Capítulo 2
— Por que você é assim?
Sara murmurou baixo enquanto deixava que as lágrimas descessem pelo rosto.
Seu ex-marido tinha um jeito complicado e estranho de ser. Visivelmente, ele ainda lhe amava, mas mesmo assim foi capaz de terminar o casamento deles lá atrás, com a "desculpa" de que estava fazendo aquilo porque era o melhor para Sara. Se ele soubesse que sua atitude de pedir o divórcio, na verdade, foi a pior coisa que já fez pela esposa, não teria tomado tal decisão.
Para Sara o melhor sempre foi estar ao lado de Grissom, estar com ele. É verdade que as coisas andaram complicadas e difíceis para eles nos meses em que antecederam o divórcio. Manter um casamento à distância não parecia mais estar dando tão certo como era logo no começo.
As exigências do trabalho dela cada vez maiores e as dele também com expedições aqui e acolá, começaram a minar mais ainda a situação e os poucos encontros que podiam ter no mês.
Contudo, eles ainda se amavam. Sara sentia que Grissom lhe amava da mesma maneira e intensidade com a qual ela também o amava. E com isso, a mulher achou verdadeiramente que o amor que ainda sentiam um pelo outro fosse tanto fazer o casamento deles resistir aquele abalo que a distância estava causando na relação que mantinham, quanto resistir aos empecilhos e imposições que o destino estava colocando à eles.
Mas aí, seu até então marido, veio em uma manhã com a terrível conversa à respeito de pedido de divórcio e Sara se deu conta de que estava completamente errada quanto ao que achava. E, foi assim que, seu "conto de fadas" que naquele momento passava por sérias turbulências, chegou ao fim sem que essa fosse da vontade de Sara.
Com o rosto molhado pelas lágrimas que teimavam por rolarem soltas, a nova diretora do laboratório, não resistiu em tocar o rosto do ex que estampava a tela da TV. Ela havia dado pause no final daquele vídeo e a imagem de Grissom ficou "congelada" na tela do aparelho.
O olhar triste de seu ex e a expressão visivelmente abatida e cansada dele, dilaceraram o coração da mulher. Grissom não parecia nem sombra do que costumava ser quando eles viviam os bons tempos do relacionamento deles, incluindo o início do casamento.
Sara também não era mais a mesma daqueles mesmos tempos. Triste, sem o mesmo brilho no olhar e não tendo mais a sua alegria de antes, ela viveu seu pequeno inferno durante longos meses após o divórcio. Os amigos de trabalho foram testemunhas do calvário que ela passou. Inclusive, eles, principalmente Greg e Nick foram essenciais para sua retomada de vida sem Grissom.
O fim do casamento causou à ela e à sua vida um estrago. Coisas em Sara mudaram depois do enlace matrimonial desfeito. Porém uma coisa ainda continuava intacta, apesar de toda a decepção que houve: seu grande e incondicional amor pelo ex-marido.
Mesmo com o término imposto por Grissom, Sara seguia amando-o. Seu ex seria seu eterno amor, mesmo depois do fim de um casamento que ela, ilusoriamente chegou a acreditar lá atrás que seria para sempre, como foi jurado por ambos nos votos que trocaram na simplória cerimônia de casamento, realizada em uma pequena capela em Paris.
"Estaremos unidos neste matrimônio para sempre!"
Só que infelizmente não foi bem, posto que o casamento teve um fim.
— O que eu faço com você, Gil?
Quando ela pensou que ele parecia estar bem sem ela, vivendo sua vida cigana pelos mares, livre do compromisso que os unia, da mesma forma, que ela também tentava seguir (com certa dificuldade) sua própria vida sem ele. Sara acaba descobrindo através daquele vídeo que não era bem assim que 'a banda tocava' para seu ex-marido.
Ele não parecia nada bem sem ela. Mais magro. Abatido. Fisionomia cansada. Mais parecia o retrato do que ela foi por meses após a assinatura do divórcio.
A julgar pela afirmação de Grissom à Heather sobre sentir falta da ex-mulher pelo resto da vida, Sara concluiu que ele ainda a amava.
Ela também ainda o amava. Mais que tudo, inclusive!
Para ela era difícil esquecê-lo. Ele lhe fazia e faria falta pelo resto da vida dela também.
Eles foram mais que somente um casal durante o tempo em que estiveram juntos. Foram amigos, parceiros, amantes e houve um tempo lá atrás, que Sara chegou até a pensar que eram também: almas gêmeas.
Mas aí de novo a questão do divórcio para fazer cair por terra isso que achava.
Deus! Por que ela foi ver aquele CD?
Tal objeto só fez bagunçar seus sentimentos e mexer com suas emoções, a ponto de trazê-las à tona de maneira muito mais intensa do que Sara imaginava que as sentia.
Uma batida na porta da sala e Sara enxugou rapidamente seu rosto, desligou a TV as pressas e autorizou a entrada de quem quer que batia.
Viu sua velha amiga e ex-companheira de anos de trabalho adentrar na sala.
— Ei! Vim cumprimentar a nova diretora do laboratório. Ainda não tinha tido tempo pra isso. - Catherine a abraçou carinhosamente.
A ex-CSI loira sabia que aquele cargo era puxado e exigiria muito de sua velha amiga, mas tinha certeza que Sara estava mais do que preparada para esse novo desafio.
— Você mereceu com honras chegar onde chegou. Vi o seu amadurecimento e crescimento aqui dentro. Tenho certeza que será uma excelente diretora nesse laboratório, Sara.
Lá atrás quando conheceu Sara, Catherine não escondeu de ninguém nem mesmo da morena, que não gostou da vinda da até então novata para o laboratório. Torceu o nariz para a "amiga" de Grissom e até implicou com ela no primeiro contato que as duas mulheres tiveram. Na opinião da ex-CSI mais velha, Sara tinha vindo só xeretar sobre o episódio que envolveu a morte de Holly Gribbs, uma CSI novata que devia estar sendo pajeada por Warrick Brown, outro CSI mais experiente, que deixou-a sozinha numa cena de crime para ir jogar em um cassino. A novata acabou sendo baleada por um sujeito e vindo a óbito no hospital.
Mas o tempo fez com que Catherine fosse se simpatizando com Sara e ambas acabaram se tornando duas grandes amigas e por muitas vezes até confidentes.
— Obrigada pelas palavras, Catherine.
— Que isso! Você merece cada uma delas.
A loira desfez o abraço com a amiga. E ao encarar bem Sara foi que Catherine percebeu evidências na amiga de ela havia chorado.
— Sara o que houve, você estava chorando?
— Chorando de emoção. O novo posto me deixou emocionada. - Mentiu, porque não quis compartilhar naquele momento com a amiga a real razão de suas lágrimas. — Sempre almejei chegar aqui. E ver isso acontecer, me trouxe algumas lágrimas.
— Sei bem como é isso. Eu devo te confessar que sente certa nostalgia ao pisar aqui novamente. Esse laboratório é especial pra mim. E trabalhar mais uma vez com você, Greg, Jim e Grissom foi o melhor. Foi a nossa velha equipe trabalhando junta de novo, ou melhor, parte dela já que faltou o Nick e sempre faltará o Warrick.
— Sim.
Houve um breve instante de silêncio entre elas. Mencionar o ex-companheiro de trabalho, que foi assassinado covardimente era sempre doloroso. Warrick não merecia aquele trágico fim que teve.
— Soube que Nick está indo muito bem em San Diego. - Catherine tornou a se pronunciar, mudando de assunto para desfazer o silêncio incômodo que havia se instaurado entre ela e Sara.
— Sim. Falei com ele semana passada. - Confirmou a morena com um sorriso.
Nick e ela mantinham contato com frequência apesar da distância. Antes de partir o texano lhe prometeu que mesmo longe jamais ia "largar do pé" da amiga morena em hipótese alguma. E ele vinha mantendo isso! Religiosamente, uma vez por semana, Nick ligava para saber sobre ela e os demais amigos.
— Posso te confidenciar uma coisa, Sara? - Catherine tocou o braço da amiga.
— Claro!
— Gostei tanto de ver você e Grissom trabalhando lado a lado de novo. Me fez recordar dos tempos em que eram o casal da equipe. Os meninos implicavam com você dizendo que era a "mulher do chefe" e que não iam ficar tirando brincadeiras com você, lembra? - a loira sorriu.
— Lembro! - Sara também sorriu da lembrança.
As piadinhas que aqueles três faziam com ela quando Grissom não estava por perto eram constantes. Nick era o que mais lhe provocava.
— Eles não davam trégua. E só faziam brincadeiras quando o Gil não estava por perto, com medo de levarem suspensão do chefe. - Lembrou a loira com alegria.
Catherine achou uma pena que o casamento de seus amigos não tenha dado certo, porque eles mesmo com seus jeitos estranhos pareciam se completar de uma forma tão perfeita e acertada, que foi um choque quando soube do fim da relação dos dois por intermédio do próprio Grissom, que lhe ligou triste para dar a notícia.
— Eles eram terríveis.
— Se eram. Mas além de me fazer lembrar disso, vê-la com o Grissom também me fez recordar o quanto você e aquele cabeça dura sempre funcionam muito melhor juntos do que separados. Vocês são uma dupla perfeita, Sara.
A loira piscou para a amiga e se despediu dela no instante seguinte.
Sozinha novamente em sua sala, a morena tornou a ligar a TV e por mais uma vez assistiu as confissões de Grissom à Heather.
Enquanto via aquele vídeo pela segunda vez, lembranças soltas dos tempos bons que viveu ao lado do ex começaram a pipocar na cabeça de Sara.
Tinham sido tantos momentos bons. E também alguns ruins. Mas apesar dos ruins terem um peso e tanto, ela tinha que reconhecer, os bons momentos pesavam muito mais.
E foram, justamente esses momentos bons relembrados, somados ao sentimento forte que ainda nutria pelo ex, mais o comentário final da ex-companheira de trabalho momentos atrás e também às confissão que ouviu de seu ex-marido durante aquele vídeo, que fizeram Sara tomar uma importante decisão ali.
Se era a certa, ela não sabia.
Mas foi a quê seu coração mandou tomar.
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