VIII.
O dia seguinte foi estranho. Ele entrou na faculdade. Foi recebido por June, Summer e Jessica que perguntaram por sua saúde. Ele as respondeu gentilmente, com sorrisos e um pacotinho de biscoitos para cada uma, que sua mãe havia assado no dia anterior, em agradecimento pelos seus cuidados. As três surtaram um pouco e June teve que ser levada para a enfermaria, mas Josh não pôde acompanha-la por precisar ir para aula. Em seguida encontrou seus três amigos, e passou reto por eles, mesmo tendo uma aula com Carver dali a cinco minutos. Não estava com a menor vontade de falar com eles depois da catástrofe do dia anterior.
Como tudo tinha passado de um conto de fadas surreal para o pandemônio silencioso, Josh nunca tivera muita certeza. Seus amigos nem ousaram rir, encarando-o atônito enquanto sua cabeça pendia no peito, a bochecha ardendo e avermelhando-se conforme os segundos passavam-se. Eles provavelmente aguardavam alguma reação ou outra explosão de drama, mas tudo que Josh fez foi subir as escadas e ir até seu quarto, quieto.
Carver tinha tentado falar com ele, mas não adiantava. Ele estava sem forças, triste pelo caos que se instalara e que ele não pudera evitar, não conseguindo nem mesmo culpar Lester e seus planos mirabolantes. Sabia que a culpa era toda sua, só precisava de tempo para entender o que faria a seguir. Iria se desculpar com Noelle? Não tinha certeza do por quê, no entanto. Não é como se tivesse feito algo errado. Só parecera um maníaco perseguidor, mas se provasse pra ela que não era, talvez tudo desse certo. Apesar de que ele talvez fosse, sim, um pouco.
Na faculdade, decidira se manter afastado dos amigos para que pudesse pensar melhor. A tagarelice de Marshal, a frieza de Lester e o semi-interesse de Carver não iam ajudar em nada. Nenhum deles parecia perceber que o seu futuro feliz com Noelle e os três filhos estava arruinado. Ela culpava a ele apenas, então ele por si só tinha que encontrar a solução daquilo.
Foi bem difícil seguir essa resolução quando descobriu que, além de Carver, Noelle também frequentava aquela primeira aula, entrando com um ar alegre enquanto conversava com uma ruiva, provavelmente uma amiga. Ela reparara nele, sua feição fechando-se subitamente, e fez questão de sentar-se no outro lado da sala. Como Carver havia se sentado longe também, em respeito ao desejo de Josh de ficar sozinho e sofrer em silêncio, o rapaz se viu abandonado em uma palestra de duas horas e meia em que rabiscara diversas carinhas chorosas no caderno. Queria pensar em um jeito de desculpar-se com a garota, mas era péssimo nisso. Realmente péssimo. Péssimo do tipo eu-nunca-fiz-isso-antes.
No entanto, passou as torturantes horas da palestra (quando não estava rabiscando carinhas chorosas) criando um plano de redenção para si mesmo, em que falaria com Noelle assim que possível e esclareceria todos os mal-entendidos que ele nem sabia exatamente quais eram. Ao fim da aula, o plano parecia bom, e ele saiu direto da sala para a cantina, analisando-o profundamente em busca de falhas – já que derrota não era uma opção. Só percebeu que estava acompanhado de seus amigos quando um riso escapou pelo nariz de Marshal, que estava lendo por cima dos seus ombros junto aos outros dois.
Fechou a cara junto com o caderno, guardando-o na bolsa enquanto os três sentavam-se ao seu redor. Eles já haviam comprado os lanches na cantina, o que Josh, focado em seu super-plano, havia esquecido completamente. Foi surpreendido porém, com Marshal lhe entregando um suco, Lester um sanduíche e Carver um bolo de pote. Olhando aquilo embasbacado, procurou no rosto dos amigos uma explicação para tal ato de bondade.
— Você está com um bico enorme desde ontem. E a gente se sentiu meio mal pela atitude da Noelle em relação a você. — Carver decidiu ser ele o porta-voz, sorrindo e erguendo o polegar positivamente para o amigo.
— Além disso, vai ser um saco se não pudermos mais ir na sua casa e comer a comida da sua mãe se você estiver bravo com a gente. — Marvel completou em um murmúrio, que mal foi ouvido pelo amigo. Com olhos lacrimejando – afinal, se não fosse dramático não era Josh – o rapaz perdoou os amigos e agradeceu a bondade no coração puro deles.
— Vocês são os melhores amigos do mundo. — choramingou. Lester revirou os olhos, pedindo pelo caderno.
— Chega de ser mela-cueca, Josh. — resmungou, folheando as páginas do objeto até que chegou às carinhas tristes e o plano de redenção. — O que exatamente é isso?
— Bem. Eu pensei muito e não quero que o tapa de ontem seja o meu fim com Noelle. Todos os amores sofrem adversidades. E eu não tenho nenhum problema com ela sendo N.B., então a verdade é que não há nenhum empecilho real além de, claramente, a antipatia que agora ela passou a sentir por mim. — começou seu discurso enquanto furava o suco em caixinha e tomava um gole. — Por isso, criei um plano para que eu volte a falar com ela e ela me perdoe por qualquer coisa que a tenha ofendido e dessa forma, nós possamos recomeçar nosso amor. — ele concluiu, sorrindo. Os três amigos apenas o encaravam, provavelmente ponderando se a saúde mental dele havia deteriorado ainda mais de um dia pro outro.
— Certo. Mas isso parece muito estranho. — Lester disse, retomando a palavra depois de um silêncio constrangedor. — Você tem certeza que estava acordado enquanto escrevia isso?
— Por quê? O que tem de errado? — Josh inclinou-se sobre o caderno, preocupado, revisando suas anotações que até alguns segundos atrás considerara impecáveis. Infelizmente, nunca soube o que havia de errado ali, porque Lester fechou o caderno de súbito e olhou para um ponto em cima de Josh, que também atraiu os olhares de Marshal e Carver, que se apressou em dar-lhe um cutucão nas costelas. Endireitando-se, o rapaz se virou para trás, curioso com o que tinha chamado a atenção dos amigos, deparando-se com os olhos azuis de Noelle encarando-o por cima de suas bochechas coradas.
Pela pressa em levantar e encará-la propriamente, seu plano cuidadosamente planejado durante a palestra foi arruinado por uma dor aguda no joelho e o barulho da cadeira sendo derrubada, o que chamou a atenção de basicamente todo o refeitório. Enquanto gemia e segurava o joelho tentando não chorar – ele havia o acertado na quina da mesa no pulo que dera – Noelle viu-se extremamente constrangida por toda a atenção que se focara nos dois. Ela parecia prestes a desistir de dizer qualquer coisa e ir embora quando Lester salvou o dia.
— Cara, isso parece estar doendo muito. Você devia ir para a enfermaria. — ele comentou, sem nenhum interesse aparente na dor do amigo. Como se entendessem um sinal secreto previamente combinado, Carver e Marshal levantaram-se.
— Foi mal, tenho que ir na biblioteca. — Marshal (que nunca ia a biblioteca) anunciou, saindo apressado do recinto. As pessoas já estavam dispersando sua atenção, mas alguns intrometidos ainda observavam tudo. Seguido de Marshal, Carver anunciou que esquecera que um professor pedira para falar com ele depois da aula e também saiu.
Josh, ainda agarrado ao joelho com expressão de dor, foi deixado a sós com Noelle observando a ele e a Lester, que mexia na sua comida tranquilamente, ainda sentado.
— Eu ainda não terminei de comer, por que Noelle não o acompanha até a enfermaria, só por garantia? — ele sugeriu, arqueando as sobrancelhas e parecendo surpreso que os dois ainda estivessem ali, como se esperassem por suas ordens.
Eles trocaram um olhar. Josh precisava falar com Noelle, e ela parecia querer falar algo para ele também por ter se aproximado silenciosamente. Ele esperava que ela não estivesse planejando ataca-lo com uma faca sem que ele notasse ou algo do tipo, porque daí ir para uma enfermaria sozinho com ela não seria a melhor das opções. Tudo isso ele devaneava, como lhe era típico, em questão de milésimos de segundos. Ir acompanhado para a enfermaria era uma opção boa, exceto que sua boca decidiu proferir:
— Não tem que se preocupar. Não está tão ruim assim, posso ir sozinho. — o que foi imediatamente desmentido pela careta em seu rosto ao depositar o pé no chão. Era só o que faltava. Ele mal tinha se curado do resfriado e agora isso.
— Vamos. — foi o que Noelle disse, fazendo-o levantar o rosto para ela e corar. — Você precisa de apoio?
— Não, estou bem. Obrigado. — falou, mancando até onde ela estava e tentando controlar seu rosto para não denunciar o incômodo que sentia.
Os dois saíram do refeitório em silêncio, quase ninguém além de Lester os observava agora. Seguiram calmamente pelo corredor movimentado graças ao intervalo. A enfermaria não era tão longe dali, então o trajeto foi curto. Noelle interrompeu-se à porta, enquanto Josh entrava e explicava o caso para a pessoa responsável.
— Noelle, entre e sente um pouco! — ele falou, como se fosse dono do lugar. Ela hesitou.
— Na verdade, eu tenho que voltar para a aula...
— Você não tinha algo para falar comigo? — ele perguntou, parecendo um pouco desapontado. Queria que ela ficasse apenas mais um pouco e ele pudesse recomeçar o plano e desculpar-se com ela.
Noelle pareceu um pouco nervosa com aquilo, mas silenciosamente mordeu seu lábio inferior e entrou na sala, sentando-se nas poltronas de espera. Ele sorriu simpático para ela, esperando não estar forçando a barra e piorando a situação, e aceitou o gelo que a enfermeira lhe dera. Por sorte não havia sido nada sério e ele logo estaria andando normalmente, apesar do hematoma que ficaria. Ele sentou-se ao lado de Noelle para esperar por dez minutos. A enfermeira foi para o fundo da sala, respeitando os dois como se soubesse que eles precisassem conversar, mas apenas outro silêncio incômodo instalou-se entre eles.
Josh queria muito falar com ela, mas o fantasma do tapa parecia fazer seu rosto arder novamente e ele não sabia o que podia falar para evitar outro daqueles. Pensara em todo seu plano cuidadosamente, no entanto encontrava-se sozinho com ela, sem seu caderno, sentindo o cheiro entorpecente de shampoo de melão provido dos cabelos loiros dela, incapacitado de falar o que quer que fosse.
Após cerca de um minuto silencioso, ela levantou-se, e ele nem teve forças para pedir para que ela ficasse, já que nada tinha sido dito. Mas Noelle o surpreendeu, apertando as mãos em frente ao corpo e dizendo, rapidamente:
— Me desculpe!
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Nota da autora: Mas não são os amigos mais fofos do mundo? <3
Apesar do capítulo ser curtinho, espero que tenham gostado! Esse daqui vai ser o antepenúltimo! As coisas vão se resolver ("resolver") no próximo, e então teremos o capítulo 10 como um breve epílogo. Eu vou deixar ele como capítulo pra encerrar com 10 bonitinho, mas vai ser bem mais curto que os outros.
Eu já estou com saudades! Amei tanto escrever sobre esses quatro idiotas. Na próxima atualização vou pedir pra vocês sugerirem situações e eu farei oneshots baseadas nelas, então vão pensando no que vocês gostariam de ler!
Ex: O que eles conversariam em festa do pijama (deles)
Aí eu vou lá e escrevo algo de no máximo umas duas páginas para isso, e posto aqui como especial <3 farei as 5 ideias que eu mais gostar.
Mas explico isso melhor na próxima, fiquem atentas!
Beijos e até breve <3
Anne
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