12 - Eleja Já o Seu Cristo
2018. Ano de Copa do Mundo e, por mais que tenha gente que use a copa como uma poção que causa amnésia, também um ano de eleições.
No entanto, a copa e as eleições não são assim tão diferentes – provavelmente você já ouviu alguém dizendo que os eleitores estão vibrando por seus candidatos e seus respectivos partidos, assim como um torcedor vibra pela seleção e o menino Neymar. Se estou enganado sobre isto e você, amigo leitor, não ficou sabendo de nenhum comentário assim parecido, pois bem, está sabendo agora.
Nas eleições, o estádio é formado por nossas fronteiras e o campo é o chão do próprio Brasil. Neste campo rola a mais importante das bolas, a verdade, sempre de um lado para o outro, passando pelos jogadores de cada time de maneira tão rápida, com passes tão confusos, que deixam o telespectador deveras atordoado. Sem falar que, no ritmo da partida, esta bola chamada verdade com certeza fica muito manchada, já que o campo é de terra e está chovendo monstruosamente.
Sendo sincero e sensato, sou um bosta não grande o bastante para me arriscar a falar sobre algo tão grande quanto a verdade – se é que podemos a conhecer. Muito menos sou inteligente o suficiente para dizer que sei muito sobre política e todos os seus detalhes que, convenhamos, podem fazer uns quererem sair correndo dessa vida de pedra para desaparecer no meio do mato. Tampouco sei muito sobre futebol – sei só o suficiente para poder fazer uma graça na escrita. Realmente, sou um tolo, um tolo, apenas. Todavia, sou um tolo que observa o mundo e forma opiniões, e que quer e vai compartilhá-las.
Então, quero deixar logo claro que não pretendo ser mais um chato que vai começar a reclamar da copa. Pro inferno com o argumento do pão e do circo! Todos têm seus pães e seus circos, não estou certo? Que o brasileiro torça para o Brasil à vontade, que xingue a Alemanha ou a Argentina com toda a força da raiva, ou, se você for muito fanático, do ódio – a única coisa que quero aqui ressaltar é o erro de fazer o mesmo quando tratamos de política.
Direita ou esquerda, coxinha ou petralha, conservador ou comunista... tudo está dividido em dois lados que se julgam bem distintos, mas que possuem pontos terríveis e semelhantes – como todo time de futebol tem onze jogadores titulares e uma torcida. Também como times de futebol, estas vias ideológicas têm seus jogadores mais famosos: é o nome deles que a torcida, digo, a população, costuma gritar quando o time entre em campo, ou quando se está em época de campanha política. Esses elementos mais famosos ganham tanto destaque que praticamente todos os olhos se voltam para eles, tal qual alguns fazem com um Messi ou um C. Ronaldo da vida. Alguns torcedores gritam tanto os seus nomes, chegam a depositar neles tanta fé e esperança por um bom resultado que o clamor vira uma reza, o jogador político vira um salvador, vira sacro, vira um Laozi ou um Jesus – seria exagero dizer Deus?
É o que vemos ocorrer com certos Lulas e certos Bolsonaros por aqui.
Temos políticos de times diferentes, mas que, oferecendo à determinada parcela do povo aquilo que tal parcela quer, transformam suas imagens em estátuas de santos e seus nomes em mantras curativos.
Nestes tipos, creio que não há uma verdade, não realmente, ainda que você possivelmente nunca vá vê-los se chamarem de mentirosos. A verdade, suponho, não é algo tão simples que um engravatado qualquer possa conhecer. A verdade que eles pregam serve somente para a conquista. Uma verdade relativa que, de certo ângulo, sempre vai se revelar como mentira.
E outro mal que leva a tamanha idolatria é a vontade que o povo tem de depender.
Vamos ser transparentes: é muitíssimo confortável apertar um botão de uma urna e esperar que seu "santo" resolva todos os seus problemas para você. E se seu santo não fizer nada do que prometeu, também é muito mais cômodo apenas culpa-lo, para que você possa depositar suas esperanças em um sacro político diferente da próxima vez. Nunca vai ser relax o ato de assumir a culpa, de assumir a escolha e a responsabilidade que todos nós temos com o mundo.
Mudar a conduta? Assumir o peso até das coisas mais simples? Tentar ser o melhor de mim aonde posso? Não, porra nenhuma! Me dê um líder, um grupo e uma ideologia, é tudo que eu preciso.
Gostamos de uma boa sombra para que possamos nos deitar embaixo, de vez em quando, ou sempre, mesmo se a sombra for pífia. Estamos todos, enquanto fracos humanos, sujeitos a essa vontade.
O sol tem andado muito forte ultimamente!
Texto originalmente escrito em 11/06/2018
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