Capítulo 1
Capítulo 1
Alexander Castellari
— Inferno! — Jogo o copo de uísque contra a parede, estilhaçando-o em mil pedaços e derramando a bebida cara.
— É isso ou não é nada. — Aquele pedaço de carne barata que atende por Jason abre a porra da boca mais uma vez, me deixando mais possesso com suas provocações. — Preparado para pedir a mão da Camila? Ou da Karen... ou da Jessica...
Seu sorriso cínico me deixa furioso. Quero explodir. Era só o que me faltava! A essa altura do campeonato, aos trinta e sete anos, eu, Alexander Castellari, o deputado mais bem-sucedido e poderoso do Canadá; prestes a subir mais um degrau na carreira política; a pegar mais poder com as minhas próprias mãos e, consequentemente, tornar-me ainda mais rico; estou a um passo de ser obrigado a sacrificar a porra da minha liberdade em troca do cargo no Senado, meu maior objetivo até então.
— Eu não vou me casar com ninguém! — A minha prepotência é evidenciada na voz. — Em que momento retornamos à Idade Média para conquistar um cargo político desejado? Eu não vou cometer esse erro uma segunda vez, mesmo que arranquem o meu pescoço.
Acendo um cigarro e me levanto da poltrona, caminhando de um lado para o outro e observando, através da imensa janela de vidro, o mar que banha a cidade.
— Está agindo dessa maneira por conta da sua péssima experiência com casamentos?
— Não! Estou agindo dessa maneira porque simplesmente não quero fazer essa merda para conseguir esse cargo. Não tem cabimento algum o meu partido exigir uma barbaridade dessas. Como deputado, proporei uma nova regra que exclua essa palhaçada pré–histórica de sua cartilha principal — trago outra vez o meu cigarro, confiante.
— No seu lugar não teria essa confiança toda, Castellari. Você pode até ser o deputado mais querido do parlamento ou da região, mas isso não quer dizer que você tem total influência ou poder para alterar alguma coisa.
— Quando entrei na política e fui crescendo aqui, ninguém foi capaz de mencionar nada relacionado a isso. E eu tenho liberdade parasolicitar a exclusão desta regra, sim. Basta usar o meu talento de persuasão que nunca falhou em fazer a população acreditar em mim..
Jason solta um riso de deboche, pega a garrafa de uísque em cima da minha mesa, destampa a bebida e leva o gargalo à boca.
— Não entendo o porquê você sequer vem sendo investigado... É um soberbo filho da puta. Eles não percebem isso?
Apago o cigarro no cinzeiro e sento novamente.
— O fato de eu ser influente e sedento por poder não quer dizer que seja corrupto. Acredite, jamais desviei dinheiro público ou estremeci a minha conduta política.
— Isso é o que você diz. Você é um arrogante de merda e ainda quer que as pessoas confiem em você. Pior que elas fazem isso de maneira devota, como se você fosse o salvador da pátria.
— E não sou? Vancouver e toda a província são o que são hoje devido a tudo que fiz desde que eu iniciei a minha carreira... Me esforço de todos os jeitos para preservar o bem-estar da população.
Jason ri mais uma vez e coça sua barba.
— Como você é imbecil, puta que pariu! Você fala como se fosse uma espécie de Deus, quando na verdade não faz mais que sua obrigação. Você é, literalmente, um merda.
— Estou cagando para o que você acha de mim, Oliver. Enfim, na noite de segunda viajarei a Toronto e resolverei essa merda toda. Já estou cansado de ser um simples deputado.Preciso de mais!
— Então case-se!
— Nem fodendo!
***
Horas mais tarde consigo sair da Câmara e finalmente aproveitar o melhor que o final de semana tem para oferecer a um homem extremamente rico e livre de compromissos.
No meu carro, ainda parado no estacionamento, pego o celular dentro do bolso da calça e ligo para o número costumeiro que sempre aparece na minha lista de opções para uma sexta-feira à noite.
— Alô? — sua voz soa sensual em meus ouvidos
— Camila? No meu apartamento, às oito.
— Estarei lá, querido.
Encerro a chamada e dou partida, deixando tudo para trás. Percorro as ruas de Vancouver até chegar ao bairro onde resido. Desde sempre a região Downtown fora um sonho de consumo.
É um bom lugar. Eu poderia facilmente defini-lo como um santuário para um homem como eu.. Meu apartamento é um duplex espaçoso, de cores cruas e desprovido de muitos adereços de decoração, mas com uma vista privilegiada do oceano, de tirar o fôlego.
Ao pôr os pés na casa, silenciosa e limpa, retiro o paletó a fim de tomar um longo banho. Ligo o aparelho de som, disposto a ouvir uma música com acordes fortes de guitarra ou qualquer uma que seja o suficiente para me fazer relaxar.
Debaixo do chuveiro, recordo-me da conversa com o meu assessor e caio na gargalhada. Estou, pasmem, até agora me sentindo um completo fodido no meio dessa merda toda.
O cargo no Senado é aquilo que mais almejo na carreira política. Já tenho a idade e preparo necessários, todas as propostas prontas para salientar que mereço conquistar esse espaço. No entanto não possuo a merda do documento que prove que sou casado e que nem pretendo ter. Acho isso um grande absurdo!. Nós estamos em 2018, uma nova década está prestes a se iniciar, um novo tempo. Ainda assim o meu partido acaba de pregar essa peça, andando na direção contrária, por se manter tão apegado a esses padrões antiquados..
Todos têm ciência de quem eu sou. Eu nunca quis colocar a minha vida pessoal em evidência, ainda que ela seja um tanto quanto agitada. Não é como se eu desejasse que saibam das minhas condições, entretanto, isso não significa que eu queira mudar da noite para o dia.
Sim, essa minha fama é verdadeira e, embora minha meta seja me tornar senador, não estou a fim de mudá-la. Pretendo lutar pelo cargo à minha maneira.
Será que o partido é tão burro assim para não apoiar um homem divorciado se candidate e assuma tal posição? Não quero saber. Tentarei convencê-los a mudarem tal regra. Até porque poder de persuasão é o que mais tenho, então eu me sinto simplesmente confortável para solicitá-los.
Quero o senado e farei de tudo para conquistá-lo, independentemente da minha situação. Não irei me sujar novamente ao casar com qualquer uma. Isso não.
Adoro mulher e, se pudesse, morreria de prazer sempre que estivesse acompanhado casualmente. Só não suporto a palavra casamento, tenho um pavor tremendo de precisar dividir a minha cama ou a minha vida com outra pessoa, qualquer que seja, e me recuso a deixar que aconteça. Não há apego algum. Os meus interesses são puramente sexuais e todas elas têm plena consciência disso. Não existe qualquer promessa jogada pelo ar e ao meu ver as minhas condições são bem vindas, afinal de contas eu nunca fui contestado por nenhuma delas. E essa minha loucura pode terminar da mesma maneira que começou. Uma ordem minha e basta. É assim que levo a minha vida. Enquanto eu puder usufruir de mulheres que entendam qual seu devido lugar, estarei bem. .
Nenhuma terá a chance de me fazer cometer o mesmo erro uma segunda vez. Já fui casado antes e foi a pior merda que fiz na vida. Elas são todas iguais. Mulher nenhuma está interessada em receber amor. Apenas sexo e dinheiro. . Por esse motivo me poupo de dores de cabeça. Entrego logo o que buscam.
Uma mulher é a mesma coisa que política. É capaz de tornar um homem sedento pelo poder de posse e igualmente frio e calculista. Elas me adoram exatamente assim.
O que pode ser comprovado pelo inconfundível ding do elevador. As portas abrem para revelar Camila em seu vestido vermelho que molda o corpo cheio de curvas e extremamente sexy.
Encontro-me sentado na poltrona com uma taça de vinho na mão. A jovem se aproxima devagar. Os passos confiantes de quem conhece o terreno onde pisa.
— Com saudades dos meus serviços, deputado? — Ela pergunta sedutoramente, exibindo-se na pronúncia perfeita da língua nativa, mais clara para ela do que para mim. Camila é uma negação no inglês. Só por isso me torno um pouco mais generoso.
Sorrio sem mostrar os dentes.
— Sabe que sim. O trabalho hoje me deixou estressado e somente os seus serviços conseguem me relaxar — respondo, fitando-a ardentemente. — Pode tirar a sua roupa? Preciso dar uma conferida nesse seu corpinho torneado e durinho.
A safada sorri e logo desata os nós do vestido, deixando a peça cair ao redor dos pés. O que mais eu poderia querer com uma mulher dessas às minhas ordens? Absolutamente nada.
Como esperado, abuso-me da ampla disposição de Camila em transar incansavelmente, servindo-me como uma cadelinha durante aquela noite. É somente isso que preciso de uma mulher e assim pretendo seguir minha vida. Quando termina, retiro o talão de cheque e preencho o espaço das linhas vazias, transcrevendo um valor significativo e despachando-a para a casa. É o que costumo fazer com ela e com as outras. Sempre.
***
A semana se inicia novamente e estou disposto a viajar para Toronto. Antes de sair para o trabalho, encontro a mesa do café da manhã posta por Meredith, minha governanta, que chega pontualmente todos os dias a meu apartamento. Como sempre, faço a primeira refeição sozinho, apenas substituindo o jornal de papel pela tela do celular. Sempre calado e concentrado nas principais notícias do dia.
Meredith trabalha para mim desde o tempo que iniciei a minha carreira e pude dar prioridade ao meu conforto, um pouco mais de dez anos. Ela é competente. Conhece perfeitamente as minhas limitações e não ousa misturar trabalho com vida pessoal. Ela está acostumada com as minhas manias e o meu desinteresse em trocar palavras desnecessárias. Respeita o meu espaço e eu o dela. Portanto, eu não me importo de gratificá-la sempre que possível.
Como sempre, tenho a plena certeza de que o dinheiro move as pessoas e o caráter de cada uma. E se nenhuma delas presta, por que eu deveria prestar?
Chego à Câmara e minha assistente já está em seu posto, organizando a minha agenda e preparada para receber minhas ordens. Mal preciso olhá-la para saber que não passa de mais uma operária precisando do dinheiro para se alimentar.
— Vossa excelência, tem uma reunião com os representantes dos Estados Unidos às quatorze horas. — Ela adentra minha sala exatamente dez minutos depois, como sempre faz.
Sem olhá-la diretamente, eu lhe dirijo a palavra.
— Cancele.
— Mas senhor, esta reunião já estava marcada há um mês, como foi solicitado. — Ela contesta.
— Cancele, estou ordenando! E ligue para a companhia Blue solicitando um jato para daqui uma hora. Preciso ir a Toronto com urgência.
Um silêncio desagradável se instala no meu escritório e, contra minha vontade, sou obrigado a olhar para cima e me deparar com a cara pálida de espanto daquela mocinha. Sempre estive certo, além de desinteressante, é sonsa. E me incomoda. Muito. Não faço a mínima ideia do porquê!
Ela percebe o modo como a olho e se assusta, deixando suas bochechas ganharem um tom bem rosado. Sou capaz de perceber que estremeceu e a assisto assentir e acatar as minhas ordens da maneira como se deve, engolindo em seco.
— Sim, senhor. Mais alguma coisa?
— Saia do meu escritório.
A garota sai da sala calada e suspiro alto de alívio. Ela tem algo que me deixa cismado. Fico profundamente irritado. Aqueles olhos castanhos me observam de tal maneira que me sinto invadido e isso incomoda para cacete. Perturba-me sempre que peco em sustentar os olhares em cima dela.
Passo a mão no telefone e ligo para Jason enquanto acendo o meu cigarro. Meu assessor tem o dever de me acompanhar em tudo o que faço sem questionar, ainda que possua uma certa liberdade comigo e quase sempre me encha de provocações.
Como solicitado, minha assistente confirma o avião para as onze horas e cancela todas as minhas reuniões, fazendo com que os demais deputados percam o dia. Que se dane! Não sou eu que tenho que me adaptar a outros parlamentares, eles que se adaptem a mim. Pelo menos poderão aproveitar melhor o passeio pela cidade, afinal, quem não gostaria de uma folga?
Em quatro horas já estou em Toronto e sou prontamente atendido e bem recebido pelo meu representante, Willer Campbell. O grisalho fica exultante com minha visita e visivelmente satisfeito com a minha pré-candidatura, inclusive abre uma garrafa de uísque para comemorarmos.
— Sabe que a sua candidatura eleva a popularidade e a valorização do sistema político canadense. Todos apostam em vossa excelência, Castellari. Será um senador e tanto. E nas próximas eleições, daqui alguns anos, poderá assumir o cargo de primeiro-ministro.
— Sabe que luto todos os dias para provar que eu gosto do meu trabalho e gosto de representar o povo, acima de qualquer coisa — respondo. — Por isso desmarquei todos os meus compromissos hoje para conversar com vossa excelência, Campbell. Estou muito animado em minha candidatura ao cargo.
O mais velho abre ainda mais um sorriso.
— Creio que sim, Castellari. Todos nós estamos. Espero que você esteja disposto em atender todos os requisitos. Absolutamente todos! Até porque lhe resta apenas um mês...
— E é exatamente o que quero conversar com o senhor. Para esclarecer as minhas dúvidas. É verdade que o nosso partido dá preferência ao candidato que esteja casado? — Indago, mesmo sabendo que sim. Totalmente verdade.
— Claro que sim, Castellari. A população busca olhar os seus representantes de uma maneira que se torna um espelho de exemplo para elas. Veja bem, a nossa sociedade está escassa e deixando o conservadorismo de lado, tornando-se uma verdadeira bagunça. Não é certo que um político esteja à frente do senado sem possuir ao menos uma esposa. Ou seja, sem uma companheira, sem candidatura.
Seu argumento me faz ferver de raiva. Quanto pensamento retrógrado em um só lugar.
— E é certo que um político mantenha um casamento falido para manter as aparências? Como pré-candidato, excelência, recuso me submeter a isso. Sou um homem divorciado, sem filhos e não pretendo me casar novamente para assumir o cargo, ainda assim, não quero abrir mão da minha candidatura.
— Isso é ordem, Castellari. Está em nossos pré-requisitos e você não pode mudar — Campbell revida.
— Sou o melhor deputado desse partido, acredito que eu posso sim alterar algumas regras.
— Não é tão fácil quanto pensa, deputado. Você pode até criar a proposta e apresentá-la ao comitê para votação, mas não dará tempo. Ou você se sacrifica em aparências, ou perde a sua chance de se tornar senador. Acredite, nem todas as esposas dos políticos amam seus maridos. O que lhes convém é o nosso precioso e suado dinheiro. E claramente você deve ter amantes dispostas a ocupar o cargo de sua esposa — ele explica, deixando-me ainda mais emputecido.
Bebo o uísque inteiro daquele copo de uma só vez, encarando a figura tão sórdida quanto a minha dentro do escritório com cheiro de cigarro e perfumes masculinos caros.
— Quanto tempo ele tem, excelência? — Jason abre a porra da boca pela primeira vez naquela sala, certamente com o intuito de me irritar ainda mais.
— Como eu disse, um mês! Para lançar a candidatura o senhor tem de estar casado, Castellari. É tudo ou nada. Pegar ou largar. Ou você se casa e se torna um senador, ou fica solteiro e permanece onde está pelo resto da vida, ficando cada vez mais velho e saturado. Ganhando pouco. — Campbell diz, com o ar soberbo, e decido me despedir, afim de me livrar da súbita vontade de quebrar o prédio inteiro, diante de tamanha humilhação.
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