Capítulo 9: Uma conversa e um novo livro

Pedro e eu estávamos na biblioteca há mais de uma hora, já estava no início do segundo horário e permanecemos "escondidos" na biblioteca.

— Hum... Poderíamos nos conhecer melhor. O que mais gosta de fazer? — perguntou. Comecei a pensar em sua pergunta. Nunca sabia o que responder nessas horas.

— Gosto bastante de ler, porém a minhas paixões são os animais e a música. — respondi e ele sorriu.

— Gosto bastante de música também, só que não canto muito bem — disse com uma careta engraçada. — Acho que meu lugar é só tocando mesmo.

— O que você toca? — indaguei, surpresa.

— Toco violão, mas eu prefiro a guitarra, arrisco bateria também.

— Eu toco violão e piano, são os que mais gosto — falei e ele assentiu. — Mas, e você, como é sua relação com a família? — perguntei, curiosa.

De repente ele ficou sério e me arrependi de ter perguntado aquilo. Afinal, Pedro ficar sério não era bem algo normal de acontecer nesse pequeno tempo que o conheço.

— O meu pai... Abandonou minha mãe, minha irmã mais nova e eu. Minha irmã nem tinha nascido ainda. Ele traiu a minha mãe e fugiu, supostamente com a mulher a qual teve a traição. — falou e eu abaixei a cabeça. Realmente, era para eu ter perguntado outra coisa. — Desde então não temos mais notícias de meu pai, de sua existência... Isso foi há quase quatro anos atrás, minha irmã não o conheceu e nós evitamos falar dele em nossa casa. Foi muito doloroso passar por isso, mas eu e minha mãe conseguimos superar.

Vê-lo tão vulnerável daquela forma, me deixou um pouco incomodada. Pedro daquela forma era tão... Estranho.

— Mas... Você não sabe nada mesmo dele? — perguntei e ele deu de ombros.

— Não... E nem faço questão de saber. Ele nem teve o bom senso de voltar para ao menos explicar os seus motivos, pelo contrário, sumiu do mapa e nós nem sabemos se ele ainda está vivo. Porém, se ele voltasse, eu não sei como o receberia... Sei que, como cristão, devo liberar o perdão, mas simplesmente não é tão fácil assim esquecer o que ele nos fez. Tem ideia do quanto foi difícil não ter ele por perto por esse tempo? O quanto foi difícil ajudar a minha mãe a superar tudo e ser forte? Eu tinha apenas catorze anos, não fazia ideia de como superar tudo, mas mesmo assim não deixei de ajudar a minha mãe a passar por tudo isso. Com apenas catorze anos, comecei a cuidar de minha mãe e minha irmã que acabara de nascer, nesse tempo posso dizer que aprendi a ama-las ainda mais do que antes. — ele limpou uma lágrima solitária que desceu por seu rosto. — Elas são as pessoas mais importantes que eu tenho, não quero e não posso perdê-las. Eu procuro ser para elas, o que o meu pai não teve coragem de ser. Eu as amo, e não importa o que aconteça, vou estar sempre com elas. Jamais serei como meu pai...

— É bonita a forma como você fala delas... Com tanto amor. Elas devem ser, realmente, muito especiais! — falei com um pequeno sorriso e ele retribuiu.

— Um dia vou te levar para conhecê-las, elas gostariam muito de você.

— Ah, não sei, não, Pedro. Eu tenho vergonha... — murmurei e ele riu.

— Não precisa ter vergonha, elas são bem legais e vão gostar de você. A Lisa, então, não vai te deixar em paz!

— Lisa é sua irmã?

— Sim, ela tem três anos, está perto de fazer quatro. Tem ideia do quão radiante ela está pelo aniversário? — perguntou e eu ri.

— Tenho sim, eu sempre ficava assim nos meus aniversários. — falei com um sorriso. — Mas... E ela, nunca falou​ nada sobre o pai?

Ele balançou a cabeça.

— Nós procuramos não falar nisso na frente dela, sabe, ela não precisa saber que o pai foi um covarde que a abandonou antes mesmo de conhecê-la. — soltei um suspiro.

— Mas você sabe que um dia ela falará disso com vocês, não é? Afinal, ela vai viver em ambientes onde verá as outras crianças com pais, e perceberá que com ela não é bem a mesma coisa... — comentei e ele assentiu.

— Eu sei... Mas enquanto nós adiamos isso, é melhor. Não quero vê-la triste, ela não merece.

— Nenhuma criança merece algo assim... É tão triste saber que existe pessoas que abandonam seus próprios filhos. — ele assentiu.

— Ei! — o olhei esperando ele falar. — Você já foi em um orfanato?

— Não, mas já tive vontade de ir em um. — falei e ele deu um sorriso de lado.

— Nós poderíamos ir em um. O que acha?

— Ah, pode ser! Mas quando?

Qualquer dia, só falar um...

Ouvimos o sino tocar e levantamos, saindo da biblioteca. Por sorte, a bibliotecária não estava lá, se não ela iria contar que estávamos perdendo aula. Despedi-me de Pedro e fui em direção à saída.

Ao sair da escola, Lucy veio correndo falar comigo, com certeza ela me encheria de perguntas.

— Posso saber onde a mocinha estava? — indagou e eu soltei um suspiro, ignorando sua indagação.

Porém ela não entendeu o recado de que eu não queria falar sobre isso e me seguiu.

— Lia, eu estou falando com você, não me ignora. Eu realmente fiquei preocupada quando não vi você na sala. Na verdade, eu não te vejo desde o intervalo, pois você sumiu! — falou e eu parei de andar a encarando.

— Olha, Lucy, não precisa se preocupar, eu apenas perdi meu celular e fui procura-lo.

— Não vai me dizer que você ficou o intervalo inteiro e as duas últimas aulas procurando o seu celular? — indagou com uma sobrancelha arqueada.

Revirei os olhos e decidi contar logo a verdade.

— A Marian foi me irritar no intervalo e...

— O que aquela morena oxigenada foi falar para você? — falou irritada, interrompendo-me.

— Ah, Lucy, você sabe, a mesma coisa de sempre! — falei e ela bufou. — E... Morena oxigenada? O cabelo dela é natural. — indaguei e ela revirou os olhos.

— Acho o seu bem mais bonito! — respondeu dando de ombros e eu sorri.

— Bem, continuando... O Pedro estava comigo quando ela disse essas coisas, então ele foi atrás de mim que estava na biblioteca. Ficamos conversando lá esses dois horários, eu não quis ir para a sala e encarar o cinismo de Marian.

— Awn... O Pedro é um fofo!

— Cala a boca, Lucy! — falei escondendo um sorriso, porém ele foi desfeito quando lembrei o que Marian dissera. — Marian falou que Ian iria voltar para Florianópolis. — confessei e ela me encarou.

— Sério? — assenti. Ela ficou calada por um tempo, mas logo respondeu, sem dar importância. — Com certeza a Marian só quis te atingir, só que agora de uma forma diferente, citando que o Ian voltaria... Mas ele não vai voltar, não tem motivos para isso.

Ela parecia está certa do que dizia, porém eu não sabia se podia ter tamanha certeza.

Esperei meu irmão para voltarmos para casa e ele não demorou muito. Caminhamos em silêncio, eu até pensei que ele iria perguntar o porquê de eu não ter comparecido a aula, mas não saiu nenhuma indagação da parte dele. Josh me entende, então acho que percebeu que eu não estava a fim de falar.

À tarde, fiquei fazendo algumas atividades de casa, quando encontrei o livro que havia pegado na biblioteca. O nome dele era "A probabilidade estatística do amor", eu não sabia o porquê, mas aquele título havia me chamado atenção desde que havia o visto na biblioteca, porém só consegui lê-lo agora. Não era bem uma história com personagens e tals, era mais um tipo de conversa com o leitor sobre o amor e a adolescência, se não me engano. Eu havia ficado bem curiosa com aquele livro.

Sem mais delongas, abri a primeira página e comecei a leitura.

Para falarmos de amor, primeiro precisamos saber o que de fato ele é. Bom, vou listar para vocês o que, ao menos para mim, esse sentimento é:

1- O amor é um dos sentimentos mais puros e simples que existe. Sem ele, é como se fôssemos vazios por dentro e ele é capaz de transformar e preencher esse vazio. Por conta disso, somos capazes de nos sentir preenchidos pelo amor de Deus, pois não há amor maior e mais importante que o dEle.

2- Ao mesmo tempo que afirmo que o amor é um sentimento incrível, também afirmo que o amor é a coisa mais estranha e confusa. Às vezes, o amor nos deixa bem confusos e nos faz agir de forma estranha, é por isso que afirmo isso.

3- O amor pode mudar o mundo. Sim, eu penso isso. Afinal, o amor demonstrado na cruz, é o que faz nós estarmos vivos. Jesus nos amou incondicionalmente, que foi capaz de entregar-se àquela cruz para que fôssemos livres e libertos de todo pecado. Esse amor foi capaz de mudar o mundo, é uma pena que mesmo depois de todo o seu sacrifício, ainda existam pessoas que rejeitam a Cristo e não crêem nEle.

Aquele era meio que o prólogo do livro e, até ali, eu havia gostado. Talvez aquele livro me fizesse refletir sobre o sentimento ao qual eu tanto fujo.

Afinal, como ela diz, o amor pode ser uma das coisas mais confusas que existem.
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"Ele continua sendo bom, Ele continua sendo Deus." ❤🎶

Olá, meus lindos.

Mais um capítulo postado, graças a Deus. Espero de coração que tenham gostado.

O próximo capítulo será a saída do Pedro e da Lia ao boliche. 🎉

Esse livro que citei acima é fictício, ou seja, é só invenção minha.

Quem aí não imaginava que o Pedro passava por isso em casa?
A volta do Ian... Será?

Não esqueça de deixar o seu votinho e o seu comentário do que está achando da história, amo ler os comentários de vocês.

Amo cês! ❤

Beijos e fiquem com Deus. 😘💕🌼

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