Querida Bebela,

Se você está com essa carta na mão, algo aconteceu, e com certeza você se questiona agora o quê realmente fazemos e por quê fazemos isso, já que, aparentemente, nada mudou ou não aconteceu da forma que prevíamos. Então, sente-se algum lugar confortável, coloque seus fones de ouvido e só ouça atentamente a minha voz, enquanto lhe conto algumas coisas

Eu escrevo. Faço isso porquê amo esse mundo criado por pequenas sequências que podem, de diversas formas, trazer, encantar e dividir coisas enormes com outras pessoas. Escrevo porquê meus pensamentos e criatividade são maiores que meus 1,65 metros, e transpassam a linha de tempo e espaço, eternizando-se em folhas soltas e viajando a mais lugares e mundos que eu imaginaria estar fisicamente. Eu escrevo, mesmo em um país onde isso faça com que familiares e amigos me olhem de forma julgadora e me ofereçam uma possibilidade de emprego real, ou que tentem me trazer à realidade de que isso não tem futuro, você devia ser engenheira, não vê seu primo que já se formou e tem casa? A sua prima Mariazinha, da sua idade e já vai casar, hein, e você ai, com esse negócio sem futuro de escrever, e eu continuo, porque não é por dinheiro, é por amor a esse mundo tão amplo e aberto que encontro nessas palavras que estou a escrever. Escrevo pra ser lida, por quê não? Sei da sensação de pegar uma historia e sentir o famoso "Meu Deus, isso é maravilhoso, preciso de mais", e seria muita hipocrisia dizer que não anseio que as pessoas pensem o mesmo do meu pequeno mundo criado. Escrevo pra ser lida, e ter a alegria de saber que mais pessoas compartilham da paixão da minha vida, e mais vidas se juntaram, de alguma forma, a minha vida.

Escrevo poesia. Escrevo porquê tenho a necessidade disso. Em momentos de alegria imensa ou tristeza extrema, as linhas grafas de letras não tão redondas e belas são meu único refugio. Eu tenho essa necessidade, porquê me colocar pra fora com palavras verbalizadas e tonalizadas, de forma coerente ao sentimento que sinto nesses momentos, nem sempre acontece, e me transbordar é uma coisa urgente, precisa e gritante. Escrevo poesia por consequência ao que em mim transborda e faz dessas palavras um jogo de sinestesias e realidades, que pouco a pouco se misturam a outras realidades. Escrevo poesia, porquê vejo tragédia nas coisas belas da vida e porquê vejo beleza nas tragédias vívidas. Escrevo poesia, num lugar onde poesia é marginalizada, pouco respeitada e quase nada lida. Faço versos pra dizer que resisto, que insisto e que sinto.

Bebela, escrever também é um desafio.

É lidar com a vontade de parar, jogar tudo pro alto e tirar qualquer coisa do ar, por quê simplesmente não tá bom – pelo menos você acha que não está, dá pra melhorar, pode revisar mais uma vez... – É passar por aqueles momentos de insegurança diante a um desafio, ou nervoso de um bloqueio, onde a ideia simplesmente não flui. E começar, recomeçar de novo um projeto, é pesquisar assunto, procurar por palavra, enxugar umas lágrimas, levantar o rosto e por de novo a cara a tapa. Não é tão simples como as pessoas pensam – não, não é com uma hora que sai um bom poema, isso é um processo, ok? – é pensar em detalhes e estruturas, andar por vezes em ruas de amarguras, por pensamentos e conceitos e que nada que você trará a eles a cura.

Escrever é um desafio. É doloroso. É penoso. É trabalhoso. Mas acredite, mesmo com tudo isso, vai valer muito a pena.

Quando uma, apenas uma, pessoa lhe disser que aquilo veio em boa hora, que suas palavras a tocaram, que ela se identifica e que isso fez uma mínima, microscópica mudança na sua vida, que acha você talentoso, ou qualquer outra coisa, quando isso acontecer, você esquecerá de todos os desafios que passou até ali e seguirá, com muito mais força e vigor; passará por todos os desafios novamente, mas com a alegria de que isso é a parte mais feliz da sua vida.

Sabe por que eu sei disso? Porquê eu escrevo, e escrevo poesia. Passei e passo por isso e continuo, por amor aquilo que trouxe amor a minha vida.

Sinta isso de novo, e segue por nós duas e esse amor.

Isabela Araújo.