7 - Um Cara Quieto
Eu já ouvi alguns dizerem que dá para saber o caráter ou personalidade de alguém desde pequeno, quando essa pessoa ainda é uma criança. Isso, alguns irão concordar comigo, soa meio injusto. Como se pode definir o que alguém é e será ainda tão cedo, ainda quando não se parou de fazer o que todo filhote de mamífero bípede faz na frauda? É um discurso que me soa errado, mesmo se alguém utilizar o argumento do "fruto que não cai longe da árvore" ou mesmo algum motivo espiritual, místico, como "vida passada" ou algo de tal espécie. Quem pode dizer quem nasce mau e quem nasce bom? Tudo isso me parece determinismo, e eu não sou fã dessa estória de que os assentos já estão marcados na viagem rumo ao nosso destino – apesar do próprio destino estar... mas não vou entrar a discutir aqui sobre aquela dama.
Ainda que meu pensamento seja este, considero possível que exista algo que aparece ou que começa a se formar, ainda na infância, e que é capaz de se desenvolver e permanecer até o derradeiro adeus – mas não porque um outro elemento assim configurou. Tudo é uma miscelânea de casualidades e escolhas próprias, eu creio.
Eu mesmo sou uma pessoa quieta e, segundo meus pais, sou assim "desde sempre". É fato: eu realmente preferia brincar sozinho – é claro que eu tinha amigos e brincava com eles, mas sozinho eu podia inventar coisas mais legais. Não creio que um alguém, antes de eu nascer, tenha escrito a jornada inteira da minha vida e me feito deste modo. Talvez, e prestem atenção a esse "talvez", aja algo que previamente nos permita ser quem nós somos, mas que não atua como fatalismo; algo que nos permite sermos distintos – ser distinto e desigual constitui algo que podemos chamar de "natureza humana"? Estamos determinados a sermos diferentes? De qualquer forma, acredito que isso tenha a ver com o todo que nos cerca e com nós mesmos. Quando somos crianças os acontecimentos que ocorrem ao nosso redor e exatamente aquilo que está ao nosso redor, acabam nos influenciando de maneira muito forte. Com alguns anos de vida não temos tanto desenvolvimento mental para executar o ato de escolher; escolher por vontade, não obedecer aos instintos. Vamos quase como um pedaço de isopor flutuando em rio "meio" sujo.
Posso dizer, então, que o fato de eu ser filho único e o fato de ter que passar tardes sozinho logo cedo, contribuíram para que eu me tornasse taciturno e tímido. Contudo, isso é apenas o fruto mal desenvolvido de reflexões. Quem pouco fala costuma ter um bom tempo livre para conversar consigo mesmo.
Depois que cresci, boa parte da carga da timidez foi embora – ela ainda retorna em dados momentos –, mas a quietude não. Eu continuei e, de maneira um tanto diferente, continuo sendo um cara calado: o cara que entrava em silêncio na sala de aula, que buscava sentar na última cadeira do cantinho do lado oposto a porta, para não ser perturbado, o "antissocial" da classe. Continuo sendo o garoto que não queria chamar tanta atenção, mais que acabava chamando pelo simples fato de ficar quieto em lugares onde todos pareciam ter nadado em uma piscina preenchida com energéticos.
A minha cabeça mudou muito nos últimos anos, porém, a quietude fica, e isso porque eu quero que ela fique. Eu poderia mergulhar na piscina de energéticos? Sim, claro que eu poderia. Contudo, eu não quero; aqui está a parte da escolha em relação ao mundo que nos cerca. Cada um tem o direito de dizer sim ou não garantidos pela própria existência.
Ah! Um adendo:
Você que se impressiona com a grandiosa, com a estonteante, arrebatadora e delirante "anormalidade" de um ser calado, por favor, nunca chegue para alguém assim e pergunte: "mas por que é que você não fala?". Depois de uma dessas, acho que uma pessoa que não é muito aberta a conversa vai passar a falar menos ainda.
Texto originalmente escrito em 18/01/2018.
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