Capítulo 36: Nosso segredo
- Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam, incomodam muito mais... - alguém cantava, irritantemente, perto do meu ouvido. - Três elefantes incomodam muit...
- Ah, cala a boca, Lucy! - joguei o travesseiro nela que desviou. As meninas riram e Lucy continuou cantando a música para me irritar.
- Não vou parar enquanto você não levantar dessa cama. - falou e eu bufei.
- Ah, ainda são seis e quinze da manhã! - balbuciei e ela revirou os olhos.
- Sim, mas eu sou a líder desse quarto e você tem que seguir as minhas regras! Temos que está no salão às sete horas para a devocional antes do café da manhã, todas as meninas já estão acordadas e você ainda está aí! - falou tentando ser autoritária. Repito, só tentando, porque Lucy não consegue ser séria. Soltei uma risada ao pensar isso e ela me encarou, incrédula.
- Ok, senhora mandona, já vou levantar! - falei fazendo sinal de rendição.
Levantei-me, fiz minha oração e fui pegar uma roupa em minha mala. Escolhi um vestido azul e uma sandália casual. Graças a Deus, a fila para o banho estava pequena, já que o banheiro era dividido só para a gente do quarto. Após o meu banho, fui ajeitar o meu cabelo que, inclusive, não estava tão arrumado assim. Passei apenas um brilho labial e um perfume para o dia. Lucy, Emily e as outras garotas já haviam descido e havia apenas Kamilla, Stephany e eu no quarto. As meninas de nosso quarto eram bem legais e simpáticas, só Marian que não era tão sociável conosco.
Quando terminamos, descemos e fomos para o salão onde os jovens já tinham feito um círculo com suas cadeiras.
- Acho que chegamos um pouco atrasadas! - Stephany sussurrou e eu sorri.
- Eu tenho certeza!
Sentamos em três cadeiras vagas que haviam restado. O líder ainda não tinha começado a devocional, então alguns jovens estavam conversando.
Ao passar meu olhar pelo círculo de jovens, encontrei o olhar de Pedro, que logo mexeu seus lábios em um "bom dia". Sorri e fiz a mesma coisa. Ele apontou para o relógio, indicando que eu estava atrasada. Apenas ri e revirei os olhos.
Minha atenção se voltou para o líder quando ele nos chamou para fazermos a oração inicial. Nos levantamos, oramos e depois os jovens do ministério de louvor começaram a cantar alguns hinos da harpa. Quando eles terminaram, o líder leu a palavra em Marcos 4:35-41, que contava a história em que Jesus acalmou a tempestade. Ele explicou um pouco sobre a palavra e depois fizemos uma oração agradecendo a Deus pela palavra e por aquele momento em sua presença. Depois de louvarmos um hino, o líder encerrou e disse que já estávamos liberados para ir tomar café da manhã.
- Bom dia, flor do dia! - Josh passou seu braço pelo meu ombro e eu franzi o cenho.
- Estava com saudades, maninho? - ironizei e ele riu.
- Mais ou menos. - falou com uma careta. - Como vai a Emily?
- Agora eu entendi. - murmurei e ele riu. - Por que não faz essa pergunta a ela? - fui para o meu quarto e peguei meu prato, talher e copo para comer.
Soltei um suspiro ao perceber que a fila estava grande e entre logo antes que ela ficasse maior.
- Bu! - alguém sussurrou em meu ouvido e, em um impulso, eu pulei com o susto.
- Você ama fazer isso, não é?! - falei irônica e Pedro soltou uma gargalhada.
- Você fica toda vermelha! - brincou. - Que adorável!
Coloquei a mão no rosto e ele riu, novamente.
- Parece que iremos enfrentar uma pequena fila. - comentou e eu suspirei.
- Parece? - ironizei.
Quando finalmente chegamos na mesa, fiz o meu prato e esperei Pedro. Sentamos em uma das mesas no jardim da casa e percebi Pedro um pouco distante enquanto comia.
- Você está bem? - perguntei e ele assentiu.
- Só estou com saudades de minha irmã e minha mãe.
- Mas vocês se viram ontem.
- É, mas... Estou um pouco preocupado com Lisa. Ela ia passar esses três dias na casa do meu pai e não sei o que pensar disso! - comentou.
- Vai ficar tudo bem, Pê! Sua irmã é bem esperta, vai saber como reagir perante a tudo isso. - falei segurando em sua mão e o mesmo sorriu de lado.
- Eu sei. Só não quero que ele pressione muito ela. Lisa tem apenas quatro anos e não quero que ela fique muito pressionada nisso tudo.
Quando terminamos nossa refeição, lavamos nossos pratos e fomos novamente para o salão principal pois teria uma palestra. O tema da palestra era como ser luz em meio a escuridão nos dias atuais e nos campos acadêmicos. Foi bem interessante e eu gostei bastante da palestra. O almoço foi servido logo após o encerramento do ensino, e depois nós teríamos um tempo livre.
Estava sozinha no quarto, então decidi sair um pouco. Peguei meu pequeno caderno de composições e desci as escadas, andando pelo jardim. Já estava ficando um pouco distante da casa, então decidi sentar no chão, encostada em uma árvore. Fechei os olhos por um momento e senti o vento acariciar o meu rosto, trazendo-me uma paz e certa calmaria. Sorri com aquilo e fiquei um tempo em silêncio, apenas sentindo o vento e pensando em como Deus era perfeito.
- Eu ficaria para sempre aqui, se Tu me escutas então falo a Ti, se não lhe vejo não o deixo de sentir e se me laças, eu não quero mais sair... Eu ficaria sempre aqui. - cantarolei em um tom baixo. - Se por acaso eu não conseguir dizer, foi sua perfeição que me fez calar, queria com palavras te impressionar... Mas eu não tenho o dom, não, não tenho este dom com as palavras...
De repente, certa inspiração fluiu em meus pensamentos, e eu abri meu caderno, deixando na música em que estava compondo alguns dias atrás. Compor havia se tornado um refúgio para mim no tempo em que Pedro estava no hospital. A música que eu estava compondo, ainda não estava terminada, então decidi pôr a inspiração que havia tido ali. Enquanto escrevia minhas ideias, mais palavras fluiam em minha mente e eu escrevia tudo no papel.
- O que você está fazendo? - em um impulso, fechei o meu caderno.
- Nada. - respondi e Pedro olhou-me com uma sobrancelha arqueada.
- Não era isso que eu vi. - disse se sentando ao meu lado e eu olhei para frente, sem encara-lo. - Você estava escrevendo.
- É só impressão sua. - argumentei, ainda sem o encarar.
- Ana... - chamou, fazendo com que eu o olhasse. Ele segurou em minha mão tentando me passar segurança. - Sabe que pode confiar em mim!
Demorei um tempo até que conseguisse o responder. Eu mordia o meu lábio, nervosa, sem saber o que fazer. Minhas músicas era um segredo que eu guardava há um tempo e não sabia se estava pronta para confessa-lo. Porém Pedro fitava-me com seus olhos me passando total confiança. Eu sabia que poderia contar com ele!
- Eu... Componho músicas. - engoli em seco e soltei um suspiro. - Ninguém sabia disso... Só eu. Bem, agora você também sabe.
Ele passou um tempo sem falar nada, apenas me olhando. Seus olhos azuis pareciam me encarar com certo encantamento.
- A cada dia, eu me surpreendo mais com você! - confessou e eu senti minhas bochechas queimarem. Por conta disso, abaixei a cabeça, envergonhada. - Pode me mostrar uma?
- Ahn... Eu não sei, eu... Nunca fiz isso! - respondi receosa.
- Ana, só está a gente aqui. E eu gostaria muito que você me mostrasse uma de suas composições.
Passei um tempo sem responder. Abri meu caderno e parei na música que havia acabado de compor.
- Essa eu compus quando você estava em coma. Eu sabia que podia confiar em Deus, não parei de confiar a nenhum momento e, então, escrevi a música.
Ele sorriu de lado e esperou que eu contasse. Respirei fundo, antes de começar:
- Mesmo sem saber quais são os seus propósitos, eu procuro confiar em Ti, pois eu sei que em Teus braços encontro a paz, e logo Tu mostrarás, quais são os Teus sonhos para mim... - iniciei cantando em um tom baixo, mesmo sem toque e fechei os meus olhos. - Tu és o meu amado, meu Salvador e só em Ti eu confio pois sei que, mesmo em silêncio, Tu estás cuidando de mim...
Fiquei um tempo em silêncio e ainda com os olhos fechados. Já estava achando estranho o silêncio de Pedro, então abri os olhos e deparei-me com ele me olhando, ainda com encantamento.
- Você tem talento. - disse quebrando o silêncio e eu sorri.
- Obrigada, mas... Você poderia guardar esse segredo? - perguntei e ele assentiu.
- Claro! Será o nosso segredo!
❤🎶
A gincana encerraria essa tarde com um jogo de perguntas. O time vermelho estava na frente e o amarelo em segundo lugar. Como eu não tinha participado de nenhuma prova, eu teria que ir no jogo de perguntas. Eu não gostei muito da ideia, afinal, tinha um certo receio em participar de gincanas pois me sentia um pouco pressionada com tantas pessoas torcendo e olhando para mim, esperando que eu ganhasse ou, até mesmo, perdesse.
- Ah, por favor, Isabela, tem vários jovens que ainda não participaram, por que logo eu? - indaguei e ela suspirou. Isabela era a líder da nossa equipe.
- Lia, você consegue, nós estaremos torcendo por você. - garantiu.
- O problema é esse. Eu não quero que nosso time perca por minha culpa.
- Fica calma, vai dar tudo certo!
Quando Mary, uma das líderes, nos chamaram, caminhei até a frente, mas o meu desejo era sair correndo dali.
- As primeiras perguntas serão fáceis, mas, ao passar do jogo, se complicará um pouco. A primeira pergunta será para o time vermelho! - falou e chamou Sara, que estava representando o time, para responder a pergunta. - Está preparada? - ela assentiu, ansiosa. - Então vamos lá! Quais são os quatro evangelhos do novo testamento? Você terá um minuto para responder.
- Mateus, Marcos, Lucas e João! - respondeu, sem dificuldades.
- E a resposta está... - fez um pequeno suspense. - Correta! Ponto para a equipe vermelha!
A equipe vermelha começou a comemorar cantando o grito de guerra. Quando Raquel me chamou, caminhei até lá e senti minhas mãos tremerem.
- Nas águas fui levado, no império fui criado e no deserto fui casado. Quem sou eu? - indagou e eu pensei por um momento.
- Moisés. - respondi após dez segundos e Raquel fez suspense, para variar, antes de dizer que eu havia acertado.
O jogo passou rápido, só restava Josh e eu no jogo. Josh era da equipe verde e, quando Raquel nos chamou para a última pergunta, meu irmão encarou-me com um olhar desafiador e eu fiz o meu melhor para retribuir o olhar.
- Olha, parece que a competição está um pouco acirrada! - comentou Raquel. A equipe verde e a equipe amarela cantavam, ou melhor, gritavam seus gritos de guerra e eu fiquei um pouco nervosa. - Farei uma pergunta a equipe verde e, se o Josh não saber responder, a pergunta passará para a equipe amarela. - assentimos em concordância. - Então vamos lá! O que Jó disse assim que perdeu seus filhos, servos e animais?
Josh pensou por um momento, antes de responder.
- "Nu sai do ventre da minha mãe e nu voltarei, o Senhor deu e o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor." Jó capítulo 1, versículo 20.
- E a resposta está... Exata! - soltei um suspiro e a equipe verde comemorou. - Agora a pergunta será para a equipe amarela. Se Lia não responder, a pergunta passará para a equipe verde! - respirei fundo e me concentrei na pergunta. - Qual foi o homem no velho testamento que teve três ministérios? - franzi o cenho e comecei a sentir-me nervosa. Essa eu não sabia!
O tempo passava e eu não conseguia responder. Preferi responder alguma coisa mesmo que eu errasse feio, ao menos não teria deixado a oportunidade passar.
- Ahn... Daniel? - falei após um tempo e Raquel fez suspense, o que já estava deixando-me exasperada.
- E a resposta está... Errada! Samuel foi profeta, sacerdote e juiz! - soltei um longo suspiro e, novamente, a equipe verde comemorou. - E a vitória é da equipe verde! - fala sério!
Eles começaram a comemorar e as outras equipes, para mostrar solidariedade, deram os parabéns para eles.
- Não fica triste, Lia. Você chegou até o final! - Stephany, percebendo o meu desânimo, tentou me animar.
- É... Eu fiquei feliz de ter chegado até lá! - respondi, convicta, e ela sorriu.
Após a comemoração da equipe verde, fomos para os nossos quartos. Teríamos ainda duas horas antes do culto, então as meninas e eu ficamos no quarto conversando. Marian colocou um fone de ouvido e ficou ouvindo músicas enquanto lia um livro. Eu realmente fiquei surpresa ao saber que ela gostava de livros!
- Poderíamos fazer uma noite do pijama! O que acham? - Lucy exclamou e as meninas pensaram.
- Por mim, tudo bem! - Emily disse e eu concordei, também.
- Seria uma boa! - Luly disse e as outras assentiram.
- Mas será que ela vai querer? - perguntou Emily referindo-se a Marian, que não estava nos ouvindo, pois ainda escutava músicas e estava concentrada em seu livro.
- Ahn... Se ela não quiser, é só ir dormir! - Lucy deu de ombros e eu revirei os olhos.
- Lucy, não fala assim. Temos que ser gentis com ela! - falei e ela suspirou.
- Que pena que a morena oxigenada não retribui essa gentileza, não é mesmo? - ironizou.
- Lia tem razão. Não importa o quão difícil Marian seja, temos que se mostrar diferentes. Não lembram da palavra de ontem? Ser sal da terra e luz do mundo! Como cristãs, devemos demonstrar amor, mesmo que ela não queira nossa amizade. - Emily argumentou e nós assentimos.
Após conversar mais um pouco, fomos nos arrumar para o culto. Vesti uma saia preta solta com uma blusa branca com bolinhas pretas. Coloquei uma sandália dourada e soltei o meu cabelo, colocando apenas uma fita preta.
- Marian? Podemos conversar? - perguntei e ela franziu o cenho.
- Sim. - respondeu, apenas. As garotas já tinham ido, eu fiz o possível para demorar e conseguir ficar só com Marian para conversar com ela.
- Ahn... Eu e as meninas estávamos conversando hoje, e tivemos a ideia de fazer uma festa do pijama hoje! - comentei.
- Hum... Legal. - falou enquanto passava sua maquiagem. - E o que tem eu?
- Queríamos saber se você vai querer participar. - convidei e ela parou o que estava fazendo para me encarar.
- Vocês... Não se importariam?
- Não! - respondi, confusa.
- Nem você? Depois de tudo que fiz? - perguntou e eu suspirei.
- Marian, eu não vou dizer que não fiquei chateada com todas as coisas que você já me fez, mas, como cristã, eu devo liberar o perdão, então, não importa o que você tenha feito, eu estou disposta a te perdoar. - falei e ela ainda me olhava, surpresa.
- Então... Eu posso participar? - indagou, receosa.
- Claro! - falei com um pequeno sorriso.
- Bom... Então eu quero! - disse com um sorriso. Era bem pequeno, porém era um sorriso.
Antes de sair do quarto, sorri para ela e fui jantar. Quando todos os jovens já haviam jantado, o culto começou. Agradeci a Deus por está presente naquele lugar e por está agindo na vida de Marian. Eu percebia que ela, de alguma forma, estava mudando e desejei que Ian também tivesse essa mudança. Deus tinha um propósito desde o começo quando levou Ian e Marian até o retiro, e eu acreditava que eles iriam entregar-se ao grande amor de Cristo.
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"Ele podia chamar um exército de anjos para o salvar, mas Ele aguentou até o fim e deu o maior grito e mais bonito de todos: Está consumado! Ele conseguiu, eu estava salva, Ele salvou o mundo!"
- Jaynny Ramos
Olá, minha gente! Tudo bem com cês?
O Pedro descobriu que a Lia compor heuheu
Quem gostou da ideia da festa do pijama das garotas?
Marian está mudando, agora é oficial! 🎉 Huehue
Só aviso que se preparem para os próximos capítulos. #PeliaEver ❤
Não esqueça de deixar o seu votinho e o seu comentário. Amo ler os comentários de vocês!
Amo cês! ❤
Beijos e fiquem com Deus. 😘💕🎶🎉😍
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