Capítulo 3- Fuga
Horas depois..
Palácio de Wenésia
- Porque sumiram da festa!? - Grace esbravejou irritada.
- Porque o Príncipe Evan queria mais privacidade para conversar. - Falei indo até o espelho e começando á tirar alguns grampos do meu cabelo.
Grace sabia que Evan e eu éramos o centro das atenções naquele lugar. Era praticamente impossível conversar com tantos olhares sobre nós.
- E você acha que isso é motivo suficiente para sumir da festa? - Ela perguntou parecendo ter ficado mais irritada ainda após escutar minha resposta.
- Sim. Ele vai ser meu futuro marido em alguns dias, então não vejo problema em conversarmos a sós. - Falei calmamente.
Grace bufou.
- Você é uma idiota! - Ela esbravejou tomando o pente da minha mão e puxando meu cabelo. - Será que não percebe o problema em que está se metendo!? Sempre leva tudo na brincadeira! Você nunca faz nada direito! É assim que você me agradece por todos os anos que eu perdi da minha vida para te educar? - Ela grunhiu irritada.
- Para por favor! Você está me machucando! - Falei tentando soltar meu cabelo das suas mãos.
- Sua ingrata! Inútil! - Ela esbravejou me jogando no chão. - Você é uma grande decepção Lira Howarth. É assim que você pretende se tornar Rainha e governar Wenésia? Você acha que seu reinado vai durar se continuar com essas atitudes? - Ela disse me fitando com desdém.
Eu me sentia péssima naquele momento. Cada palavra de Grace, estava destruindo lentamente o meu coração.
Ela sabia que o que eu mais queria, era ser uma boa Rainha para o meu povo e conquistar um bom reinado, assim como meu pai tinha conquistado. Eu estava lutando por isso e dando meu melhor em tudo o que eu fazia. Eu não conseguia entender porque ela estava me humilhando daquela forma.
- Porque está fazendo isso?! - Perguntei entre as lágrimas. - Não era isso o que você queria!? Que eu me aproximasse do Evan? Eu só fiz o que você mandou! - Gritei sentindo uma forte dor na cabeça.
Ela suspirou furiosa.
- Não desse jeito sua tola! Você não pensa no que as pessoas vão pensar!? Anda! Levante-se! A Futura Rainha de Wenésia não pode ser vista jogada pelo chão chorando. - Ela falou com desdém. - Aquela sua amiguinha desprezível foi um péssimo exemplo pra você. Olha só, agora anda se rastejando pelo chão igual a ela. Que ridícula. As vezes você me dá vergonha. - Ela disse me fitando decepcionada.
- Se eu te dou vergonha, porque não desaparece da minha vida de uma vez? - Sussurrei fitando o chão.
Assim que escutou minhas palavras, Grace arqueou a sobrancelha surpresa.
Em seguida, se abaixou ao meu lado e começou a sussurrar no meu ouvido.
- Caso você não se lembre, seu querido paizinho, me deixou encarregada de te educar e cuidar de você. Então trate de levantar desse chão e vá tomar logo um banho, antes que eu mude de idéia sobre o que vou fazer com a sua amiguinha ridícula.
Eu estava com tanta raiva naquele momento. Até quando ela ia continuar usando Viollet para me ameaçar?
Eu queria muito poder dizer algumas verdades na cara de Grace, porém, visto que ela ainda tinha autoridade sobre mim, achei melhor permanecer em silêncio. Afinal, aquelas humilhações iriam durar pouco tempo. Em breve eu seria Rainha e faria questão de colocar Grace em seu devido lugar.
Ainda com dor de cabeça, comecei a me levantar e ir em direção ao banheiro do meu quarto, quando senti Grace tocar meu ombro.
- Não esqueça que você tem um encontro com o Príncipe Evan amanhã. Então peça para as criadas darem uma jeito nessa sua cara. Quero que você esteja deslumbrante! - Ela disse com um leve tom de sarcasmo.
"Talvez eu estivesse deslumbrante se você não tivesse deformado minha cara!" - Senti vontade de dizer, mas preferi ficar em silêncio para evitar mais brigas.
Assenti.
Grace sorriu.
- Boa noite Alteza. - Ela fez uma reverência com deboche e saiu.
Segundos depois, fui correndo em direção a porta e a tranquei. Tirei o vestido violentamente e o rasguei em pedacinhos.
Não sobrou nada.
- Aaaaah!! Eu odeio todos vocês!!! - Gritei para o nada.
Porque isso tinha que acontecer?
Porque eu não podia ter uma vida normal? Era pedir demais um pai mais presente, e que me escutasse de vez em quando, não que me deixasse nas mãos de uma louca histérica?
Eu me sentia tão nervosa. Eu queria muito conversar com a Viollet naquele momento. Ela sempre dizia coisas que me ajudavam a me acalmar.
No mesmo instante, peguei meu telefone e liguei para o telefone da pensão onde Viollet morava. No terceiro toque, Viollet atendeu.
- Alô?
- Oi.. Sou eu, Lira. Você está ocupada? - Falei com a voz embargada.
- Não, mas o que aconteceu? - Ela perguntou preocupada.
- Eu não posso te contar pelo telefone. Se Grace ouvir, tenho medo do que pode acontecer com você. Eu não quero te prejudicar mais ainda. - Falei sentindo as lágrimas começarem a descer pelo meu rosto.
- Tudo bem. Vamos nos encontrar em algum lugar?
- Onde? - Sussurrei.
- Naquela lanchonete. Perto da pensão. É um lugar calmo e discreto. Vou para lá agora, e estarei te esperando.
- T..tudo bem. - Falei em meio as lágrimas.
- Não esqueça de usar o disfarce, e seja discreta. Nada de roupas ou acessórios de princesa. - Ela lembrou.
Sim, eu tinha um disfarce.
Não era lá grandes coisas, mas era bem útil pra sair de casa sem ser notada.
Eu geralmente usava uma peruca de cabelo curto e negro e roupas simples, que incluíam uma calça jeans surrada e uma blusa preta comum. Roupas que uma princesa como eu, jamais usaria.
Na verdade, Viollet que tinha me arrumado tudo isso. Eu devia tudo a ela.
Ela me mostrou o lado bom do mundo, e que existe vida além dos muros deste palácio, coisa que eu jamais saberia se não tivesse conhecido Viollet.
Após colocar todo meu disfarce, destranquei a porta do meu quarto com cuidado e desci as escadas rapidamente.
Estava tudo escuro e silencioso.
Provavelmente por causa da hora, minha tia e os criados já estariam dormindo. Como Wenésia era um lugar tranquilo, não haviam muitos guardas dentro do Palácio, então esse era um ótimo momento para uma fuga.
Passei pelo portão do palácio, e corri vários quilômetros pelo Jardim, até chegar no portão principal. Aquele não havia como passar, pois haviam cinco guardas vigiando por vinte e quatro horas.
Sorri.
Agora eu ia usar o meu poder como princesa. Vamos ver se funcionava.
Calmamente fui até onde eles estavam.
Quando me viram, apontaram as espadas.
- Parem! Sou eu Lira! - Gritei antes que eles me matassem.
Um deles olhou para a cara do outro confuso.
- Eu ordeno que abram o portão pra mim agora!
- Mas.. Vossa Alteza.. - Um deles falou, mas o interrompi.
- Se falarem pra alguém sobre isso.. - Apontei para o disfarce. - ..Ou sobre qualquer coisa que vocês presenciaram ou ouviram falar sobre mim, vocês estão mortos! - Falei tentando assustá-los.
Eles sabiam que eu podia mandar matá-los com apenas um estalar de dedos. É claro que eu jamais faria isso. Mas essa parte, eles não precisavam saber.
- Não sabemos de nada Vossa Alteza. - Eles disseram fazendo uma reverência.
Perfeito!
- Melhor assim. Agora abram esse portão!
Imediatamente um deles abriu uma brecha para que eu pudesse passar.
- Obrigado. E me esperem que logo estarei de volta.
- Sim Vossa Alteza. - Eles fizeram uma reverência.
- Levy me acompanhe. - Falei entrando na carruagem real.
No mesmo instante, Levy que era meu guarda pessoal, tomou o controle da carruagem e seguimos caminho até a lanchonete onde Viollet havia nos indicado.
Assim que chegamos lá, notei que aquele local era realmente um lugar calmo e bem discreto. Parecia que poucas pessoas frequentavam aquele estabelecimento. Isso era bom. Quanto menos pessoas, melhor.
Fui me aproximando calmamente , quando avistei Viollet sentada, tomando uma lata de refrigerante. No mesmo instante fui correndo em sua direção, e ao me ver, ela abriu os braços para me receber.
A abracei o mais forte que pude. Eu me sentia muito mal por ter visto o que minha tia tinha feito com ela, e ainda sim, não ter feito nada para impedir.
- Amiga me perdoe por favor. Eu fiquei com medo e..
- Ei! - Ela me interrompeu. - Eu estou bem Lira. Não se preocupe. A culpa não foi sua e você sabe disso. Além do mais, eu conheço o tipo da sua tia. Ela é um cão que late, mas que não morde. Ela não vai fazer nada comigo.
- Mas..
- Mas nada Lira. - Ela me interrompeu novamente. - Eu quero saber o que aconteceu com você. O que aquela bruxa louca fez dessa vez? - Ela perguntou me examinando.
Contei para Viollet tudo o que minha tia havia dito e feito, em seguida suspirei.
- Ela fica te usando como pretexto para conseguir o que quer. Eu não aguento mais isso Viollet. - Admiti angustiada.
As atitudes da minha tia me deixavam tão cansada mentalmente. Eu não sabia por quanto tempo ainda conseguiria aguentar essa situação.
Viollet me abraçou.
- Não se preocupe, vai dar tudo certo Lira. Em menos de 1 semana, você estará casada, e tudo isso não vai passar de um sonho ruim.
- Eu não quero me casar com ele Viollet.
Suspirei.
Eu só queria minha vida antiga de volta.. Quando mamãe ainda era viva e minha única preocupação era ver se meus vestidos combinavam com meus sapatos.
Eu era tão feliz naquela época..
Porque mamãe teve que me deixar tão cedo?
Viollet me observou confusa.
- Como assim você não quer se casar com ele? Eu vi vocês dois nos jornais e pareciam estar bem próximos.. - Ela piscou.
- Nossa foto já está nos jornais? - Perguntei surpresa.
- Claro que sim amiga. Você e Evan estão na primeira página e são o assunto do momento!
- Não acredito.. - Coloquei as mãos sobre a cabeça.
Agora minha vida estava definitivamente acabada.
- Anime-se amiga! Ele é um gato! E combina perfeitamente com você. Quando vi as fotos de vocês dois nos jornais, fiquei sem reação. Vocês estavam de matar! - Ela disse animada.
Sorri.
Apesar da situação não ser muito agradável para mim, ver Viollet feliz por mim, me deixava cada vez mais grata por ter ela como minha melhor amiga. Com certeza eu iria protegê-la. Ela era tudo pra mim.
Contei tudo pra ela, inclusive sobre o meu encontro com Evan amanhã.
Como sempre, ela ficou eufórica e disse que queria me ver amanhã a noite, e queria saber de tudo e em detalhes.
Sorri.
Eu sabia que a situação não seria fácil, mas com uma amiga como Viollet para me animar e me apoiar nas situações difíceis, eu acreditava que tudo daria certo.
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