Cap.20 - Interlúdio ~ Culpa sua

Thiamatt continuava em sua prisão astral. Sua forma fantasmagórica estava de braços cruzados e andava de um lado pro outro na sala em que era mantida, as vezes olhando para sua esfera brilhosa e outras vezes observando o Cristal do Caos ser mantido em uma câmara mágica que tinha o dever de vibrar com intensidade as moléculas do cristal para que aquela frágil prisão cristalina se rompesse e libertasse o poder do ódio, que tornaria Devourer praticamente invencível.

Quando uma pequena rachadura apareceu, uma tremedeira tomou conta do corpo da dragonesa. Seria aquilo, o medo? O arrependimento? Ódio, talvez? Ela não tinha certeza, mas seu estômago parecia estar fazendo um show de Heavy Metal dentro dela.

Ela se equilibrou em seus saltos altos e caminhou até a pequena câmara de vidro. Suas mãos pousaram sobre o vidro e sua energia pareceu se condensar com o frio que a superfície transmitia. Com toda a sua concentração Thiamatt começou a usar seus poderes de criadora, transmitindo sua magia através da superfície transparente para que o cristal voltasse a seu normal. Isso ocorreu com sucesso. A rachadura na superfície cristalina ficou menor até desaparecer completamente.

Aliviada, a suspirou.

No entanto, ao se virar, bateu-se em Devourer, que estava de braços cruzados e com um sorriso debochado que revelava seus caninos afiados.

Devourer: Não se esforce tanto. Ou está querendo ficar fraca, querida?

Thiamatt: não fale asneiras. - ela diz simplesmente passando por ele e se sentando numa cadeira. - Porque esse ódio por mim e os seres? Você que começou tudo, não eu. E muito menos eles.

Devourer: do que adianta ter respostas agora? Não irá mudar nada...

Thiamatt: apenas responda.

Devourer: você sempre esteve desesperada para ter filhos, lembra-se? Você tentava, e tentava, no entanto, não havia resultado. E sabe porque? Você não amava. - ele pôde ouvir a hidra trincando os dentes. - Não me amava, nem amava seu mundo. Apenas observava aqueles macacos patéticos que eram os humanos, batendo uma pedra na outra para fazer fogo. Você até enviou objetos mágicos para aquele mundo para que sobrevivessem com mais facilidade, lhes ensinou a arte da escrita por desenhos e da arquitetura, lhes deu sabedoria. E o que fizeram em troca? Começaram a batalhar por poder. A semente do ódio começou a crescer, e eu, por ser o Dragão de Ossos, o Dragão da Destruição, fui o mais afetado. O equilíbrio foi desfeito e o eixo do planeta começou a mudar, as dimensões começaram a se adaptar. E, quando eu não suportei mais milênios de rivalidade, meu poder explodiu, e agora que o mundo está frívolo e superficial, eu estou mais forte do que você pode imaginar.
A dragonesa de cinco cabeças suspirou.

Thiamatt: você esqueceu o que é o amor, deixou que a rivalidade dos outros enchesse seu coração de trevas.

Devourer: querida, sou o dragão da DESTRUIÇÃO. É óbvio que eu seria afetado. Às vezes me surpreendo em como você consegue ser burra.

Ela ignora o comentário.

Thiamatt: Você está me mantendo na visão do seu olho direito.

Devourer: idai?

Thiamatt: por mais que tenha se regenerado, seu corpo não foi capaz de consertar o estrago que o tridente fez na lateral do seu olho esquerdo. Você achou que passou de raspão, mas ele aceitou. Você está perdendo a visão do olho esquerdo por causa do pirata.

Ela foi agarrada pelo pescoço e posta contra a parede. Devourer rugiu com seus dentes fossilizados a mostra, ela rosnou de volta, seu rosnado parecendo cinco ao mesmo tempo. Logo, ele sorriu docilmente.

Devourer: vamos ver se continua valente depois de um bom tratamento de choque.

Os olhos da dragonesa se arregalaram, ela começou a se debater e a arranhar todo o peito exposto do ex-marido, que não sentia nada. Ela viu ele agarrar suas esfera branca brilhante, o desespero a tomou e a mesma tentou pegar de volta.

Devourer: nananinanao, querida. - ele diz, afastando a esfera das mãos dela. - cansei de ser bonzinho e paciente com você.

Usando a mente ele abriu a câmara de vidro e tirou o cristal do Caos dali, pondo a esfera no lugar.

Thiamatt: não faça isso, DEVOURER!

Ele ligou a câmara em força máxima. Ela pôde ver sua esfera vibrando incansavelmente e começando a rachar. Cada rachadura aberta na esfera era como se uma estaca de diamante fosse enfiada no corpo da dragonesa. Ela passou a se contorcer e caiu de joelhos, o próprio brilho se esvaindo e sua forma fantasmagórica desaparecendo.

A câmara terminou seu trabalho e, com os olhos cheios de lágrimas e o corpo rachado, Thiamatt se desfaz em centenas de luzes minúsculas em diversas cores.

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