Capítulo 29: Céu de bronze

— Lia? Graças a Deus! — ouvi alguém exclamar. Ao abrir os olhos, percebi que era Josh. Depois de tantos surtos e pavor, acabei adormecendo com a cabeça encostada na parede. — Você passou mais de três horas aqui dentro, está bem?

Assenti, ainda sem ter forças para levantar ou fazer algum movimento.

— Você está fraca... Vem, irei te ajudar! — Josh me pegou no colo e percebi que, além dele, João, Lucy, Emily e a diretora do colégio junto com o porteiro estavam lá.

Após algumas conversas, a diretora me liberou e disse que falaríamos sobre o ocorrido amanhã, antes da aula.

Quando cheguei em casa, tomei um longo banho, vesti um short jeans não muito curto e um moletom rosa. Caminhei até a sala e sentei no sofá, junto com meus amigos.

— Não acredito que aquela morena oxigenada foi capaz de fazer isso! — Lucy falou após eu relatar tudo para eles.

— Nossa, isso é muito mancada, ela sabia que você tinha claustrofobia. — João comentou e eu assenti.

— É, mas Marian não tem pena de mim. Ela fez tudo de propósito, tudo um plano dela para me fazer mal novamente. — falei enquanto tomava meu chocolate quente.

Após alguns minutos conversando, eles decidiram ir para casa e me deixar com Josh. Me despedi de todos e sentei novamente no sofá, um pouco cabisbaixa.

— Lia... — Josh me chamou e eu o olhei. — Não fica triste por conta daquela garota, ela é uma mala. — ele falou e sentou ao meu lado.

— Eu não entendo... Nunca fiz nenhum mal a ela, e só o que ela faz é me desprezar.

— Ela não entende o seu valor... — o interrompi.

— É exatamente por isso que ela não gosta de mim. Ela me acha perfeita, eu ouvi ela falar isso uma vez. — ele passou o braço pelo meu ombro e eu coloquei minha cabeça em seu peito.

— Eu vou ficar com você a toda hora, agora, não quero que aquela garota fique a menos de dez metros de você! Irei proteger você daquela morena oxigenada. — falou e eu ri.

— Obrigada, meu super herói! — ironizei. — Amo você, maninho!

— Eu também amo você, pequena!

❤🎶

Abri a porta do quarto de Pedro, no hospital, e caminhei em passos lentos até a sua cama. Ele ainda dormia, na verdade, permanecia da mesma maneira em que o vi da última vez. Olhei para o seu braço e as feridas já haviam desaparecido, deixando apenas cicatrizes. Passei os dedos por cada uma delas e deixei uma lágrima cair, após lembrar-me das palavras de Marian hoje mais cedo. Ela disse repetidas vezes que, a culpa por Pedro estar daquela forma, era toda minha. Engoli em seco e tentei não acreditar naquelas palavras.

— Oi... — falei com a voz fraca e baixa. — Perdão por passar esses dias sem te visitar, é só que... Bem, não importa. Eu só quero ficar um pouco com você... — murmurei e sentei na beirada de sua cama, encarando o chão. — Lembra do dia em que Marian me disse que Ian iria voltar e me chamou, pela milésima vez, de iludida? Eu saí correndo do pátio e você logo foi atrás de mim, já sabendo que eu queria me esconder o máximo possível das pessoas para chorar... E você sabia muito bem para onde eu iria. — sorri com a lembrança. — Você fez questão de ficar lá, ao meu lado, em silêncio, apenas me fazendo companhia enquanto eu chorava. — dei uma pausa e respirei fundo. — Sabe, nesse momento, eu preferiria que você não estivesse em silêncio. Preferia que você estivesse com os olhos abertos e estivesse me ouvindo, para depois dizer algo que me fizesse sorrir, como você sempre faz... Por favor, não fique mais em silêncio. Eu te peço, acorde logo! Deixarei você falar o quanto quiser, mas só... Volta para mim.

Olhei para ele e... nada. Soltei um longo suspiro, levantei-me e caminhei até a janela, observando o jardim e as flores que tinham ali perto. Algumas pessoas andavam com os pacientes por lá, alguns até de cadeiras de rodas, haviam também crianças brincando umas com as outras.

— O dia está lindo hoje... Você iria gostar de ver! — comentei. — Está ensolarado, as nuvens estão até criando formas de desenho... — sorri fraco. — Aqui fora está ensolarado, mas dentro de mim, está tudo tão nublado... — senti meus olhos marejarem e reprimi as lágrimas. Eu já chorei muito por hoje!

Caminhei de volta para Pedro e sentei na cadeira ao lado de sua cama.

— Tina me contou que uma vez você disse para ela que eu tinha uma bela voz... — comentei e olhei para ele. — Você iria gostar de me ouvir cantar agora? Bom, se a resposta for um não, você terá que aguentar, pois vou cantar mesmo assim.

Segurei em sua mão e percebi que ela estava quente. Olhei novamente para o seu rosto e não percebi nenhuma outra mudança nele.

Quando todos os meus medos
Já não cabem mais em mim
Quando o céu está de bronze
E parece que é o fim
Quando o vento está revolto
E o mar não quer se acalmar
Quando as horas do relógio
Demoram a passar
Muitas vezes não consigo
os Teus planos compreender
Mas prefiro confiar sem entender

Eu creio em ti
Eu creio em ti
Eu olho pra ti
E espero em ti

Após cantar uma parte do hino, continuei segurando a mão de Pedro.

— Se você, de alguma forma, sente que estou aqui e me ouve... Aperta a minha mão. — pedi.

Quando já estava perdendo as esperanças e soltando a mão dele, senti sua mão apertar de leve a minha. Era um aperto fraco, posso até afirmar que foi imperceptível, mas era alguma coisa. Ele apertou a minha mão.

Pedro me ouvia.

Lágrimas desceram por meu rosto e, antes de comunicar ao doutor sobre o acontecido, depositei um beijo em sua mão.

Encontrei uma enfermeira no corredor e, antes de perguntar a mesma sobre o médico, encontrei Rebeca, mãe de Pedro, vindo em direção ao quarto.

— Aconteceu algo com ele, Lia? — perguntou e eu a olhei, ainda chorando.

— Ele apertou minha mão... Pedro me ouviu! — exclamei e ela me encarou, emocionada.

— Ah, meu Deus! Você tem certeza disso?

— Sim, eu senti... Bem, foi um aperto fraco, mas ele movimentou a mão, ele tentou... — eu quase não conseguia falar.

Comunicamos ao médico de Pedro sobre o acontecido e ele, rapidamente, foi para o quarto para examina-lo e saber se aquilo era algum sinal de melhora.

— Ele continua no mesmo estado. — disse após examina-lo.

— Não é possível, ele apertou a minha mão, eu senti! — falei o olhando incrédula.

— Eu sei, não estou dizendo que está mentindo. Só estou afirmando que isso não é um indício de melhoras para o caso dele. — falou e eu abaixei a cabeça. — Já existem casos de pessoas em coma que realizaram movimentos mínimos como esse, só que não significou melhora alguma. Sei que vocês querem que ele acorde, porém não posso mentir e dizer que isso é sinal de que ele despertará.

O médico, após despedir-se, saiu e ficou apenas Rebeca e eu no quarto.

— Lia... — chamou ela e eu a olhei. — Ele vai acordar, querida, não perca a fé!

Ela me abraçou e eu assenti.

— Eu sei, e eu tenho fé nisso! — garanti.

❤🎶

Estava em casa, um pouco distraída, rabiscando uma partitura que havia feito, quando ouvi meu celular tocar. Percebi que quem estava ligando era Gabi e fiquei um pouco preocupada com o motivo.

— Alô?

— Lia? — a voz dela estava triste e um pouco abalada.

— Gabi, aconteceu alguma coisa?

— Sim... — meu coração acelerou. — A Tina teve uma grande piora hoje e... Talvez ela não resista por muito tempo.

Minha mão, trêmula, quase deixou que meu celular caísse. Josh, percebendo meu desespero, veio até mim perguntando o que estava acontecendo. Falei para Gabriela que estava indo para hospital que ela disse e Josh me acompanhou até lá.

A recepcionista não queria liberar a nossa entrada, só que Gabriela apareceu na recepção e disse que ela poderia permitir que entrássemos. Corri pelo corredor em direção ao quarto de Valentina e, ao abrir a porta, deparei-me com ela. Josh chegou logo atrás de mim e me acompanhou até a cama de Valentina.

Segurei a mão dela e a mesma abriu os olhos, encarando-me com um sorriso fraco.

— Tia Ana, que bom que veio... — balbuciou e eu sorri triste, em meio às lágrimas. — O tio Pedro também veio? — balancei a cabeça, negando.

— O tio Pedro ainda está doente, Tina... Ele não poderá vir. — respondi e ela soltou um suspiro.

— Tudo bem, Papai do céu está cuidando dele, não é? — indagou e eu assenti, acariciando a sua bochecha.

— Sim, Tina, está. Esse é o meu irmão, Josh. — apresentei e Josh depositou um beijo na testa dela.

— Você é muito bonito, parece com a tia Ana. — falou e Josh riu.

— Você também é linda, princesa. — respondeu com um sorriso.

— Tia Ana... — ela chamou e eu a encarei.

— Pode falar, Tina. — falei acariciando seu cabelo.

— Uma vez você me disse que Jesus nos receberia no céu quando fosse a hora... — ela murmurou com um pouco de dificuldade. — Você acha que Ele irá me aceitar?

Meu choro se intensificou e eu apertei a sua mão, firme.

— Sim, Tina, Ele irá te aceitar. Ele te ama muito! — garanti.

— Porque eu recebi Ele no meu coração e queria que Ele também me recebesse. — falou.

— Ele irá receber, princesa... Lembra que eu pedi para você lutar até o fim? — ela assentiu. — Você lutou! Isso prova que você é mais valente do que eu esperava. — depositei um beijo demorado na testa dela. — Nós te amamos muito, nunca esqueça disso! — sussurrei e ela assentiu.

— Eu também amo muito vocês, tia. — sussurrou.

Ela começou a fechar os olhos e sua respiração começou a ficar ainda mais fraca.

— Tina... — sussurrei, porém ela não me respondeu. — Tina! — falei um pouco mais alto, porém não obtive resposta, mais uma vez.

A máquina começou a soar indicando uma parada cardíaca e eu comecei a chorar, desesperada.

— Não, Tina! Não! — gritei e uma equipe de médicos e enfermeiros entraram apressados no quarto.

— Vocês precisam sair daqui. — um enfermeiro avisou e eu balancei a cabeça freneticamente.

— Não, eu ficarei aqui! — gritei, porém Josh me segurou com força e tentou arrastar-me do quarto. — Não... Valentina!

Antes de ser arrastada a força do quarto por meu irmão, pude presenciar a equipe médica tentando reanimar Valentina com os aparelhos, porém não resultou em nada. Chorei desesperada, no corredor, enquanto Josh ainda me segurava. Gabriela também chorava junto comigo e, quando finalmente um médico saiu do quarto com uma aparência cansada e triste, nos avisou que Valentina não reagiu a nenhum dos procedimentos e não resistiu.

Senti minhas pernas fraquejarem e as lágrimas se intensificarem em meu rosto. Josh me sustentou com seu abraço e eu lancei meus braços ao redor dele, forte, tentando encontrar segurança e calma. Ele e Gabriela choravam junto comigo e eu me perguntava repetidas vezes se aquilo era um pesadelo. Porém não era. Era realidade.

Valentina se foi.
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"Deus é tão bom que Ele coloca a sua força em nós, e depois nos chama de fortes."

Olá, gente.

Capítulo bem triste, eu sei. Me doeu muito, porém, como diz aquele hino, "Se Deus fizer, Ele é Deus. Se não fizer, Ele é Deus."

Continuo falando para você preparar o coraçãozin para os próximos capítulos pois estarão recheados de emoção.
Continuem com a tag #ForçaPê

Não esqueça de deixar seu votinho e o seu comentário, amo ler os comentários de vocês.

Amo cês! ❤

Beijos e fiquem com Deus. 😘

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