Capítulo 3
Capitulo 3
Conversei com a Elaine que ficaria em casa com as crianças numa sessão de cinema e pipocas. Eles adoravam quando ela vinha ficar com eles.
Comprei um vestido novo para o jantar. Bem estilo 'retrô', adequada para dançar bastante.
Um fato não me agradou. Pedro convidou um amigo do trabalho para ir junto que eu nem conhecia direito. Ele e a esposa eram novos na cidade e meu 'querido' quis ser solícito, acabando com minha graça de ter uma noite romântica e dançante a sós meu marido.
Chegamos ao clube e o salão ainda não estava cheio. A decoração linda, muito florida e bem organizada. Éramos os casais mais jovens até o momento, os demais estavam na casa dos 50 para mais.
A medida que o local enchia eu tive uma constatação. Eles eram os mais velhos, mas pareciam ser mais novos que nós, pois dançavam o tempo inteiro e nós sentados somente comendo... Meus pés por baixos da mesa tinham vidas próprias, não queriam parar quietos.
Antes de servirem o jantar foi anunciada uma pequena apresentação. Eu tenho certeza que meus olhos brilharam.
Foi um espetáculo!
Começou com dois casais dançando uma valsa, o estilo foi mudando e aumentando o ritmo com entrada de mais casais, todos bem vestidos com trajes brilhantes e coloridos.
O samba de gafieira foi aplaudido de pé, pois o casal parecia ter saído de uma cena de filme ou do clipe que passava nos telões.
O Pedro batia palmas, inclinou e falou no meu ouvido:
- Jeremias precisava está aqui para ver os 'velhinhos' dançarem.
Sorri para ele concordando plenamente.
Jantamos e continuamos sentados. Eu cansada de olhar apenas, levantei e pedi licença. Saí, fui em direção ao toalete. Na volta encontrei o meu professor de dança. Gelei! Não tinha visto que ele estava no jantar.
- Bel... Eu não te vi por aqui – disse ele – inaugurou seus novos passos?
- Oi Carlos... – fiquei envergonhada de admitir – que nada... Marido não dança...
- Então vamos nós! – pegou minha mão.
- Não! Melhor não... – puxei de volta – ele não sabe que faço as aulas...
Ele me olhou e senti naquele olhar uma 'pena de mim', - que droga eu pensei.
- Tudo bem... Desculpe... – beijou minha mão e sorriu.
- Não tem problema... Eu não ligo... Mas, mesmo assim obrigada. – voltei para mesa.
Fiquei quieta.
Era claro que não me sentia bem de admitir para meu professor que meu marido não sabia das aulas. E mais, que não tinha dançado nada ainda.
- Com quem estava conversando? – perguntou Pedro tirando-me dos meus pensamentos.
- Carlos. É um professor aqui do clube. – resumi e não menti.
- Ele te chamou para dançar? - continuou ele.
- Sim.
- Por que não foi?
- Porque imaginei que você não iria gostar.
- E você gostaria de dançar?
- Foi o que pensei que faríamos aqui né? Afinal o jantar é dançante e não 'sentante'!
Ele levantou estendeu a mão para mim.
- Vamos?
Levantei sabendo que era para passar vergonha. Mas em todo o caso... Apesar de não saber nada ele nunca negou dançar comigo. Eu queria conduzi-lo, mas ele travava e não me acompanhava. E quando eu ia para um lado ele ia para o outro. Ríamos e tentávamos de novo. Eu estava louca de vontade de rodar o salão, rodopiar em seus braços... Mas o medo de nós estatelarmos no chão era grande com a falta de jeito do Pedro.
Desisti de tentar.
Um senhor parou perto de nós, bateu no ombro do meu marido e falou:
- Posso conduzir sua dama por alguns minutos?
Ele olhou para mim e estendeu minha mão. Ficou do lado observando.
Este senhor fez uma referência cordial e segurou firme na minha cintura e conduziu-me para o meio do salão. Com um perfil elegante e uma pose ereta ele rodopiou comigo por todo o salão. Poucos minutos nós estávamos entrosados no mesmo passo. A música mudou e continuamos dançando.
Veio o tango para acabar com minha graça. Tive que pedir desculpas, pois ainda não sabia nada. Ele me levou ao Pedro e agradeceu.
Tive que aguentar a cara de interrogação dele o resto da noite. Mas eu estava bem feliz, matei minha vontade de "varrer" o salão.
Preparando para dormir ele perguntou:
- Eu não sabia que dançava tão bem... – olhei com olhos de dúvidas para ele – sei que gosta e sempre dançou, mas tão bem daquele jeito...
- Ele me conduziu. O mérito foi dele e não meu.
Deitei e não disse mais nada. O zumbido da música soava ainda nos meus ouvidos quando fechei os olhos para sonhar com a dança.
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Lendo um livro no sábado a tarde, 'A Luz dos meus Olhos, da autora Becca Bonetti, eu fiquei emocionada. Um professor de dança de salão que tinha perdido a visão e depois de um tempo voltava a dançar e dar aulas. Lindo... Coloquei o livro no meu peito e fiquei pensando...
A música tem um poder mágico... Seja qual for o ritmo, ela pode ser instrumento de muitas mudanças de vida: como terapia de relaxamento; ritmo "quente" para uma ginasta; instrumental para um bebê dormir; ou somente uma MPB num barzinho com voz e violão. A mágica sempre acontece.
Já vi uma pessoa que trabalhava o dia todo de terno e gravata, e quando chegava a noite pegava seu violão e cantava em um bar, feliz da vida. Ou seja, era uma válvula de escape do seu dia estressante.
Quando estava grávida sempre cantava para meus filhos e colocava música clássica para relaxar e dormir. E hoje sinto o efeito positivo disto na vida deles.
- Oiê... Por que está tão quieta e pensativa mamãe? - perguntou Luisa.
- Pensando filha... Como a música faz bem...
- Verdade... Adoro música... Cantar... Fico com raiva quando os meninos dizem que canto mal.
- Eles falam para te irritar mesmo querida.
- Eu sei... Por isso não ligo, canto mais alto ainda, - falou rindo – mãe, por que você não entra para o coral do colégio?
- Filha... Eu gosto mais de dançar do que cantar...
- Faça dança de salão no clube! Os pais da Giovanna estão fazendo, ela me contou.
- Bem que eu queria... – respirei fundo – mas convidei seu pai e ele não quis nem falar no assunto.
- Faça sozinha! Parece que a professora Tati está fazendo e ela não é casada. Dança com outro aluno.
Olhei para os lados e falei mais baixo:
- Vou te contar um segredo...
Seus olhos cresceram ainda mais em curiosidade.
Acabando de arrumar a mesa para o jantar Pedro veio me abraçando por trás.
- Quer ajuda?
- Não precisa, está tudo pronto.
Virou-me de frente para ele, segurou minha cintura bem próxima e encostou sua testa na minha e falou:
- O que está acontecendo? Estou preocupado com você. Anda tão distante, triste e às vezes sinto que você chorou.
- Não é nada! – tentei desvencilhar-me dele.
- Como não? – segurou-me – sempre conversamos de tudo. Nunca ficou nada mal resolvido entre nós, lembra? Desde nosso namoro sempre conversamos sobre tudo para não ter atritos.
- Sim... Claro que lembro... Todas as 'promessas' uma a uma. – falei realçando bem a palavra.
Ele apertou os olhos, buscando na memória o que eu estava querendo dizer.
- Qual promessa específica está me cobrando? – perguntou.
Passei um braço pelo seu pescoço e o outro na cintura e comecei a dançar pela cozinha.
- Ah não! – disse ele rindo – dança de salão de novo?
- Essa é uma promessa que você nunca cumpriu meu amor.
- Tudo bem... Eu pago!
Ele me abraçou forte e rodou comigo. Parou e beijou-me apaixonadamente até escutarmos os risinhos das crianças. Estavam todos eles parados à porta, nos olhando: Jeremias, Luisa e Tobias.
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O sonho pode ser simples, pode ser insignificante para o outro, mas se para você é algo muito importante. Vá e faça! Não desanime diante das dificuldades, nem tudo que desejamos conquistar é fácil. O importante é o gosto da realização.
Essa noite apesar de ter começado frustrante para Isabel terminou bem... Mas será que despertou algo no marido?
O que? Você imagina?
Beijos...
Lena Rossi
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