Prólogo
21 de novembro, 8h10
Capitulo 19
Deixei a cama com dificuldade. A dor de cabeça constante, a irritação no estômago causada pelo excesso de álcool ingerido na noite anterior e o cheiro de sexo impregnado naquele quarto de hotel, me faziam querer vomitar.
De pés descalços e objetivando encontrar ar puro, percorri todo o corredor até uma bela varanda no estilo vitoriano, um pouco deteriorada, mas que abria espaço para um panorama perfeito. Rapidamente avistei uma cadeira velha, de madeira, nenhum pouco confortável, porém boa o suficiente para acomodar meu corpo esguio e cansado.
Acendi um cigarro e apreciei a vista. O espetáculo magistral que a natureza me oferecia, um belo nascer do sol, naquele início de manhã frio, à beira da praia. Enquanto meu olhar vagueava pelo mar com brilho de sol nascente, minha mente zanzava entre os resquícios de memória que me restavam.
"Droga! Eu bebi demais."
Depois de receber uma boa dose de vitamina-D, sem ainda saber como é que eu fui parar naquele lugar, voltei ao quarto do hotel para me vestir e juntar minhas coisas, esquecendo-me por completo do cara estupidamente gostoso dormindo na cama que eu deixara a pouco.
Sentei-me cuidadosamente ao seu lado, observando minhas coisas espalhadas pelo chão do quarto, junto ao lençol e as roupas daquele sujeito que eu nem mesmo conseguia lembrar o nome.
Passei a mão pelos meus longos cabelos loiros enquanto pensava no que fazer. As paredes do meu cérebro pareciam estar sofrendo marteladas incessantes e minha vontade era deitar e dormir pelo resto do dia, mas eu precisava trabalhar e claro, não queria ter que conversar com aquele conjunto lindo de músculos ali prostrado.
Sorri involuntariamente, enquanto juntava minhas roupas e me despia da camisa dele que cobria parte do meu corpo. Ainda um pouco tonta, vesti minha calça jeans escura, e uma blusa sem mangas, calcei minhas botas depositadas no canto do quarto e enfiei pelos braços minha jaqueta de couro preta.
Quando já estava pronta para sair, vislumbrando o corredor que se estendia pela porta entre aberta, vi o homem se remexer sobre a cama — mesmo sem fé alguma — rezei aos céus para que ele voltasse a dormir. Não obtive sucesso.
Esfregando os olhos, ele se arrastou para fora da cama e quando me avistou próxima a porta, seu rosto se iluminou. Seus olhos amendoados brilhavam com a luz natural que entrava suavemente no quarto, filtrada pela persiana branca. Era lindo, isso eu não podia negar, mas mesmo assim, para mim, ele não passava de um presente de despedida.
Em segundos suas feições mudaram, seu rosto se contorceu em dúvida e ele finalmente falou:
— Bom dia, gata! — Seria melhor se tivesse se mantido calado — Vai sair assim sem se despedir?
São essas situações que sempre digo a vocês que prefiro evitar. É tão mais fácil sair na calada da noite, sem ser notada ou apenas deixar claro, antes de mais nada, que não sou de me envolver, mas estava tão bêbada e excitada quando esbarrei nele noite passada que apenas me deixei levar.
"Pensa, Allie! Pensa!"
— É que você dormia tão bem e eu preciso trabalhar, inclusive já estou atrasada, então...
Ele abaixou-se, vestiu as calças e afivelou o cinto. Minha vontade era de sair correndo logo dali, antes que me enfiasse em um problema ainda maior.
Tarde demais.
— Então pelo menos me dá seu telefone— ele deu de ombros, em busca da camiseta, que antes cobria meu corpo — Podemos sair um dia desses, tomar um café, eu conheço um lugar ótimo, bem próximo daqui.
Eu não queria fazer aquilo. Detesto esses dramas dos homens com a ideia de que mulheres sempre estão à procura de alguém para se amarrar, mas o único modo de me livrar dele era apelar para o ego.
— Olha... — apertei os dedos e semicerrei os olhos — Qual é o seu nome mesmo?
— Benjamin! — Ele uniu as sobrancelhas, num ar de incredulidade impagável.
— Isso, Benjamin! — Toquei minha testa como se a lembrança me atingisse, pegando minha bolsa de sobre o móvel e abrindo a porta, sem tirar meus olhos dos dele — Olha só, Benji... posso te chamar de Benji?
Ele assentiu, mas mantinha no rosto aquela expressão cética, o que me parecia constrangedor e cômico ao mesmo tempo.
— Então, o que aconteceu entre a gente foi ótimo, eu me diverti bastante ontem a noite e você é uma verdadeira delícia — revirei os olhos teatralmente — Mas não vai rolar mais nada além disso. Está bem?
Ele piscava freneticamente, tentando entender o que raios estava acontecendo. Típico de homem egocêntrico, que leva uma mulher para a cama no primeiro encontro e acha que ela vai se apaixonar instantaneamente por ele.
Você deve estar pensando: por que você simplesmente não deu um número falso? Vai por mim, esse tipo não merece um desfecho tão digno.
Imediatamente, o brilho de diversão desapareceu dos olhos dele, dando lugar a uma intensidade sombria — Quer saber?! Foda-se você, sua piranha de merda! — O homem vestiu a camiseta rapidamente, sem fechar, evitando cruzar seus olhos com os meus — Vadias como você aparecem aos montes. Só quis ser educado.
Eu não disse? Aí está a verdadeira face do "anjo". Já ouviu dizer que o diabo sempre se revela nos momentos de humilhação?
Eu não acredito em céu, muito menos em inferno, só creio que a benevolência e ódio caminham juntos, numa linha tênue demais para a compreensão humana.
Enfim, existe uma incógnita quando nos referimos ao universo masculino — e a percepção dos homens quando o assunto é romance —, mas quando o sujeito toma um pé na bunda, aí ele entra num modo padrão. O orgulho ferido cria adicionais perigosos em cada um deles, mas a concepção é a mesma "quem ela pensa que é?".
Ao longe no corredor, continuava a ouvir os murmúrios e xingamentos vindos do quarto. Apenas sorri, pus minha bolsa nos ombros e continuei caminhando. Eu não menti, precisava mesmo trabalhar.
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