Ethan

14 anos atrás

Palácio Real de Salém

O Palácio estava acordado com sombras e monstros.. Os corredores ecoavam e rangiam.
Eu sabia que daquele dia em diante, o Palácio nunca mais seria o mesmo pra mim.

Eu estava sentado sozinho na cama até a manhã. Enquanto os passos se aproximavam, meu coração acelerava mais e mais. Apertei a colcha da cama e respirei fundo, tentanto com todas minhas forças não chorar, não demonstrar medo, por mais que isso estivesse me matando por dentro.

Eu estava tão nervoso que o som da minha respiração ecoava por todo o quarto.

Quando eu estava prestes á fugir e me esconder, a porta do meu quarto se abriu com um rompante. Em poucos segundos uma mulher magra e elegante adentrou no meu quarto. Sua roupa, que era um vestido amarelo escuro extravagante, fez meu quarto parecer pequeno diante do seu tamanho.

Eu estava sentado na minha cama, tentando controlar minhas mãos que tremiam sem parar. Assim que a mulher me viu, se aproximou de mim e me fitou de cima abaixo.

Assim que notei seu olhar sobre mim, me levantei e fiz uma reverência, um pouco desajeitado por conta do nervosismo.

-Majestade. -Falei educamente.

-Ethan Ashmore. -Ela disse com a voz sombria. -Então é você, o Escolhido do Arthur. Está nervoso? -Ela disse parando na minha frente.

-N..não. -Respondi, praguejando mentalmente por ter gaguejado.

Ela sorriu.
-Você é bem diferente do que Arthur me descreveu. Pra mim parece ser apenas um menininho assustado. -Ela disse com deboche.

-Eu não sou um menininho assustado. -Falei sério, olhando para ela. -Eu não sou Evan Ivory. Meu nome é Ethan Ashmore e eu não tenho medo de nada. -Esbravejei irritado.

Ela riu.
-Que surpresa. -Ela disse me fitando de cima abaixo. -Você é bem corajoso por falar comigo dessa forma. Não é qualquer um que faria isso.. -Ela disse com um ar sombrio.

Me arrepiei e fitei o chão, tentando não encará-la. Eu sabia que não deveria ter falado daquela forma, mas pedir desculpas estava fora de cogitação. Pedir desculpas para um Ivory era sinal de fraqueza. Mesmo que ela me matasse neste momento, eu jamais me rebaixaria. A Honra de um futuro Rei era muito valiosa. Principalmente entre os Ivorys.

A mulher ficou me fitando em silêncio por alguns segundos, talvez esperando que eu dissesse algo. Porém, quando ela viu que isso não aconteceria, se aproximou de mim e colocou a mão sobre meu ombro.

-Continue assim Ethan Ashmore, e você será uma cópia perfeita de Arthur Ivory. Não decepcione o Rei Arthur. Não faça ele se arrepender de ter escolhido você.

-Ele não vai se arrepender. Eu prometo. -Falei a encarando seriamente.

-Você está pronto?

Assenti, apertando minhas mãos com força, tentando disfarçar meu nervosismo.
-Estou.

Ela sorriu.
-Então vamos lá.

*****

Calabouço do Palácio de Salém.

Algumas horas depois..

-Pare.. você está me assustando.. -Evan disse dando alguns passos para trás.

Abri um pequeno sorriso e joguei a faca ensanguentada em seus pés.

-Você é um bebê chorão. Você nunca vai ser um bom Rei se continuar deixando suas emoções falarem mais alto do que os seus deveres. -Falei o fitando seriamente.

Evan engoliu em seco, em seguida fitou o chão, incapaz de me encarar.
-Eu não sou como você.. Eu.. não consigo.. matar.. pessoas.. -Ele disse com a voz falhando.

Fiquei o fitando por alguns segundos, em seguida me aproximei dele e me inclinei em direção ao seu ouvido.
-Vou te contar um segredo Evan. Foi fácil pra mim, porque não é primeira vez que fiz isso.. -Sussurrei com um pequeno sorriso vitorioso nos lábios.

Assim que Evan ouviu minhas palavras, se afastou de mim e me fitou com um olhar apavorado.

-Tio Arthur eu quero sair daqui! -Evan disse entre as lágrimas que desciam descontroladamente pelo seu rosto.

-Ethan! O que disse para ele? -Arthur perguntou vindo em minha direção.

Dei de ombros.
-Nada de mais. Só disse a verdade.

-Que verdade?

-Que foi fácil pra mim matar essas pessoas porque não foi a primeira vez que fiz isso. -Falei simplesmente.

-Ah.. então foi você que tirou a vida dos antigos Reis.. -Arthur sussurrou fitando a parede. -Eu sabia que toda aquela história de suicídio estava muito mal contada. Ethan.. -Ele me fitou. -Você me surpreende mais e mais a cada dia. -Ele disse se afastando de mim. -Continue assim.. -Ele disse me fitando.

Assenti em silêncio fitando o chão.

-Eu posso ir agora? Ou preciso ficar para ver o Evan chorar?

Arthur riu.
-Você não precisa ter que ver isso. Pode ir que agora vou conversar um pouco com o Evan a sós. Ele ainda precisa aprender algumas coisas até se tornar um Ivory de verdade.  -Ele disse fitando Evan que se estremeceu ao escutar seu próprio sobrenome.

Assenti, em seguida fiz uma reverência e me retirei da sala.

Enquanto eu subia, degrau por degrau daquele enorme Palácio, começei á refletir em tudo o que havia acabado de acontecer.

Olhei para as minhas mãos e elas estavam cheias de sangue.

A adrenalina em meu sangue havia diminuído, então o choque da realidade havia me atingido com tudo. No mesmo instante, as imagens daquelas pessoas sendo mortas por mim, começaram á invadir meus pensamentos e o pânico tomou conta de mim.

Começei a correr desesperadamente pelas escadas daquele enorme calabouço, até achar a passagem secreta que dava próximo ao meu quarto. Assim que cheguei próximo á passagem, á abri e continuei correndo em desespero até chegar em meu quarto.

Eu não queria que as pessoas me vissem assim.. jamais queria que as pessoas descobrissem minhas fraquezas. Eu não podia ter fraquezas.. simplesmente não podia!

Enquanto eu corria pelos corredores, um dos guardas responsáveis pela minha segurança tentou me parar para saber o que havia acontecido. Porém, o ignorei completamente e continuei correndo até chegar em frente a enorme porta dourada que havia em meu quarto. Assim que cheguei, entrei rapidamente e fechei a porta. Em seguida, fui correndo em direção ao chuveiro e começei á tentar deseperadamente tirar o sangue daquelas pessoas das minhas mãos. Porém, aquela era uma tarefa impossível para mim.

O sangue estava parecia estar bem colado nas minhas mãos e na minha roupa. Por mais que eu tentasse tirar, as manchas ainda permanciam no mesmo lugar.

Me lembro de ter ficado quase uma hora tentando tirar aquele sangue de mim, mas ele simplesmente não queria sair. Eu não sabia mais o que fazer..

-Saia da minha pele sangue maldito.. -Falei cansado, me ajoelhando no chão.

-Eu não queria ter matado vocês.. -Sussurrei entre as lágrimas, ainda tentado tirar o sangue das minhas mãos e da minha roupa. - Me perdoem, por favor.. - Sussurei deitando minha cabeça sobre o chão e me encolhendo.

O barulho da água do chuveiro estava começando á me acalmar. Aos poucos, todo o pânico que antes eu estava sentindo, começou á desaparecer e após algumas horas, eu finalmente consegui me sentir bem novamente.

****

Dias atuais..

Em um rompante acordei, sentindo meu coração acelerar desesperadamente.

Respirei fundo colocando a mão no peito, tentando aos poucos me acalmar.
Outro pesadelo..

Esse desta vez foi quando o Rei Arthur testou entre Evan e eu, qual dos dois tinha mais frieza para reinar.

Aquela era uma tradição da família Ivory. Todo Ivory, ao atingir 9 anos, era recrutado pelos reis para cometer seu primeiro assassinato.

Os Ivorys eram famosos por terem uma antiga linhagem de Reis sanguinários e frios. Eles acreditavam que se os futuros Reis, ainda crianças, encarassem a morte de alguém como algo simples e fútil, eles teriam a frieza necessária para governar Salém e manteriam a linhagem e a fama dos Ivory, que eles tanto se orgulhavam, em alta.

Eu não era um Ivory, mas mesmo assim, o Rei Arthur havia visto um grande potencial em mim para governar. Então ele decidiu me treinar para ser Rei junto com o Evan.

Eu admito que as técnicas dos Ivory para criar assassinos á sangue frio, apesar de serem um pouco exageradas, funcionavam muito bem. Porém, não te insentavam das consequências.

Eu me lembro bem que naquela noite, depois de chorar por horas seguidas, quando eu estava quase dormindo no chuveiro, Mary adentrou no meu quarto procurando por mim.
Assim que ela me viu, correu em minha direção, me tirou do chão e me abraçou forte.

Eu estava frio, sem emoção alguma. Enquanto Mary chorava e tirava minha roupa ensanguentada, eu apenas olhava para ela com um olhar vago.

Eu me sentia tão.. vazio.

Mary com cuidado, tirou toda minha roupa que estava manchada de sangue e me ajudou á tirar o sangue que ainda estava na minha pele. Quando não havia mais nenhum resquício de sangue em mim, Mary me ajudou á vestir roupas limpas e me levou calmamente até minha cama. Em seguida, se sentou ao meu lado e me abraçou apertado.

Eu me lembro bem de que naquela noite, Mary chorava baixinho, me pedia perdão e dizia á todo momento que tudo ia ficar tudo bem. Porém, eu sabia que aquilo não era verdade.
Depois daquele dia, eu nunca mais fui o mesmo.

Eu queria chorar, dizer para Mary o quanto eu me sentia mal por ter matado pessoas inocentes, mas eu simplesmente não conseguia dizer uma palavra. Eu apenas mantive minha expressão séria e fitei o nada, como se tudo o que estivesse ao meu redor não fosse importante.

Quando matei meus pais, eu não me senti como estava me sentindo naquele momento, porque eu sabia que eles não eram pessoas boas. Eles eram pessoas cruéis e que mereceram o destino que tiveram.

Porém, aquelas pessoas que matei naquela noite não eram como meus pais. Elas estavam longe de ser como eles. Eram pessoas inocentes que apenas tiveram o azar de estar no lugar errado e na hora errada.

Suspirei, em seguida me levantei e fui até o banheiro do meu quarto lavar meu rosto.

Naquela noite, quando Mary saiu do meu quarto, me levantei durante a madrugada e cobri todos os espelhos do meu quarto com toalhas, pois não aguentava olhar meu próprio reflexo.

Sorri.

Eu caminhei em círculos por horas sem fim. Eu me assustava com o mais baixo dos sons.

Antigamente as crianças tinham medo do bicho imaginário que poderia haver em baixo das suas camas. Porém, quando eu era criança meu maior medo era de mim mesmo..

****

Oii pessoal tudo bem com vocês? Que saudadee de Publicar capítulos aqui❤
O que acharam deste capítulo? Esse é um dos últimos capítulos sobre o passado do Ethan. Imaginavam que ele fosse assim quando era criança? Aguardem porque ainda terão muitas revelações pessoal. Não só do passado do nosso querido Ethan, mas também da nossa Florzinha Viollet❤
Espero que vocês tenham gostado. O que vocês gostariam de ver nos próximos capítulos? Qualquer dúvida é só perguntarem que estarei respondendo.

***Obs: Para quem perguntou, sim, o Primeiro Livro da Duologia A Princesa- Princesa Lira, vai ser retirado da Plataforma no dia 15 desse mês para receber sua última atualização e Diagramação. Algumas coisas na história vão mudar. Não serão mudanças drásticas. Alguns capítulos serão excluídos e outros acrescentados para o melhor entendimento da história. Vou mexer um pouco na personalidade dos personagens, principalmente na do Evan. Mas também não vai ser algo muito drástico, até porque não quero mudar eles. Vou apenas mudar algumas coisinhas que me incomodam. Afinal, aquele livro foi escrito á 6 anos atrás. Minha escrita e visão de algumas coisas mudou bastante durante todo esse tempo. Então quero acrescentar essas novas mudanças na história e nos personagens. Espero que gostem pessoal. Estou tendo um trabalhão pra fazer a Edição nele kkkk. Espero não desapontar vocês ❤ Obrigado pelo apoio de todos, pela compreenção e pela paciência em esperar a públicação dos capítulos ❤ Espero que estejam todos bem e até o próximo capítulo ❤