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__ como sabe que eu preciso de um emprego? __ o pergunto, antes que ele tenha tempo para revelar sua "proposta" ,que inclusive não me cheira nada bem.

__ bom, eu não sabia. Digamos que foi por acaso.

Okay, e ele realmente acha que eu vou cair nesse papo? 

__ preciso te dizer... Vanora, que não é nada do que você está imaginando. É um serviço digno, não tem nada a ver com atos indecentes.

Meu Deus. Eu nem estava pensando nisso, mas agora que ele falou...

__ eu preciso de uma empregada.

Solto o ar que eu havia reprimido em meus pulmões. Graças a Deus.

__ na verdade esse é o menor dos trabalhos que eu preciso. Eu tenho uma meia- irmã, e bem...

__ você quer que eu seja babá dela. __ concluo.

Atlas move os olhos pela rua do outro lado da vitrine, passa uma mão pelo cabelo e volta a olhar para mim. Encaro seus olhos por poucos segundos, tenho que os evitar, devido a estranha profundidade deles.

__ minha irmã tem 14 anos.

__ me parece bem grandinha pra precisar de babá. __ resmungo, revirando meu copo com o resto de café. Talvez eu devesse pedir outro.

__ minha mãe a mimou muito. Resultou que se tornou uma adolescente insuportável e mal educada, e é justamente por isso que eu preciso de seus trabalhos.

__ por que eu?

__ você não parece ser muito mais velha do que ela, e por mais que também seja um pouco mal educada...

Deixo minha mão com o copo bater na mesa, fazendo um pequeno barulho.

__ primeira coisa: eu tenho 20 anos. Segunda coisa: eu sou mal educada? Você me assustou com essa droga de café. Você esperava o que? Que eu fosse falar obrigada e te tratar como se te conhecesse? Eu nem ao menos sei se você colocou alguma coisa ai dentro disso antes de me dar.

Suas sombrancelhas grossas e escuras se inclinam para baixo, e por algum motivo um arrepio atravessa minhas costas. Ah, que ótimo.

__ você achou que eu fosse te drogar?

__ o que você pensaria no meu lugar?

__ porquê eu faria isso?

__ eu..... __ perco as palavras quando percebo meu rosto esquentando. Meu Deus, que constrangedor.

Atlas sorri e outro arrepio me atravessa. Puta que pariu.

__ me parece que você está sendo a convencida agora, Vanora.

Quando não respondo, Atlas continua o assunto anterior, sobre a vaga de babá, e eu agradeço aos céus por isso.

__ quantos anos você tem? __ sua voz baixa pergunta.

__ eu acabei de dizer que tenho 20... Você é surdo?

__ ótimo. Vocês tem quase a mesma idade. Então, o que me diz?

Balanço a cabeça. __ preciso de mais informações, horários, pagamento, e tamb....

__ sim, por isso você deve vir a minha casa amanhã. Posso te apresentar Genevieve, e nós conversamos mais sobre os detalhes.

Ele deixa um cartão em minha mão e me encara, ainda me tocando. Não entendo o jogo dele, não...

__ okay, preciso ir eu .. __ levanto rapidamente, coloco o cartão no bolso e me afasto dele. __ obrigada pela oferta de emprego__ digo sobre o ombro.

Atlas permanece sentado enquanto me afasto da cafeteria, e quando viro a esquina e olho para trás... Ele ainda está me olhando.

...

Assim que abro a porta do hotel trombo em algo que vinha de encontro comigo.

__ desculpa... __ sussurro, ainda procurando a chave do meu apartamento em minha bolsa.

A outra pessoa não responde, então percebo que ela me observa. Ergo a cabeça e pela segunda vez no dia vejo um homem tão lindo que quase fico sem ar. Como é possível? Será que em londres todos os homens são bonitos? Não prestei atenção as pessoas na rua por que estava admirando a paisagem, mas com certeza a partir de hoje vou começar a prestar.

__ oi... __ ele diz, passando os dedos sobre o passador da calça e inclinando- se um pouco em minha direção. __ você deve ser a nova moradora do B- 07.

__ sim.... Eu....

__ eu sou Callum, prazer em te conhecer.

Encaro sua mão estendida dois segundos antes de o tocar com a minha. Callum sorri.

__ qual o seu nome? Desculpa, eu não queria te assustar.

__ não..... não me assustou. __ sorrio. __ eu sou Vanora.

Nos encaramos por mais dois segundos, antes dele dizer:

__ talvez nós pudéssemos sai qualquer dia desses... Você é nova por aqui não é? Precisando de um guia é só chamar. A propósito, eu moro no B- 10, somos vizinhos de porta.

__ ah simm..

Um casal de idosos passa por nós, e Callum os cumprimenta.

Assim que o casal sorri pra mim e sai do hotel, a atenção dele volta totalmente. Meu rosto com certeza está esquentando de novo. Oh Deus.

__ então... Quer tomar um café?

Com certeza não. Não quero ser grossa, mas só de pensar em café meu estômago revira com as lembranças do dia de hoje.

__ pode ser amanhã? Estou exausta. Tudo o que eu quero agora é um banho e minha cama.

Não é mentira. Caminho até o elevador com ele ao meu lado, nós dois entramos e aperto o botão, observando a porta de metal se fechar.

__ claro, entendo. É tudo o que eu quero também.... Hoje o dia foi bem movimentado.

Concordo.

__ o que você faz Callum? __ puxo assunto, por que ele parece uma pessoa muito legal.

__ eu sou policial.

Ah, agora faz sentido. 

__ você parece muito amigável para um policial. __ digo, em tom de brincadeira.

__ quando se quer impressionar alguém é comum mostrar o melhor lado primeiro... Assim espero.

Não consigo deixar de sorrir.

__ você quer me impressionar?

Callum encontra meus olhos com os seus, sorrindo de lado.

__ ah... Com certeza. __ ele responde, o sorriso mais largo que antes.

O bip do elevador parando me trás de volta a realidade e caminho rapidamente para fora.

Callum me segue pelo corredor em silêncio, então quando chego a minha porta, ele diz:

__ boa noite, vizinha.

__ boa noite__ digo por sobre o ombro, antes de entrar e fechar a porta.

Não sei se posso classificar o dia de hoje como excelente ou péssimo. Encontrei um emprego mas em contrapartida não tenho intenção alguma de ter que ficar próxima daquele tal Atlas. De jeito nenhum.
E como se não bastasse agi como uma completa idiota na frente do vizinho bonito. 
Sem família, sem amigos, sem nada.

Essa sou eu, Vanora Cove.

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