com o silêncio do meu quarto e adormeço chorando, apavorada com meu futuro.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top