Capítulo 28: O plano de Marian

Acordei com a luz do sol em meu rosto e, ao me virar e olhar as horas, percebi que estava extremamente atrasada. Pulei da cama e corri para o banheiro para começar a me arrumar. Quando terminei, ajoelhei-me e comecei minha oração.

Pai, eu te agradeço por mais um dia de vida e por ter acordado com saúde. Peço que ilumine meus passos nesse dia e que eu não venha fazer nada que te afaste de mim. Oh, Pai, que eu venha estar sempre no centro de Tua vontade, Tu és maravilhoso e eu te agradeço pelo Teu tamanho amor por mim. Abençoe minha família, meus amigos e peço que o Senhor restaure a saúde de Pedro. Oh, Deus, eu te amo e que esse amor venha crescer a cada dia dentro de mim, em nome de Jesus. Amém!

Saí do meu quarto e caminhei até a sala e percebi que não tinha ninguém em casa. Vi que em cima do balcão da cozinha, havia um bilhete e fui ler.

Lia,
Percebi que você foi dormir um pouco tarde ontem, decidi não te atrapalhar e deixar você dormir. Pode ficar tranquila, a mamãe não sabe que estou te encobrindo. Espero que fique bem, assim que a aula acabar, volto e cuidarei bem da minha irmãzinha.
Beijos e fica com Deus!

Senti meus olhos marejarem e sorri. Sem dúvidas, Josh era o melhor irmão do mundo, porém eu não podia perder aula, com certeza minha mãe iria nos castigar por mentir para ela. Então, decidi ir para a escola mesmo que Josh já tivesse feito todo o seu plano.

Desde quando éramos pequenos, Josh sempre me encobria e, se fosse possível, até mentia para minha mãe só para me ver bem. Porém, eu era sempre a do "contra" e tentava reverter a situação. Tanto que, quando passei pela minha decepção com Ian, ele queria fazer o possível para me ajudar e sempre dizia para minha mãe que eu não tinha nada, porém ela me conhecia muito bem e logo descobriu a verdade de tudo.

Quando cheguei no colégio, o porteiro fez questão de deixar bem claro para mim que eu poderia ter levado uma advertência por chegar atrasada, mas, como era a primeira vez, ele permitiu minha entrada.
Após entrar na sala, Josh olhou-me confuso e eu apenas sorri para ele, tentando demonstrar que estava tudo bem.

❤🎶

- Aquele professor de meia tigela me paga! Você viu o que ele disse? - Lucy tagarelou. - Seu trabalho está horrível, não é digno de uma aluna do terceiro ano do ensino médio... - repetiu as palavras do professor de física com uma careta. - Ele é insuportável!

- O mundo já sabe disso, Lucy. - ironizei.

- Mas a diretora não... Argh, por que ela não contrata outro professor? Dizem que ele é arrogante até com ela! - exclamou e eu suspirei.

- Lucy, eu tenho certeza que, se isso fosse verdade, ela já teria o expulsando da escola.

- Também dizem que ela tem uma paixão por ele, então talvez seja por isso que ela não o demite. - ri de sua conclusão e continuei a comer as minhas batatinhas. - Você tem notícias do Pedro?

- Faz uns dois dias que eu não o vejo. - falei encarando meu refrigerante.

- Por quê? - dei de ombros.

- Achei que, se eu o visse menos, seria menos dolorosa a falta dele. - respondi e ela franziu o cenho.

- Eu não acho isso... Sabe, dizem que existem casos de pessoas em coma que são capazes de ouvir quando alguém vai visitá-los durante o coma, tipo como se ouvissem, mas não conseguissem responder... Talvez o Pedro te ouça.

Abaixei o olhar.

- Não acho... Se ele ouvisse, daria algum sinal, não acha? - ela balançou a cabeça.

- Talvez ele sinta a sua falta. - soltei um suspiro.

- Lucy... Eu só quero me acostumar com a falta dele... - murmurei.

- Lia, você ama aquele garoto! Se acostumar com a falta dele não irá diminuir a sua dor. Não o abandone quando ele mais precisa de você! - falou segurando em minha mão e eu a abracei.

- Não sei o que eu faria sem você, Lucy. - falei e a senti sorrir.

- Com certeza, eu sou um presente maravilhoso na vida das pessoas. - ri de sua afirmação e continuei o meu lanche.

❤🎶

Quando o sino tocou avisando o fim das aulas, pedi para que Josh me esperasse no portão da escola pois antes eu passaria no banheiro. Ao entrar lá, comecei a arrumar o meu cabelo em frente ao espelho e soltei um longo suspiro quando vi Marian entrar no lugar com sua postura de sempre.

- Olha quem estamos vendo, a santinha iludida! - debochou. Fazia até tempo que ela não mexia comigo.

- Menos, Marian, eu não estou com vontade de discutir.

- E quem falou em discussão? Só quero conversar um minuto com você... Faz tempo que não nos falamos.

- E estava ótimo, inclusive. - ela me ignorou.

- Ah, deve ser muito difícil para você saber que o seu querido Pedro não está mais aqui para te defender, não é? - falou fingindo pena e colocando uma mão em meu ombro.

- Me deixa em paz... - senti meus olhos encherem de lágrimas e afastei sua mão de mim.

- Awn, coitadinha, o grande amor dela a deixou sozinha, que peninha...

- Cale a boca, Marian!

- Não, você precisa ouvir a verdade! Tenho certeza que você deve se sentir muito culpada pelo o que aconteceu com o Pedro, não é? Afinal, foi tudo culpa sua! - continuou a me provocar.

- Não foi culpa minha! - exclamei tentando me convencer de minhas próprias palavras.

- Foi, é claro que foi, ele tentou te salvar e, por conta disso, quem acabou se machucando foi ele! Você deveria se sentir culpada, se arrepender de ter colocado ele nessa situação! - mais lágrimas correram pelo meu rosto. - Você é uma pessoa horrível, olha o que fez com o Pedro... - provocou mais uma vez.

Eu não consegui me conter e acabei dando um tapa no rosto de Marian com toda a força que consegui juntar. Após um breve instante, ela me olhou com fúria nos olhos.

- Você vai se arrepender de ter feito isso! - rosnou e saiu pisando firme. Ela bateu a porta do banheiro e, após um tempo sem entender a sua frase, um pavor tomou conta de mim.

Corri até a porta e girei a maçaneta tentando abri-la, porém estava trancada. Marian havia me trancado no banheiro!

- Não! - gritei. - Socorro, alguém me ajuda! Abre a porta, Marian, chega de brincadeiras!

Após cerca de minutos batendo forte na porta e tentando derruba-la, não consegui nenhum resultado. Marian sabia bem de minha claustrofobia e já tinha todo o plano arquitetado em sua mente.

Lágrimas de desespero começaram a descer e eu corri pelo banheiro tentando achar uma saída, algo que me ajudasse a sair daquele lugar, porém não encontrei nada, era totalmente inútil!

Tentava gritar alto para que alguém me ouvisse, porém minha voz estava embargada e um nó na minha garganta me impedia de gritar mais alto. Minha visão estava embaraçada e eu não via nada além da luz do banheiro e coisas totalmente borradas. Me sentia tonta e apavorada, o medo já havia me tomado por completo. Deslizei sobre a parede e sentei no chão, encolhida, tentando controlar minha respiração. Sentia como se as paredes ao meu redor estivessem a cada instante mais próximas uma das outras e que a qualquer hora elas se colidiriam uma com as outras e me sufocaria.

Deus, por favor, me ajuda. Chega com a calmaria em meu coração e me liberta deste lugar!

Minha respiração estava ofegante, parecia até que eu tinha corrido uma grande maratona. Em minha mente, eu pedia consolo a Deus e suplicava pela sua ajuda. Tentei cantarolar algo para me distrair, porém era totalmente inútil. De repente, algo me veio a mente.

- O que eu faço para me acalmar? - perguntei e ele pareceu pensar.

- Fecha os olhos. - pediu.

- Por quê? - perguntei, confusa.

- Só fecha. - fechei os olhos e ele começou a acariciar os meus cabelos. - Agora pensa em um belo campo, com grama esverdeada e flores coloridas. Pensa que você está correndo pelo campo, rindo e encarando o belíssimo céu... Pensou?

Sorri com tal pensamento.

- Sim. - respondi e o senti sorrir também.

- Continua imaginando isso.

- No campo tem árvores? - indaguei e ele riu.

- Só se você quiser. Mas acho que ficaria ótimo se tivesse!

Pensei que estava em um campo, assim como ele descreveu, eu corria e admirava o céu, tão azul... Assim como os olhos dele.

- Toda vez que você estiver em um desses ataques... Pensa nisso. Ás vezes isso resolve e acalma. - falou e eu sorri.

- Tudo bem! Não irei me esquecer disso.

Comecei a pôr em prática o que tinha prometido a Pedro. Fechei meus olhos e comecei a imaginar o campo florido, com uma grama incrivelmente verde e um lindo céu, comecei a imaginar que estava livre, rindo e correndo pelo belíssimo campo. Porém aquilo não me tranquilizou por muito tempo, senti que faltava algo.
Pensei que Pedro estava comigo naquele campo, que ele estava bem, acordado... Ele sorria e segurava em minha mão, enquanto corríamos juntos e nos sentíamos livres, sem nenhum cubículo ou lugar fechado para incomodar-me.

Minha respiração começou a ficar mais controlada e meu corpo trêmulo começou a tranquilizar-se.
Estava funcionando!

Após minutos com a mesma cena em minha imaginação, meus pensamentos voaram para outras memórias. Um filme dos momentos que passei com Pedro veio em minha mente.

- Você está bem? - perguntou alguém e eu rapidamente limpei minhas lágrimas. Eu poderia ser sensível, mas as pessoas não precisavam saber disso. - Eu não sei muito bem como agir quando vejo alguém chorando, mas eu posso tentar ajudá-la.

Olhei e vi um garoto em pé a minha frente, ele era pouco alto, tinha cabelos escuros e olhos incrivelmente azuis.

- Eu estou bem. - murmurei.

Ele sentou-se ao meu lado, no chão, e me encarou.

- Olha, eu não te conheço, mas sei quando uma pessoa está bem... E você não está. Afinal, você está chorando. - ele continuou a me encarar com seus olhos azuis e eu abaixei o olhar, evitando olhar em seus olhos. - Tem alguma ideia do que eu possa fazer pra te ajudar?

- Eu não estou pedindo para você me ajudar. - falei de uma forma mais fria do que eu queria soar.

Ele deu um sorriso de lado. Que garoto insistente!

- Já sei. Minha ideia é te fazer sorrir! - falou, ignorando-me, com um sorriso contagiante e, instantaneamente, sorri. - Acho que já consegui, um ponto pra mim! Pensei que seria mais difícil.

- Você é um bobo... - falei com um pequeno sorriso. Céus! Por que eu estava sorrindo?

- Seu sorriso é lindo! - falou e eu o fitei. - Não deixe que lágrimas o apaguem. Ele é lindo demais para ser substituído por tristeza.

[...]

- O que foi, agora? - perguntei sem olhá-lo nos olhos.

- Estou esperando você dizer alguma coisa. - falou e franziu o cenho. - Está com raiva de mim?

- Não, por que estaria?

- Você sempre é tão... fria comigo. Achei que não gostasse de mim... - suspirei.

Lucy olhou-me com uma cara de repreensão.

- Me desculpa, eu só... não costumo confiar tão rápido assim nas pessoas. - fui sincera.

- Eu entendo. Deve ser estranho esbarrar com um garoto irritante a toda hora. - Pedro desdenhou e eu ri, um pouco.

- Obrigada por me defender, você foi bem... gentil. - falei e ele sorriu de lado.

- Por nada. Eu só não gosto de injustiças! - disse com um pequeno sorriso.

Eu não queria, mas estava sorrindo pra ele feito uma boba. Em minha cabeça eu repetia várias vezes o que aconteceu com Ian, mas não funcionava. Eu só conseguia prestar atenção, no garoto dos olhos azuis mais encantadores que eu já tinha visto!

[...]

- Você poderia ir para escola com a gente. - disse Josh quando estávamos nos aproximando do prédio.

- Ahn... Eu não sei se é uma boa ideia. - Pedro respondeu e Josh pareceu entender sua resposta. Menos eu.

- Então tudo bem. Você que sabe. A gente se ver amanhã na escola! - eles se despediram e, antes de acompanhar Josh, as palavras literalmente pularam de minha boca.

- Por que negou a sugestão de Josh? - perguntei e Pedro olhou-me um pouco surpreso por eu falar com ele.

- Eu... Acho que você não gosta da minha companhia, então resolvi não incomodar. - respondeu sem me olhar nos olhos.

- Não é que eu não goste de sua companhia, eu só...

- Você não precisa se explicar. - interrompeu-me. - Eu só vou te garantir uma coisa: um dia eu ainda conseguirei sua amizade. - respondeu em um tom um tanto determinado, e afastou-se indo em direção ao elevador. - Boa noite, garota da biblioteca!

[...]

- Mas só me dar uma chance de te provar que eu não sou idiota como as outras pessoas dessa escola. Eu só queria que você me desse uma chance... Se você não quiser, eu desisto e não se fala mais nisso, te deixarei em paz! - falou com sinceridade, fazendo sinal de rendição.

- Tudo bem... - falei por fim, após alguns segundos em silêncio. - Eu aceito o acordo...

Ele já estava sorrindo vitorioso quando eu o interrompi.

- Mas se você fizer qualquer coisinha para me magoar, pagará caro. Vou tentar confiar em você! - mal sabia ele que eu já confiava e, mais uma vez, não gostava nada desse fato.

- Sem problemas, Liana, eu sou o melhor amigo que alguém pode ter! - gabou-se passando seu braço pelo meu ombro e eu revirei os olhos.

[...]

- Ahn... Você acha que ela está aprontando alguma coisa? - perguntei quebrando o silencio e ele encarou-me, confuso.

- Ela quem?

- Marian. - respondi e ele voltou a olhar para frente.

- Não sei... Por quê?

- É que... Ela tem andado tão quieta. - falei e suspirei. - Pode parecer estranho, mas quando ela está quieta de mais, dá medo. - ele deu um leve riso.

- Acho que não... Mas, realmente, ela tem andado muito quieta. - ele abaixou o olhar, pensativo. - Não só com você, mas com todos.

- Tenho medo de ela querer fazer algo contra mim bem pior do que sempre faz. - confessei e ele deu um leve sorriso.

- Eu posso te proteger! - falou com um sorriso e eu corei.

[...]

- Você não me deve satisfação, Pedro... Eu não me importo se você está tendo um casinho com a Marian, só não se esqueça de com quem está se metendo. Marian não pensa em outra pessoa que não seja ela! - o avisei e já ia dar meia volta quando ele puxou-me novamente. - Dar para parar de fazer isso?

- Casinho? - indagou com uma sobrancelha arqueada e um olhar um tanto decepcionado. - Você sabe que eu conheço muito bem como são as garotas como Marian... Eu não estou de caso nenhum com ela!

- Mas não foi isso que vi no corredor.

- Você sabe que Marian anda, literalmente, me perseguindo, Ana. Eu não ligo para aquela garota, sei muito bem que não se deve confiar nela. Eu nunca iria me envolver com Marian sabendo de todas as coisas absurdas que ela te falou e já te fez! - ele deu uma pausa e me olhou. - Eu já te falei que não sou esse tipo de garoto que fica e depois finge que nada aconteceu, Liana. Eu já falei que acredito em você... Mas você também precisa acreditar em mim!

Ele virou-se para sair e eu engoli seco pelo que acabei de ouvir. Ele tinha razão, eu não estava confiando nele, decidi seguir minhas próprias conclusões precipitadas e não quis ouvir suas explicações e acreditar nele. Quando ele já estava em uma distância considerável, corri para alcança-lo e o chamei.

- Pedro, espera! - ele parou e me encarou com dúvida no olhar. Ignorei minha timidez e o abracei, fazendo com que ele ficasse surpreso com tal ato. - Me desculpa, eu sou uma boba.

- Não fala isso. Você não é boba! - ele disse retribuindo o meu abraço.

- Eu acredito em você! - falei e o senti sorrir.

Ficamos alguns segundos abraçados, sem se importar com os olhares curiosos dos alunos ao nosso redor.

[...]

- Acontece que eu não estava suportando mais as perguntas que surgiam em minha mente. Quando eu finalmente consegui a sua amizade e estávamos relativamente próximos, Ian aparece do além e a única coisa que ele fez desde que chegou, foi atrapalhar tudo! Eu percebo o quanto você fica afetada quando ver Ian, por mais que você negue, essa é a verdade. - ele deu uma pausa. Quando eu iria abrir a boca para protestar, ele interrompeu-me. - E eu confesso que fico completamente enciumado quando ele chega perto de você.

Senti meu coração acelerar e, por um momento, eu imaginei que ele fosse pular por minha boca.

- Ciúmes? - falei em um fiapo de voz.

- Sim, ciúmes! Porque eu não consigo controlar. Eu sou apaixonado por você, Liana, será que não percebe?

Ele segurou em minha mão e minha respiração já estava acelerada.

- Eu sei que deveria falar isso de uma forma melhor, só que eu não aguentava mais guardar isso só para mim. - ele abriu um sorriso. Um sorriso lindo, que fez meu coração acelerar ainda mais. - Acontece que eu fiquei encantado por você desde que te vi naquela biblioteca, desde que vi o seu sorriso.

Sorri com todas as minhas lembranças e me senti mais calma. Bom, ao menos a minha respiração estava calma e as minhas mãos não estavam mais tão trêmulas. Continuei com meus olhos fechados e soltei um suspiro.

- Mesmo sem estar aqui comigo, você ainda me acalma... E eu amo você por isso. - sussurrei.
______________________________________

"Ao redor de muitos me apontaram as cercas e os muros, eu quis o caminho, roguei pela vida... E vou subvertendo o mundo, amando a esperança que salta os muros e brinca arteira com tua criança, a fé tá na vida..." 🎶

Olá, minha gente, tudo bem com cês?

Fiz um capítulo enorme, desculpem se ficou cansativo, é que eu me empolguei um pouco. 😂🙄

Tadinha da Lia, hein, essa Marian... 😒

Aviso que prepare seu coraçãozin para os próximos capítulos.

Não esqueça de deixar o seu votinho e o seu comentário. Amo ler os comentários de vocês!

Amo cês. ❤

Beijos e fiquem com Deus! 😘😍💞🎉🙌⭐

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top