Dia 24: Expectativas
Segundos após Tony Bandeira se despedir, Solene se levantou para ir a algum lugar. Entretanto, foi surpreendida por pessoas que queriam explicações.
— Então você votou em mim? — perguntou Helena em voz alta.
— Votei. Por quê? Não pode?
— Que grosseria é essa?
— A mesma que você usou para me abordar agora — rebateu Solene.
— Ah, é? E por que você não usou essa coragem toda para votar no Nathaniel? Não teve coragem? Preferiu jogar voto fora em mim?
— Olha aqui, Helena, em quem eu voto ou deixo de votar, só diz respeito a mim. Votei em você mesmo, e daí? Vai chorar?
— Eu só não estou te reconhecendo mais — rebateu. — Cadê aquela meiguice toda? Será que foi embora na mala da Viviana? Ou morreu quando você ficou com o Nathaniel mesmo sabendo que a Vivi gostava dele?
— Você está se escutando? — quis saber Solene. — Você está tão sem enredo que precisa tomar conta da minha vida, citar minhas histórias, o que eu fiz de certo, de errado. Toma conta da sua vida, Helena. Arruma um enredo próprio e para de querer surfar na onda dos outros.
Enquanto a gastrônoma e a estilista discutiam, Nathaniel ponderava no sofá. Analisava o cenário do seu primeiro despejo, momentaneamente calmo, até entrar em erupção.
— Solene! — vociferou ele, interrompendo a briga das duas mulheres. — Então você fez sua escolha, né! Não quis votar na Zarina para me defender, ok, justo. Agora me diz qual o intuito de ficar comigo se não vai me proteger?
— Não, peraí, o que tem a ver uma coisa com a outra? — perguntou Solene. — Nós ficamos, sim. Mas lealdade é um ponto importante para mim. A Zarina é minha amiga desde o começo, eu nunca nem considerei votar nela. Por que agora seria diferente? Só por que nós nos beijamos? Jogo e romance são dois tópicos que não se misturam.
— Ué? Consideração pela pessoa que você beija a boca é o mínimo que alguém espera, ou estou errado?
— Está errado — rebateu Solene. — Estamos em um reality show, não é, sei lá, uma situação do dia a dia. Eu não te devo consideração em relação a voto. Não devo!
— Então faz o seguinte, não me procura mais!
— Vai para o inferno então — esbravejou Solene. — Cansei! Tudo que eu faço está errado. Não importa em quem eu vote, sempre acaba alguém com raiva. Então se danem.
Solene virou de costas e marchou até o quarto roxo em busca de paz, deixando todos para trás. Porém, seus embates não tinham chegado ao fim, mais pessoas tinham o que dizer.
— Não queremos você no quarto roxo — disse Ezequiel, aparecendo segundos depois que ela entrou no cômodo. — Não aceitamos traíras aqui.
— Ei? — chamou Zarina. — Eu não estou de acordo com isso. Por acaso teve uma votação e eu perdi?
— Você não conta, é amiga dela — rebateu Helena. — Queremos que você vá embora desse quarto.
— Pois eu não saio! — disse Solene tranquilamente. — Vocês não mandam no quarto. Se encostarem em mim, eu grito. Camas? Tem de sobra. Minha presença aqui não atrapalha a dormida de ninguém.
— Sai desse quarto, sua falsa — berrou Ezequiel.
— Pode se esgoelar à vontade, gritar, xingar, pular, não me importo. Vocês não mandam nessa casa, é o público que manda, e enquanto eles não me eliminarem, eu vou continuar aqui.
— Pois você vai ficar aqui sabendo que não é bem-vinda — comentou Helena. — Vou colocar uma barata na sua cama.
— Se qualquer coisa minha sumir ou acontecer alguma coisa comigo, eu grito, faço um escândalo, o que for, mas vocês não podem me intimidar dessa forma. Quem são vocês? Juízes, por acaso?
— Gente, chega! Encerrou! — gritou Zarina. — Quanta infantilidade. A Solene não vai a lugar algum, ela vai continuar dormindo na cama dela. Se não gostarem, sumam daqui. Eu, hein.
— É claro que você acha isso, acobertou ela na história da Vivi — falou Ezequiel.
— Ah, cala a boca, seu imbecil — rebateu ela. — Toma conta da sua vida.
— Se cuidasse da própria vida tanto quanto cuida da minha, tenho certeza que não estaria perigando sair nesse despejo — falou Solene. — E tomara que saia mesmo.
— Torce mesmo para eu sair, Solene, porque, se eu voltar, vou transformar sua vida aqui num inferno.
— Tenta a sorte então.
Enquanto as discussões aconteciam, os índices de audiência só aumentavam. Dessa vez a emissora contratou uma equipe de T.I para fortalecer o site que oferece câmeras vinte e quatro horas. Até então o investimento estava valendo a pena. O site manteve-se estável durante todo o arco de discussões.
Tony Bandeira assistia a tudo de seu camarim, dando altos pulos de comemoração. Seu sorriso, que ia de uma ponta à outra do rosto, não escondia que ele estava adorando todo o entretimento.
Piscina - 02:14.
Solene foi nadar. Precisava se acalmar.
Vários minutos depois, Zarina apareceu com duas xícaras na mão.
— Trouxe achocolatado!
Solene riu
— Só vou aceitar porque é seu. Até porque, se fosse de qualquer outra pessoa, com certeza estaria envenenado.
Zarina gargalhou e se sentou na borda da piscina, molhando os pés.
— Foi feio, hein!
— Foi horrível — retrucou Solene, bebendo seu chocolate. — Nunca me senti tão odiada. Me senti cercada por dois exércitos.
— Eles estavam falando mal de você lá no quarto roxo.
— E devem estar fazendo o mesmo lá na suíte — completou. — Ah, dane-se. Pelo menos tenho você do meu lado.
— Não sou de comprar briga dos outros — disse Zarina. — A situação é sua e da Vivi. Vocês que se resolvam, eu que não vou me meter.
— Obrigada por isso.
Fez-se um longo momento de silêncio.
— Nossa, esse achocolatado ficou bom!
— Usei a lata toda de chocolate em pó — contou Zarina em forma de segredo. — Não deixei nada para eles.
As duas gargalharam alto.
— Nada que eles não mereçam.
Suíte do Síndico - 03:19.
Nathaniel estava deitado na cama, encarando o teto, enquanto Leonardo e Olívia comentavam os últimos acontecimentos da casa.
— Eu acho que essa foi a treta das tretas, né — comentou Olívia. — Acho ótimo. É bom que agita e não deixa a edição flopar.
Leonardo riu e concordou.
— Mas essa foi pesada. Foi todo mundo em cima dela.
— O pior de tudo é que qualquer caminho que ela tomasse levaria a isso — comentou Olívia. — Ela, de certo modo, optou pelo caminho menos prejudicial. Não votou no ficante nem na amiga.
— Mas me mandou para o despejo do mesmo jeito — retrucou Nathaniel após minutos calado.
— Essa mesma raiva que você está sentindo é o que a Zarina sentiria caso a Solene empatasse a votação, e elas são amigas há mais tempo mesmo, é cruel? É. Mas ela não foi incoerente. Priorizou quem sempre esteve do lado dela.
— Ai, não sei, preciso ficar sozinho — disse Nathaniel, levantando e indo em direção à porta. — Vou lá para o quarto verde pensar. Durmam bem.
— Você também — retrucaram Olívia e Nathaniel em uníssono.
Enquanto descia as escadas, Nathaniel decidiu ir à cozinha beber água, o que o fez ouvir as risadas de Solene e Zarina.
A feição de desgosto que tomou conta do seu rosto não passou despercebida pelas câmeras aguçadas do PARALELO.
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