Capítulo Único


Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Déjate Amar" postada em 2018 no FFnet por N.Tonks.Lupin. O link da fanfic original está na sinopse.

— Como ele está? — pergunto preocupada assim que a porta se abre e Arthur Weasley afasta-se para me deixar entrar — O descobriram?

O senhor Weasley assente.

— Sim, prepararam uma emboscada pela manhã. Chegou há algumas horas — responde enquanto pega o casaco de minhas mãos e o guarda no armário da entrada.

— O quão ferido está? Ele vai se recuperar? Tem algo quebrado? — pergunto desesperada, e segundos depois escutou-se um grito masculino de dor em um dos quartos do andar de cima.

— Bastante, para dizer a verdade. Não só o atacaram como lobos durante a noite, mas também pela manhã com maldições e até socos.

Outro grito abaixou pelas escadas até nossos ouvidos.

— Tem algo que possa fazer, Arthur?

O senhor suspira e nega.

— Não pude ajudá-lo nem um pouco, são feridas muito profundas. Na verdade, deveria estar no St. Mungus, mas seria muito arriscado e se descobrissem de sua licantropia... Bem, os poucos que não sabem.

Assinto levemente e sento-me em um dos degraus da escada para esperar. Penso no que aconteceu à noite e esta manhã com Remus. Que maldições foram essas que lhe deixaram tão machucado? Como conseguiu escapar? Quando foi ao meu apartamento no natal, comentou que sua missão ia bem, que até mesmo conseguiu convencê-los a não unir-se a Voldemort, mesmo que não tivesse os trazido para o nosso lado. Como o descobriram? O que o delatou?

Tudo isso aconteceu por causa de sua estúpida teimosia. Desde que me declarei, pegou as missões mais perigosas, como se preferisse morrer antes de aceitar os seus sentimentos por mim, como se preferisse arriscar a sua vida do que passá-la comigo.

Molly interrompe os meus pensamentos quando surge na escadaria e grita:

— Arthur, mais toalhas, por favor! — desce o olhar para os degraus e, antes que possa dizer o meu nome, ponho um dedo em frente aos meus lábios, implorando para que fique quieta.

O senhor Weasley passa do meu lado até o primeiro andar para dar as toalhas a sua esposa, ela agradece e volta a entrar no quarto sem fechar a porta, onde escuto a dolorida e fraca voz de Remus:

— Não precisa continuar, Molly, sério. Tenho certeza de que Arthur precisa de você lá embaixo...

— Bobagem — responde a mulher — Arthur foi quem me passou essas toalhas, Remus. Agora vou dar uma olhada no seu pé... — tem alguns minutos de silêncio em que suponho que Molly está olhando para o seu pé, e de repente exclama — Remus! Santo céu! Isso está horrível. Sei que disse a mesma coisa do seu braço e das suas costas, mas isso está bem pior!

Por Merlin! Como estava o seu pé?

— O machucado das suas costas está voltando a sangrar, não deite sobre ele. Vou buscar por ajuda, fique quieto.

Se queria a minha presença em segredo, esqueci-me, pois em menos de duas piscadas, me levanto e subo as escadas, dando de cara com Molly, que pega o meu pulso e me puxa para dentro do quarto.

Quando entro pela porta, coro ao ver Remus deitado de barriga para baixo, sem camiseta nem calças, só de cueca — bastante usada, na verdade —, abraçando uma almofada e escondendo o rosto nela. Suas costas têm feridas parecidas com marcas de chicotes, suas pernas sustentam mordidas muito profundas, mas já curadas, um de seus ombros notavelmente deslocado e a planta do pé parece estar queimada em carne viva. Ao ouvir os seus passos, ele gira a cabeça até a porta e seus olhos se encontram com os meus, não consigo entender a mensagem que eles escondem. Felicidade? Frustração? Doçura? Vergonha? Ou uma mistura de tudo isso? Mesmo assim, e apesar dos breves segundos em que sua expressão permanece vazia, acaba dando-me um doce sorriso que chega aos seus olhos.

— Olá, Tonks — murmura com a voz doce e amável — Como tem estado?

Enquanto Molly destampa alguns frascos de ditamno e tira várias gazes dos armários, eu tento responder o mais normal possível, mas é óbvio que me dói vê-lo nesse estado.

— Bem, Remus. Obrigada — ele levanta uma sobrancelha sem acreditar em minhas palavras — Bom, pelo menos melhor do que você, sim — provoco, tentando mascarar a minha preocupação.

Sem desviar os olhos de mim e com um leve sorriso, responde:

— Tenho certeza de que sim — parece que vai dizer algo a mais quando a senhora Weasley passa do outro lado da cama e pede que não se mova enquanto o atendemos.

— Não tem que fazer isso, Tonks — murmura ao ver que pego um pano e o encharco com ditamno — Não se preocupe...

— Tudo bem. Eu me ofereci, na verdade — passo o tecido por suas costas o mais delicada que posso, tirando o sangue que escorre de sua ferida e ele deixa escapar um gemido de dor — Me desculpe — sou mais cuidadosa da vez seguinte, enquanto que Molly põe o pé de Remus em uma almofada e começa a curá-lo.

— Não se preocupe — responde, não dando importância ao seu desconforto.

Repito a ação umas quantas vezes até que a senhora Weasley me interrompe.

— Tonks, querida, eu preciso ir ver o forno. Acha que pode tomar conta? Só falta vendá-lo.

— Não, Molly, tudo bem. Tonks deve ter coisas a fazer — responde ele antes que eu possa fazer — Para dizer a verdade, acho que vocês já fizeram o suficiente...

— Eu tomo conta, Molly — o interrompo.

A mulher sai do quarto e encosta a porta, me deixando a sós com Remus.

— Não é preciso, Nymphadora — diz, começando a levantar-se com uma expressão de pura dor — Eu preciso falar com Dumbledore...

Seguro o seu antebraço e faço voltar a sentar-se na cama com cuidado, já que o seu ombro continua deslocado e um movimento brusco poderia causar mais dor do que já sentia.

— Hoje não, Remus, está muito machucado. Talvez amanhã — faço círculos com o meu polegar em sua pele e pego uma venda da mesa — Agora, deixe-me ver esse pé.

— Não deveria estar em outro lugar? — insiste.

Não posso evitar sentir-me rejeitada. Eu sou tão ruim curando? Por que insiste para que não o ajude se vejo em seus olhos o amor que sente por mim? Levanto o olhar da venda na minha mão e murmuro:

— Não, mas se estou te incomodando, posso ir.

Ele não responde imediatamente, apenas me observa com um olhar cristalino e indeciso. Tomo isso como um "sim". Talvez essa seja a sua maneira de aliviar a dor, afastando-se. Solto o seu braço e deixo a venda onde estava, mas não consigo dar dois passos quando ele segura o meu cotovelo.

— Não me incomoda, Tonks. Sabe disso — viro a cabeça para olhá-lo e continua — Só não quero que perca o seu tempo comigo.

— Não estou perdendo o meu tempo quando estou contigo, Remus. E mesmo que pudéssemos discutir sobre isso a noite inteira, não acho que o seu pé demore para voltar a sangrar — ele sorri e abaixa o olhar melancólico para o seu pé — Posso? — pergunto, pegando outra vez a venda da mesa com meu braço livre. Ele concorda com a cabeça e sento-me no chão para poder vendá-lo.

Com delicadeza, seguro o seu tornozelo e o apoio na minha coxa, abro o pacote da gaze e começo a passá-la pela área afetada, fazendo-o suspirar de alívio ao deixar de sentir o ardor. Enquanto trabalho, ele passa os dedos pelo meu cabelo e às vezes pela minha bochecha. Essas interações tão "íntimas" e carinhosas me fazem saber o quanto que me ama e, ao mesmo tempo, me fazem sofrer por sua recusa. Termino o seu pé e, ao levantar a cabeça, descubro que não deixou de me olhar o tempo inteiro.

— Te incomoda? — pergunto, me referindo à pressão da venda.

— Não. Obrigado, Tonks — diz com gratidão — Já não dói mais.

Sorrio, feliz de ter podido ajudá-lo e me ponho de pé. Com ele sentado na cama, minha cabeça está ligeiramente mais alta do que a sua.

— Se quer, posso pôr o seu ombro no lugar também.

Com um sorriso, ele concorda.

— Por favor.

Aproximo-me dele, pondo uma mão na parte de frente da sua articulação e a outra, com cuidado para não tocar suas feridas, nas suas costas nuas.

— Isso vai doer — o olho e ele assente com pesar. Coitado, deve estar cansado de tanta dor — Pronto?

— Vá em frente.

No momento em que empurro o seu ombro firmemente para trás, ele deixa escapar um grunhido de dor e o ombro volta a se encaixar no lugar.

— Eu sinto muito — murmuro.

Entre ofegos e com a cabeça abaixada, murmura "obrigado" e toca no ombro, movendo-o para testar a mobilidade. Sem pensar, passo meus dedos pelo seu cabelo grisalho e vejo como fecha os olhos e sorri diante do meu carinho.

— Depois desses difíceis meses, o seu contato é uma delícia — sussurra sem abrir os olhos. Eu também sorrio, para mim o seu contato é vida e vê-lo é como a glória. Desço a minha mão pelo seu rosto e encaixo sua bochecha em minha palma, mas quando passo para o seu pescoço — cheio de novos arranhões — e tenta aproximar-se de mim, faz um careta e solta um gemido.

— O que houve? — pergunto — Eu te machuquei?

— Não — responde com dificuldade.

— Então o quê? — insisto — O que tá doendo? — estou examinando o seu corpo quando vejo uma gota de sangue escorrer pela lateral de seu corpo, quase nas costas. Antes que começo a protestar, pego um pano e peço — Deita de barriga.

Hesitante, ele obedece. Sento-me no canto da cama e limpo suas feridas com suavidade. Ele volta a suspirar e posso ver pelos seus músculos relaxando que a dor diminui. Já sem sangue em suas costas e com os arranhões limpos, observo que essas feridas não foram feitas com magia, mas sim com algo. Duvidando em perguntar o que aconteceu, passo uma pomada por toda a sua extensão. No final, quando chego a sua lombar, pergunto:

— Remus... — vacilo e estou a ponto de mudar de assunto. Não quero arruinar o momento. Estou há meses sem vê-lo e só quero passar o maior tempo com ele, fazendo-o sentir-se bem comigo.

— Sim? — responde entre as almofadas nesse tom tão... romântico.

— Posso...? — engulo em seco — Posso perguntar o que aconteceu? — digo em um sussurro.

Ele não responde, em vez disso suspira quando passo a pomada em seu ombro dolorido pela deslocação, o massageio um pouco e dou a conversa como encerrada quando ele responde:

— Me descobriram — sem querer pressioná-lo, fico calada sem deixar de esfregar o seu ombro, que se relaxa pouco a pouco — Mas acho que quer que eu seja mais específico.

— Não quero te forçar a falar, Remus. Se quiser, pode me contar depois... — pego mais da pomada no frasco e a esquento em minhas mãos — ou não — digo antes de passar minhas mãos por seus ombros, ele solta um gemido de aprovação quando meus polegares massageiam embaixo de sua nuca e em suas lombares, cujas articulações resistem à minha pressão — Te machuquei? — pergunto preocupada.

Suspira antes de responder:

— Não — se ergue em seus cotovelos e gira um pouco a cabeça para me olhar com um tímido sorriso — Na verdade, foi bom — ele desce os olhos para a almofada um momento e então os levanta e os fixas nos meus — Obrigado, linda — sussurra. Eu congelo ao ouvir essa palavra sair de sua boca. Nunca tinha me chamado assim e prefiro pensar que não aconteceu devido ao seu estado convalescente, muito menos por pena. Suspira novamente antes de continuar — Como imagino que já te disseram, criaram uma emboscada. O beta me viu enviando uma carta que era para Dumbledore, por sorte não sabia para quem era, mas foi contar a Fenrir... Acho que pode imaginar o que aconteceu depois.

Torço a boca ao imaginar a situação que teve que passar e penso em milhares de coisas possíveis que poderiam tê-lo feito para deixá-lo daquele jeito.

— Não se preocupe — murmura e estica a mão para alcançar a minha — Estou bem.

Assinto e sorrio timidamente justo quando a porta se abre e entra Molly com uma bandeja de comida em mãos. Aproximo-me para ajudá-la a colocá-la na mesa do quarto enquanto ela observa o meu trabalho.

— Vejo que já está melhor, Remus, mas não deite em cima das suas costas, a pomada deve fazer efeito — diz enquanto sirvo uma caneca de chocolate e ponho um pedaço de bolo recém saído do forno em um prato.

— Tonks é uma excelente cuidadora — ele diz a mulher — Obrigado por tudo, Molly — chego ao canto da cama e Remus ergue a cabeça para me olhar —, Tonks.

— Não há de quê, querido — responde a senhora Weasley e esfrega o seu antebraço — Precisam de algo? Também trouxe comida para você, Tonks. Supus que quisessem ficar sozinho por algum tempo, então Arthur e eu jantaremos lá embaixo — a olho perplexa, pois esperava que fosse mil vezes mais discreta, mas Remus não parece se importar nem um pouco.

— Obrigado outra vez, Molly — sorri — Agradeça a Arthur por mim, por favor.

Ela assente, se põe de pé e caminha até a porta para nos deixar a sós mais uma vez.

— Aqui — digo, entregando-lhe o prato e deixando o copo na mesa de cabeceira quando a porta se fecha. Assim que dá a primeira mordida, se mexe na cama e começa a se erguer — Remus...

— Calma — ele debocha —, só vou me sentar. Senão, vou acordar com corujas comendo migalhas por toda a cama.

Se tem algo que adoro nele é seu positivismo e amabilidade. Não importa o quão ruim esteja o dia, ou como ele está, sempre é gentil e reconfortante para as pessoas. Pega o seu copo e, sorridente, dá um longo gole no chocolate quente.

— Desde quando gosta tanto de chocolate? — pergunto divertida ao ver que esvaziou metade da caneca em apenas uma engolida.

Grunhe enquanto engole e responde:

— Desde que era criança. Minha mãe costumava me dar chocolate depois da lua — assinto com a cabeça. Não posso imaginar a dor de sua mãe quando Remus se transformava quando criança... — Não vai comer, Tonks? — murmura, mordendo o bolo novamente e interrompendo os meus pensamentos.

Suspiro e nego com a cabeça.

— Não tô com fome, de verdade.

Remus termina de mastigar e deixa o copo na mesa sem desviar os olhos dos meus. Espera alguns minutos antes de abaixar o olhar rapidamente e voltar a me olhar:

— Deveria comer, Tonks. Precisa de energia se quer continuar nesse ritmo.

— Meu "ritmo" não demanda muito — debocho.

— Não demanda? — ele retruca com sua serenidade habitual — É espiã da Ordem, vigia os terrenos do castelo, trabalha no Ministério, que te leva a caçar criminosos cinco dias por semana, você mal dorme e sua saúde está cada vez mais...

— Remus, não tem que me repreender como se fosse o meu pai — o interrompo — Eu sabia no que estava me metendo...

— Não, não. Não me refiro que não possa com isso — ele me corta — Me refiro a... Não pode continuar se descuidando assim, Tonks, precisa de um descanso...

— Diz como se eu fosse importante, Remus. Relaxa — rio sem humor.

É importante, Nymphadora — diz seriamente e sem mover os olhos dos meus.

Espero alguns segundos e sussurro esperando escutar a resposta que quero ouvir:

— Para quem?

Leva os seus olhos para o chão e suspira.

— Para todos — faço uma careta, decepcionada com a resposta. Ele percebe e continua — Para mim também, Tonks. Você sabe disso.

— Se sou, então por que faz isso? — replicou em voz baixa.

Torce a boca e também deixa o prato na mesa de cabeceira. Percebo que não deveria ter dito isso, ele estava ferido havia menos de dez minutos, sua cara mostrava o seu cansaço e quando massageei suas costas pude notar a tensão que carregou por quase seis meses. Que egoísta que eu sou.

— Tonks... — murmura, mas não o deixo terminar.

— Me desculpe, me desculpe, me desculpe — ergo a mão para que ele fique quieto — Sou uma egoísta sem coração, está cansado e eu não deveria te incomodar com as minhas coisas...

— Não me incomoda — ele interrompe — Nunca estou cansado de você, mas isso não significa que estar juntos seja o certo.

O olho perplexa e sinto a raiva subir por minhas veias e a tristeza acumular-se em meus olhos.

— Não me mal interprete, Tonks — diz ao ver a minha reação —, não é que eu não queria, eu quero, mas não...

— Não pode. Eu já sei — o corto — Você já me disse isso — suspiro e continuo antes que possa dizer algo — É melhor que eu vá. Amanhã tenho junta no Ministério na primeira hora do dia — minto. Faço justamente o que não pretendia: fazê-lo passar por um mau momento.

Me ponho de pé e caminho até a porta enquanto ele pede:

— Não vá, por favor.

Encosto no batente da porta e viro-me para olhá-lo. Ele se põe de pé e tenta caminhar até mim, mas tropeça e cai sem reclamar ou fazer alguma careta.

— Remus! — aproximo-me para ajudá-lo a se levantar e sentar-se no canto da cama — Não consegue ficar parado?

A porta se abre rapidamente e a senhora Weasley entra com o avental posto.

— O que derrubou, Tonks?

Apesar da queda, Remus ri e responde:

— Fui eu, Molly. Escorreguei.

A mulher me olha arrependida e responde:

— Ah, bem, eu sinto muito, Tonks, foi o costume... — ela ri e observa a Lupin, que fala antes dela.

— Queria pegar o meu casaco da cadeira — explica.

O agradeço por encobrir a nossa pequena discussão, mas ele esqueceu-se das feridas em suas costas...

— Como vai se cobrir se está com pomada nas costas, Remus? — questiona e olha a nós dois sucessivamente — Aconteceu alguma coisa?

Sei que ela suspeita, já que sabe os meus sentimentos por Lupin, mas resolvo ir na onda dele.

— Não, Molly — sorrio — Mas eu tenho que ir. Amanhã tem junta no Ministério e eu tenho que dormir — menciono ao aproximar-me dela com a intenção de sair do lugar o mais rápido possível.

— Junta? Arthur não me disse nada...

— É... É que avisaram de última hora — gaguejo — Disseram quando ele já tinha saído — caminho até a porta de cabeça abaixada com a esperança que entendesse a indireta, mas não.

— Você saiu antes de Arthur, Tonks — diz e volta a nos olhar — Uma hora, segundo ele.

Antes de virar-me, sinto dois pares de olhos cravados nas minhas costas. Remus parece decepcionado e magoado; enquanto que Molly, confusa. Envergonhada, vou responder quando ela prossegue:

— É a primeira vez em meses em que podem estar juntos. Querem fazer o favor de passar uma boa noite? — move as mãos exasperadas enquanto fala e as apoia na cintura — Você — aponta para mim — está perdidamente apaixonada por ele... — eu coro até as orelhas e arregalo os olhos. Ela não podia ser um pouco mais prudente? — E você — vira-se para Remus — não consegue viver sem ela, mas mantém essa postura ridícula...

— Molly — Lupin tenta acalmá-la, mas a senhora Weasley parece não escutá-lo.

— Preparei o quarto do lado — me diz — para que possam estar próximos, se possível, em paz. Agora, os deixo porque tenho que lavar o uniforme de Arthur — termina e vira-se para ir até a porta, mas antes de sair volta a falar — Tem que comer, jovenzinha — seus olhos pousam em Lupin — Deixo isso contigo.

Ele assente com um leve sorriso e vejo Molly fechar a porta. Abaixo a cabeça, envergonhada e sinto os olhos de Remus cravados em mim. Fico em dúvida se falo ou não, deve estar chateado com a minha mentira, praticamente dei a entender que não queria estar com ele. É ele quem toma a palavra:

— Janta comigo?

Levanto a cabeça timidamente e vejo que sorri como se nada tivesse acontecido.

— Por favor? — insiste e não posso resistir.

Sem dizer uma palavra, aproximo-me da mesa e ponho um pedaço de bolo em um prato da bandeja junto de uma taça de chocolate quente. Remus alcança a varinha da mesa e a agita para aproximar uma poltrona do lado da cama.

— Obrigada — sussurro e me sento, ainda sentindo-me culpada, mas disposta a me redimir pelo meu erro, murmuro — Me desculpe, por favor. Não era a minha intenção te estressar, é só que...

— Tonks — me interrompe —, não tem problema — sorri e indica a minha comida com a cabeça — Come — pede — Tenho uma tarefa para cumprir — rimos levemente e ele pega o seu prato da mesa. Depois de algumas mordidas, volta a falar — Como esteve tudo por aqui? Notícias de Harry?

Engulo a comida antes de responder:

— Poucas. O encontrei enfeitiçado por Malfoy no Expresso no início do ano, e não faz muito que o vi no corredor de Hogwarts, não parecia estar mal — digo enquanto ele termina o seu chocolate.

— Enfeitiçado? Por Malfoy? — pergunta assim que deixo o meu prato e copo na mesa, e pego o seu copo para servir-lhe de novo.

Concordo enquanto sirvo o chocolate do bule e ofereço outro pedaço de bolo.

— Por favor — me agradece com um sorriso e volto ao meu lugar para continuar nosso jantar — Como? O que aconteceu?

— Eu não sei bem, mas tinha o nariz quebrado — respondo e continuamos conversando conforme comemos. Quando digo isso, Remus arregala os olhos, mas continua com a sua habitual calmaria.

— Sempre tiveram problemas — diz —, Malfoy não é exatamente amigável.

Resmungo enquanto mastigo e falo com a boca cheia:

— Não me lembre da minha família, por favor — brinco.

Incrivelmente, sinto como se esses últimos meses não tivessem acontecido. Nossa confiança não regrediu, nem os seus sentimentos, pois através de seus olhos posso ver o homem que se esconde por medo da sociedade, da rejeição e da solidão. Um homem com o coração mais honesto e puro que existe e que, mesmo que tenha sofrido eugenia, maus tratos e ódio, continua sendo amoroso como no primeiro dia. O homem com o coração pelo qual me apaixonei.

— Não tem nada a ver com eles, Tonks — murmura sem parar de sorrir —, eu te garanto isso.

Eu sorrio de volta e respondo com timidez:

— Obrigada, e... — engulo um pedaço, nervosa por sua reação diante do que vou dizer — Se me permite o comentário, você também não tem nada a ver com eles — refiro-me aos lobisomens.

Seu sorriso se converte em uma careta e abaixa o olhar para a sua comida.

— Não sabe as coisas que fiz, Tonks — murmura.

Repouso o prato em minhas coxas e estico um braço para alcançar a sua mão.

— Fez o que precisava para sobreviver. Não tem culpa. Você não é assim.

Levanta a cabeça assim que eu o toco, cravando seu olhar envergonhado ao meu. Vai responder, mas sei que suas palavras só o fariam sentir-se pior, então o interrompo:

— É um grande homem, Remus. Homem. Humano. Não é como eles. Sua condição não te define — ponho-me de pé, derrubando o prato no momento e faço, inconscientemente, o que queria fazer por tanto tempo: o beijo.

Remus não se afasta, mas também não corresponde ao beijo, apenas fica estático e tenso. Separo os nossos lábios e sinto o seu hálito em meu rosto.

— Tonks, isso não...

— Relaxa — murmuro antes de roçar os meus lábios em sua testa —, não passará de um beijo.

Solta um longo suspiro e concorda, posteriormente, afasto-me de seu rosto com um amplo sorriso e o convido a continuar com o jantar. Remus, com um movimento de varinha, conserta o meu prato e se move para que eu possa sentar-me ao seu lado. Durante mais de duas horas, conversamos, brincamos e rimos. Não sei se Molly escutou nossas risadas, mas ela não voltou a aparecer. Já bem de noite, começamos a bocejar, então eu recolho nossos pratos e os coloco novamente na bandeja para levar para a cozinha. Antes de sair, prometo voltar para ver os seus machucados.

Já na cozinha, lavo, seco e guardo os pratos e sorrio feliz por ter ficado. Apesar do mal entendido, pudemos passar um bom tempo, jantar à vontade e até mesmo o beijei... Não importava a sua atitude, pude notar que ele também desejava esse beijo.

Não querendo perder tempo, me apresso a subir as escadas — tropeçando duas vezes no mesmo degrau — e chego ao quarto. Remus na mesma posição de quando o curava: deitado sobre a barriga, os cotovelos sustentando o seu corpo.

— Tudo bem? — pergunta e eu franzo o cenho, fingindo estar confusa. Fui tão barulhenta? — Te ouvi cair...

Sinto minhas bochechas coradas enquanto sorrio e concordo.

— Obrigada — Remus ri entredentes ao ver minha vergonha e me observa enquanto rodeio a cama até chegar ao seu lado, onde pego o ditamno e pomada da mesa de cabeceira.

— Pode chegar pra lá? É mais fácil se estou sentada — peço e ele se move até o meio da cama. Eu poderia fazer de pé, mas sentada me deixa mais próxima dele, e desejo que a noite não acabe apesar de estar a ponto — Deite-se, por favor — Remus obedece e coloca a sua cabeça de lado com os braços aos seus lados.

Quando reviso as feridas de suas costas, percebo que nenhuma voltou a sangrar, então não ponho nada. Por outro lado, seu ombro já não parece deslocado, mas ainda se contrai quando o toco.

— Relaxa, Remus — suplico em um sussurro enquanto esquento um pouco da pomada em minhas mãos para depois massagear os seus músculos pela segunda vez na noite. Esfrego sua nuca e um pouco de seus braços, conseguindo em poucos minutos que ele deixe escapar um gemido satisfatório de seus lábios.

— É boa nisso — murmura com a voz rouca.

Sorrio diante do seu comentário e para agradá-lo mais, pergunto:

— Onde?

Espera alguns segundos em que cutuco um ponto no seu pescoço e responde com um pouco de vergonha:

— Poderia... massagear a lombar? Realmente me ajudou muito mais cedo...

— Claro — respondo movendo as minhas mãos mais para baixo em suas costas e massageando-a em pequenos círculos, o que o fez suspirar — Assim?

— Sim — sussurra.

Suas costas voltam a reclamar por causa da tensão acumulada em tanto tempo, e com o passar dos minutos, todos os seus músculos relaxam consideravelmente.

— Onde mais? — murmuro.

— Assim está bem, Tonks, obrigado — detenho a massagem com minha mão no colchão, a qual ele alcança e a beija — Obrigado — repete.

— Não tem de quê — respondo acariciando o seu cabelo com a minha mão livre — Vou ver o seu pé, tá bem? — assente e solta a minha mão enquanto me ergo para buscar outra faixa na mesa e vou até a pé da cama para desfazer a venda anterior. A ferida ainda é recente, mas já não é tão grave, então apenas a limpo e volto a enfaixá-la — Pronto — aviso com um sorriso enquanto ele me observa ajoelhar-me ao seu lado — O que mais eu posso fazer?

Ele nega.

— Faz mais do que merecia que fizesse por mim, Tonks. Obrigado, linda — assim como antes, volto a corar como tomate, o que faz rir — É tão terna... — tira uma mão da cama para passar o seu polegar em minha bochecha. Fecho os olhos e suspiro, desejando que o tempo pare e aquele momento não acabe e, para ser honesta, ele parece pensar o mesmo que eu, pois estende o seu carinho para a minha testa, nariz e cabelo, onde fica acariciando-me. Depois de alguns momentos, sinto algo diferente, algo que não sinto faz algum tempo — Sempre pensei que você fica linda com essa cor.

Abro os olhos e o vejo com o mesmo sorriso, mas com um brilho particular nos olhos. Por um acaso...?

Parecendo ler os meus pensamentos, diz com voz suave:

— É rosa de novo.

Solto o ar e vou até o espelho, onde confirmo o seu comentário. Volto a fechar os olhos e tentou mudar, mas por medo do resultado, não os abro.

— Lindo tom de loiro — consigo ouvir o sorriso em sua voz.

Ainda com os olhos fechados, repito o ato várias vezes, disfrutando novamente de minha capacidade metamorfomágica.

— Azul, roxo, verde, vermelho, prateado, laranja... — entre risadas, vai dizendo as cores que o meu cabelo assume de acordo com minha vontade, no entanto, no final, volto à minha cor favorita — Rosa — termina. Abro os olhos e volto a olhá-lo. Sua expressão é doce e seu sorriso ainda mais amplo do que antes — Está maravilhosa, Nymphadora.

Levanto uma sobrancelha e rio com maldade.

— Que bom que estou de bom humor, ou já estaria pendurado no lustre.

Remus solta uma gargalhada antes que eu volte a aproximar-me.

— Não vejo o problema com seu nome, Nymphadora.

Rio, sentando-me na ponta da cama e reclamo:

— Porque é horrível! Não entendo o que minha mãe estava pensando, para ser sincera — Remus nega com a cabeça e me olha nos olhos.

— Não é verdade — murmura — Se minha opinião conta, deixe-me dizer que é um nome muito delicado, como as ninfas — diz sem afastar seu olhar do meu e me derreto com os seus olhar.

Quem diria que um homem com um passado tão duro podia ser tão carinhoso? Como é possível que um homem tão maravilhoso tenha que estar tão preso dentro de si mesmo devido ao preconceito de tantas pessoas? Cativada, pouso uma mão no colchão e me inclino até o seu rosto.

— Sua opinião é muito importante para mim, Remus.

Dessa vez não sou eu quem se aproxima, é ele, que, tentando não cair de seus cotovelos e manter-se nessa posição, roça os seus lábios com os meus, respondo ao seu beijo, mas não aprofundo, não quero estragar tudo. Alguns beijos depois, encosto a minha testa na sua e ambos respiramos fundo.

— Sei que não deveria fazer isso, mas não me arrependo — diz com a respiração ofegante.

— Eu não tenho nada contra.

Ele solta o ar de uma voz, rindo.

— Eu sei — murmura e ficando sério, fecha os olhos e desfruta da sensação de proximidade. Cerca de um minuto, Remus abre os olhos e ergue o queixo para beijar a minha testa — Deveria dormir — sussurra em minha pele.

— Não quero dormir.

Sinto seu riso em meu cabelo e abaixa a cabeça para ver meus olhos.

— Mas deve — diz sem desfazer o sorriso — Por mim? — não posso resistir, mas tenho medo de ir e não voltar a vê-lo.

— Não quero que vá — respondo e volto a encostar nossos lábios, tentando acalmar os meus medos e saciar o vazio da minha alma.

Remus não me afasta, pelo contrário, parece compartilhar do sentimento, então me aproximo mais dele e entrelaço meus dedos com uma de suas mãos, cujas laterais se apoiam no colchão. Interrompo o beijo e passo meus lábios por cada cicatriz de seu rosto e em seu cabelo acinzentado, que desprende um delicioso perfume masculino que me embriaga. Ele responde beijando suavemente a pele do meu pescoço, até chegar ao meu ombro, que descobriu com sua mão livre.

— Te amo — murmuro em seu ouvido quando ambos detemos nossos beijos para respirar — Te amo muito, Remus — reafirmo, enquanto ele mantém os seus olhos fechados.

Não responde, e está tudo bem, prefiro seu silêncio a uma rejeição. No entanto, quando olho em cima de sua cabeça, percebo que é uma da manhã. E, além de precisar trabalhar amanhã, ele precisa descansar para se recompor.

— Você também tem que dormir, meu amor — a última palavra escapa de meus lábios, mas não me arrependo, então continuo falando — Nos vemos amanhã?

Em vez de responder a minha pergunta, aperta um pouco minha mão com a sua e diz com a voz quase inaudível:

— Farei tudo o que puder para te proteger, Tonks. Nem que eu morra tentando — sorrio e traduzo isso como um "te amo", mesmo que já saiba disso e que ele nunca verbalizará. Pelo menos não esta noite.

— Eu sei — sussurro antes de beijar sua testa e levantar-me, sem vontade de ir, mas com muito sono, para ir até a porta, onde viro-me para vê-lo. Seus olhos não deixaram de me olhar em meu curto caminho — Descanse — sorrio.

Ele repete o meu gesto com um olhar doce e diz:

— Dorme bem, Nymphadora.

Meu sorriso se amplia ainda mais enquanto abro a porta.

— Só você pode me chamar assim — o respondo em voz baixa.

Ele ri entredentes enquanto saio do quarto e fecho atrás de mim. Pelo que posso ver, os Weasleys já estão adormecidos, então tentando não fazer barulho, vou ao quarto ao lado, onde uma flamejante lareira esquenta o ambiente e a cabeceira da cama igual a do quarto de Remus.

Ao sentar-me no colchão, sinto o cansaço e estresse de todo o dia cair sobre mim, assim que tirou a minha roupa e ponho o pijama que Molly me deixou em cima da mesa, meto-me por baixo das cobertas e sem deixar de pensar nos momentos compartilhados durante a noite junto ao homem que tem minha alma e coração, fico adormecida.

Na manhã seguinte, o som dos pratos e talheres na cozinha me acorda. Vejo o relógio e praguejo ao ver que estou atrasada, porém minha angústia se acaba quando vejo um bilhete ao lado de minha varinha.

Tonks:

Suponho que ficaram até tarde acordados, então Arthur avisará que está doente. Durma até a hora que quiser, querida.

Molly.

Suspiro de alívio e deixo a nota onde estava para voltar a dormir. Volto a me cobrir nas cobertas e giro na cama onde estou. Na almofada conjunta, uma folha dobrada pela metade e uma rosa. Não preciso adivinhar de quem é. Pego a rosa e sinto o seu cheiro, mais do que de uma flor, é dele. Depois, sento-me com as costas na cabeceira e leio a carta escrita com uma caligrafia impecável.

Querida Nymphadora:

Sorriu diante do privilégio que tem de me chamar assim.

Espero que tenha dormido bem, linda. Pensei em me despedir pessoalmente, mas dormia tão tranquila que não tive coragem de te acordar, sinto muito. Fui ver Dumbledore para fazer o relatório do que aconteceu há duas noites e começar uma nova missão. No entanto, queria agradecer por ontem a noite: obrigada pelo maravilhoso tempo que passamos juntos, Tonks. Obrigado por me curar: suas mãos são as mais talentosas que já conheci e não tenho palavras para dizer o bem que me sinto graças a ti. O seu carinho encheu o vazio que meu coração sentiu durante tantos anos. Obrigado.

Toco o meu peito diante de tal frase e sinto meu coração bater fortemente, mas tudo isso some quando leio o seguinte parágrafo:

Contudo, como te disse, farei o que puder para te proteger. Então terei que te pedir para que nossa relação continue como tem sido este ano. Sou muito perigoso para você, muito pobre e bem mais velho, como já te disse várias vezes, e apesar de não se importar com isso, eu me importo. É uma mulher maravilhosa, Tonks, e te asseguro que muitos homens morreriam para te ter. Dê o seu coração a quem mais te mereça, mas eu te dou o meu. Não é valioso, nem muito menos importante, mas te ama mais do que fez em toda a sua vida.

Sempre te protegerei de tudo, inclusive de mim, e farei o que puder para fazer-te feliz, mesmo que isso signifique deixá-la de novo.

Se recuperará. Sei que sim, é muito forte e valente.

Espero ver-te logo em alguma reunião da ordem. Não esqueça o que pedi, por favor.

Cuide-se,

Remus.

As lágrimas escorrem descontroladamente por minhas bochechas e sinto meu coração contrair-se dentro de meu peito. Voltou a me deixar. Releio a carta duas vezes mais e a deixo em cima da mesa. Sem deixar de chorar, deito-me olhando ao espelho de corpo inteiro enquanto abraço uma almofada. Durante cerca de uma hora, choro sem parar, até que fico sem lágrimas e sem vontade de seguir em frente. No entanto, tomo um pouco da dignidade que me resta e me forço a levantar para tomar um banho. Ao passar pelo espelho, noto que minhas cores voltaram a desvanecer-se, meu cabelo preto ressalta junto de minha pálida pele. Pego minha roupa e vou até o banheiro, onde volto a chorar sem lágrimas. Ainda que Remus diga que ele não possui o meu coração, ele possui. Sempre o fez e sempre o fará.

Ao sair do banho, ajeito o quarto e, ao arrumar a cama, cai ao chão aquela vermelha rosa que o homem de minha vida me deu. A pego e voltou a cheirá-la mais uma vez antes de jogá-la na lareira acesa desde a noite passada.

Se ele não está, não quero cores em minha vida.

E se ele não está, meu coração também não.

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