1 - Tudo Bem Conversar Com a Morte Algumas Vezes
Penso que ninguém pode se considerar maduro até ter passado por uma fase difícil, ou, dizendo de outra forma, até ter morrido uma vez ou duas.
Mas, calma!
Não estou falando da morte, de fato; não ainda. Falo de uma outra, que se mostra com outros tipos de vestes. Falo de uma tal de morte simbólica.
Li sobre este conceito pela primeira vez em algum livro de filosofia – um genérico, de colégio, do qual não lembro o nome, infelizmente – e ele não me saiu da cabeça até o momento. Veja bem, não sei muito sobre o que outros indagadores do mundo vivo pensam sobre este termo, portanto, só quero discorrer um pouco sobre meu pessoal ponto de vista.
Creio que todos que estão aqui já passaram pela angustia de perder alguém – desta vez falo da morte física. O luto é triste. Às vezes a ficha caí somente após dias; talvez após anos. Mas a vida prova, às suas maneiras, que existem outros tipos de perda pelas quais passamos, e que podem ser tão dolorosas quanto. O que estou buscando pôr em palavras aqui fala sobre sentimentos.
Algo morre toda vez que lutamos para chegar em algum lugar e não conseguimos o que queremos, algo morre quando nos sentimos abandonados, algo morre quando um grande amigo vai embora, por quaisquer motivos, e algo morre também quando o amor – o sacro inferno do amor – termina. Sim, el amor acaba. Na realidade, muito pouco ou quase nada é permanente; nada parece ser eterno. O luto pode existir por tudo.
Esta "classe" de morte é o símbolo do término, ainda que o percurso não se tenha encerrado. Quando isto acontece, precisamos passar pelo período de angústia, pelo período de acender velas e chorar – mesmo que ninguém tenha sido enterrado em sentindo exato. É uma guerra que deve ser travada, ou melhor dizendo, que vai ser travada em algum tempo, já que comumente não é uma guerra escolhida, não conscientemente. As pessoas irão te dizer "sorria, você é belo/bela, o mundo é belo, não há razões para não ser feliz", e isso não te ajudará em porcaria alguma. É bom escutar conselhos, principalmente de quem pode ter mais experiência – percebam que eu não disse idade – mas, chega uma hora que você tem que escutar as profundezas de seu "eu mesmo".
Olhando para mim e para o mundo que me cerca, acho realmente que tal conceito tem cabimento. Cada um de nós é como uma taça de vidro – temos até vinho por dentro! –; podemos quebrar com qualquer contato mais rude, qualquer atrito, mesmo um, em geral, insignificante. Sendo assim, os falecimentos que sofremos antes do literal falecer são essenciais para que nos tornemos fortes, à medida do que nos permite nossa latente debilidade.
Dependendo de como se vê, até a morte pode ser uma porta, uma passagem, para uma nova vida.
Originalmente escrito em abril de 2017.
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