Capítulo 5
Certeza: o inferno me esperava
Olhei para o rosto dela sem expressão alguma. Com certeza uma dúvida pairava em mim.
— Quer ir à missa das sete, amanhã? Assim tira sua dúvida.
— Geise, descreve o padre, por favor — pedi.
— Hum... Alto, não tanto como o Di — Deu uma risadinha. —, cabelo curto... Mais o quê? Bonito... Mas nada fora do normal... Não é um Rodrigo Santoro.
— Assim fica difícil, pode ser qualquer um com essa descrição. — Então lembrei da barba e perguntei. — Ele usa barba?
— Hum... Não lembro, acho que não. Nunca o vi de barba. Pelo menos não me lembro — falou um pouco indecisa.
— Então não é ele. Este usa uma barba ralinha que é a coisa mais linda.
— Não deve ser então! Menos mal. — Levantou a mão.
Ficamos conversando até bem tarde depois que resolvemos esse assunto. Mas dizer que acalmei meu coração com aquela história de padre. Era mentira.
***
Na manhã seguinte, eu cheguei antes das sete na igreja para conhecer esse padre e tirar as dúvidas que a Geise colocou na minha cabeça.
Quando eles fizeram um fila para entrar no corredor central eu segurei a respiração e fechei os olhos pensando: — Não seja! Não seja!
A música começou a tocar e eles entraram devagar.
Era como se fosse em câmera lenta. O meu maior medo era daquele homem lindo se materializar a minha frente como um padre.
Por fim... Um padre velho apareceu em minha frente sorrindo e cumprimentando a todos. Com certeza eu sorri de canto a canto. A minha vontade era de abraçá-lo e saltitar com ele por todo corredor e deixá-lo no altar e sair valsando. A Geise devia estar doida, abirolada mesmo, me fazer acreditar que podia está tendo um caso de amor imaginário com um padre. Na verdade eu não tinha nada de mais, ou seja, uns sonhos eróticos e nada mais. Mas que poderia torná-los real, muito real. Isso eu queria.
— Sejam todos bem vindos na nossa comunidade da Nossa Senhora do Silêncio. Em nome do Pai, Filho e Espírito Santo... Amém.
O relógio resolveu andar de novo e o restante da missa passou tranquilo para minha alegria.
Eu agradeci a Deus por Ele não fazer isso comigo. Não poderia pecar até em sonho.
Eu precisava de paz e naquele momento eu senti todo esse frescor invadir minha alma. Estava feliz... Feliz por nada e por tudo ao mesmo tempo. Dentro daquela igreja eu conseguia esquecer tudo que eu deixara lá fora, parecia ser nada os meus problemas! Ou no mínimo, eu percebi que eu poderia enfrentar tudo e superar. O que meu coração sentia era que essa não seria a batalha mais difícil da minha vida. E no final da missa com a benção, decidi que o destino que Deus traçou para mim eu iria batalhar por ele e ser fiel as minhas raízes e meu amor.
Ao sair da igreja eu queria correr para contar a Geise da cilada que ela me pregou. Por que será? Ela só podia estar de brincadeira comigo e eu não entendi? Não... Ela dizia dele ser um gato, para mim estava mais para um dinossauro que qualquer outra coisa.
Precisava encontrar com ela e puxar sua orelha. Mas ela tinha ido para a Praia do Futuro e voltaria somente na parte da tarde a Anita me falou quando cheguei a loja.
Voltei para casa, coloquei um biquíni, passei protetor e fui dar um mergulho no mar e nadar um pouco.
Sentei na areia depois de nadar, fiquei olhando o mar e pensando naquele sentimento bom que tive mais cedo. Precisava não esquecer que era somente na presença de Deus que poderíamos ser felizes de fato. E que a correria do dia a dia não podia ser desculpa para nosso afastamento D'Ele.
Engraçado...
Por que nós afastamos de Deus na primeira oportunidade? Se nós precisamos tirar algo da nossa vida para termos tempo, Ele sai. Pelo menos era assim que eu O via na minha vida. Quando mudei para morar sozinha maínha sempre costumava me lembrar: foi à missa Deia?
E quantas vezes eu menti? Inúmeras.
E por quê? Para dormir até mais tarde, sair com os amigos, assistir um filme... E a lista crescia...
Às vezes dizia que iria durante a semana para compensar, mas na verdade depois eu esquecia. Isto por que, perto do meu apartamento em Iracema, tinha uma igreja, poderia ir a pé.
Levantei sacudi a areia, comecei a andar. O sol já estava forte, eu não poderia permanecer mais ali. Olhei ao longe e vinha alguém correndo, fiz um pouco de capricho para esperar ele se aproximar, vai que era!
Mas não tive essa sorte. Então fui para casa.
No final da tarde já não havia lugar dentro daquela casa, queria algo para fazer a não ser dormir na rede e comer. Achei dois livros no meu carro, já lidos, mas que serviu como distração por um tempo.
Liguei o celular.
Pronto!
Problemas à vista e a prestação.
A Janine havia me mandado um e-mail depois de várias tentativas em me ligar. Ela dizia que não descobrira quem pegou o seu celular, mas que não ficaria sem solução. Desculpava mais uma vez e afirmava que não teria motivo algum para escrever aquilo, disto eu tinha certeza, ela nem precisava falar.
Cassiano também mandou mensagem dizendo precisar de algumas coisas que estavam no apartamento, pois não conseguiu entrar com sua chave. Achou que eu fosse tão idiota de deixá-lo com acesso livre na minha casa. E para completar a sandice dele, uma lista com alguns itens estava anexada, o que me fez rir para não chorar. Nesta lista tinha alguns livros. Até parece que ele ia levá-los, não é porque compramos juntos que significava ser dele, afinal eu paguei por cada um. Cabra da peste safado.
Avaliei a quem eu precisava responder e outras apagavam ou não dava confiança.
Como prometido, desliguei o celular, não iria entrar na rede social e nem nos grupos de conversas.
A noite caiu e a Geise apareceu.
— Sumiu hoje em muiê! Eu com vontade de pegar você e torcer seu pescoço, ainda bem que não apareceu mais cedo.
— Eita! Por quê? — perguntou rindo — O que foi que eu não fiz?
— Melhor! Você quis me assustar com a história do padre ser o meu moço dos sonhos.
— Ô Deia, eu não quis nada, somente achei algumas coisas que me levou a pensar. Então não é? Que bom, como descobriu? Encontrou com ele? Como ele se chama?
— Espera! — Levantei as mãos ao alto. — Uma pergunta de cada vez. Em primeiro lugar não o encontrei, segundo não sei ainda seu nome e terceiro e mais relevante, ele é um rapaz, não um velho.
— Velho? Como assim? Padre Jeremias não é velho — falou com olhos atentos.
— Então quem é aquele que presidiu a missa? — Olhei na dúvida.
— Você foi à missa hoje? — Ela quis saber. — Pela manhã?
— Sim. Fui. Precisava tirar isso da cabeça. E quem estava lá era um senhor de quase setenta anos.
— Devia ser o Padre Vitório, ele toda quinta-feira preside, pois o Padre Jeremias dá aulas de teologia no seminário em Fortaleza. Eu havia me esquecido disto.
— Ãn? O que você está me dizendo? Que ainda não tenho certeza?
— Desencana Deia, não deve ser mesmo. Se você o viu hoje é porque não é, pois ele não fica aqui durante o dia.
— Ai meu Deus, eu não o vi.
Ficamos em silêncio. Eu levantei e comecei a andar de um lado para outro para pensar melhor naquilo tudo.
— Vamos fazer o seguinte, amanhã tem capoeira na praça ele vai estar lá, um e outro. Se você disse que ele estava lutando...
— Isso! Assim vejo os dois... Tomara que seja dois — falei para eu mesma acreditar, pois a dúvida voltou ao meu coração de novo.
Agora era aguardar mais uma noite e um dia inteiro.
Não! Esperar era tudo que eu não queria, assim acordei cedo, muito cedo por sinal. Aproveitei para fazer uma caminhada e ir à missa de novo. Precisava redimir meus pecados.
Mas depois que tomei banho à hora começou a ficar apertada, andei muito na praia e perdi a noção do tempo.
Quando cheguei à igreja, a missa já tinha começado, então fiquei bem ao fundo. Ali de trás ficou difícil identificar cada um sentado naquele altar. Estava longe, ou eu que com certeza precisava de um novo exame de vista. As roupas parecidas também não ajudavam. Eu sabia que o padre era o do meio e ia esperar que ele falasse. Na certa, não poderia me esquecer àquela voz.
Assim foi passando as leituras e eu na expectativa. Pronto, ele falou. Minha dúvida permanecia, ou eu não queria acreditar. Não sei. Hora pensava:
Era ele!
Não era!
Sim era a voz dele.
Ou não?
Em alguns momentos eu imaginava que sim em outros não.
Precisava ficar até o fim para tirar isso da minha cabeça. Ou como aquele discípulo: ver para crer.
A benção final demorou um século e meio para acontecer. Parecia quando eu era pequena e esperava a missa acabar para comer pipoca na praça. Uma eternidade que ela durava e minha pipoca acabava em meio minuto.
Por fim... Ele deu a benção.
Eles vinham caminhando para a saída. Caminhavam a passos de tartarugas.
Ele, diferente do outro padre vinha caminhando sério sem cumprimentar ninguém, olhava para as mãos que estavam juntas a frente do estômago.
— Não!! — falei.
Neste momento ele olhou para mim e fez um sinal com a cabeça. Eu queria morrer. Com certeza minha expressão era de ter visto uma sombração.
Era ele! Era ele! Era ele! Não é possível!
E como um filme triste que chegava ao final e as letras subiam na minha frente, eu perdi o rumo.
Sentei de novo e tive vontade de chorar.
A Geisiane estava certíssima.
O meu sonho erótico fora com um Padre e o seu nome agora eu sabia: Jeremias. Agora eu estava mais que encrencada com Deus.
"Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele e o mais Ele fará." Salmos 37:5
💔💔💔💔💔
E agora?
Sentar e chorar...
Até mais...
Beijos
Lena Rossi
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