Capítulo 8
Posso acostumar rápido com abraços
Mais tarde fui para minha casa. Sentei na varanda do meu quarto e comecei a pensar em como poderia convidar os dois para um jantar. Porque teria que ser os dois, não é? Podia ser que o velhinho não viria, mas... Meu Deus o que eu estou planejando? Perdão... Nada disto! Exigi que minha mente esquecesse este assunto.
Passaram alguns minutos, eu já voltava a pensar e ainda por cima tentava imaginar o tipo de comida a fazer. O que eu poderia ser? Seria melhor se encomendasse uma comida caprichada. A Ana! Ela era uma cozinheira de mão cheia! Pronto! Estava resolvido. Mas para quando?
Andrea, Andrea... Uma voz falava no meu ouvido. O que você quer fazer? Tentar um padre? Pense bem...
Senti um arrepio percorrer minha coluna.
Aquela voz com certeza era de Deus. E quem me ajudava planejar é o... Melhor nem falar o nome "do coiso", o encardido, coisa ruim como painho dizia.
— O que eu estou pensando? — perguntei-me. Levantei e entrei no quarto.
— Deus, meu Deus... Perdoai-me! Eu não sei o que faço.
Já sei! Eu vou embora e não volto aqui tão cedo.
Perdoa-me, por favor, meu Deus é falta do que fazer. Minha mente não está acostumada a ficar livre.
— Está decidido, eu vou embora e vou resolver minha vida na editora e esquecer essa minha vinda aqui.
Joguei-me na cama e soquei o travesseiro.
Liguei o celular.
Bateria baixa.
Várias mensagens, inclusive do meu diretor Edmilson que me pedia para eu voltar com urgência.
— Mais essa agora! O que aconteceu que não poderia esperar até segunda-feira?
Ligaria ou não? Eu pedi esses dias de folga, então não iria nem ligar. O problema agora é que ele sabia que eu tinha visto a mensagem. Então eu digitei... "Estou sem bateria. Assim que carregar o celular eu te ligo."
Chegou outra mensagem, mas não abri. Porém percebi que ele escreveu "urgência".
— Vai ter que esperar! Tenho férias para tirar e é isso que vou fazer.
Coloquei meu celular na tomada e não pensei mais no assunto.
Esperava pela Geise, mas ela não apareceu e eu acabei dormindo no sofá, indo para a cama altas horas da noite.
Acordei com os primeiros raios de sol. Pulei da cama pensei em correr na praia. Troquei de roupa e em poucos minutos cheguei à areia e não havia quase ninguém. Olhei por todos os lados e fiz o caminho de sempre.
A frente eu o vi sentado naquele mesmo lugar do primeiro dia escrevendo na areia. Era a mesma visão: cabeça baixa e com o dedo traçava algumas coisas. E os pensamentos deviam está bem longe, pois não me percebeu aproximar.
— Bom dia — falei.
Ele olhou para cima e deu-me um sorriso encantador.
— Bom dia. — Fechou um pouco os olhos por causa do sol e perguntou: — Perdeu a hora? Achei que viria correr comigo.
— Não! Achou? Verdade? Que horas você vem? — Eu juro que fiquei sem saber o que responder.
Seria verdade que ele me esperava?
Ele sorriu de novo. Isso era sacrilégio sorrir assim, e pior para mim que já estava em pecado.
— Posso sentar?
— Claro.
Olhei seu desenho. Era uma cruz. Um sol. Um ponto de interrogação. Ãn? O que ele tinha dúvida?
— Algum significado especial? — perguntei, porque não aguentei segurar a curiosidade.
— Hum... Meu Deus... Minha luz...
— E? Alguma dúvida?
— Talvez.
Senti um frio de norte a sul no meu corpo.
— Quer conversar? — Sorri.
Ele olhou de lado para mim sorrindo, mas esse não chegou aos olhos. E ele voltou a olhar para frente e ficou quieto. Eu também.
— Somente quis retribuir... — falei mais baixo.
Silêncio.
— Eu entendi e por isso agradeço, mas são fatos questionadores da minha vida.
— Sei... Entendi... Normal...
Mais silêncio e inquietação dentro de mim.
Ele olhou o relógio.
— Vai à missa hoje?
— É um convite? — perguntei sem olhá-lo.
— Sim... Vamos?
Levantei em seguida e falei:
— Se não quiser se atrasar levante! Vamos?
Ele sorriu e levantou. Caminhou do meu lado.
Quando nós chegamos entre dois caminhos eu parei e ele fez o mesmo.
— Acho que aqui nós nos separamos, pois a minha casa é bem ali nesta rua.
— Posso passar por aqui. Eu te acompanho — falou sem me olhar.
Chegamos à frente da casa dos meus pais, eu parei.
— É aqui.
Ele ficou olhando e examinando a casa.
— Você mora bem... – comentou olhando a construção.
— Eu não! Essa casa é dos meus pais. Moro em um apartamento de dois quartos, mal mobilhado, com livros para todo lado.
Ele sorriu deu-me um abraço forte e disse:
— Até daqui a pouco – continuou o caminho.
Fiquei parada o vendo sumir no final da rua abraçada ao meu corpo depois daquele abraço gostoso.
Era sete em ponto eu entrava pela porta da frente da igreja. E a fila, a procissão de entrada se formava. Entrei em silêncio para nem ser notada, sentei mais ao fundo.
Fechei os olhos e puxei papo com Deus. Afinal nós dois tínhamos algumas coisas bem sérias para colocar nos trilhos. E eu, nos meus pensamentos Lhe perguntava: por que colocar o Jeremias no meu caminho neste exato momento? Por que me fez vir até aqui? Qual minha missão nisto tudo? Decidi ir embora e lá estava ele me esperando hoje. Qual...
Alguém tocou no meu ombro o que me fez dar um pulo no banco.
— Desculpe se te assustei – pediu uma senhora.
— Não foi nada, estava distraída — respondi com um sorriso.
— Você pode fazer a primeira leitura para nós? — perguntou ela.
— Ãn? Eu? Por que eu?
— Sempre pedimos para alguém pela manhã. A noite sempre tem uma escala e hoje o padre Jeremias indicou você.
Olhei na direção onde ele se encontrava preparado para a entrada, nossos olhos se encontraram. Ele fez um sinal de cabeça e sorriu.
Que pecado! – pensei.
— Sim... Claro... Onde está o folheto? — quis saber.
— Durante a semana não tem, mas na mesa da Palavra está o Missal e já vai estar aberto no lugar certo.
— Eu queria dar uma lida antes...
Eu comecei a falar, mas ela já me segurava pela mão fazendo com que eu levantasse e a seguisse.
— Venha! Aqui tem a bíblia.
A música começou a tocar e eles entraram em procissão. Foi então que a senhora me entregou a bíblia e falou:
— Isaias, tal, tal e tal — Seguiu para o corredor lateral, antes virou para mim e completou: — sente-se lá na frente.
Fiquei ali parada com a bíblia na mão. Olhava a espessura e não sabia por onde procurar — pensei: — como vou achar isso?
Fui pela lateral e sentei no terceiro banco. Qual era mesmo o capítulo? E o versículo? — Puta merda! — pensei — Na mesma hora pedi perdão para Deus. Mas como o Jeremias foi fazer isso comigo?
Abri a bíblia e comecei a folhear. Era Isaias alguma coisa...
A missa começou e eu perdida em meus pensamentos... Uma senhorinha olhou feio para mim. Não entendi o porquê, até que ela fez um gesto com a mão que era para eu me levantar.
Levantei.
Comecei a suar. Minha mão gelava. E meu rosto queimava.
Senti uma gota de suor descer por minhas costas e fazia cócegas. Olhava a frente e depois para a bíblia.
A senhora do meu lado segurava um livrinho, pensei aliviada que teria a leitura. Devagar me aconcheguei nela para olhar o livro. Cheguei mais próximo. Ela ergueu para eu alcançar a visão. Dei uma geral a procura do Isaias. Nada! Ela levantou a voz, cantou alto e queria que eu acompanhasse. Foi então que caiu a ficha. Era o livro de música. Tentei entrar na melodia, porque nem sabia a letra, claro ficou horrível. Ela pareceu não ter gostado do meu canto do jeito que me olhou. Assim que terminou falou baixinho:
— Tem que praticar mais.
— A senhora sabe qual leitura vai ser? — tive a ideia de perguntar.
Ela somente balançou a cabeça e fez psiu para mim, como se eu fosse uma criança da catequese que conversava na hora errada.
Voltei à bíblia. Continuava perdida folheando-a. Foi quando percebi que olhavam para mim, o Jeremias e a outra senhora que me fez o convite. Eu não entendia o porquê, pois estava quieta, não conversei mais... Tudo parado, ninguém falava e fazia nada. Abaixei a cabeça para minha procura e recebi um cutucão da senhorinha e a outra sinalizou com a cabeça o altar.
— Ãn?
Gelei na hora e entendi.
Entrei no piloto automático e caminhei até a mesa da palavra. Seja feita a vossa vontade Senhor – pensei. — Depois vamos conversar sobre mais essa presepada.
Comecei:
— Isaias 53,1-6
1 Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do SENHOR? 2 Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. 3 Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.
4 Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. 5 Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Fiquei sem falar nada por um quarto de segundo, eu tentava lembrar como era a conclusão.
— Palavra do Senhor – Eu fechei meus olhos para não ter falado errado. — Todos responderam.
Voltei para meu lugar tremendo.
A senhora deu um sorriso para mim e falou:
— Leu certinho, muito bem.
Era só o que me faltava. Ser avaliada por minha leitura pelas senhoras locais.
A missa seguiu ao ritmo do meu coração.
Escutar o Jeremias falar era um consolo, principalmente quando ele falou sobre perder-se pelo caminho e encontrar abrigo na casa de Deus.
Pensei comigo: será? Pois encontrei mais confusão para minha vida, que já não era pouco, bem na casa de Deus.
E sobre perdoar?
Ah... Falar era muito fácil. Alguém te engana, menti, rouba e você tem que perdoar? Por que eu tenho que simplesmente ser a boba e perdoar? – perguntei-me.
Ele continuou falando e como se lesse minha mente respondeu:
— Por que Jesus entregou-se na cruz perdoando a todos. O filho de Deus veio a terra para nos ensinar amar e perdoar. Se não fizermos isso por nós, que façamos por Ele.
Pronto calou minha boca grande.
Quando a missa chegou ao fim, eu me encontrava mais nervosa que antes da leitura, pois a reflexão que eu tinha feito não poderia mais caber no meu peito. Precisava ir embora daquele lugar.
A igreja me sufocava.
Olhava para Jesus na cruz e meu corpo ficava arrepiado. Ele voltava seu olhar para mim com tristeza.
Um quadro grande com a face de Cristo a minha direita deixou-me constrangida. Era como se com o olhar Ele quisesse me dizer muitas coisas. Dar-me um bom sermão. Brigar comigo por tudo que eu pensava.
O que eu queria da vida? Quem eu enganava com essas atitudes, ir à missa, fazer leituras, cantar, pisar no altar do Senhor. Quanto sacrilégio!
Ai meu Deus! Quem me visse mais cedo cantando a todo pulmão o que iria pensar? Ficou louca, ou quer impressionar quem? Deus não acreditava nesta cara de boa samaritana.
Fiquei com vergonha.
Precisava sair dali. Minha vontade de chorar era absurda.
Ao perceber as pessoas sair, eu tomei o meu rumo. Aproveitei para ir embora o mais rápido possível.
Fui chorando pelo caminho.
"Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais." Jeremias 29:11.
😤😪
Será que agora Andrea vai embora mesmo?
E qual será os sentimentos do Padre Jeremias em relação a ela? Qual o questionamento será que ele quis dizer a ela?
Acho que está precisando sair um bônus Do Padre... O que você acha?
Até mais...
Beijos
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