11 - Uma Breve Reflexão Sobre a Paz
Tomemos a paz como um estar estático, imóvel –como o Ser de Parmênides.
O homem, nessa perspectiva, jamais poderá ficar totalmente em paz.
O homem é devir, é transformação. Sua condição é uma efêmera existência no qual nunca permanece o mesmo. O corpo envelhece, a consciência percebe em si sempre uma coisa nova, um novo pensamento, uma nova imaginação, uma nova sensação, um novo desejo.
Tal devir, ao meu ver, é caótico, pois o homem pode apenas contar com as possibilidades, as possíveis consequências, de suas escolhas e de suas ações – somente as suas. Ainda há, independentemente do indivíduo, um mundo lotado de gente que também age, um mundo que tem sua própria ordem, que se configura numa enorme bola de aço que pode cair a qualquer momento em nossas cabeças.
Que não se entenda a "ordem do mundo" de maneira equivocada. O termo ordem indica algo harmônico –deve existir sim uma certa harmonia, eu suponho, no mundo, mas para um humano, uma pequena consciência revestida de carne, tal ordem é algo tão grande que nos parece caos. Podemos saber quando um vento muito forte virá para nos forçar a fechar os olhos ou ameaçar os galhos das árvores? E mesmo que a meteorologia possa prever uma tempestade, ainda não poderá controlá-la, e em alguns detalhes ainda pode se mostrar errada.
Se considerarmos que a transformação do homem ocorre interna e externamente pela correspondente relação de escolhas, vindas da subjetividade, e ações, já que este é o meio pelo qual o homem define constantemente a si mesmo, como Sartre afirma, e como o homem não está sozinho na terra, e tampouco flutuando em ambiente plenamente vazio e escuro, podemos dizer que a ação do outro e a incomensurável ação do mundo podem influenciar as suas escolhas, e o seu agir – ainda que a escolha e o agir continuem sendo seus, ainda que a culpa continue sendo sua.
O ser-humano nunca será hábil o suficiente para controlar perfeitamente a ordem disto tudo, não importa o quão grandiosa venha a ser a tecnologia. Daí vem a impossibilidade de ficar em paz, estático: ainda que possamos ficar próximos de alcançar este estado algumas vezes, através da meditação, por exemplo, sempre vai haver a ação de algo externo nos exigindo movimento. Não nascemos para ficar quietos; aqui, até a mais mísera ação conta como motor para o devir.
Tudo que o homem pode fazer é aceitar e aprender a conviver com isto... ou atentar contra este nosso condicionamento à transformação e arranjar um jeito de não mais existir.
Texto originalmente escrito em 23/06/2018
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