Nos primeiros dias após o afastamento, a amizade entre Sunghoon e Jake parecia resistir. Eles ainda trocavam olhares furtivos nos corredores da escola, mas as conversas se tornaram raras e desconfortáveis. O silêncio que antes era confortável agora era pesado, e a tensão entre eles só aumentava com o passar das semanas. Não havia mais aquela cumplicidade que os unia, e, aos poucos, a distância se tornava mais insuportável.

Nos três meses que se seguiram, Sunghoon tentou se enganar. A escola continuava sua rotina implacável, mas ele se sentia cada vez mais vazio.

Começou a namorar uma garota da turma, Jang Wonyoung, uma garota que parecia ser o antídoto para a saudade que sentia de Jake. Ela era doce, simpática, uma presença tranquila ao seu lado.

Mas a cada sorriso que ela dava, uma sensação de desconforto invadia o peito de Sunghoon. Ele tentava se convencer de que estava fazendo a coisa certa, mas a verdade era que ele não conseguia tirar Jake da cabeça.

Nos momentos de solidão, quando a noite caía e o silêncio tomava conta do quarto, ele pensava em como a vida deles havia mudado, e, mais do que isso, se perguntava se ainda poderia voltar atrás, para quando as coisas eram mais simples.

Jake, por outro lado, não conseguia mais ignorar os sentimentos que haviam se tornado incontroláveis dentro de si. Ele sentia raiva, sentia-se traído, mas no fundo, também não conseguia mais esconder o quanto sentia falta de Sunghoon. A cada dia que passava, ele se dava conta de que, apesar de tudo, estava se apaixonando por ele. A dor da distância, da rejeição, misturava-se com uma saudade insuportável. Ele tentava se manter ocupado, tentando seguir em frente com a vida, mas as lembranças de momentos passados com Sunghoon estavam em todos os lugares — nos corredores da escola, nas aulas que compartilhavam, até no som das músicas que eles costumavam ouvir juntos.

O tempo foi passando, e uma noite chuvosa trouxe à tona tudo o que estava guardado há meses. A chuva caía forte, e o som dos trovões dava o tom perfeito para a tensão que se formava. Sunghoon estava em casa, olhando pela janela. Os pensamentos eram confusos, e ele sabia que não poderia continuar se enganando. Algo precisava mudar.

Jake, por sua vez, estava decidido a encontrar Sunghoon. Quando a mensagem chegou, Sunghoon hesitou por um momento, mas algo dentro dele o fez aceitar o encontro. Quando chegou ao lugar combinado, o ar estava carregado de expectativa. Jake estava lá, parado, com a expressão fechada e os punhos cerrados. O olhar de Sunghoon encontrou o dele, e a sensação de que o que estava prestes a acontecer não poderia ser evitado tomou conta deles.

─── O que você quer, Jake? — Sunghoon perguntou, tentando soar firme, mas o nervosismo estava evidente em sua voz.

Jake o encarou intensamente, a raiva misturada com a saudade. Ele não conseguia mais manter os sentimentos guardados.

─── Eu não aguento mais, cara. Não aguento mais ver você com ela. Não posso mais ignorar o que sinto — disse Jake, a voz tremendo. ─── Eu sinto sua falta, Sunghoon. Eu sinto sua falta mais do que você pode imaginar.

Sunghoon deu um passo atrás, o coração batendo forte. Ele queria responder, queria falar algo que resolvesse, mas não sabia o que. Tudo dentro dele estava um caos.

─── Não podemos mais voltar ao que éramos. Eu tentei seguir em frente, tentei fazer as coisas darem certo... mas não é tão simples. — Sunghoon sentiu a dor se apertar em seu peito, mas não queria mostrar isso. Ele se afastou ainda mais, mas Jake não estava disposto a ceder.

─── Você acha que isso é simples para mim também?

Não houve resposta, o Park apenas mordendo os lábios e desviando o olhar com o garoto na sua frente. Mas, Jake avançou em direção a Sunghoon, e, sem mais palavras, puxou-o para um beijo.

Um beijo impulsivo, raivoso, como se estivesse tentando descontar toda a saudade, toda a frustração acumulada durante os três meses longe de seu verdadeiro amor.

O impacto foi tão forte que Sunghoon quase perdeu o equilíbrio. Por um momento, ele se entregou ao beijo, respondendo com a mesma intensidade. Não conseguia mais resistir àquilo que estava dentro dele, algo que ele tentava ignorar, mas que o consumia. A sensação de estar tão perto, de finalmente sentir o toque de Jake novamente, foi avassaladora. O mundo ao redor parecia desaparecer.

Mas, assim que o beijo terminou, a realidade voltou com força. Sunghoon se afastou abruptamente, o olhar de ambos se encontrando, agora carregado de confusão e dor.

─── Não... Não podemos fazer isso, Jake. — Sunghoon respirou fundo, tentando controlar as emoções. ─── Seria mais fácil voltar ao que éramos antes, não seria? Mas não podemos. Não podemos voltar a ser amigos, não depois de tudo o que aconteceu.

Jake o olhou com raiva e tristeza, a respiração ainda acelerada. Ele queria gritar, queria dizer o quanto se sentia perdido sem Sunghoon, mas sabia que não podia forçar nada. A distância, que parecia ser a única coisa certa entre eles, agora parecia ainda mais impossível de transpor.

─── Eu sei... — Jake murmurou, a voz falhando. ─── Mas não posso mais viver sem saber o que você sente, merda!

Sunghoon olhou para o chão, as palavras presas na garganta. Ele sentia a mesma coisa, mas não sabia como lidar com isso.

A chuva ainda batia contra as janelas, como um eco da confusão que reinava em seus corações. Ele sabia que algo precisava mudar, mas não sabia se estavam prontos para isso. Não sabia se algum dia seriam capazes de voltar a ser o que eram antes.

No fundo, ambos sabiam que o que estava entre eles agora era mais do que uma amizade.

E enfrentar isso significava mudar tudo.

─── Jake, eu te amo pra caralho. Mas eu tenho medo, muito medo. - Sunghoon passou a mão pelo cabelo, negando com a cabeça antes de sair correndo para longe de Jake, sem escutar o que o rapaz tinha a dizer.