Capítulo 11 - Sozinho

O vento adentrava pela janela do quarto, a aparelhagem que me ajudava a respirar já havia sido retirada, mas ainda respirava com algumas complicações. Olhei para o céu azul cortado por arranha céus. O sol iluminava o chão em um longo retângulo que atravessava a enorme porta de vidro que dava acesso a varanda e adentrava pela janela. Havia poucos pássaros no céu naquela manhã.

Meu corpo estava relaxado. Eu podia sentir o colchão abaixo e mim que afundara para acomodar melhor meu corpo, os lençóis que tocavam a minha pele. Minhas mãos seguravam levemente a colcha da cama enquanto meus olhos percorriam pela janela.

Luciano não estava ali.

Eu nunca fui bom em tomar decisões. Não sei se pode compreender como me sinto, mas quando você consegue ajudar seus amigos e a você mesmo não isso se torna frustrante. Você não sabe como reagir as situações, e depois que tudo acaba da pior forma possível eu consigo aprender a lidar com aquilo, perdendo. Sempre perdendo.

A vida não foi feita para se ganhar muita coisa, e sim para se perder. Quantos anos perdemos? Quantas oportunidades deixamos escapar? Quantas vezes ficamos com alguém que nem mesmo gosta de quem nos somos, e mesmo assim não nos deixa ir? Quantas vezes as pessoas preferiram mentir para não nos magoar, fazendo com que perseguíssemos a menor possibilidade de um retorno, só para depois no machucar com a verdade?

Começo a acreditar que amar é uma perda de tempo, mas ao meso tempo algo ainda luta para acreditar nisso. Eu realmente não sei o que pensar e nem o que sentir, e agora tantas coisas me perturbam. Deixam-me inquieto. Um turbilhão de sensações e duvidas me assombram agora, mas eu sei que posso esquecê-las, mas quando vou?

Já faz uma semana que estou aqui, e três dias que Luciano não vem aqui. Eu o magoei. Tenho certeza disso, mas o que eu poderia fazer? Eu mesmo estou tão confuso. E a reação dele é a mais esperada para algo como isso. Talvez eu não tenha nascido para isso de qualquer forma. Já estou tão cheio de feridas que nem sei se ainda há algum lugar saudável em meu peito.

Sozinho.

Esse é o meu destino, claro que é sempre será. Não é justo alguém ficar com uma pessoa como eu. Azarada e que não sabe se pode amar, ou apenas desistiu e deixou que isso parasse de ser um incomodo. Eu sou uma pessoa tão ruim assim?

Quantas vezes me peguei pensando em como queria ser mais forte, um pouco mais alto. Estar nos padrões. Porque afinal de contas somos criados para obedecer os padrões. Padrões internos, da sociedade e de grupos. Sempre quis estar nos padrões, para me sentir aceito, mas agora não há nada alem de minha própria aceitação.

O amor é uma droga.

Quantas pessoas e apaixonaram por mim e queriam algo comigo, tentei algumas vezes, mas eu sabia que não iria dar certo, então mais cedo ou mais tarde acabam. E as poucas pessoas que pareciam ser as pessoas que eu achei que ficaria pelo resto da vida – isso mesmo sou um idiota que acredita nessas baboseiras, ou era, é difícil saber agora – mas o que ganhei foi um coração despedaçado que tive que colar.

Talvez eu que não seja bom o suficiente para eles.

Mas e quando a pessoa que gosta de você, porque seus olhos brilham quando olham para você e você diz que não sabe se a “ama” mesmo. Que pessoa no mundo reagiria bem a isso? Eu mesmo não reagiria.

Suicídio.

Isso ainda ronda minha mente, por alguma razão ela sempre esta lá. Para dizer que é um caminho que devo seguir uma válvula de escape para essa vida que eu odeio, mas seria irônico tentar nisso no hospital, mas também seria brilhante já que não sou incomodado com freqüência. Já lutamos muito não foi velho amigo?

Toco meu coração, minhas mãos deslizam novamente pela colcha da cama e me viro de vagar para me deitar de lado e olhar pela janela.

Mas quem sabe não seja à hora de descansarmos de vez. Mas tudo isso não teria acontecido se ele não tivesse vindo aqui. Ele mexeu com minha estrutura e me deixou assim, perdido. Porque diabo Marcos tinha que ter me beijado naquele dia? Fazendo-me lembrar de como era ter alguém que eu sabia que amava e isso era uma fraqueza.

Eu não o tinha esquecido.

Isso era fato. Momentos que meu coração palpitou ao ver alguém parecido com ele na rua, a sensação de não poder desgrudar os olhos dele nenhum momento se quer na esperança que fosse ele. Eu o amava, mas também amava Luciano. Pelo menos eu acho.

Olhei para o livro que estava na mesa ao lado da poltrona, havia uma frase nele que eu gostava muito. “Amaremos pessoas em nossa vida. De formas diferentes, em intensidades diferentes.” do livro De Repente Amor: Forever que é um serie de contos dos personagens do livro que contem o mesmo titulo.

E foi por isso que fiz o que fiz, mas não para poder correr atrás dele, mas para me entender de verdade, poder descobrir o que esta acontecendo comigo e o que eu estou sentindo de verdade.

A porta do quarto se abriu lentamente e vi Gabriel adentrar o quarto com uma bermuda xadrez, uma camisa branca com um casaco cinza preso em sua cintura, com um All Star rasgado e a mochila nas costas. Ele me deu um breve sorriso e puxou a poltrona e se sentou ao meu lado.

- Como você esta? – ele segurou minha mão e me deu um sorriso reconfortante.

- Eu não sei... – sussurrei.

Ele acariciou meu rosto.

- E o que vai fazer?

- Eu não sei. – falei baixinho novamente. – Como ele esta?

Ele suspirou.

- Não quer falar com ninguém, não atende o celular, não entra nas redes sociais. E ao que parece ele viajou para a casa dos avos no interior e ele não disse quando volta.

- Será que fiz errado de novo?

- Acho que você toma as decisões que precisa tomar, mesmo que elas pareça ruins em algum momento de sua vida, mas fingir algo que não sente e mesmo assim ficar com essa pessoa é ferir seu coração, assim como feriram o seu. Quer ser como as pessoas que te machucaram?

Silencio.

- Vou cuidar de você.

Dei um breve sorriso.

- Não preciso eu tenho... – as palavras me faltaram a boca.

Gabriel deu um sorriso de lado e me beijou a testa.

- Tudo vai ficar no seu lugar, não se preocupe.

De todas as verdades do mundo, eu sabia que não tinha o direito de ser feliz, e saberia que ficaria sozinho, mas lá no fundo eu queria que a minha vida fosse um filme da Disney e que eu tivesse meu “felizes para sempre”.

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