VII.
Inesperadamente (para Josh), sua casa se tornou uma sala de estudos de verdade depois do desjejum oferecido por sua mãe, e não um cenário apocalíptico como ele imaginara em primeiro lugar. Carver e Lester se viraram cada um para suas próprias matérias e anotações, enquanto o trio se juntou e separou as partes da pesquisa e organização. Noelle já havia se dado incrivelmente bem com todos os rapazes, o que deixou Josh um tanto enciumado e satisfeito.
Mesmo estando atrasada na matéria, a garota mostrou-se empolgada e pronta para ajudar em tudo que fosse necessário, mesmo que os dois precisassem explicar alguma coisa a mais para ela, o que faziam com o maior prazer. Ver seu cabelo preso na nuca e ela morder a ponta da caneta com atenção ao ouvi-los era um ótimo incentivo de ensiná-la, além de que eles revisavam o que era necessário.
O trabalho em conjunto seguiu muito bem, com Joanne trazendo biscoitos e bolinhos ocasionalmente e distribuindo-os entre os cinco, Carver e Lester se intrometendo no que os outros estavam preparando e dando opiniões não requisitadas. Do jeito que as coisas andavam, eram bem capazes de conseguir terminar naquele dia mesmo, o que deixava Josh um pouco infeliz por não ter outras chances de conversar com Noelle ou de trazê-la para sua casa.
— Crianças, estarei saindo por uma hora ou mais, fiquem à vontade. — a Sra. Batts apareceu na sala, cruzando-a em direção à porta da garagem, recebendo saudações de todos enquanto acenava com as chaves em mão. Ninguém pareceu se incomodar com a saída dela, continuando seus afazeres com dedicação.
De repente, aproveitando uma distração de Marshal que se levantara e fora encher o saco de Lester no videogame, Noelle aproximou-se de Josh, inclinando a cabeça e fazendo sinal para que ele viesse mais perto. O rapaz sentiu o coração bater mais forte no peito, olhando ao redor antes de obedecer, esperando um beijo secreto ou algo do tipo.
— Onde é o banheiro? — Noelle perguntou em sussurros, o rosto avermelhando-se. Josh, um tanto desapontado, continuou achando-a uma graça. Sussurrou para ela que o banheiro destinado aos hóspedes era próximo da porta da cozinha, seguindo o fim do corredor. Ela agradeceu com um sorriso e levantou-se.
— Já vai embora? — Marshal, parecendo uma criança, fez bico vendo-a de pé. Noelle pareceu embaraçada, murmurando que iria ao banheiro e apontando para a direção que Josh lhe indicara. Lester arqueou as sobrancelhas.
— Sua mãe falou mais cedo que aquele banheiro estava com a descarga quebrada. — ele disse, olhando para Josh. O dono da casa fez uma careta, tendo completamente se esquecido daquele fato. Não tinham muitos visitantes em casa, seus amigos costumavam usar o banheiro de seu quarto, então não havia pressa para consertar a descarga das visitas.
— Desculpe Noelle, ele tem razão. — admitiu, coçando a nuca. — Você pode usar o banheiro do quarto no fim do corredor à esquerda, no segundo andar. É o quarto de hóspedes então está limpo e funcionando. Quer que eu vá com você? — ofereceu, receoso. A garota sorriu.
— Não se preocupe. Já volto. — e saiu da sala, subindo as escadas para o andar de cima.
Alguns segundos depois que ela desaparecera, Lester falou novamente, olhando para seu PSP.
— Sabe, a primeira vez que eu vim na sua casa o banheiro daqui também estava interditado. — ele comentou, como quem não quer nada, chamando a atenção de Josh, que não entendeu porque diabos o amigo estava falando de banheiros interditados. Era para acusar o mau cuidado que eles tinham com os visitantes ou coisa do tipo? O garoto prosseguiu, porém: — Você me mandou pro mesmo banheiro que Noelle está indo agora. E acho que é difícil não se impressionar com a vista para o jardim que aquela janelona entre os quartos proporciona quando se passa ali pela primeira vez.
A ficha finalmente caiu para Josh, que abriu a boca em outro grito de horror silencioso. Noelle passaria pelo corredor e pelas janelas imensas. E veria o jardim. O jardim que N.B. gostara e ressaltara em sua carta de Natal. E se elas fossem a mesma pessoa... Josh nem sabia o que aconteceria depois. Era mesmo provável que Noelle fosse N.B.?
Ele levantou-se para sair correndo e impedir a garota de chegar lá, sabendo ser impossível. Carver entrou em seu caminho, rindo um pouco.
— É inútil Josh. Você é tão lerdo que ela já deve ter passado por lá.
— Mas...!
— Eu nem acredito que você não se tocou esse tempo todo. — Lester disse, colocando um biscoito na boca e voltando ao jogo.
— Vocês planejaram tudo isso! Vocês vieram até aqui só pra arruinar minha vida! — Josh acusou, tentando forçar passagem por Carver, que ria cada vez mais. Marshal ria também dos esforços idiotas do amigo, enquanto falava.
— Josh, qual é o problema? Você só vai descobrir a verdade. A chance de ser realmente ela é muito baixa, você não acha? — mas o dono da casa não parecia ouvir o loiro, sentindo as orelhas queimarem de vergonha. Como pudera deixar Noelle reconhecer sua casa? Ir até ali, trabalhar com eles?
— Mas que drama queen. — Lester rolou os olhos, finalmente largando o jogo e indo até Josh, que olhou-o. — Qual é realmente o problema? Você não quer resolver isso de uma vez por todas? — enquanto falava, o garoto tirou um envelope azul bebê debaixo de uns livros, fazendo Josh quase gritar ao avistá-lo.
— Me dá isso, Lester! — tirou o envelope das mãos do amigo, alisando-o com cuidado e engolindo em seco.
— Do que você está com medo? — Lester perguntou, olhando-o nos olhos de um jeito frio. — Sabe o que eu acho? Que você ficou todo sonhador e idealizou a tal N.B, e agora que ela pode ser essa garota incrível na sua frente, você está com medo que ela não corresponda suas expectativas. Achei que você fosse um adulto, Batts.
O fato de que Josh era um babaca romântico não era segredo nenhum para seus melhores amigos, mas ter a verdade jogada em sua cara no meio da cena dramática (criada por ele mesmo) não foi algo que ele esperasse. Não é como se aquele realmente fosse o problema.
Não sabia bem porque estava tão nervoso. A possibilidade das duas garotas serem a mesma o assustava porque não conseguia acreditar que a vida reservava coincidências tão absurdas assim para alguém como ele.
Também ficaria bem sem graça de admitir para Noelle que não só recebera a carta dela como havia basicamente se apaixonado a primeira vista e a stalkeado (teoricamente, Lester havia feito a parte de pesquisar sobre ela). Seria muito constrangedor revelar tudo aquilo no primeiro dia em que haviam se conhecido. Ele preferiria se aproximar dela aos poucos, fazê-la se apaixonar por ele, leva-la em encontros que não envolvessem trabalhos de faculdade ou seus amigos retardados, e então revelar tudo para que parecesse uma história muito engraçada, talvez quando tivesse que conta-la para seus netos ou algo do tipo.
Mas no primeiro dia? Logo de cara? Aquilo o aterrorizava.
Só que o jeito que Lester falara o irritava profundamente, fazendo-o trincar os dentes e se segurar para não dar um soco no gamer. Na visão de Josh, era pelo que ele estava pedindo.
— Ah, Noelle. — a cena foi cortada pelo comentário de Marshal, que levantara os olhos para o topo da escada. Carver ainda estava com os braços um pouco erguidos como se protegesse Josh, que por sua vez estava de costas agarrado ao envelope azul bebê encarando Lester desafiadoramente. A dupla de costas para a escada se virou, Josh receoso de encontrar o rosto garota, mas fazendo-o mesmo assim. Ele estava pálido, ao mesmo tempo em que suas bochechas estavam em chamas e ela encarava o chão nervosamente. Josh perguntou-se se teria largado alguma cueca suja no banheiro de hóspedes ou se ela passara por seu quarto e havia alguma revista pornô em cima da cama. Ele normalmente não cometia esses deslizes, mas quando o destino contribuía para uma garota linda estar em sua casa no meio daquela confusão, ele não duvidava de mais nada.
— E-eu preciso ir... — ela começou a dizer, sua voz falhando. Ela finalmente olhou para Josh e seus olhos desceram até onde ele segurava o envelope, os globos azul-claros se arregalando um pouco mais.
— Aconteceu alguma coisa? — Carver perguntou, fingindo preocupação. Pelo menos Josh achava que ele estava fingindo, não confiava em mais nenhum deles depois de seus planos mirabolantes de acabar com seu futuro feliz e repleto de netos com Noelle.
Ela desceu lentamente os degraus, como se estivesse incerta do que fazer a seguir. Seus olhos ainda não haviam desviado de Josh e do envelope que ele segurava, fazendo-o suar nervosamente. Noelle havia visto o jardim. Agora parecia ter reconhecido o envelope. Só podia ser brincadeira que ela era mesmo N.B. A possibilidade estava sempre presente desde que descobrira o nome dela, mas Josh percebeu que nunca havia realmente acreditado nela até os fatos estarem jogados em sua face de repente. Como um tiro de canhão atingindo-lhe o peito, a verdade havia se revelado:
Noelle Benson era N.B.
— Você sabia? — ela perguntou, em sussurros. Ninguém mais falava nada e a sala estava tão silenciosa que Josh podia perceber que os outros prendiam a respiração, aguardando o que estava por vir. Ele mesmo estava bastante receoso quanto a reação dela.
— S-s-s-sabia o quê? — ele poderia se socar por ter gaguejado tantas vezes, se todo seu corpo não tivesse imobilizado pela tensão. Ela estreitou seus lindos olhos, desconfiando de sua atitude e suas palavras. Josh odiava ter se metido naquela situação e odiava seus amigos terem feito tudo aquilo acontecer. Não estava preparado. Era apenas o primeiro dia que se conheciam; ainda teriam muitas outras oportunidades de encontra-la e conversar sobre aquilo. Ele não queria arruinar tudo, porque sabia que N.B. não estaria pronta para ser descoberta daquela forma. Talvez ela nunca quisesse ser descoberta, por isso deixara a carta em anônimo com apenas suas iniciais. Expô-la daquele jeito era algo meio horrível de se fazer.
EntãoJosh não ficou completamente chocado nem desapontado quando ela lhe deu um tapano rosto, sentindo seu coração partir-se enquanto Noelle saía em disparada pelaporta da frente.
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Nota da autora: Anos sem atualização, e quando chega, vem essa bomba. PRIMEIRAMENTE, (fora temer) ME DESCULPEM PELA DEMORA. Eu estava com um bloqueio imenso nessa história e só consegui sair dele ontem. Agora já tenho o rumo e as atualizações não vão se demorar, no entanto tenho uma má notícia.
Teremos apenas mais três capítulos de Querido Estranho, sendo que um deles será extremamente curto (o último). Seria quase um epílogo, mas eu quero acabar com dez capítulos certinhos. A ideia nunca foi que QE fosse uma história longa, por isso está bem dentro do planejado e eu espero que vocês estejam gostando e acompanhem até o final.
Se eu conseguir pensar em um plot legal, quem sabe não teremos mais aventuras do nosso quarteto favorito (o meu é o segundo favorito, porque NEWS) em alguma outra história?
Obrigada pela paciência em esperar a atualização e até a próxima!
xx
Anne
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