Suas histórias serão contadas por aí

Oi, tudo bem? Como esta do lado daí­? 
Não sei se é normal começar uma carta assim, mas acredito que vá me entender, sempre gostou que as palavras fossem suas amigas, não é  mesmo? Quanto mais descontraídas, melhor você se sente. 

  Se lembra da primeira vez que se viu diante de uma? Eu me lembro! Você estava indo para sua primeira escola, naquele lugar que você não gosta muito devido a tudo o que passou por lá, mas sabe, não pensa nisso! Lá foi o seu primeiro contato com o mundo, e principalmente com as palavras que tanto ama hoje em dia. Você sempre foi tão espoleta, vivia e ainda vive em um mundo particular, cheio de coisas idiotas que você criava e  cria a cada segundo, seu primeiro dia na escola te trouxe a maior das vontades, descobrir o que significavam aqueles rabiscos que a professora colocava no quadro verde lodo, Você olhava aquilo todos os dias de olhos estreitos e curiosos procurando de toda forma entender, até que o tempo foi passando e cada rabisco foi se desenrolando e falando com você de forma agradável e única. Você já  as entendia e mal sabia o que elas se tornariam em sua vida alguns anos depois. 

Você não tinha dinheiro para comprar livros, na verdade não tinha dinheiro para quase nada, lembra-se? Eu sei que você lembra, e sei também o quanto é  doloroso, mas olha pelo lado bom: Na sua casa não tinha luz, mas tinha o céu mais estrelado que você já viu em toda a sua vida e pode criar nele as mais loucas constelações, as suas constelações! Na sua casa não tinha água encanada, mas atrás dela seu pai fez um mini lago para patinhos aonde colocou alguns peixinhos pequenos que davam mordidinhas em seus pés quando você pulava lá dentro, logo, ali virou um oceano e você uma sereia com poderes sobrenaturais, era um reino só seu. Você não  teve um papagaio que falava seu nome, mas teve um bode que correu atrás de você por minutos te proporcionando uma aventura e tanto tentando se livrar dele, você deu gargalhadas de doer a barriga logo em seguida. Você não teve uma cama confortável, mas salvou muitos ninhos de passarinhos que caiam da árvore do lado de casa, por que eram os passarinhos da Cinderela, e era seu dever mante-los seguros. Você morava longe da cidade, mas tinha uma floresta encantada do lado de casa e toda manhã se embrenhava nela na tentativa de encontrar o Peter e a Sininho. Você via histórias em tudo!

Depois de um tempo seus pais se mudaram para um lugar beeeeem longe. Agora no lugar de árvores, céu estrelado e bodes, haviam prédios, muitas pessoas e muitos carros. Nem demorou muito para que você já criasse uma história para cada coisinha. Você amou aquele lugar no mesmo segundo em que pisou nele. Agora você tinha uma casa com luz, água e era cercada de pessoas que nunca tinha visto na vida. 
Seus pais por terem medo da caótica cidade grande acabaram te prendendo dentro de casa, te fazendo passar as tardes lamentando não poder abrir o portão e correr pelas ruas, fazer muitos amigos, observar cada novidade e imaginar mil histórias para elas. Mas isso também logo passou, pois você, como sempre, deu um jeito de fantasiar tudo e passou a aceitar a forma como vivia, se identificava com a rapunzel, só  faltava mesmo a cabeleira longa e loira.  

Um certo dia, na escola nova, uma professora te entregou um livro de capa feia, sem vida e sem graça para ler e fazer um trabalho sobre ele. Quando viu a primeira coisa que pensou foi "São mais de 100 páginas, não vou conseguir ler isso nunca!" o que a senhorita não sabia, era que quando chegou em casa e leu a primeira página do livro que julgou "parece ser chato" leu mais outras sessenta e só parou porque sua mãe ordenou que parasse. Era um livro incrível do Pedro Bandeira, foi seu primeiro contato com uma história grande, detalhada e que graças a Deus, era beeeem diferente das histórias de contos de fadas que estava acostumada.  

Daí ­ para frente você leu vários outros livros do autor e passou a morar na biblioteca da escola. Com o tempo começou a escrever poesias, quase ganhou um concurso e depois sua mente foi exigindo mais de você e te convenceu a contar uma história por conta própria. No início você achava que a idéia de escrever um romance sobre dança era simplesmente genial e que você, com 12 anos de idade, repito: com doze anos de idade! iria revolucionar a história da literatura juvenil porque tinha idéias simplesmente incríveis. Você escreveu sessenta e três folhas a mão e toda vez que pega para ler hoje em dia, da boas risadas. Nunca terminou, mas faz questão de guardar, mesmo que estejam cheia de erros e em um papel amarelo de tão velho.

Você foi crescendo, amadurecendo, vivendo tudo a sua madeira doida de ser. Foi apresentada à plataforma  wattpad e seus sentidos de escritora se revelaram ainda mais. Você pegou uma de suas idéias e deixou público para que qualquer um pudesse ir lá e velejar no mar de palavras que liberou. Era como se um sonho estivesse se realizando, você criou pessoas que escolhiam o próprio destino dentro de sua cabeça, criou lugares, sentiu com todas as forças todos os sentimentos deles para que pudesse passa-los adiante  em alguns parágrafos.  Conheceu pessoas incríveis que embarcaram em seus devaneios e te ajudaram. Mas eis que algo aconteceu. Você simplesmente parou. Sim, você parou. Assim, de repente, as linhas que costumavam estar sempre preenchidas na sua mente simplesmente estavam em branco, e continuam, não é mesmo? 

Mas porque? 

Sei que se pergunta isso todos os dias e simplesmente não tem sucesso. 

Sim, pode ser a falta de emprego do seu pai, a preocupação com as contas da sua mãe, a possibilidade de voltar para aquele lugar que detesta, o idiota e abusivo do seu ex chefe e até mesmo o sentimento de estar só. Mas já parou pra pensar que seja apenas você? Talvez seu inconsciente, com tantos assuntos te dando dor de cabeça, quis te dar esse tempo. Um tempo seu. Um tempo para se encontrar, se organizar, melhorar e amadurecer. Você precisa dele! 

Você é e sempre será uma criadora, e grandes criadores também passam por essa fase. Não se assuste, moça. Quanto mais você se entregar para o tempo e deixar ele agir, mais rápido estará pronta para voltar a criar o que quiser. Eu acredito em você, acredito no seu potencial, acredito no que tem para contar e principalmente, no que sente enquanto escreve. 

Muitas coisas contribuíram para que você parasse, ao mesmo tempo que nenhuma. Agora é só se deixar levar, o tempo irá te lapidar, te moldar e em breve se tornará tudo o que sempre sonhou. Suas histórias serão contadas por aí, por diversos timbres de voz e você verá que o tempo é e sempre será a chave. Acredita! Você pode, e sabe que vai conseguir. 

É incrível o funcionamento da mente de um escritor. Quando você menos espera uma pessoa que nunca existiu fala com você, pedindo internamente, te mostrando suas características, para que você conte sua história para outras pessoas. Mas apenas você pode enxerga-lo como ele realmente é, só você consegue ver tudo o que ele tem para te mostrar, te contar e te fazer sentir. Logo estará os escutando ainda melhor e despertando nas pessoas detalhadamente o que eles te contam e sentem. Mais uma vez te direi, eu acredito em você!

Ser escritor é  dar vida ao imaginário.
Você é e sempre será uma escritora!

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