Eles
Todos os dias eles estão lá. Ela, com seus cabelos brancos, sua pele enrugada e seu sorriso contagiante. Ele, com seus óculos de armação preta, sua face séria e seus cabelos igualmente brancos.
Eles chegam juntos. Ele abre a porta para ela e espera pacientemente que entre. Ela pega alguns guardanapos e segue para a mesa de sempre, encostada ao longo da parede envidraçada, de onde eles podem ver a cidade. Ela se senta e guarda o lugar dele com os guardanapos. Ele segue para o caixa. Cumprimenta o barista, que lhe pergunta como seu dia está. Ambos tiveram a mesma conversa no dia anterior. E no outro anterior. Ele pede dois cafés expressos, um donut e um croissant com manteiga. Paga com uma nota de vinte. Ao receber o troco, conta todas as moedas. Uma a uma.
Ela continua lá, sentada e observando a rua. Amanhece. Pessoas com gravatas debaixo dos seus sobretudos passam apressadas em direção ao metrô. Mães levam seus filhos pequenos pela mão até a escola. Adolescentes sobem a rua com suas mochilas nas costas. Ela os observa. Eles, que estão apressados demais para observá-la, seguem seu caminho.
Ele espera para retirar as bebidas e os doces. Outro barista puxa assunto enquanto prepara os dois cafés.
Dentro da lanchonete, uma mulher entra com sua filha. A menina, que carrega uma mochila rosa nas costas, entra, tira seu gorro e suas luvas também cor de rosa e corre para uma mesa. A mãe vai para o caixa e pede um café com leite. A essa altura, sua filha está absorta no celular.
Uma moradora de rua está sentada na mesa ao lado. Ela dorme, mas finge estar acordada. O barista que está no caixa termina de cobrar o pedido da mãe e vai até a mulher que dorme. Ele a acorda. Você não pode dormir aqui, ele diz. Você tem que ir. Mas lá fora está muito frio, ela responde. O barista a mira com clemência. Se você consumir alguma coisa, pode ficar. A mulher pega um punhado de moedas de seu bolso e conta-as. 90 centavos. O barista, desconfortável, diz-lhe que esse valor não é suficiente para item algum. A mulher fecha os olhos. Não para dormir, mas para disfarçar o choro.
A mãe pega seu café com leite, põe o gorro e o cachecol na sua filha e vai embora. O barista, impaciente, apressa a moradora de rua. Ela, resignada, junta seus pertences esparramados pela mesa.
A observadora não mira mais o movimento da cidade lá fora. Ela olha para a moradora de rua. Depois olha para ele, que já retirou os cafés, o donut e o croissant. Ele olha de volta para ela. Ela sorri. Ele entende e segue para a mesa da moradora de rua. Põe sobre a mesa um dos cafés, o croissant e a manteiga. São seus.
Ele olha para ela, que continua sorrindo. Ele sorri de volta. A moradora de rua também sorri. Agradecida. O barista sorri aliviado. O outro barista, observando de longe, também está sorrindo.
Ele, depois de entregar o café e a comida, vai até ela com o outro café e o donut. Ela junta os guardanapos e ele se senta ao lado dela. Eles dividem o café e o doce. Ela volta a observar a rua.
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