Capítulo 11

JAMES COLUCCI

Alguns momentos antes...

Sou acostumado a dormir tarde e acordar muito cedo, tendo somente algumas horas de sono, e foi graças ao meu costume nada saudável que conseguir ouvir o toque do meu celular.

Acendo o abajur ao lado da cama e tateio o criado mudo em busca do aparelho que continua tocando, antes de atender a ligação verifico o horário no visor vendo que são quase quatro horas da manhã.

Mas me sento imediatamente na cama quando vejo o nome de Chloe na tela do celular, atendo rapidamente ouvindo som alto e barulho de pessoas conversando.

— Chloe? Está tudo bem? — pergunto não conseguindo disfarçar minha voz sonolenta.

— Eu...desculpe te ligar, mas liguei apenas para agradecer a sua ajuda em escolher...a minha lingerie, mesmo que eu não vá dormir com ninguém nessa noite...o senhor tem bom gosto! — completa rindo e me fazendo perceber que está muito bêbada.

Levanto-me da cama com o celular na orelha enquanto corro para o closet trocar de roupa, pego as primeiras peças não formais que acho na minha frente.

Mesmo numa situação séria, um sorriso brota em meus lábios quando lembro-me de ajudá-la a escolher a própria lingerie quando me confundiu com a amiga quando liguei mais cedo.

Tenho que admitir que foi uma enorme tensão escolher a cor das peças, já que minha mente traidora projetava imagens da minha assistente pessoal experimentando e retirando a lingerie.

Eu sei, isso não devia ter acontecido, mas foi impossível não pensar nela dessa maneira naquele momento.

— Obrigado, mas vejo que você passou dos limites na bebida, ainda está com os seus amigos? — pergunto temendo que o pior possa acontecer.

— Não...eles estão se divertindo acompanhados de outras pessoas...

— Tudo bem, quero que pegue o celular, chame um carro e vá para casa dormir, tenho certeza de que você acordará se sentindo péssima daqui a algumas horas. — Eu uso o meu tom firme esperando que ela obedeça de prontidão.

— Estamos fora da empresa...então não sou obrigada a cumprir as suas ordens, senhor...

Porra!

Por que a sua voz embriagada e arrastada se torna tão sexy ao me tratar com formalidade? E por que um simples tom de voz me afeta tanto?

— Chloe, pelo seu bem, faça o que eu digo! — insisto irritado comigo mesmo por ter pensamentos errados.

— Desde que te conheci...achei o senhor muito mandão e sempre tive a curiosidade de saber se o senhor é controlador dessa maneira na cama quando está...

Caralho...

Por um segundo fico calado esperando que ela termina a frase, mas isso não acontece, Chloe está muito bêbada, mas continua sendo a Chloe que cora facilmente e sei que não é do seu feitio me dizer coisas como essa.

Mas é o álcool em seu sangue falando mais alto.

Tenho uma vontade incontrolável de concordar e dizer que sim, que também gosto de manter o controle na cama, mas isso seria ultrapassar todos os limites...

— Meu deus, o quanto você bebeu? — pergunta querendo saber o real motivo para se embriagar tanto.

Posso não a conhecer há muito tempo, mas sei o suficiente para saber que ela não tem problemas com bebidas, então ainda só restam alguns motivos.

— Por que acha que estou tão mal assim? — suspiro procurando as chaves do carro e a carteira.

— Porque se você estivesse sóbria, não estaria me perguntando coisas desse tipo. — Respondo o obvio e ela suspira longamente como se concordasse comigo.

— O senhor tem razão, mas as vezes é melhor não pensar nas consequências e se...jogar de vez! — ela pigarreia como se estivesse prestes a passar mal.

— Chloe? — a chamo e quando a resposta não vem, me apresso saindo do meu apartamento e correndo até a garagem do prédio.

— Porque bebeu tanto, Chloe? — tento mais uma vez.

— Só queria esquecer...— murmura com a voz trêmula e baixa

— Esquecer o que? — questiono abrindo e entrando no carro antes de dá partida e sair do subsolo.

— Você...eu queria esquecer você...— sussurra me pegando totalmente de surpresa.

— Porque queria...— tento saber o motivo, mas seu grito me impede de continuar:

— Eu quero dançar, amo essa música!

— Espera! Não desliga ainda, Chlo... — bufo irritado novamente ao perceber que ela desligou na minha cara sem mais ou menos.

Ainda não compreendo o motivo, mas dirijo pela madrugada pelo caminho de volta para a balada onde deixei Chloe mais cedo, não é da minha conta, mas é muito estranho a sensação que sinto quando a imagino em perigo.

Minha mente fértil pode estar exagerando, mas consigo imaginar mil maneiras de ela acabar se dando mal ou se machucando por apenas estar bêbada e não conseguir raciocinar direito.

E com toda certeza eu me odiaria se acontecesse algo com ela que eu poderia facilmente ter impedido.

Pode ser o seu estado embriagado, mas enquanto dirijo e ultrapasso os outros carros nas laterais da pista, penso sobre nossa conversa, mais especificamente na parte que ela queria me esquecer.

Admito que queria fazer o mesmo, esquecê-la e seguir com minha vida normalmente, mas é impossível quando Chloe Duarte, uma brasileira intrigante é dona dos meus pensamentos na maior parte do tempo.

Estressado e ao mesmo tempo muito irritado, coloco o celular no suporte do automóvel enquanto procuro seu contato pelo painel digital do carro, minha irritação só parece aumentar quando as várias ligações acabam caindo na caixa postal, me deixando sem respostas e um pouco preocupado,

A única vaga disponível e mais próxima da boate que encontro quando chego é uma do outro lado da rua e alguns metros afastada, saio do carro e com passos largos sigo até a entrada da balada onde encontro Chloe nos braços do mesmo amigo que conheci quando a deixei aqui.

Meus olhos são atraídos paras as enormes mãos que circulam a cintura estreita e convidativa de Chloe, aperto os meus punhos me aproximando cada vez mais até conseguir ouvir a conversa deles.

— Então eu vou com você, não vou deixá-la sozinha nesse horário, não é seguro, princesa.

Princesa? Isso seria um apelido carinhoso?

— Eu amo o jeito que você me protege...mas eu vou ficar bem, não quero que corra o risco de ter sua preciosa moto roubada...— diz visivelmente muito bêbada ainda sem me ver.

— Eu vou levá-la! — ao ouvir minha voz atras de si, o corpo todo de Chloe se enrijece e se vira rapidamente para me encarar.

Seus olhos escuros me vasculham lentamente enquanto uma sombra de um sorriso arrogante aparece em meus lábios ao notar a reação que causo nela sem ao menos tocá-la...

E se eu pudesse tocá-la...

Se controla, Colucci!

Não conseguindo controlar, meus olhos correm pelo corpo coberto pelo mesmo vestido que a deixa tentadora demais, mas uma expressão dura invade o meu rosto quando noto a jaqueta de couro preta em volta dos seus ombros, enquanto ele ainda a segura perto demais contra si mesmo.

Perto demais...

Não ouso encarar seu amigo, pois sei que corro o sério risco de deixar minhas emoções totalmente visíveis e notáveis e isso me traria um problema maior do que a atração que sinto pela minha assistente pessoal.

Ao perceber minha postura séria, Chloe pigarreia e se afasta um pouco dos braços do amigo, para minha total felicidade tenho que confessar.

Quero sorrir pois tenho a confirmação que ela sente o mesmo desejo que sinto por ela, não preciso de confissões vindo dela, está em seu olhar e como seu corpo reage automaticamente quando está em minha presença. Entendo perfeitamente pois sinto a mesma coisa.

Nunca desejei outra mulher como eu desejo você, Chloe...

— Senhor Colucci, o que está fazendo aqui? — Retiro os olhos de Chloe passando a fitar o rosto repleto de confusão do Ortega.

Me pergunto mentalmente sobre onde está a outra amiga que estava com ele mais cedo, pensando em como ela foi capaz de deixar a amiga nas garras dele. Do homem que está visivelmente gosta muito dela, mas também posso estar errado.

Nunca tive uma amizade duradoura e solida com uma mulher, todas envolviam sexo puro. Posso não entender uma amizade, mas entendo muito bem de uma transa que deixa qualquer uma enlouquecida.

— Recebi uma ligação da Chloe e ela não estava visivelmente bem, fiquei preocupado quando ela não retornou minhas outras ligações... — respondo passando a encarar Chloe novamente que também tem os olhos fixos em mim.

Seu franzir de testa leve denuncia que ela não sabia das minha outras ligações, então não posso culpá-la por não retornar nenhuma delas.

— Desculpe pela ligação, mas eu estou bem, só preciso ir para casa e dormir...— murmura envergonhada.

Pelo amor de deus, não faça isso, Chloe!

Apenas não me olhe dessa maneira, não me deixe pensar em mil outras maneiras de deixa-la corada com apenas palavras, palavras que expressariam cada desejo que tenho vontade de realizar com você...

— Está visivelmente bêbada e não é seguro voltar numa moto ou Uber nesse horário, então eu vou levá-la! — digo num tom firme, esperando que ela se afaste do seu amiguinho e venha comigo, mas me surpreendo quando uma risada audível lhe escapa.

— Em nenhum momento o senhor perguntou se eu quero que me leve, então a minha resposta é não. — Arqueio uma sobrancelha desejando que ela não me contraia mais depois de ter vindo até aqui depois da sua ligação confusa.

— Prefere voltar sozinha e correr os riscos, Chloe? Sinto muito, mas não vou permitir que se coloque numa situação como essa!

Com um sorriso zombador nos lábios carnudos e convidativos, ela se aproxima de mim, aperto os punhos novamente com força para não levantar uma das mãos e tocar seu rosto corado e acariciar a pele exposta do pescoço que eu facilmente....

Porra!

Por que me excito quando ela ousa em me desafiar ou me irritar de propósito?

— Sou adulta e perfeitamente capaz de tomar as minhas decisões, senhor Colucci.

— Princesa, acho melhor você ir com o senhor Colucci...— ela se vira para encarar o amigo com a testa franzida.

Obrigado Ortega, ainda não te odeio completamente...

Chloe suspira antes de concordar e de despedir do amigo com um beijo na bochecha, um gesto comum em despedidas, mas me pego desejando ser o sortudo do Ortega por sentir a maciez dos seus lábios na pele.

Ela faz menção de devolver a jaqueta, mas em um gesto nobre da parte dele, ele nega...

— Fica com ela, depois você me devolve...

Estou quase bufando quando ele pisca um dos olhos para ela antes de se abraçarem novamente.

— Obrigada e desculpa por arruinar parte da sua noite...— diz num tom baixo para o amigo enquanto continuo esperando aqui.

— Você não arruinou nada, se cuida, tá?

Para minha felicidade e alívio ela começa a me seguir até a direção onde deixei o meu carro estacionado, mas ao chegarmos na travessia da rua onde carros passam em alta velocidade, por reflexo acabo tocando sua cintura desejando que ela não tropece ou corremos o risco sério de sermos atropelados nessa rua.

— O que está fazendo?

— Está bêbada e não é seguro atravessar uma rua na situação que você se encontra, Chloe... — começo a explicar o motivo do meu toque, mas sou surpreendido quando ela retira a minha mão do seu corpo.

— Estou bêbada, mas posso caminhar e atravessar uma rua sem ajuda, obrigada. — Diz antes de atravessar correndo quando um carro passa.

Garota teimosa!

Grito seu nome, mas ela não me escuta enquanto também espero alguns carros passarem e também correr em sua direção até o lado do carro.

— É sempre tão imprudente assim? — pergunto sem esconder a minha irritação enquanto abro a porta do passageiro.

— Somente quando estou perto de você...— ela murmura antes de entrar no carro.

Nunca fui de gostar de Sadomasoquismo no sexo, mas confesso que adoraria dar alguns bons tapas na bunda dessa garota por ser tão imprevisível...

CHLOE DUARTE

— Porque disse que queria me esquecer, Chloe? — pisco os olhos virando a cabeça para encarar James que dirige.

Merda, eu disse isso?

— Foi coisa do momento misturado com o efeito do álcool, me desculpa...— minto descaradamente voltando a encostar a cabeça no vidro da janela do carro

— Sério? Porque o jeito que você me disse parecia bem verdadeiro apesar do álcool...

Por que ele está fazendo isso? Brincar com a minha cara costuma o divertir tanto assim?

Penso nas palavras de Samanta novamente, sobre não pensar muito e se jogar de cabeça sem ao menos se importar com as consequências, e mesmo não estando totalmente lucida, começo a seguir o seu conselho.

— A verdade é que eu queria tirar o senhor dos meus pensamentos, mas parece que o álcool só piorou a situação...— revelo de olhos fechados torcendo para que ele não prolongue o assunto.

— Pensa constantemente em mim, Chloe? — me forço a não abrir os olhos pois sei que vou encontrar um daqueles sorrisinhos de canto irritante que ele costuma ter.

Minha cabeça lateja, e meus sentidos estão embaralhados, então isso é mais do que uma combinação perfeita para fazer estragos em uma só noite. Mas a adrenalina de estar no carro do meu chefe enquanto ele me leva para casa, me querer dizer coisas que não deveria.

— Sei perfeitamente que é errado...mas sim! E não penso no senhor de um jeito inocente e formal como um chefe, mas penso coisas que não deveria...

Abro os olhos o vendo apertar o volante com mais força do que o normal, e isso me faz questionar se acabei passando dos limites e que isso me renderá uma demissão em poucas horas.

— Porque ainda me chama de senhor, Chloe? Combinamos que deixaríamos as formalidades fora da Empresa... — comenta com uma expressão séria.

— É que faz a situação parecer menos errada, estou muito bêbada e nunca em sã consciência revelaria isso ao senhor, mas o desejo desconhecido que sinto aumenta cada vez mais e isso está ficando insuportável... — conto.

— Sei que também estou errada em lhe contar esse tipo de coisa, e vou entender perfeitamente se o senhor me repreender ou...

— O desejo que sentimos é mútuo, Chloe...— ele me interrompe fazendo-me arregalar os olhos.

— O que disse? — pergunto atônita desejando escutar suas palavras de confissão mais uma vez para mostrar que não escutei errado.

— Também sinto essa corrente de atração que existe entre nós, também sinto que esse desejo também está me enlouquecendo por completo. Tento te tirar da minha cabeça, mas essa é uma missão impossível de ser feita.

— Você é a razão dos meus pensamentos mais insanos e devassos, também concordo que isso tudo é muito errado, mas não paro de pensar e desejar em sentir o gosto da sua boca e ter o seu corpo junto ao meu onde...

Ainda completamente em choque por tudo que estou ouvindo vindo diretamente dele, uma bile sobe pela minha garganta e rapidamente coloco as mãos sobre a boca.

— Pare o carro, por favor...— peço em um murmuro e ao notar que não estou me sentindo bem ele logo obedece ao estacionar o carro numa pista deserta.

Não espero nem mais um segundo, abro a porta do passageiro e corro desajeitadamente para fora do carro passando a vomitar e me amaldiçoar por ter bebido tanto em uma única noite.

— Tudo bem? — ouço sua voz atras de mim e logo suas mãos segurando os meus cabelos, mas trato de afastá-lo.

— Se afaste, não precisa me ver assim...— murmuro com os olhos marejados pelo esforço, mas para a minha surpresa ele não obedece.

— Já passei por muitas situações parecidas, uma crise de vomito não me assusta, Chloe... — diz num tom baixo como se lembrasse de algo triste do seu passando.

A sua doença...

Imaginar um menininho doente e internado em um hospital na maior parte do seu tempo não ajuda no estado fragilizado em que me encontro.

— Sei que não é da minha conta, mas sinto muito que tenha passado por coisas horríveis na infância...— sussurro limpando uma lagrima solitária que cai antes de me levantar.

O seu silêncio é tudo o que eu precisava para lembrar de um dos avisos que a última assistente pessoal dele me deixou, que James odeia que façam comentários sobre sua vida pessoal ou passado.

Suspiro e me viro onde o encontro encarando o vazio, com um olhar perdido.

— Desculpe, não deveria ter tocado em um assunto tão delicado...— me desculpo e franzo o cenho quando ele se vira e segue para o carro ainda em completo silêncio.

O que eu fiz?

— Vamos, entre no carro, Chloe! — pede firme enquanto abre a porta do passageiro para mim.

— Eu sinto muitíssimo, James...— sussurro quando passo ao seu lado antes de entrar novamente no carro.

Enquanto ele dirige permaneço completamente quieta, acho que é o melhor a se fazer quando eu certamente o chateei com o meu comentário.

O som de uma nova notificação do meu celular me desperta do meu estado, pego o aparelho vendo que se trata de uma mensagem de Samanta avisando que está bem e perguntando se já estou em casa.

Não prolongo o assunto, apenas digo que já estou a caminho antes de guardar o celular na bolsa novamente e voltar para o meu estado de silencio com a cabeça encostada no banco do carro.

Percebendo que o trajeto até a nossa cidade está demorando demais, levanto a cabeça vendo que estamos prestes a enfrentar um longo e duradouro trânsito noturno causado por um algum acidente mais à frente.

Só quero chegar em casa e esquecer dessa noite, mas perece que os meus planos mudaram e vou ter que passar mais tempo com ele dentro desse carro e nesse silêncio perturbador.

— Está me odiando agora, não é? — quebro a tensão entre nós ainda sem olhá-lo.

— Porque eu odiaria, Chloe? — me surpreendo com a sua pergunta, pois tinha quase certeza que ele permaneceria calado.

— Eu disse que você desperta coisas em mim, e você ainda acha que eu te odeio? — ele continua abrindo um pequeno sorriso enquanto mantém a atenção na pista.

— Fico feliz em saber que não me odeia, que tal nos conhecermos melhor? — proponho com um sorriso.

— Como é? — ele rir me olhando rapidamente como se eu estivesse louca.

— Conversar. Vamos ficar bastante tempo presos nesse trânsito, então podemos conversar sobre qualquer coisa para passar tempo...— explico e vejo a incerteza em seu rosto, mas ele acaba concordando com a cabeça.

— Sobre o que você quer conversar, Chloe?

— Qualquer coisa, você começa! — me viro no banco do passageiro para olha-lo enquanto ele pensa em alguma coisa.

— Por que deixou sua família no Brasil e se mudou para cá? — ele aproveita que o trânsito parou para conseguir me encarar nos olhos.

É uma pergunta comum e fácil de se responder, mas sua pergunta me faz pensar em minha família e da saudade que sinto de casa.

— Para viver os meus sonhos...— respondo com poucas palavras o que ele arquear uma das sobrancelhas.


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