008

                                  ∆

··· Sebastian

Hoje faz uma semana que ela foi embora.

Depois do dia em que Melissa partiu não fui mais a casa dos Joy. Frequentar lá era lembrar dela, apesar de ela não ter nada a ver com eles além do sangue.
Mas hoje eu irei, tenho de buscar algumas coisas que deixei no quarto em que ficava enquanto ainda trabalhava lá. Vai ser difícil.

                                  ∆

Saio de casa às 8h, sei que esse horário os pais delas já devem ter saído para trabalhar. Kaya e John devem estar, mas entrarei pela parte dos funcionários e espero não cruzar caminho. Pelo menos não com John, minha mão ainda coça para continuar socando a cara daquele imbecil.

Chego na casa e logo entro. Rapidamente o porteiro, Cláudio, me reconhece e abre o portão. Não fiz nenhuma inimizade no tempo em que trabalhei aqui, pelo contrário, alguns funcionários quase ficamos amigos, mas sou um cara reservado.

Para minha infelicidade, assim que entro pela cozinha dou de cara com Hannah.

Tento passar despercebido, mas vejo que muitos dos empregados dali têm a atenção para mim. Alguns me julgando e outros nem tanto. Thereza, a mãe de Melissa, fez questão de frisar que eu fiz a cabeça de Melissa e a seduzi, levando a alguns funcionários me olharem estranho. Era só o que me faltava.
Aquela diabinha que começou tudo. Creio que se ela não tivesse dado a primeira investida, eu teria me aproximado. Ou pelo menos tentaria, com respeito, é claro, já que não saberia que ela não era realmente uma freira. Que saudade dela.

— Sebastian... — ela fixa o olhar em mim — N-não sabia que você viria hoje.

— Que bom. Azar o meu ter te encontrado. — Saio andando em busca do dormitório na intenção de deixá-la para trás.

— Sebastian! — ela parece indignada — Se você está agindo assim comigo por conta do que aconteceu eu queria falar — ela me segue — que... Sebastian!

Me viro instantâneamente para ela.

— Melissa passará 3 ou sabe-se lá mais quantos anos trancafiada em uma igreja sendo controlada e obrigada a fazer algo que ela não gosta — fico cara a cara com ela — por conta de algo que ela não tem mínima culpa. Triste, sozinha e tendo que seguir regras a ela impostas, não podendo ser quem ela é.  — a olho bem nos olhos — E você tem uma grande, uma enorme parcela de culpa nisso! — jogo as palavras na cara dela.

Ela fica parada temerosa. Estou para continuar a andar quando uma dúvida me vem a cabeça.

— A troco de quê? — continuo a olhá-la — Hum? Me diga!

— Sebastian eu... Eu... — ela coça a garganta — Eu te amei! Amei não, eu te amo! — ela vem até mim — Por favor, que fiquemos juntos... Eu faço qualquer coisa para ter você! Qualquer coisa para te ver bem! Qualquer coisa! Eu juro!

— Qualquer coisa? — falo.

— Sim! Sim! Sim... qualquer coisa! — ela diz esperançosa.

Me aproximo bem dela, voltando a ficar cara a cara — Pois se afaste de mim e finja que eu não existo mais! Porque é isso que eu vou fazer quanto a você.

Saio pisando forte e deixando Hannah para trás. Me amar... Sempre deixei claro que o que tínhamos era apenas carnal, lembro muito bem dela concordando com isso.

Entro no quarto e começo a procurar minhas coisas. Minha mochila, algumas camisas, uma calça e um óculos de sol.

Estou pronto para ir. Olho ao redor e saio.

Fecho o portão pequeno o batendo com força. Foda-se. Que quebre o portão, a cara deles, o dinheiro, a fortuna. Tudo. Eu odeio essa família e o que ela fez.

Vou em direção ao meu carro quando ouço o portão ser aberto. Ah, vão vir reclamar agora?
Nem me dou o trabalho de ver quem viria quando ouço me chamar.

— Sebastian! — Kaya.

— Sim? Oh. Kaya.

— Vejo que pegou suas coisas. — ela aponta para a mochila — Você tem algum lugar para ir?

— Isso eu descobrirei no caminho. Não posso mais ficar aqui, Kaya. Não pertenço a esse lugar. O único motivo que me prendia aqui já não está mais. Não há porque eu ficar. — sou sincero.

— Você não tem família? Nem ninguém com quem possa contar? — ela realmente parecia preocupada.

Eu dou um sorriso triste. Sei que meu relacionamento com Melissa foi algo um tanto carnal, no começo, assumo, mas depois eu realmente passei a gostar dela. Após ver o quão doce, extrovertida e teimosa ela poderia ser, após entender seu lado, passei a enxergá-la melhor. E depois que eu a vi por baixo daquela camada, me apaixonei. Talvez como nunca tenha acontecido antes. Tão rápido, tão intenso. Carrego hoje um peso por não ter conseguido ter dito isso a ela. E talvez eu nunca volte a ter a oportunidade de dizer.

— Kaya, você e Melissa são as únicas pessoas boas dentre os Joy. Não precisa se preocupar, estou bem e continuarei assim. Se cuide, menina. E não deixe sua mãe fazer com você o que ela fez com Melissa. — vi o quanto Melissa amava a irmã e a protegia, falo por ela.

Ela me dá um último aceno e eu saio no carro. Vou pra casa. Amanhã mesmo partirei.

                               ∆

Saio do banho e entro no quarto. Abro a porta do guarda-roupas e vejo que uma mala vazia estava ali. Alterno meu olhar entre mala, roupas e o um dinheiro em espécie que eu havia ali.

E agora?

Me visto e passo a arrumar a bolsa. Amanhã mesmo sairei. Após pôr tudo no lugar, ouço Mark gritar por mim, mas resolvo ignorar como de costume. Me deito na cama e fito o teto. Meus pensamentos são interrompidos por fortes batidas na porta. O que esse babaca quer agora?

Me levanto e vou até a porta.

— O que você quer? — vejo que ele olha dentro do quarto e vê a mala, mas nada fala.

— Tem uma garota atrás de você. Essa casa daqui a pouco vira um puteiro com essas suas amiguinhas.

Ignoro essa última frase dele. Não estava afim de briga agora.

Não deixo que ele fale algo a mais e desço em direção a porta para ver quem me esperava.

Meredith?

— É... Sebastian, certo? — ela pergunta.

— Sim...

— Olhe — ela olha para os lados — Não tenho muito tempo. Kaya me pediu para te entregar isso — ela me dá um papel — conseguimos algumas informações e aí tem o possível Convento que Melissa está.
Não é garantia, mas é alguma coisa. Ela disse para você ter cuidado, caso vá em busca de Melissa. Eu sei que você vai, então, cuidado. Não sabemos quem são as pessoas lá e quem é esse tal segurança que a vigia.

Fico paralisado fitando o papel. Um destino apareceu no caminho. Uma pitada de esperança aqueceu meu corpo como uma faísca.
Depois de um curto período de tempo olhando para o papel, consigo agradacer.

— Obrigado! Nossa, muito obrigado! — Meu coração passou a bater duas vezes mais forte quando peguei o papel em mãos. — Agradeça a Kaya por mim!

— Impossível — ela me olha e dá um sorriso de lado — Kaya fugiu com uma garota hoje a tarde. Foi ser feliz. Agora tenho que ir. Adeus, Sebastian. E trate de fazer a minha amiga feliz.

                                ∆

Após 3h30 de viagem, paro para comer e descansar. O local era mais longe do que eu pensava. Respiro fundo e olho novamente para o endereço no papel que eu tinha em minhas mãos.
Que ela esteja lá. Que ela esteja lá.

Após uns minutos volto para a estrada. Imagino ela ali, com os cabelos ao vento e sua risada alta. A falta nos faz sentir cada momento. Mesmo que ele não tenha existido.
Mas farei acontecer. Depois de muitas casas, árvores e mato, vejo cada vez mais a cidade de afastar e ficar meio deserto.

Que diabos de lugar foi esse?

Após mais 1h30 no caminho, avisto de longe uma enorme igreja. Meu pé anseia para que eu acelere o carro e chegue de uma vez arrombando as portas e indo de canto a canto em busca de Melissa. Mas não posso chamar atenção, não se eu quiser obter sucesso.

Continuo a dirigir na mesma velocidade em que estava e cada vez mais vejo a igreja ficar mais próxima.

Minhas mãos suam, meu coração acelera, minha respiração está pesada. Paro o carro próximo a um bar e não consigo me mexer. Tento sair do carro mas minhas pernas não obedecem. Fico ali fitando a igreja e tentando me acalmar.

— Calma, preciso de calma. Ela pode estar logo ali. Eu entro, dou boa noite, digo que procuro Meli... Irmã Melissa... Ou não? Preciso de um plano melhor.
Já sei. Respiro fundo mais algumas vezes até sentir que estou mais calmo. Abro a porta do carro e vou em direção ao caminho da igreja. Estou preparado para o que vier.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top