As cores continuam tão bonitas quanto da última vez

Estou parado de frente para aquela porta, me perguntando se devo abri-la ou não. Por faltar escolha melhor, retiro cada tranca da entrada, revelando pedaços de muitas criações. Flores, madeira, símbolos, cada uma das coisas que outrora criei.

Abro o portal, revelando uma colina verde com vista para uma enorme floresta. No topo da colina, um "eu" está parado enquanto observa tudo ao seu redor, até mesmo os fios de cabelo branco atrás da cabeça estão ali.

– Você demorou, te esperava aqui no final do ano passado. – Fala aquele "eu"

– Ela me deixou bem pra baixo, cê sabe bem disso. Além de ter tido muitas outras coisas que não ajudaram o meu completo retorno para cá.

Me aproximo mais da beirada da colina, o que me dá uma visão melhor do resto do cenário.

Uma floresta gigantesca está perante a mim com variados tipos de criaturas, à esquerda da floresta, um mar sem fim com cidades e seres que somem no horizonte. À direita, um belo deserto que se funde ao céu.

– Bem vindo de volta ao seu reino, vossa majestade.

– Não precisa de tanto, afinal eu sou tu...

– E tu es eu. – Ele completa. – Caminhe entre eles, mostre que o rei voltou.

– Sim, já passou da hora.

Caminho além da beirada, onde um pedaço de terra aparece para que eu fique de pé, este mesmo pedaço me leva em direção a entrada da mata. No local, fadas brincam com elfos e driads. Todos estão um pouco ocupados para notar a minha presença no momento.

No segundo que me aproximo do grupo, eles param, se viram em minha direção e fazem uma reverencia, reconhecendo que seu rei retornou.

– Levantem-se, ainda que eu seja seu rei e criador, não vejo necessidade para formalidades. – Digo, fazendo menção para que se levantem.

Assim o fazem, revelando um pouco mais de seus rostos. As driads tem feições mais alegres e terrenas, tendo algo semelhante a raízes sob a pele de suas faces e seus cabelos são longos e em tons mais esverdeados.

Já os elfos tem uma feição um pouco mais humana, exceto por suas orelhas pontudas e "joias" feitas com galhos e raízes.

As fadas, assim como seus brilhos, voam pela floresta levando a palavra que de o rei retornou.

– Não precisam se curvar a mim, pois sem vocês, eu não seria capaz de me erguer.

– Ainda assim, es um rei e de certa forma, nosso criador, mereces nosso respeito. – Diz um dos elfos.

– Um rei deve ser presente e servir seu povo, coisas que não fui capaz de fazer. Não, irei peregrinar até o centro, onde a chama ainda queima. Antes que algum de vocês digam algo, devo fazer isso.

Nenhum deles questiona minha decisão, apenas abrem caminho para que eu passe e assim o faço.

As arvores são bastante diferentes, algumas chegam a ter cores incomuns, como rosa, preto, azul e vermelho.

– As cores continuam tão bonitas quanto da última vez.

– Sim, meu rei, continuam. Você também não mudou muito. – Fala uma voz vinda de um dos galhos

Viro-me para ver quem falou, já esperando alguém em especifico. Minha suspeita é confirmada ao ver uma enorme coruja multicolorida empoleirada em um galho.

– Talvez, talvez eu tenha.

– Não, você continua o mesmo, apenas não se deu conta disso.

– Obrigado, eu acho. De qualquer forma, muitos já sabem sobre meu retorno?

– Sim, meu rei, todos já sabem.

– Certo, avise a todos de que não quero ajuda.

Com isso, ela voa em direção ao leste, onde provavelmente estará o primeiro povo a me apoiar. Aquela coruja sempre foi uma boa fonte de conhecimento e sabedoria, uma pena que nunca fui capaz de liberta-la antes de ter trancado esse lugar.

Retorno a minha peregrinação, em direção ao centro daquele pedaço de minha mente.

Vultos correm pelas sombras do ambiente, alguns são vermelhos como rosas, outros são dourados. A noticia sobre meu retorno correu mais rápido do que esperava.

O terreno a minha volta começa a mudar de repente, saindo da bela floresta para um pântano mais sombrio.

– Me lembro um pouco deste lugar, algumas boas coisas floresceram aqui, pena que são outras que não fui capaz de resgatar a tempo.

O ambiente inteiro é composto por áreas de muita água e um caminho que leva para uma bifurcação, todavia, algo parece errado. Tanto a esquerda quanto a direita parecem ilusões.

– Oh, me lembro disso, pensei que tivesse colocado isso na floresta e não no pântano.

Caminho até a bifurcação, tocando na primeira árvore que a causa, fazendo assim com que os dois caminham desapareçam, revelando o verdadeiro trajeto.

– Não vai ser tão fácil enganar a mim mesmo.

Ando por além, rapidamente saindo do local. O terceiro terreno é uma enorme planície sem fim, onde em um momento, uma linda e grande Lua está no céu, e no outro, o Sol reina soberano

– A planície do Sol e da Lua, eu amei ter criado esse lugar. Será que o bardo vai querer voltar a andar por aqui?

Paro ali um pouco para apreciar o ambiente.

– Se me lembro bem, deve ter uma estátua dela perdida por aqui em algum lugar.

Após falar isso, um bater de asas se faz presente e a coruja pousa ao meu lado.

– Todas as estátuas dela foram destruídas depois que você trancou esse lugar, muitos residentes não ficaram muito felizes. – Ela informa.

– E na sala da chama?

– Também.

– Eu nunca devia ter trancado todo esse local, mas agora devo voltar e terminar o que comecei.

– Como quiser, mas saiba, outras personas já retornaram também.

– Demoraram até. E quanto ao Criador?

– Já começou a vagar por ai novamente, logo irá criar coisas novas.

– Bom, guie-os bem, coruja da sabedoria.

– Nunca gostei desse nome.

– Eu sei, por isso te chamo assim. Mais uma coisa, agora que reabri, logo você sairá também, espero que esteja pronta.

A coruja solta um enorme pio e voa para longe.

Volto à peregrinação, com a planície, falto pouco para chegar onde quero. A sala da chama.

Durante o caminho, encontro várias estatuas em ruinas, a maioria tem apenas a área dos pés intactos.

Após algum pouco tempo de caminha, todo o cenário começa a mudar, símbolos começam a aparecer no ar, Lua, sereia e tantos outros. Ao longe, estruturas começam a se formar.

– Estou perto. Não falta nenhum outro lugar entre mim e a origem.

Ao me aproximar das estruturas, consigo as distinguir melhor. Casas, prédios, templos. Toda uma cidade que fora perdida quando o local foi trancado. Criaturas dos mais variados tipos saem de suas casas e templos, formando uma enorme passarela que leva até a origem. Todos fazem uma longa reverencia enquanto passo.

Entre as criaturas, temos serpentes prateadas, humanos cinzas, bestas lunares, entre várias outras. Está, era a cidade dela, um local que criei pouco tempo após me apaixonar. Bem, o criador criou.

Caminho pela rota criada, ouvindo coisas como: "bem vindo de volta meu rei" "estamos felizes com o seu retorno vossa majestade" "bem a tempo, meu senhor". Por mais que não goste de ser chamado de rei ou colocado como senhor de alguém, estou feliz por finalmente estar de volta.

Depois de tanto tempo, finalmente chego ao meu destino, a origem, onde minha chama ficava e onde espero que ainda queime. A origem é um enorme templo com um símbolo de Lua cheia em seu topo.

Adentro o local onde mantos flutuam calmamente de um lado pro outro, tentando manter o lugar o mais arrumado possível, na esperança do amante retornar. Esse era o local favorito dele.

Tomo rumo entre corredores e escadas, até chegar onde tudo começou.

Ao adentrar a sala, um enorme altar está erguido em seu centro e acima dele, uma chama azul queima de maneira singela.

– Então você ainda está aqui. Chegou a hora de voltar a queimar como o Sol. Queime como nunca, minha eterna chama. – Digo me aproximando do altar.

No instante que olho para o lado, vejo uma escultura dela quase intacta, talvez, a única assim em todo aquele ambiente.

– Você é bonita, Fernanda, eu queria que soubesse disso. Minha eterna musa.

Júlio Lancelot

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top