Capítulo 13
O convite de aniversário de Victória chegou na residência Mentis. Morgali abriu e suspirou. Lembou-se do quanto Francis gostaria de estar em casa para o aniversário da amiga. Mesmo sabendo que a filha estava realizando seu sonho, a saudade era inevitável.
— A senhora vai? — Judite entregou o jornal para Rosali que estava sentada ao lado de Morgali no sofá.
— Sim, irei — Ela afundou o vestido entre suas pernas. — Bem, tenho minhas desavenças com o Marco, mas não posso fazer essa desfeita com Victória, ou com Cristina que é uma grande amiga para nós. Você irá, irmã?
— Claro que vou. — Rosali bufou, dobrando o jornal com força. — Estou cansada de sempre perder as festividades desta cidade. Primeiro, os imprestáveis dos Collins não nos chamam mais, o que, particularmente, é um favor. E sempre que há festas eu tenho que sair da cidade para ver tecidos... — Ela mexeu o dedo em negação tão rápido que pareceram só os vultos para Morgali. — Não desta vez, eu vou.
O assunto da festa também se tornou o alvo dos jogos dos irmãos no campo. Ainda era difícil jogar sem Francis, mas Lemont precisava treinar para os eventos que era convidado.
— Você vai? — perguntou Paul, mesmo sabendo a resposta — Sabe haver uma probabilidade de encontrar os Collins, certo?
— Sim, mas Victória é amiga da família. Além disso... — Ele sorriu atrevidamente para o irmão mais velho. — Está longe de ser o Collins o motivo da minha ida.
— Poupe-me — Paul mostrou a palma da mão ao irmão. — Ainda está devendo-me pelos maus bocados que seus livros me fizeram passar.
Lemont riu tanto dessa história que precisou contar até para a mãe e a tia, que riram igualmente da situação. Sua barriga ainda doía lembrar e imaginar a situação.
— Além disso... — Lemont não perdeu a oportunidade de provocar. — Não sou eu que estou com problemas com os Collins, certo?
— O que está insinuando?
— Bem, você vive me dando sermão para tomar cuidado e não me envolver com mulheres que possuem algum compromisso para evitar brigas com o respectivo compromisso.
Paul baixou uma de suas sobrancelhas.
— Agora é você que arrumou confusão com o respectivo companheiro.
— O que está dizendo? Eu não vou arrumar confusão com o Colton — Ele tacou a bola, que passou direto pelo triângulo, Lemont esquecia-se do jogo quando era para provocar o irmão. — E Amélia não é mais comprometida com ele.
— Hum...
Lemont não escondeu o sorriso de satisfação. Foi quando Paul percebeu o plano do irmão, e ele havia caído.
— Eu não citei nomes. — contestou Lemont. — Você veio dando nome aos bois. Ou... um boi e uma rosa.
Paul soltou o ar com os dentes cerrados. Caiu direitinho no plano do irmão. Não negou que estivesse pensando em Amélia em específico.
— Admita, meu irmão. — Lemont largou o taco para se aproximar de Paul. — Está interessado nela, Paul?
— Talvez... — Ele movimentou o pescoço de um lado para o outro.
— Talvez?
Paul sabia que não ia conseguir escapar daquela conversa. E, no fundo, não queria escapar.
— Ela é uma mulher incrível. — suspirou ele. — Inteligente, determinada e incrivelmente forte para defender quem ama. É uma mulher formidável.
— Oh, Meu Deus! Você está completamente rendido.
— Mas já lhe disse que acredito que não passe pela cabeça dela a ideia de um relacionamento agora.
— Não saberá sem tentar.
— Eu prefiro sem tentar — afirmou, semicerrando o olho esquerdo.
— Está fugindo do amor? Você? — Lemont abriu os braços, levantando a cabeça para incorporar o seu eu mais poético. — Onde está a conversa dos ventos do destino? E se ela for o seu vento do destino? — Apontou o indicador no peito do irmão.
— E se não for, e eu a magoar como o Collins fez? Não me perdoaria por tirar aquele sorriso dos lábios dela.
A boca de Lemont transformou-se em um sorriso.
— Se está preocupado em deixá-la feliz, já está um passo oposto a qualquer atitude que o Collins teve, e qualquer atitude que possa magoá-la.
Aquilo fez sentido para Paul. Um estranho sentido.
— Pare, não quero viver em um mundo onde você é mais entendido no amor do que eu. — Ele levantou o taco na direção do irmão. — Volte a ser o libertino, eu sou o romântico.
— Pode convidá-la para a festa de Victória.
— Onde o Collins estará? — Arregalou a sobrancelha esquerda.
— É, tem razão.
Mas, o assunto da festa também chegou na pensão Girassol. Victória foi com Rita entregar os convites pessoalmente para Juliet. Amélia ficou sabendo, Victória pretendia chamá-la, mas soube que o pai enviou convite para os Collins para manter as aparências dos donos da fábrica. Não queria chateá-la, mas queria que ela soubesse que estava convidada.
— Espero que entenda. — disse Victória. — Será bem-vinda a festa, mas... talvez o Colton Collins estará lá.
— Eu sei! — Ela tirou Mary do meio de suas pernas, enquanto estava penteando o cabelo da irmã. — Mas eu irei.
Juliet e Victória estranharam a resposta.
— Não quero que ele atrapalhe a minha vida de forma alguma. Então, eu irei para a festa de uma das primeiras amigas que fiz — Alegrou-se ao dizer as palavras.
Victória sorriu, e pulou para abraçar a amiga.
— Fico tão contente. — admirou-se ela.
— Você tem razão, não deve evitar viver por causa dele. — encorajou Juliet. — Não tem nada do que se envergonhar.
Victória e Rita arrumaram-se para a noite na pensão de Juliet. O encontro de seus sorrisos foram inevitáveis ao se depararem juntas nos pés da escada, vendo que as três estavam de vestidos brancos.
— Podíamos facilmente ser confundidas com noivas. — comentou Juliet.
— Quem sabe um dia. — Victória pegou Rita nos braços. — Vamos na minha carruagem.
A festa começou. Morgali tentou, mas não conseguiu fazer Cristina se acalmar. A mãe da Pilmon rodava de um lado para o outro, bufou sempre que algum convidado perguntava da presença principal da festa: a aniversariante. Deixou que ela ficasse na casa da amiga, pois sabia que ela ficaria contente, mas não imaginou que isso seria resultado de um atraso constrangedor.
Paul e Lemont beliscavam alguns salgados sentados na mesa. Olhando para a mãe que tentava desesperadamente acalmar Cristina.
— É bom ver nossa mãe com uma amiga. — Paul beliscou o vinho.
— Sim, é irônico que seja a mulher do Marco Pilmon.
— Ironias do destino, não seria Ouro Verde banhadas delas!?
— De fato. — Lemont levantou o pescoço para olhar a festa, ou melhor, as mulheres da festa.
— Mentis! — Uma voz o chamou no meio da multidão.
Eles soltaram o ar dos pulmões.
Como podem ficar desanimados ao ouvirem os seus nomes sendo pronunciados? Deve ser algo comum quando sabem que isso trará horas de conversas entediantes.
E mais algumas fichas de educação teriam que ser jogadas naquela noite. Eles ficaram de pé, andando em direção ao pequeno grupo da família Mendonça para conversar. A conversa começou interessante, começaram perguntando para Lemont sobre assuntos do jornal e as apostas para o esporte. Até Paul dava seu palpite, educadamente. Mas a conversa mudou drasticamente com a chegada dos Collins. Eles desceram a escada de queixo erguido e polposos. Com o jovem Colton já acompanhado de outra bela dama, que segurava seu braço, sorrindo para ele. E, logo, a conversa se tornou eles.
— Souberam? — disse a Sra. Mendonça — Ele se separou da antiga noiva. Disseram que ela era uma interesseira.
— Mas não durou muito tempo, não é? — comentou a outra Sra. — Um rapaz elegante e carismático como ele, não ficaria solteiro por tanto tempo. Já não sabemos dela.
— Deve ter arrumado outro. — concluiu Katherin. — Deve ter sido por isso que ela o deixou.
— Katherin... — Sr. Mendonça tentou repreender a mulher, mas riu de fininho e completou: — Não entendo essas mulheres de hoje em dia. Tinha casa, comida e roupa lavada, mas abandonou um homem de bom porte.
Lemont passou o mindinho na sobrancelha esquerda. Paul tirou o cabelo que caia em seus olhos de tanto abaixar a cabeça para revirar os olhos às escondidas.
Os jovens Mentis foram ensinados pela mãe e pela tia a se retirar quando a pauta da conversa fosse a difamação de alguma mulher, não só porque a senhora Morgali teve que ouvir as piores ofensas das más línguas de Ouro Verde quando o Francisco Mentis a abandonou, mas, porque era o certo.
Claro, que se tratando dos Mentis, só se retirar não era do feitio deles.
Lemont riu, seguindo as risadas do grupo.
— Não é mesmo... — Ele bateu com as costas da mão no peito do Sr. Mendonça com tanta força que assustou o velho. — Casa, comida e roupa lavada. O que mais podem querer?
Sr. Mendonça assentiu, pensando que o jovem estava concordando com o seu pensamento.
— Afinal, ele está se casando com uma pensão? — acrescentou Lemont, em uma pergunta cheia de zombaria.
Paul engasgou-se com a bebida, tentando manter a zombaria do irmão, escondendo a risada.
— Então, por que casar ao ter uma pensão que pode nos oferecer tudo que é o necessário para um casamento? — Paul olhou para o irmão, como se estivessem debatendo um assunto histórico. — Por que entrar em um compromisso?
— Como nunca pensamos nisso? — Lemont levou a mão para o ombro do irmão.
Quando percebeu estarem debochando deles, Katherin irritou-se.
— E o que sabe sobre casamentos, Lemont Mentis? — Ela enfiou o ombro no meio dos homens do grupo. — Quando você não respeita o dos outros.
Lemont olhou para ela, cerrando os olhos.
— O que quer dizer com isso, Sra. Katherin? — enfiou as mãos cerradas no bolso.
— Quero dizer que não deveriam existir homens como você, arruinando casamentos formados pela igreja. Como se tivessem...qualquer poder para destruir uma união abençoada.
— Ah, Senhora Katherin — Lemont suspirou, inclinando a cabeça para o lado. — , só existem homens como eu porque os homens dos quais a senhora se orgulha não tratam suas esposas da forma como se vangloriam nas festas. Ou tratam, e deve estar neste ponto o problema. É só nesse momento que eu entro, quando os homens não tratam as mulheres como elas merecem, mas eu as trato — Ele inclinou a cabeça na direção da jovem Mendonça, que ficara calada ouvindo as barbaridades dos pais, e piscou para ela, que sorriu para ele.
Paul tocou no ombro do irmão, fazendo-o sair dali, virando-se, quase deixando a taça cair ao ver a visão perfeita que acelerou seu coração. Amélia, entrando de mãos dadas com a irmã. Ela estava rindo para baixo, lançando seu belo sorriso para Mary, que pulava em cada degrau para descer as escadas.
— Vai com calma — Lemont ajeitou seu colete, sorrindo ao ver o olhar rendido do irmão.
— Cale-se.
— Chame-a para dançar.
— Ela está com a irmã.
— Lady está do lado dela, pode ficar com a criança por uma dança... ou duas. — Ele bateu no ombro do irmão. — Vou chamá-las.
— Não faça isso. — Paul segurou seu braço.
— Qual o nome dela mesmo? — Ficou pensativo, na tentativa de lembrar o nome de Amélia.
— Esqueceu o nome dela? — Paul achou isso uma afronta, para ele, Amélia não era uma mulher esquecível.
— Não é nos meus pensamentos que ela não sai — Ele puxou sua mão. — Esquece, chamarei a Lady.
— Não chame a Juliet. — implorou Paul. — Por todo o respeito que tem em mim como seu irmão mais velho — sussurrou ele — Não chame a Lady. — usou o nome que Lemont referia-se à Juliet para implorar.
— Está bem — Lemont cruzou os braços — Não chamarei de Lady — Ele esticou os braços para o alto. — Pequena Lady!
Ele cumpriu a palavra, não chamou de Juliet ou de Lady.
Juliet reconheceu a voz, soube de imediato que era o Lemont, mas não sabia se era ela que ele estava chamando, mas ele a chamava de Lady. Pequena também seria apropriado pelo seu tamanho. - apesar de que muitas damas ficariam pequenas ao lado do Lemont-. Ela virou-se, mais na esperança de ser para ela um apelido tão carinhoso. E viu ele acenando-lhe, e sorriu ao caminhar até ele. Sendo seguida por Amélia e Mary.
— Saiba que estou te odiando neste exato momento. — disse Paul.
— Posso conviver com isso — Ele acenou com a mão erguida — Mas prefiro conviver com um sobrinho.
Amélia tirou os olhos de Mary, encontrando-se com os olhos de Paul. O Mentis de olho claro achou incrível a capacidade de esquecer de como se pronuncia as palavras na presença da dama. Pronunciou as únicas palavras que vieram na sua cabeça, as palavras mandadas pelo seu coração:
— Conceda-me esta dança? — sussurrou, em uma súplica.
Sua mão estendeu-se, encontrando-se com a dele antes que pudesse responder.
— Sim. — comentou.
Ele a guiou até a pista de dança. E nem mesmo os olhares que receberam pareceu importar. Nem mesmo um olhar especifico que os fuzilava de longe, Colton Collins que segurava uma taça de vinho com tanta força que quase a fizera quebrar. Não importou, porque pareceu não existir nada ao redor. Apenas o toque da música que os cercava.
Passando os dedos pelo tecido cuidadosamente até tocar na cintura dela. Aproximando-a para perto. Entrelaçando seus dedos no dela. Ela fez a palma da sua mão caminhar até o ombro dele.
A música não era tão lenta, mas isso também pareceu não importar.
Ela se aproximou em passos curtos para mais perto dele. Recebendo o banho esverdeado dos belos olhos que ele a cobriu, sorrindo. Como aqueles olhos podiam encantá-la tanto?
Seus corações aceleraram quando suas respirações se tornaram únicas. Olhando-a nos olhos. Seu ar quente em cada respiração mexia o cacho que ela sustentava no canto esquerdo do rosto. Foi nas batidas do seu coração que subiu um calor pela pele de seu corpo por onde ela tocava. Com o desejo tornando-se claro nas linhas finas que separavam seus olhares. Ele sentiu, e teve que concordar, que estava rendendo-se a ela.
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