Mais um sábado chega, e hoje é dia de ver o meu amor.
Vamos fazer bolo, nosso primeiro bolo juntos. Digamos que eu já seja uma profissional, digna de participar do MasterChef (talvez não seja pra tanto), mas meu namorado não, portanto hoje vou ensina-lo a fazer o mais simples: bolo de chocolate.

A noite vem, e junto com ela está o meu garoto.
- Surpresa, amor - Ele sorri, e só aquilo já melhora meu dia. Mas em sua mão direita, está um lindo girassol - Um girassol para o meu girassol!
    Sorrio e o abraço. Como posso ser tão dependente daquele abraço?
   Fazia muito tempo que eu não me sentia amada e querida daquela maneira. Há muito tempo nenhum abraço se tornava minha morada, nenhum perfume me viciava, nenhum sorriso iluminava meus dias escuros. Eu estava feliz pelo simples fato de estar em casa num sábado à noite fazendo bolo com o meu garoto.
   
Coloco o girassol em um vaso com água e peço para que meu namorado pegue os ingredientes.

- Amor, você pode pegar o açúcar, por favor?

Ele assente e vai em direção ao armário.

- Meu anjo, este pote é o de açúc...? - Antes mesmo da pergunta finalizar, ele derruba o pequeno pote, que na verdade era de farinha. - Me desculpe, amor. Deixa que eu limpo, mil desculpas!!

Vejo o desespero dele e vou ajudá-lo a recolher, mas acabo por pegar um punhado de farinha e assopro perto de seu rosto. Caio na gargalhada.

Ele ri e faz o mesmo, e assim começamos uma guerra de farinha.
Depois de um tempo tentando recuperar o ar que gastamos apenas rindo, peço para que ele busque um pano na lavanderia, enquanto eu terminava de fazer a massa do bolo.
    Assim que ele sai da cozinha, vou pegar o pote de açúcar e ouço meu celular apitar. Um "oi" de um número desconhecido e sem foto. Quem será?
Pergunto e a pessoa visualiza imediatamente.

- Cara, como eu pude te deixar partir? Como eu consegui ser tão babaca com você? Você era tão boa, e eu pensava que isso significava perdoar meus erros para sempre. Eu realmente acreditava que se você me amasse de verdade, você iria perdoar todas as minhas mentiras, as minhas traições. Aliás, depois do nosso término, eu acreditei por um tempo na ideia de que você foi a culpada, não eu. Mas você teria culpa de quê? De se livrar de um babaca mentiroso? De se soltar de uma relação onde você era abraçada por mentiras atrás de mentiras? Eu fui pensar nisso tarde, bem tarde. Mas não pense que eu não senti sua falta. É, eu senti e muito. Meu peito arde toda vez que penso em você, é como se meu próprio corpo produzisse fogo e me queimasse com a falta que você faz. Você sempre fez falta, minha paçoquinha. Era assim que eu te chamava, lembra? Talvez hoje você nem coma mais isso por causa desse apelido, ou sei lá, nem lembre mais de mim quando vê uma paçoquinha. Porque eu, eu lembro de você a cada suspiro que eu dou, e vou lembrar até o último que eu der. Eu procurei você em tantas outras mulheres, mas como você já deve imaginar, eu não te encontrei. Você é tão única, tão perfeita. Não sei se hoje você já está acompanhada, você me bloqueou em todas as redes sociais depois de eu ter postado foto em um bar com a sua "melhor amiga", e eu imagino que isso tenha doído em você em diversos aspectos, eu fui um babaca. Não sei se hoje em dia outro homem tem a sorte de ter uma mulher como você ao lado, mas eu acredito que sim. Esses dias, eu vi você na sorveteria do nosso primeiro encontro. Eu senti uma vontade tão grande de correr para os seus braços, mas vi que outro já tinha feito isso. Vocês tomaram sorvete, se beijaram e deram tanta risada. Eu percebi que ele estava te fazendo feliz, já você então, nem se fala. Meu coração se despedaçou. Me responda uma coisa, se ainda estiver com ele: ele te trata como lixo, assim como eu tratei?
Eu imagino que a resposta seja não, e desejo ter sido pelo menos um aprendizado na sua vida, para que você não deixe mais nenhum idiota te fazer chorar. Eu espero que você tenha lido isso tudo até o fim, e espero de coração que você tenha me perdoado. Se eu não posso ter você, eu espero pelo menos ter o seu perdão. Eu te amo para sempre, minha bonequinha. 😔

Fico paralisada e boquiaberta. A mensagem que eu vivia esperando finalmente havia chegado. Aquela mesma mensagem que eu torcia para que chegasse um dia e me permitisse voltar com meu ex. Aquela mensagem que me tirava o sono e me fazia chorar, simplesmente porque ela nunca chegava. Eu passei meses me perguntando como seria quando ela chegasse. Ao terminar de ler o texto, eu senti como se tivessem tocado em um machucado antigo, uma lembrança doída. Aquela mensagem havia chegado, mas eu já nem fazia mais questão de recebê-la. Tantos e tantos dias pensando em qual seria a minha resposta quando eu a recebesse, e agora que ela chegou, eu creio que nem seja necessário respondê-la.

Suspiro e apago o número e
a mensagem.

- Desculpa a demora, meu anjo, eu não estava encontrando o pano, mas achei um atrás.... - ele faz uma pausa ao me ver olhando fixamente no celular, com os olhos marejados. Eu estava emocionada simplesmente pelo fato de que aquela mensagem não significava mais nada para mim. - Aconteceu alguma coisa, amor?

- Não aconteceu nada. Eu só estou emocionada por ter conseguido cicatrizar a ferida mais profunda da minha alma.